Pular para o conteúdo principal

Vocês ainda não viram nada (dir. Alain Resnais)


A Europa tem um patrimônio cultural imenso, disso não há dúvidas. Pois bem. Este é o segundo filme que eu vejo daquele continente que utiliza um certo pretexto para divulgar, no cinema, uma obra já tradicional, no caso Eurídice, de Jean Anouilh. O primeiro foi César deve morrer, dos irmãos Taviani.
O filme, dirigido pelo conhecido Alain Resnais, mostra atores e atrizes representando a si mesmos. O mote é a morte de um determinado diretor, que os chama para a leitura do seu testamento. Pois então. Aparece o morto na tela e lhes pede uma posição quanto à encenação da obra Eurídice por uma companhia iniciante. Tudo se passa a partir daí.
A partir daí, o quê? A peça, claro. Encenada por várias Eurídices, vários Orfeus, vários outros personagens. Tudo de forma tal que esquecemos a que viemos. Somos, assim como no filme dos Taviani, conduzidos pela mão à trama tão bem colada por esses que ficaram para a tradição. Uma beleza.
De vez em quando reparo que as artimanhas da arte gráfica deixam algo a dever. Mas o fato é que os letreiros ao começo já prenunciavam a artesanía da jogada. Ao final, novas reviravoltas que não irei contar. Mas tudo muito agradável. Uma leve diversão. Nada melhor para terminar o domingo. Saio feliz. Realmente sem a tradição, bom, sei lá.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c