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Mostrando postagens de 2007

Divinas Palavras (de: Ramón del Valle-Inclán; dir: Rodolfo García Vázquez) *

Apresentação: Prometi duas vezes, a Ivam Cabral e a Alberto Guzik, que iria fazer um texto comentando o espetáculo, ao qual assisti também duas vezes. As excessivas tarefas a que me fiz sujeito e minha sensibilidade, cada vez mais bloqueada - talvez por desnorteio, impediram-me de parar para sentir-me e sentir melhor a peça. O texto "Palavras divinas desperdiçadas", de Jefferson del Rios (O Estado de São Paulo, 14/12/2007), felizmente serviu como faísca: 1) por discordar dele em alguns pontos, 2) por, em oposição a ele, poder retomar assuntos que me movem e 3) por atiçar novamente meu sistema nervoso. Os comentários a seguir apareceram como contraposição a ele e como forma de me libertar, não da tarefa, mas do peso do grotesco. Mas só do peso, porque o grotesco, ele mesmo, só podemos mesmo carregar até o fim. Breve comentário do texto de Del Rios: 1) Todo teatro é compartilhado, tão logo é encenado. Por isso, e por optar por purismo, Beckett dirigia ele mesmo seus espetáculos

Simpatia (dir. Renata Melo; dramaturgia: José Rubens Siqueira)

Texto: Ótimo, derivado de entrevistas com vendedoras de porta-em-porta (facilitadas pela Avon, patrocinadora), consistentemente afastando-se de tratar situações corriqueiras como clichês e propositadamente abusando de clichês (especialmente referidos ao aspecto das simpatias), com efeito empático eficaz e extremamente simpático. Não restrito ao universo do público esperado (classe média). Certo abuso, em diversas ocasiões, do estilo sincopado da fala verbal (especialmente nos personagens masculinos). Uma ressalva: o predomínio acachapante dos monólogos e de sketches, que chega por vezes a cansar, quase pedindo o descanso para uma cena de maior fôlego e profundidade (que não acontece). Cenário: Curioso e eficiente, limitado a armações móveis (paredes, portas, janelas) que separam ambientes, criam ambientações mais intimistas, servem de enquadramentos e meios de fachos de luz e dão textura à peça e a cenas em particular. Um dos diversos pontos altos do espetáculo. Atuações: Empáticas sem

Simpatia (dir. Renata Melo, dramaturgia: José Rubens Siqueira)

Texto: Ótimo, derivado de entrevistas com vendedoras de porta-em-porta (facilitadas pela Avon, patrocinadora), consistentemente afastando-se de tratar situações corriqueiras como clichês e propositadamente abusando de clichês (especialmente referidos ao aspecto das simpatias), com efeito empático eficaz e extremamente simpático. Não restrito ao universo do público esperado (classe média). Certo abuso, em diversas ocasiões, do estilo sincopado da fala verbal (especialmente nos personagens masculinos). Uma ressalva: o predomínio acachapante dos monólogos e de sketches, que chega por vezes a cansar, quase pedindo o descanso para uma cena de maior fôlego e profundidade (que não acontece). Cenário: Curioso e eficiente, limitado a armações móveis (paredes, portas, janelas) que separam ambientes, criam ambientações mais intimistas, servem de enquadramentos e meios de fachos de luz e dão textura à peça e a cenas em particular. Um dos diversos pontos altos do espetáculo. Atuações: Empáticas se

Cecil Taylor (TIM Festival, 28/10/07, 20h30)

o velhinho é um tímido. que se combate dialogando a marteladas com a percussão das cordas do Steinway. incapaz de conviver com a desrazão espiritual reinante, o velhinho cecil entra sem invadir, sai sem escapar. reluta em confrontar olhares impondo o poder de sua poesia, tão apoiada em guturais como no desespero de conectar o presente com o passado para construir um melhor futuro. o entabular consigo mesmo obriga cecil a arremeter no piano compartilhando sentidos e aromas nas duas tão potentes formas de expressão (a música e a palavra, a palavra e a música). está-se diante de um colosso autosustentável, num solo que concentra as energias para conduzi-las ao infinito, e não face um virtuosismo inócuo, de pés de barro, egolátrico. folhas sem marca condensam o plano de obras complexas cujo aparecimento induz o imediato esfumar dos sentidos. importa é a nota a seguir, a postura a compor a figura, o respirar a conduzir a performance. cecil faz tanto teatro quanto música, e performance quant

Bate Papo (de Enda Walsh) (dir. Tuna Serzedello) (Satyros 1, domingos, 18h30, até dezembro)

Texto: Esgrimas verbais entre jovens de 14 a 16 anos, "presos" a salas de chat. Os registros variáveis, muito empáticos, provocam reações as mais diversas, cômicas a dramáticas. Os personagens, embora presos a suas idades e (suposta) imaturidade, questionam e questionam-se continuamente. O frescor da idade e as referências à cultura pop enquadram o espectador em seu lugar (adulto?) seduzindo-o a embarcar na mentalidade de meninos e meninas imersos em tédio, questionamentos e vacuidade impostos por uma sociedade controladora. Os chats: palcos de fuga e encontro. Enredo: Simples, eficiente e extremamente bem resolvido. A personagem do menino órfão de pai convida imediatamente (novamente) a uma forte empatia. A idéia (num primeiro instante, aparentemente inócua) - de um chat que convida ao suicídio de um garoto - a tal ponto torna-se palpável pela construção da situação que é quase possível ver "circos" se fechando e abrindo, ao correr da pena do autor. Mesmo previsíve

Arte como questão - Anos 70/ Projeto Da Visualidade ao Conceito

O humor parece ser um dos grandes diferenciais da geração "do que ainda hoje denominamos arte contemporânea", a arte brasileira surgida entre a Nova Objetividade (1967) e a XVI Bienal de São Paulo (1981). Coberta pela exposição Arte como questão, no Instituto Tomie Ohtake (6/9 a 28/10), essa geração parece assim carregar consigo até hoje (passados quase 40 anos) esse fundamental e inelutável fruto do mero "exercício experimental da liberdade". Uma liberdade que, apesar de sempre resvalar em crítica social, comprometimento e resistência, poucas vezes deixa de incutir um sorriso em quem participa vendo, desfrutando ou mesmo entrando em jogos libertadores. São 98 os artistas representados na exposição, com obras apoiadas em substratos e intenções amplamente diversificadas. Quarta mostra desse tipo apresentada no Instituto (as outras: "Pincelada - Pintura e Método, Projeções da Década de 50", "A Geração da Virada ou 10+1 - Os Anos Recentes da Arte Brasile

Ciao (de Priscila Nicolielo) (direção: Ruy Filho) (até 28/10)

Texto: Seis quadros, inspirados na obra de Caio Fernando Abreu, sobre despedidas ou o ruir dos mundos antes, durante e após um adeus (ciao). Quadros que desenvolvem tramas de amores inconfessos (Diego Torraca e Guilherme Gorski), platonismos arrependidos (Cintia Rosini), incompatibilidades (Silvana Lins e Guilherme Gonzalez), cinismos destrutivos (Diego Torraca e Guilherme Gonzalez), invisibilidade autoaniquiladora (Raiani Teichmann) e autodestruições acompanhadas (Guilherme Gorski e Silvana Lins). Os quadros revelam embates que sempre transitam entre o trágico e a comédia, a depender do envolvimento e da empatia. Fica a pergunta: acaso não há ciaos amigáveis? O caráter soturno de algumas situações parece existir para confirmar o ditado tão batido de Sartre: acaso o inferno são os outros? Geralmente ágil, o texto requer, em alguns quadros, a construção de situações (por exemplo, em "cinismos destrutivos") em que torna-se até certo ponto difícil o entendimento imediato. Pontos

Autran

Como de praxe, todo mundo deveria saber que Paulo Autran estava doente. Ninguém morre de repente. Isso não quer dizer, porém, que à espera de sua morte todo mundo estivesse querendo usufruir, de alguma forma, da unanimidade criada ao seu redor. Mas quer dizer, sim, que ao entronizá-lo como exemplo seus fãs faziam eco, advertida ou inadvertidamente, aos seus últimos dias, ora para homenageá-lo, ora para esconder suas (deles) próprias carências. Torna-se comum hoje admitir, por um lado, o desmesurado crescimento das iniciativas artísticas sob a batuta do que se chama teatro, e, por outro, a desigual qualidade dos projetos em voga, seja sob o ponto de vista técnico (profissionais "amadores"), seja crítico (profissionais "vendidos" a projetos caça-níqueis). Paulo Autran, nesse panorama, parece pairar, altaneiro, distante de quaisquer críticas. Ora enaltecidas sob o prisma de "uma vida dedicada ao ofício de ator", ora como "profissional com elegância e ded

Onde vc estava? ou Fugindo (minipeça em dois microatos), de Rodrigo Contrera

Direção Brunno Almeida. Com Rafael Fabrício e Renata Becker Numa platéia composta por um casal de homens se beijando sem parar, três ou quatro rapazes dormitando, um ou dois amigos dos atores, a esposa do autor e alguns perdidos em manhã nem tão suja mas incrivelmente vazia, Onde vc estava? ou Fugindo, de Rodrigo Contrera, apresentado no Dramamix às 6h da manhã de sexta, elencou as fixações do autor (no personagem do mesmo nome) relacionadas a mortes trágicas ou eventos políticos recentes. Caracterizado (por Rafael Fabrício) como um boxeador em preparo para uma luta imaginária (contra o mundo?), Contrera dialoga com um periquito inquisidor e zombeteiro, repete num gravador pequenas frases (para ele, referências) de seu guru, Gerald Thomas, numa clara referência irônica a várias peças de Beckett, para no final (sob forma de monólogo) destilar um comovente chamado aos seres pensantes que ainda se comovem e libertar o periquito, que foge mas não consegue sair da gaiola formada peas luzes

Flávia Sammarone - Parabéns pra você (performance, Teatro Viga, 6 e 7 de outubro de 2007)

No porão do teatro, espaço fechado com pé direito de no máximo 1,80m, uma mesa de jantar é encimada por um bolo e velas acesas. Ao redor da mesa, pessoas, todas com uma mesma máscara de mulher rindo sem jeito, e um gravador fazendo ruídos estridentes. O espectador entra e se senta em cadeiras que possuem, todas, uma máscara para vestir. A festa convida os espectadores a se aproximarem. Nada acontece. Só o gravador, as velas, e as pessoas que se olham, sem parar. O sarcasmo obriga o riso. Minutos depois, as palmas de um aniversário, sem canto. As velas são apagadas. O espectador ganha um pedaço de bolo: um espelho em formato de pedaço. Flávia Sammarone fez parte do grupo de performances Grupo Sérgio. Compõem o grupo atual três pessoas. A performance não usa palavras. Não usa referências. Não pede explicações. Nada explica. Deixa ao espectador a tarefa de participar. Puxado pelo sarcasmo. Que brota incontível da situação.

Eduardo Fukushima - Canto (performance, Teatro Viga, 6 e 7 de outubro de 2007)

Um homem pequeno, de 1,50m aproximadamente, sentado em um de quatro banquinhos que demarcam os vértices de uma sala retangular. Tremendo de forma inusitada: sem o movimento dos ossos. O homem abre os olhos de repente. Amarfanha-os incessantemente, um após o outro. Novamente, para depois os dois, juntos. Algo obriga o homem a levantar o braço direito. Afunda-se em seguida em seu respirar. Duas vezes. Os bancos são deslocados: com cuidado. Para depois serem depositados mais ao centro da sala, com violência. Algo incomoda o homem, que reage com golpes de ataque e fuga. Movimentos complexos de kung-fu/tai chi/chi kun habitam no interior do homem, que em meio aos espectadores ataca algo que o atinge - por dentro. Mas o homem quer fugir: pelos vértices. Pelos vértices. Como por dentro de espelho que nada engloba. Pula e quer fugir. Seguidas vezes. O homem pára. Desloca os bancos aos vértices: com cuidado. Remete-se ao banco inicial. Tremendo. Eduardo Fukushima é dançarino. Achou a tremedeira

"Como me tornei estúpido" (encenação Beth Lopes; adapt. Fernando Bonassi)

(ensaio aberto de 23/09/2007; estréia no Teatro Viga sexta-feira, 28/09; até 18/11) Longo (1h45), o ensaio aberto narra a história de Antoine, ao que parece espécie de alterego do autor (Martin Page), que, de discriminado por inteligente, busca inserção social e sucesso na vida. Page, que estará em São Paulo na estréia, usa com tal pretexto de artimanhas para desencavar questionamentos sobre o papel do intelectual (ou do homem mais do que medianamente inteligente) numa sociedade comandada pelo dinamismo dos interesses e da especulação monetária, emocional e sexual (dentre muitas outras). Daí o estúpido. Antoine conclui que precisa ser um para conseguir sobreviver. Daí que apela a tudo, à bebida, à tentativa de suicídio, e à (auto)medicação de antidepressivos. Quem, dos viventes em grandes cidades, já não passou ao menos por cogitar alguma dessas alternativas? Não à toa o texto torna certas idéias, à primeira cara meras sandices, imediatamente atraentes a quem se dispõe a gozar de si me

A Hora e a Vez de Augusto Matraga (dir. André Paes Leme) (16092007)

Texto: Clássico de Guimarães Rosa, infinitas vezes transcriado para teatro. Ágil, respeitoso com o texto original (acabo de relê-lo, por cima), praticamente sem omissões (às vezes necessárias, para respeito do andar da peça), dito na leitura exata do texto (o que por vezes dificulta algo do entendimento). Os trechos em terceira pessoa são compartilhados por todos os atores, em função de seu lugar e possibilidade de apresentação, sem tropeços. Alguns trechos em terceira pessoa ficam com os personagens a que o discurso se refere, dando certo caráter cômico diversas vezes. Cenário: Simples, praticamente imutável durante a peça inteira. Quatro paus com cabeças esqueléticas de boi, mesas (uma de cada lado) atrás, um carro de boi deslocado de um lado para o outro e adereços. O cenário peca um pouco pela simplicidade por ser espelhado (adereços de um lado iguais ao do outro). Praticamente todos os recursos cênicos são ditados pelo trabalho de luz, que faz uso de texturas, cores e dos vários n

Um (outro) lugar de Sarah ou ...

a palavra é viscosa demais para assumir o lugar de areia, areia do mar, da praia, dos montes, desertos. a palavra é também petulante demais para querer assumir qualquer parte do gesto, qualquer gesto, do mais sutil ao mais audacioso. do gesto sai um germe de vida, da palavra uma desculpa para parar. a palavra é amorfa demais para ocupar a ociosidade da pedra e superar o ruído da terra. o golpe da pedra destrói o equilíbrio nervoso, já a palavra extermina o que vê, analisa, transcende. a pedra continua, a palavra mata o sujeito. a palavra permanece presa ao mundo, o ar escoa nos seres. a sarah que voa dispensa lamúrias, assim como os gestos qualquer entendimento. mas o entendimento que ronda a palavra ameaça a não-palavra. "ah, quer dizer que...", não, pois a graça então em não querer-SE dizer. o gesto trai e aí está sua graça. assim como a voz, ou o tom, ou o grito, ou o resfolegar de uma sarah não mais aqui. ameaças pairam no mundo de sarah. em seu lugar não há nada, e por i

Um (outro) lugar de Sarah ou ...

a palavra é viscosa demais para assumir o lugar de areia, areia do mar, da praia, dos montes, desertos. a palavra é também petulante demais para querer assumir qualquer parte do gesto, qualquer gesto, do mais sutil ao mais audacioso. do gesto sai um germe de vida, da palavra uma desculpa para parar. a palavra é amorfa demais para ocupar a ociosidade da pedra e superar o ruído da terra. o golpe da pedra destrói o equilíbrio nervoso, já a palavra extermina o que vê, analisa, transcende. a pedra continua, a palavra mata o sujeito. a palavra permanece presa ao mundo, o ar escoa nos seres. a sarah que voa dispensa lamúrias, assim como os gestos qualquer entendimento. mas o entendimento que ronda a palavra ameaça a não-palavra. "ah, quer dizer que...", não, pois a graça então em não querer-SE dizer. o gesto trai e aí está sua graça. assim como a voz, ou o tom, ou o grito, ou o resfolegar de uma sarah não mais aqui. ameaças pairam no mundo de sarah. em seu lugar não há nada, e por i

Um lugar de Sarah ou qualquer coisa que a senhora quiser (concepção: Sônia Soares) (Teatro Viga, até este domingo, dia 16)

Bacon, o pintor, dizia que se conseguisse explicar suas telas com palavras não teria motivo algum para pintá-las. Da mesma forma, se fosse possível descrever a peça Um lugar de Sarah com palavras não seria necessário vê-la. Um lugar de Sarah conta com duas bailarinas (Sônia Soares e Tatiana Guimarães) que, sem palavras, narram com um lirismo incontido a visão de mundo da protagonista, a artista plástica Sarah. Narram usando cadeiras, mesas, camas, estrados, p... (quase digo) e... (esta não conto mesmo). Narram sugerindo/mostrando, contorcendo/dilacerando, batendo/comemorando, aproximando/afastando, vivendo/morrendo. Narram com pertencimento e dureza, comunhão e crueldade, cumplicidade e traição. Narram sem nada falar, tudo querendo dizer. Não todos entendem. Há quem se contenha na dúvida, como estranho no ninho. Mas ao fim nada diferente é o que resta, senão transcendência. As dúvidas ficam para trás, como pedras no meio do caminho. Pedras que no fim das contas não fazem assim tanta di

El Truco (Núcleo Experimental dos Satyros; dir. Roberto Audio, 09/09/2007)

Fala-se em teatro experimental e um determinado interlocutor parece, sem muita delicadeza, tentar incutir à minha mente algo como um teatro amador, um teatro provisório, um teatro arriscado, um teatro meio que iniciante, que tanto "teria a aprender". Não vejo por que, nos dias de hoje, isso teria de aplicar-se, na medida em que cansamos de nos decepcionar com diretores "de primeira linha" adaptando sofregamente, e sem a menor cara-de-pau, clássicos respeitáveis sob pontos de vista pedestres com a desculpa de popularizar o teatro (como se a população necessariamente precisasse ter gosto pedestre). Como afirmar amadorismo ou profissionalismo em conjuntura tal em que diretores, estes sim, respeitáveis erram horrorosamente apostando em espetáculos carcomidos por pontos de vista ultrapassados - lugar absolutamente inverso ao anterior, pouco se lixando para o público ou para a necessidade de um espetáculo ser, antes de mais nada, um espetáculo? Há muitos espetáculos por a

Art in America, setembro, cartas

what's wrong with art schools to the editors: i found your piece on the state of arts schools (aia, may '07) interesting and relevant, albeit one-sided. as a third-year undergraduate art student at ucla, however, i am fairly accustomed to one-sideness. though charles ray, an artist who teaches at my school, is quoted as saying 'the reason the kids here are getting all this early success is because they're not art students, they're young artists', i feel like is hardly the case. if i am a young artist and not an art student, why am i receiving grades, >>>or paying so much tuition money? why do i have so little control over the system that is governing my career decision, or so little voice in a discussion that is taking place about it?<<< while accomplished professors can tout the maturity of their students by calling them 'young artists', they ignore the fact that >>>we still have to fit into an age-old bureaucratic paradigm th

Pequenos Milagres (Grupo Galpão, apresentação de 18/08/2007)

Texto: Emprestado de histórias reais, envolvem fait divers (cabeça de cachorro e casal náufrago) e enredos em que a memória é o que mais se faz presente (o pracinha da feb e o vestido). A idéia da viagem do menino faz de Cabeça de cachorro o enredo que inicia e finaliza toda a encenação. O pracinha da feb arremete em drama, o vestido puxa mais para a comédia, e o casal náufrago radicaliza numa tragédia em clima noir. Ágil e repleto de pequenas sacadas que atráem a atenção da platéia e convidam à ironia, identificação e complacência, o texto exagera um pouco, contudo, em clichês, atribuindo aos personagens identificações mais chapadas do que eles mesmo têm. Cenário: Centrado numa grande estrutura que preenche todo o fundo do palco, composta de portas, janelas, gavetas, etc., que escondem artefatos fundamentais a determinadas cenas, e dão a base a encenações extremamente empáticas (exemplo: a introdução ao jogo do milhão, em casal náufrago), o cenário da peça serve perfeitamente como art

Pequenos Milagres (Grupo Galpão, apresentação de 18/08/2007)

Texto: Emprestado de histórias reais, envolvem fait divers (cabeça de cachorro e casal náufrago) e enredos em que a memória é o que mais se faz presente (o pracinha da feb e o vestido). A idéia da viagem do menino faz de Cabeça de cachorro o enredo que inicia e finaliza toda a encenação. O pracinha da feb arremete em drama, o vestido puxa mais para a comédia, e o casal náufrago radicaliza numa tragédia em clima noir. Ágil e repleto de pequenas sacadas que atráem a atenção da platéia e convidam à ironia, identificação e complacência, o texto exagera um pouco, contudo, em clichês, atribuindo aos personagens identificações mais chapadas do que eles mesmo têm. Cenário: Centrado numa grande estrutura que preenche todo o fundo do palco, composta de portas, janelas, gavetas, etc., que escondem artefatos fundamentais a determinadas cenas, e dão a base a encenações extremamente empáticas (exemplo: a introdução ao jogo do milhão, em casal náufrago), o cenário da peça serve perfeitamente como art

Terra em Trânsito e Rainha Mentira (G.Thomas) (espetáculo de 28/08/2007)

Diversas novas abordagens e questões foram levantadas pelo espetáculo desse dia. Durante os ensaios de 2006 de Terra em Trânsito, o autor/diretor insistia na ênfase em entonação, dica constantemente repetida durante os workshops de 2007. Tais ênfases conduzem o espectador a um novo nível de convicção: mais terra-a-terra, às raízes dos problemas. A atriz presa é uma carioca da gema perdida em referências que não consegue digerir (muito menos compreender), esvaziada de convicções (mantendo apenas a energia), morta por antecipação à espera do momento que para ela nunca chega (o canto de Isolda). O texto foi feito para Fernanda Montenegro, constituindo-se assim numa soberba brincadeira a quaisquer estrelismos. No espetáculo de 28/08, penúltimo da temporada, o entrosamento (mudo) da atriz com o cisne, num suspense sem razão de ser, teve também nova dinâmica, muito mais ágil que de costume, assim como os rompantes de indignação (falsa) e de pasmo. Especial dessa vez foi a cena de sexo virtua

Terra em Trânsito e Rainha Mentira (G.Thomas) (espetáculo de 28/08/2007)

Diversas novas abordagens e questões foram levantadas pelo espetáculo desse dia. Durante os ensaios de 2006 de Terra em Trânsito, o autor/diretor insistia na ênfase em entonação, dica constantemente repetida durante os workshops de 2007. Tais ênfases conduzem o espectador a um novo nível de convicção: mais terra-a-terra, às raízes dos problemas. A atriz presa é uma carioca da gema perdida em referências que não consegue digerir (muito menos compreender), esvaziada de convicções (mantendo apenas a energia), morta por antecipação à espera do momento que para ela nunca chega (o canto de Isolda). O texto foi feito para Fernanda Montenegro, constituindo-se assim numa soberba brincadeira a quaisquer estrelismos. No espetáculo de 28/08, penúltimo da temporada, o entrosamento (mudo) da atriz com o cisne, num suspense sem razão de ser, teve também nova dinâmica, muito mais ágil que de costume, assim como os rompantes de indignação (falsa) e de pasmo. Especial dessa vez foi a cena de sexo virtua

Camino Real (Tennessee Williams, dir. Nelson Baskerville) (25 de agosto de 2007)

Texto: Ágil, repleto de referências artísticas e intelectuais, com picos melodramáticos patentes, provocações de ordem empática e política. Atualíssimo no tema, um pouco datado nas referências, um pouco mais afastado no tom melodramático. Engraçado e triste às vezes, irresistível diversas vezes. Cenário: Leve, com diversos recursos que promovem maior riqueza e agilidade. Telões que exibem imagens, escondem ações, revelam atuações; trilho central promove maior movimento; caixas, espelhos, plataformas; praticamente todas as instalações à vista servem para o espetáculo. Atuações: Elenco muito menor (10 atores) do que aparece, pela agilidade imprimida ao texto. Diversidade que ó às vezes confunde um pouco. Atuações com ênfases muito variadas. Anna Cecília Junqueira privilegiando o essencialmente corporal. Walter Portela e Adilson Azevedo com maior ênfase às empostações de fala. Fernando Fecchio num papel histriônico, bem trabalhado. Duas ou três vezes, chamam à participação do público, exe

Camino Real (Tennessee Williams, dir. Nelson Baskerville) (25 de agosto de 2007)

Texto: Ágil, repleto de referências artísticas e intelectuais, com picos melodramáticos patentes, provocações de ordem empática e política. Atualíssimo no tema, um pouco datado nas referências, um pouco mais afastado no tom melodramático. Engraçado e triste às vezes, irresistível diversas vezes. Cenário: Leve, com diversos recursos que promovem maior riqueza e agilidade. Telões que exibem imagens, escondem ações, revelam atuações; trilho central promove maior movimento; caixas, espelhos, plataformas; praticamente todas as instalações à vista servem para o espetáculo. Atuações: Elenco muito menor (10 atores) do que aparece, pela agilidade imprimida ao texto. Diversidade que ó às vezes confunde um pouco. Atuações com ênfases muito variadas. Anna Cecília Junqueira privilegiando o essencialmente corporal. Walter Portela e Adilson Azevedo com maior ênfase às empostações de fala. Fernando Fecchio num papel histriônico, bem trabalhado. Duas ou três vezes, chamam à participação do público, exe

Canto mas non presto (21 de agosto, piu piu, bixiga)

Grupo: octeto (meio a meio, madrigal?) que canta, interpreta e teatraliza autores de mpb contemporânea. Onde: piu piu, no bixiga, terça passada (21 de agosto). casa com público de no máximo 20 pessoas. Como: iluminação péssima, microfones, palco pequeno. convidado por tatiana rebello (soprano?) Foi: números claramente ensaiados sob condições diferenciadas. Lamento sertanejo, perfeito. arrigo barnabé, teatralizado com certa contenção. luzes independentes estragam surpresa de batalha naval. grupo sai contrariado, sabendo que em locais bem mais alentados seria possível desenvolver trabalho convincente. dialogação plausível entre os membros torna-se, segundo eles, prejudicada pela ausência do próprio retorno (sonoro). terminado o espetáculo, discussão quanto a desavenças internas coloca em questão a crença pessoal e profissional no trabalho desenvolvido. Comentário: crer é insistir, sem qualquer garantia quanto a qualquer resultado. adaptação é a lei dos fortes.

Uma pilha de pratos na cozinha (Mario Bortolotto, dir. Mario Bortolotto) (espetáculo de 12/08)

Texto: Diálogos esparsos no começo, que deixam espaço à caracterização gestual dos personagens. Provocações em seqüência dão aos poucos espaço à trama amor-morte que irá conduzir o desenlace final. Diálogos fortes, de personagens que perscrutam as próprias estranhas à frente do público, fortalecem o drama a ponto de revelarem atualíssimo lirismo, com sólida empatia. O público cala, tomado pela emoção. Final sem palavras, a ser melhor trabalhado em timing e luz. Cenário: Mesa, pilha de pratos, cadeira, poltrona. Bebida real rega a trama, afetando os atores, exigindo-lhes controle sem deixar de afetar olhares e vozes. Atuações: Caricaturais no começo, como Bukowskis pouco convincentes (Otávio Martins). Alex Gruli com trejeitos excessivos, também pouco convincentes. A cena transcorre em disputa rasteira, gestual, até a entrada de Eduardo Chagas (sardônico) e Paula Cohen (com sua ambígua força-fraqueza em inteiro domínio da cena). Enquanto as esgrimas verbais revelam as mais profundas feri

Terra em Trânsito e Rainha Mentira (G.Thomas)

os comentários da ana peluso me acordaram, há alguns dias, face a tarefa de jogar a bola pra frente nos espetáculos do gerald. e agora topo a parada. tendo visto sei lá quantas vezes Terra em trânsito, decorado partes, agasalhado novas sacadas, a emoção em mim sempre surge quando a fabi, divina quase sempre, diz "esta é a terra em trânsito, sempre em movimento", etc., e surge a ária (é ária?) de tristão e isolda, quando isolda grita um grito desumano, e fabi morre no próprio grito, engolindo a si mesma, nesse egolatrismo desmedido de quem se vê sempre no centro de um tudo que é nada. mas eis que em rainha mentira o papo é outro, todo um lamento, toda uma queda, diversas quedas, aliás, todo um lamento de um filho que se admite fraco, e põe fraco nisso, face a história de uma mãe perseguida por tramas e tramas, e dores, sabendo-se para sempre culpado. por quê? pois entre eles havia, sempre houve, também uma lacuna, uma parede, um sei lá, um inominável. um inominável que faz o f

1 e 2

Inaugurando meus comentários sobre teatro, discorro algumas linhas sobre Roxo, de Jon Fosse, dirigido por Fernanda d'Umbra. Texto: Diálogos precisos, quase sempre com algo não dito por detrás de aparente simplicidade. Mensagens não ditas que remetem quase sempre a cumplicidade, e que exigem ambigüidade chapada por parte dos atores. Cenário: Necessariamente simplório, quase exigindo enxergar as irregularidades das paredes, tetos, instalações elétricas. Instrumentos com timbres arregaçados. Atuações: Destaques para Fabiano Ramos (o guitarrista), com fragilidade irregular, Didio Perini (o baterista), com violência bate-pronto, e Júlia Novaes (a garota), de timbre metálico, transmitindo a falsa beleza das meninas superficiais. Direção: Comedida, bem calculada, sem deixar a peteca cair. O texto flui maravilhosamente. O fim chega suavemente. Mal sente-se o tempo passar. Agora, Faz de conta que tem sol lá fora, de Ivam Cabral, direção de Aline Meyer. Texto: Diálogos redundantes, proposita