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Mostrando postagens de janeiro, 2013

antro positivo 5, no mesmo barco

saiu a nova antro positivo. nunca perguntei ao ruy o porquê do nome, mas o fato é que pouco importa. como todo produto de qualidade, impõe-se por si mesmo. começo a ver o conteúdo como uma reunião de amigos. não me entendam mal. não quero dizer uma reunião de panelinha. refiro-me a uma reunião em que todos têm um traço em comum - a valorização do teatro. lá está o edson secco, por exemplo (ruy, cadê o link para o áudio? não achei). logo o edson que tanto se fez presente naquelas encenações do gerald (thomas), quando entrei de gaiato no navio. logo o edson que encontrei num conveniência (lá também achei a erika puga, ô louco). o edson é foda. música que não é mero refresco. poderei um dia avançar lentamente nessa seara? uau. lá está também a martina sohn fischer, autora do aqui, encenado no club noir. não que eu seja amigo dela, não. mas, tendo apreciado bastante suas proposições teatrais, estamos também no mesmo barco. o enrique diaz é contumaz conhecido de muitos. mas eu não o co

O Menestrel, de Shakespeare, no You Tube (só uma pequena observação)

ontem, assisti um vídeo no youtube a respeito do qual queria comentar alguma coisa. vão ao you tube e coloquem o menestrel william shakespeare legendado. vão encontrar uma imagem em que um cara vestido de bufão fala no lugar de um regente de orquestra. pois bem. não conhecia o texto do bardo. quem me apresentou a ele foi o marcelo. difícil não admitir sua riqueza, beleza e tudo o mais. a declamação é bela. o tom de voz do rapaz é interessante. difícil deixar de reconhecê-lo. mas, e os movimentos? cara, fiquei chateado. tanto que poderia ter sido feito, com pouco ou com muito, e nada na declamação. o sujeito vai para lá e para cá e os movimentos não parecem significar nada. poderiam significar? poderiam. imagino o que poderia acontecer, por exemplo, se fossem assumidos movimentos do butô, de que aprendi alguma coisa com a ana nero. minha crítica vai por aí. mas não é nada. é um caminho que apenas eu posso e devo percorrer.

umas linhas soltas que não dizem nada mas que gostariam de dizer tudo

tenho uma breve conversa com o marcelo. conversamos sobre teatro - é claro. e sobre meus objetivos, pretensões, tudo o que é meu e que ainda não é nada. ao final, ele me mostra link no youtube com o texto você aprende, do bardo shakespeare. vejo e ao mesmo que me emociono noto que algo está errado. há movimento demais. acepções demais. muito demais. não aguento. eu sou pelo menos. engraçado eu dizer isso, sendo tanto quanto escrevo por aqui - e quem me lê sabe que eu praticamente não páro. mas é o fato. não estou seguro de nada, por isso preciso ainda engatinhar de todo. hoje tem show do saco de ratos, a banda do marião, brum, watanabe, pagotto e rick. gostaria muito de ir, mas não sei - talvez eu vá fazer exame de sangue e urina amanhã - e para isso terei de estar zerado - não posso beber, por exemplo. como ficar lá no show sem beber, alguém me diga. tentamos a lulu tomie e eu nos encontrar. para que ela me conte tudo o que acontece com ela e eu, comigo. talvez tenha ficado pa

Santa Maria e o reles ofício de tocar a vida

Ontem mesmo, o Ruy Filho, da Antro Positivo, escreveu um condoído texto em que ele reflete nosso miserável ofício diante dos dilemas envolvidos num episódio como o da boate Kiss, em Santa Maria, RS, em que mais de 230 jovens morreram por causa de um incêndio, havendo centenas de outros em graves condições de saúde. Sim, Ruy, diria eu, é difícil continuar acreditando em nossos miseráveis ofícios quando algo como aquilo acontece. Mas pararia eu por aí. Por quê? Bom, trabalho em duas revistas sobre materiais desde 2003. Sou editor técnico de ambas. As revistas são conduzidas de forma a primeiro, conseguir cobrir as despesas, e segundo, dar lucro. O conteúdo técnico é quase uma premissa em última instância irrelevante. Basta cumprir as pautas e tudo bem. Não há nada no perfil das publicações que conduza a qualquer idealismo. Ocorre que acompanho esses mercados todo o tempo e que vejo, sim, progressos em termos de busca por materiais mais seguros, menos tóxicos ou mesmo mais eficie

Crítica de teatro: e aí? Precisamos dela? Alguém liga?

Encontrei o Roberto, um professor de comunicação que também faz frilas de jornalismo, lá no Terraço, que é onde o almoço é mais barato e decente, perto do trampo. Ele me pergunta quanto à minha apresentação, no último sábado. Digo como foi (fui bem) e nos metemos a falar sobre filosofia, jornalismo e teatro. Concluímos, como com o César Ribeiro, dia destes, à espera de mais peça, que agora os tempos são outros. Os jornais permanecem, sim, no panorama, mas as novas tecnologias têm dado espaço para outros, muitos outros, alguns diletantes, outros que ainda pretendem trilhar caminhos mais sérios na seara do teatro e dos cadernos culturais. Chegamos a falar algo de Adorno, Marx e quejandos. Eu não faço crítica. Assisto tantas peças quanto posso e comento o que quero nos espaços que arrumei para mim mesmo. Divulgo o que faço pelo face, twitter e coisas assim. Mas não nego: aprecio viagens mais profundas no assunto, viagens com referências e pretensões - nada arrogantes - a passos mais am

Mulheres, de Charles Bukowski (adaptação de Mário Bortolotto, direção de Fernanda D'Umbra) (4a vez)

Chego novamente a assistir a peça meio que motivado pela necessidade de bater recordes. Como se não quisesse que alguém visse a peça mais do que eu mesmo. Desta vez sento na terceira fileira. Quero ver a iluminação, prestar mais atenção nela. Não faço tanta questão de acompanhar as atuações em detalhes, ou seja, bem de perto. No começo, minha vontade funciona. Mas passa o tempo e me deixo conduzir pela trama. Esqueço de notar e de anotar. Sou engolfado pela peça, pelos personagens, pelas entrâncias e reentrâncias possibilitadas pelo jogo atuações-som-luz. O tempo me domina. Disse o Marião à saída que ele estava mais relaxado. Não consigo senti-lo tenso em momento algum. Não devo ter tanta sensibilidade assim. O Batata e as meninas (Tuca e Samya), como sempre, arrasam na simplicidade, leveza e completo descontrole sob controle (quase, por parte das meninas). A Erika parece mais à vontade. Aos poucos, entra mais e mais na Lydia que tanto revela quanto aporrinha Chinaski. Nota-se u

Algo tipo breve ensaio: Mulheres, de Bukowski, adaptado pelo Mário Bortolotto, e o Desejo

O Lucas Mayor, amigo aqui de face, levantou a lebre. Segundo ele, a peça do velho Buk adaptada pelo Marião trata da solidão inelutável. A esse respeito, o Lucas fez um lindo texto, que o Marião repercutiu. Coincidência, encontrei o cara prestes a vermos Fatia de Guerra, do Andrew Knoll, no Club Noir. Cumprimentei e elogiei o seu texto. Mas ele preferiu ficar só. Tenho visto a peça do pessoal do Cemitério diversas vezes (até agora, quatro). O suficiente para poder entrar na trama e dela me afastar, um pouco mais reflexivo. Vez ou outra, reparo em mais camadas nos personagens, e minha leitura muda ligeiramente. Mas no geral continua na mesma. E concluo que essa leitura não contempla necessariamente a solidão, tal qual o vê o Lucas. Ou seja, sinto discordar. Minha fixação no Buk descansa em grande parte em sua trajetória. E é - creio - por isso que tanto me vejo retirar das peripécias a que Chinaski, o alter-ego do Buk e encarnado pelo Marião, parecem se meter. Mas a peça gira ao red

Fugindo (atuação e direção: Rodrigo Contrera)

Esta talvez seja uma situação esdrúxula para muitos. O próprio autor e diretor opinando sobre si mesmo? O texto já é antigo, tendo sido feito para o Gerald Thomas, respondendo a provocação dele mesmo: do que é que você foge, Contrera? O resultado foi dito numa peça dele, por mim mesmo, duas vezes. Depois esse texto foi usado em uma peça minha, inserido numa maior, que foi registrada na Biblioteca Nacional, houve quem quis tornar material para instalação, mas nunca foi dito encenado com o final determinado de o ator sumir de vez do local da encenação. Não usei de nenhum dos recursos que a Lê (Letícia Trebbi) me colocou à disposição. Simplesmente parti de um local visto por todos (do centro da sala), fiquei de costas, peguei o microfone e disse o texto. As pessoas me olhavam completamente absortas. Lembro-me claramente do semblante de cada um. Houve quem esboçasse sorrisos enquanto eu falava os versos do poema-declamação, mas no geral a absorção era integral. Ao final, como o person

Mulheres, de Charles Bukowski (adaptação de Mário Bortolotto, direção de Fernanda D'Umbra)

Assisto a peça pela terceira vez motivado pela substituição da Fernanda pela Erika Puga, que tanto me agradou em Quartos de Hotel, dentre outras peças. Já disse que sou suspeito para falar sobre as peças do Cemitério de Automóveis. Mas mesmo assim... Confesso que da segunda vez que assisti a peça, fiquei com uma leve impressão de muito tempo de peça. Talvez porque a surpresa tenha sumido de minha frente. Quem sabe. Não sei bem. Sei que os intervalos entre as cenas não demoram agora muito - como aconteceu na estreia. Como disse o Marião, as cenas com o tempo engrenariam melhor. É o que acontece. As cenas começam e vejo a Erika tímida. Não sei o que acontece. Lembro-me da Fernanda histriônica e sinto falta disso. A Lydia, personagem da Erika e Fernanda, parecendo tímida diante do Chinaski? Não combina. O tempo faz com que ela assuma o papel que lhe cabe. Mas, pena, vejo o papel em que deveria haver poemas em branco. Fico decepcionado. Algo cai. Mas tudo continua, as cenas sucedem-

Concílio da Destruição, da Cia. Les Commediens Tropicales

Vou assistir a peça convidado pelo Ruy Filho a escrever a quatro mãos uma resenha crítica com a atriz Renata Admiral. Chego bem cedo e encontro o dramaturgo e diretor César Ribeiro, com quem entabulo uma ótima conversa. A peça foi encenada no espaço cênico do Sesc Pompeia, um local relativamente pequeno. A encenação ocorreu num retângulo formado por algumas mesas à frente e atrás, ladeadas por monitores e com diversos equipamentos de som (microfones, etc.), assim como com câmeras. A peça parte de uma premissa que está no próprio programa: e se por alguma razão as obras de arte fossem limitadas, por um determinado concíclio, a 5 por país? Quais seriam as escolhidas? Quais as jogadas fora? Como o mercado da arte se comportaria em seguida? O que aconteceria com o surgimento de novas obras de arte? Etc. Confesso que a premissa me desgostou um pouco. Não tendo a gostar muito de "sacações", entendem? Prefiro coisas que falem por si mesmas. Espetáculos que não partam de sacad

Fatia de Guerra, de Andrew Knoll, em livro Procurado e Fatia de Guerra (7 Letras)

A peça é a sexta de uma série de oito que a Cia. Club Noir, do Roberto Alvim e da Juliana Galdino, está encenando na Mostra de Dramaturgia Contemporânea. O autor esteve presente à estreia, que contou com uma leitura ensaística do crítico Ruy Filho. A menor das duas peças do livro, Fatia de Guerra navega nas lembranças de uma garotinha e do pai - que mata a cachorra da menina. En passant a diálogos e solilóquios sofridos a respeito, tanto dela quanto dele, vemo-nos envolvidos numa trama que remete a momentos de guerra, de cogumelo de bomba atômica a bombardeios, cuja origem desconhecemos mas que aparecem fortalecidos pelo contexto de amor e morte. A leitura pode refletir-se, no leitor, em leituras as mais diversas. É como se houvessem restos a serem reconstruídos, para não necessariamente, contudo, fazerem sentido. Alvim explica que a peça foi a primeira da série escolhida a assumir um formato e formas de enunciação fora do usual, com texto espalhado pelas páginas em fontes e taman

Sonata a Kreutzer, de Leon Tolstói (dramaturgia: Cássio Pires, direção Marcello Airoldi)

Fui convidado pelo Cássio a assistir a peça por motivos estranhos a ela. Deu-se no Sesc Pinheiros. Baseada no original de Tolstói, Sona a Kreutzer narra, em poucas palavras, o assassinato da própria esposa pelo protagonista, sem contudo se restringir a ele: narra-se o início, interlúdio e epílogo de casamento aparentemente feliz mas intima e inevitavelmente condenado ao fracasso. Vemos a trama sendo narrada em primeira pessoa, mas por dois atores, sob o formato de uma sonata - a sonata do título é de Beethoven. O tom da narrativa é tal qual o de um diário ou da reconstrução de um crime. O protagonista, do qual não sabemos o nome, explica primeiro como é que ele narra suas relações com a instituição casamento, sempre contudo cético em relação ao sexo oposto. Mostra então como ele entrou, por que, e como se deixou enlevar pela sociedade rumo à tragédia anunciada. Um casamento feliz com 5 rebentos? Como assim? Percebemos a artificialidade do gesto, o papel da sociedade em conduzir a tr

Fatia de Guerra, de Andrew Knoll (direção, Roberto Alvim)

Assisto a peça pela primeira vez meio que convicto de que o que rolaria seria uma espécie de pout-pourri de lembranças de uma guerra indeterminada. Mais ou menos. Há três atores no palco, dois dos quais mulheres. Nota-se claramente que a menina faz a menina, que a mulher mais velha meio que corporifica um cão e que o homem, mais velho, faz as vezes de pai. Só isso já serve para determinar, nem que seja genericamente, o indeterminado. Há uma guerra? Que guerra é essa? A menção ao cogumelo faz as vezes de inserir a bomba atômica na trama? A menção ao filete de sangue no nariz da menina convidaria a uma remissão a efeitos tardios de um dano interno? (Quase) tudo permanece em suspenso. Mas há um suspense. Á calmaria do início idílico soma-se aos poucos a remissão a um assassinato. O da cachorra. Que fala. Que faz menção a uma arma que ela própria cavouca no solo e que o pai utiliza para dar fim ao seu sofrimento - estaria doente. Doente de quê? Não sabemos. A arma, ela própria, também

"O Chile não existe mais" e o ofício da crítica

Lendo a revista chilena ciertopez, dos idos de 2005, deparei-me com uma entrevista de capa com um poeta chamado José Ángel Cuevas. Não conheço seus poemas. Nem sabia de sua existência. A entrevista faz-me recordar o jeito santiaguino de conversar, com expressões as mais diversas, e aproximação a aspectos da ditadura que só quem acompanhou o drama sabe aquilatar. Não irei me estender quanto àquilo que o Cuevas disse, aquilo de que eu sublinhei várias coisas, mas a um aspecto em particular, que rendeu o título da capa. O Chile não existe mais. Nasci no Chile em 1967. Vi o golpe da janela de nossa casa, a 10 quarteirões da casa do Allende, e vivi os meus próximos 3 anos sob mando dos militares. Eu ouvia os jatos amedrontando a população enquanto quebravam a barreira do som perto da cordilheira. Era obrigado a cantar com a mão em riste o hino nacional chileno toda segunda-feira. Uma vez um jato me amedrontou numa praça, dando uma rasante. Eu caí e me machuquei. Como sempre fui muito c

Algumas linhas sobre a busca do novo, o tédio do velho e a pretensão do novidadeiro

Venho vendo uma série de peças de teatro em vários locais e auferido um certo mal-estar com o que vejo. Não sei muito bem a que esse mal-estar se refere, por isso decidi traçar algumas linhas tentando entender um pouco mais a respeito. Dou nomes aos bois. Vi Fatia de Guerra, de Andrew Knoll, dirigido por Roberto Alvim, na Mostra de Dramaturgia Contemporânea da Cia. Club Noir. Vi também Concílio da Destruição, da Cia. Les Commediens Tropicales, de Campinas. Vi também Retratos Falantes / Elas, no Repertório de Verão do Grupo Tapa, lá no teatro Viga da Sônia Soares (muita saudade). E vi também, duas vezes, Mulheres, de Charles Bukowski, em adaptação do Mário Bortolotto do Grupo Cemitério de Automóveis. Isso nos últimos dias, apenas. Vejam bem o título deste meu texto. A busca do novo. Alvim busca o novo. Para isso, faz uso de seu Dramáticas do Transumano, o livro, de que eu já falei. Há muito de seriedade e generosidade nessa busca por, como ele próprio diz, "novos mundos possív

Mulheres, de Charles Bukowski (adaptação de Mário Bortolotto, direção de Fernanda D'Umbra) (2a vez)

Assisto, pela segunda vez, esta superprodução do grupo Cemitério de Automóveis, capitaneado pelo Mário Bortolotto. Vou com o intuito claro de curtir, mais uma vez, mas também tentando capturar dicas, vislumbrar distinções e entender como é que aquilo que funciona de uma forma, uma vez, pode não funcionar de outra forma, outra vez. O público, pelo que notei, tirando uma ou outra presença de amigos, foi desta vez composto de ilustres desconhecidos, gente que não deve acompanhar o trabalho do grupo de perto ou que ficou atraído pelo mote Bukowski. Afinal, esta peça é uma novidade. Nunca foi encenado Bukowski por grupo tão identificado com seu universo e sua forma de ver e entender a vida. O próprio Marião reconhece ser o velho Buk o autor com que ele mais se identifica. Como disse eu da primeira vez, a peça sustenta-se em blocos de duração variável (menores quando a trama é mais elétrica) que narram como é que Chinaski, alter-ego de Buk, lida com sua repentina (ou gradual) transforma

Uma cama entre lentilhas, em Retratos Falantes, de Alan Bennett (dir. Eduardo Tolentino de Araújo) (Repertório de Verão 2013, Grupo Tapa)

O segundo monólogo de Retratos Falantes, de Alan Bennett, no Repertório de Verão 2013 do Grupo Tapa, "Uma cama entre lentilhas", por Clara Carvalho, narra as peripécias internas de uma mulher de reverendo que quer se ver livre das imposições da sociedade à sua vida, que contudo toca da melhor forma que pode, limitada às pré-condições, e em meio ao que ela descobre o sexo como auge, como êxtase, com um indiano, Hamesh, num armazém em que as lentilhas dominam o ambiente. Aqui o texto de Bennett assume um ar mais irônico, cético e até mesmo cínico enquanto a protagonista explica todas suas peripécias, ladeando a carreira do marido, um elesiástico rígido e - veremos depois - tapado demais para sequer entender o mundo como ele é. Estão em todo o texto, mais longo que o primeiro ("A sua grande chance") e com mais e mais complexas acepções, que açambarcam toda a leitura que, contudo, não fica chata, num trabalho consistente da atriz. Poderíamos resumir a pequena peça,

A sua grande chance, em Retratos Falantes, de Alan Bennett (dir. Eduardo Tolentino de Araújo) (Repertório de Verão 2013, Grupo Tapa)

O flyer adianta que serão dois monólogos, um com a Bárbara Paz, que eu nunca vira em cena, e a Clara Carvalho, que esteve em Breu (resenhado há semanas). Resenho o primeiro aqui, por enquanto. "A sua grande chance", com a Bárbara, é um mergulho no universo ensimesmado de uma jovem atriz em busca de uma chance. Uma personagem que quem está acostumado a frequentar o universo teatral vê a todo lado, em estreias, teatros, saguões, bares, restaurantes, casas de shows e até mesmo na rua. Vestida com um longo tailleur vermelho choque, aberto bem no meio das pernas, como nas caixas de Marlboro, a atriz vivida por Bárbara bem de chofre diz a que veio. Ela quer uma chance, é isso o que ela quer, mas, como não sabe exatamente como esta irá surgir, se surgir, busca enredar-se em situações que a levem até Lá. Para isso, não economiza de sedução. O problema é que ela escolhe mal. Deixa-se levar pelas aparências e entra em roubadas. Há uma sincera necessidade sexual rondando a todo mom

críticas

para dar vazão a todas minhas leituras, passarei também (passarinho) a escrever críticas, muito embora esteja bem cético quanto à sua utilidade ou mesmo existência. estarão em criticassobreteatro.blogspot.com. ainda não tem nada lá. logo deve ter.

Mulheres (de Charles Bukovski, adaptação por Mário Bortolotto, direção de Fernanda D'Umbra)

Eu sabia que iria ser concorrido. Não imaginava o quanto. Entraram muito poucos. Fiquei no meu lugar. Não li o livro do "velho Buk" (como os amigos do grupo e simpatizantes o chamam). Parti quase do zero. Sabia que o Buk, após os 50 anos, começava a fazer sucesso e de seus "problemas" com mulheres. Sabia que a partir de então ele iria cair na farra. Só não imaginava o quanto, a que ponto. A peça é uma superprodução do grupo Cemitério de Automóveis, dirigido pelo Marião. Tem papel de parede feito para a ocasião. Tem piso, carpete, tudo sob medida para ambientarmo-nos nas décadas de 60 e 70. Tá tudo lá. A trilha convida a entrar no espaço temporal de outrora, de quando o Buk saía aos poucos - ou repentinamente - do anonimato. Elas, as mulheres, aparecem primeiro sob a figura da mulher do Buk, ciumenta de dar dó. Começam a aparecer outras, expulsas por ela. A maré começa a mudar, e elas começam a entrar. Há um momento em que elas viram uma torrente. Aparecem a

Bagana na Chuva, de Mário Bortolotto (Editora Ciência do Acidente, Jales, SP)

O livro é de 2003. E parece que o tempo não passa, ou passou. Há uma narrativa, sim, nesses 59 capítulos de tamanhos os mais diversos, em que aos poucos, e aos trancos e barrancos, Cardan, o herói ou anti-herói desta história sem começo nem fim, mostra uma fauna em progressão de homens, boys, putas, descoladas, frescas e de amigos, e em que estes, resolvidos, sim, mas a gastar a vida em meio a bebidas, preconceitos e discussões sem fim sobre assuntos que valem e que não valem a mínima pena, abrem as portas a um mundo em que o otimismo não tem lugar e em que a sensação de felicidade vem misturada a um amargor forte e a experiências passadas em meio a bebidas, mesas, ruas, vielas, banheiros, cozinhas, salas apinhadas de tranqueiras e, por que não, até em quedas d'água e sexo anal. Tudo muito temporário, provisório, humano, enfim. O amigo Reinaldo Moraes, jornalista de antiga cepa, prefacia o livro. Se só o prefácio já mereceria uma resenha, breve, é claro, até para não superar o

Hieronymus nas Masmorras, de Luiz Felipe Leprevost, e (Em) Branco, de Patrícia Kamis (7 Letras)

Segundo livro de uma série de cinco, encabeçados por "Dramáticas do Transumano", de Roberto Alvim (veja resenha neste mesmo blog), o livro que inclui as peças de Leprevost e Kamis vem com um prefácio que resume (mas de forma alguma esgota) a proposta de Alvim para o entendimento dessas oito obras resultantes de oficina transcorrida em Curitiba com dramaturgos iniciantes que ele vem publicando uma após a outra. Nesse sentido, resenhar os textos presentes neste livro suporia, antes de entender a proposta de Alvim, reconhecer que nisso que é revelado há algo de estranho no reino da dramaturgia. Ao que não é difícil de se chegar. "Hieronymos", de Leprevost, foi a primeira das obras do ciclo encenada pela Cia Club Noir. Lembro-me como se fosse hoje da estreia, a que compareci, e que foi acompanhada de uma provocativa explanação do dramaturgo e crítico Ruy Filho e de um bate-papo com o próprio Leprevost. Lembro-me também da forma pela qual Alvim escolheu fazer repres

Dramáticas do Transumano, de Roberto Alvim (7 Letras)

Não se deixe levar pelo título, de alguma forma pomposo - ou pretencioso, para outros. "Dramáticas do Transumano", do diretor da Cia Club Noir, Roberto Alvim, visa romper barreiras. Quais barreiras? As que mantêm o teatro contemporâneo preso a paradigmas do passado. Paradigmas aqui está bem colocado, pois assim como Thomas Kuhn fez com a ciência contemporânea, ao desfraldar a noção de paradigma pela primeira vez, a assunção de novos paradigmas pode ser a saída encontrada por alguns para fazer do teatro algo mais do que espetáculos de fácil digestão ou "viagens" que para muitos não parecem levar a nada. O livro é resultado de reflexões de Alvim face às 8 obras que, de uma oficina transcorrida em Curitiba, foram escolhidas como representantes do novo e bom teatro brasileiro contemporâneo. Essas obras foram, na sua integridade, frutos tanto da oficina quanto das opções transgressoras dos seus autores, em geral novatos ou com relativa pequena trajetória no teatro bra

o som ao redor (dir. kléber mendonça filho)

fazia muito tempo que não via cinema nacional. neste caso, fui meio que levado pelos jornais. resenhas aqui e acolá. fiquei curioso. em especial pelo apelo antropológico. sei lá, alguém por aí disse que ele explica algo do brasil. não tenho muito saco para leituras do tipo freyre, prado, buarque, etc. embora goste, lá no fundo goste. tudo funciona como um mosaico que a gente vai montando aos poucos. uma cena familiar. uma sequência focada em um personagem em particular. ou em alguns. é um bairro de recife. lá, uma rua é ou foi propriedade de um antigo senhor de engenho. aparecem um sujeitos oferecendo segurança. um uno é arrombado. um rapaz vai tirar satisfação do primo. um cara de rua risca o audi de uma mulher meio arrogante, por causa mesmo disto. uma reunião de condomínio. uma visita ao engenho. uma festa. e a história avança. preferível dizer só isto para dar uma amostra do tema da bagaça. a trama avança lenta mas não irrita. tudo aparece com um tempo natural, próximo a

No (dir. Pedro Larraín) (baseado em peça de Skármeta)

Antes, um esclarecimento. Nasci no Chile, vivi 9 anos lá e assisti o golpe e pós-golpe. Viajei a Santiago em 1988, como chileno, numa caravana pelos direitos humanos que havia sido (não sabíamos disso então) organizada pelo Partido Comunista chileno. A caravana não passou, mas eu (que me desliguei dela em Mendoza), sim. Mas eles nos procuraram em Santiago (no meu caso, eles não deviam ter o meu nome). Fui a uma manifestação pelo plebiscito (pelo No) e vi como tudo se desenrolou, jatos de água, etc. Não fiquei na linha de frente. Voltei antes do dia do plebiscito, eu precisava voltar e não tinha título, por isso não podia votar. Essa é a minha história relativa ao Chile e ao plebiscito. Desde "Machuca" eu não me reaproximava desse meu passado. Passei por toda a projeção nervoso (em parte, confesso, porque queria mijar). Em diversos momentos, ri de nervoso e quase me vi na tela. Ainda hoje pondero em que medida a ditadura foi e ainda é importante EM mim. Digo "em m