Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2007

Cecil Taylor (TIM Festival, 28/10/07, 20h30)

o velhinho é um tímido. que se combate dialogando a marteladas com a percussão das cordas do Steinway. incapaz de conviver com a desrazão espiritual reinante, o velhinho cecil entra sem invadir, sai sem escapar. reluta em confrontar olhares impondo o poder de sua poesia, tão apoiada em guturais como no desespero de conectar o presente com o passado para construir um melhor futuro. o entabular consigo mesmo obriga cecil a arremeter no piano compartilhando sentidos e aromas nas duas tão potentes formas de expressão (a música e a palavra, a palavra e a música). está-se diante de um colosso autosustentável, num solo que concentra as energias para conduzi-las ao infinito, e não face um virtuosismo inócuo, de pés de barro, egolátrico. folhas sem marca condensam o plano de obras complexas cujo aparecimento induz o imediato esfumar dos sentidos. importa é a nota a seguir, a postura a compor a figura, o respirar a conduzir a performance. cecil faz tanto teatro quanto música, e performance quant

Bate Papo (de Enda Walsh) (dir. Tuna Serzedello) (Satyros 1, domingos, 18h30, até dezembro)

Texto: Esgrimas verbais entre jovens de 14 a 16 anos, "presos" a salas de chat. Os registros variáveis, muito empáticos, provocam reações as mais diversas, cômicas a dramáticas. Os personagens, embora presos a suas idades e (suposta) imaturidade, questionam e questionam-se continuamente. O frescor da idade e as referências à cultura pop enquadram o espectador em seu lugar (adulto?) seduzindo-o a embarcar na mentalidade de meninos e meninas imersos em tédio, questionamentos e vacuidade impostos por uma sociedade controladora. Os chats: palcos de fuga e encontro. Enredo: Simples, eficiente e extremamente bem resolvido. A personagem do menino órfão de pai convida imediatamente (novamente) a uma forte empatia. A idéia (num primeiro instante, aparentemente inócua) - de um chat que convida ao suicídio de um garoto - a tal ponto torna-se palpável pela construção da situação que é quase possível ver "circos" se fechando e abrindo, ao correr da pena do autor. Mesmo previsíve

Arte como questão - Anos 70/ Projeto Da Visualidade ao Conceito

O humor parece ser um dos grandes diferenciais da geração "do que ainda hoje denominamos arte contemporânea", a arte brasileira surgida entre a Nova Objetividade (1967) e a XVI Bienal de São Paulo (1981). Coberta pela exposição Arte como questão, no Instituto Tomie Ohtake (6/9 a 28/10), essa geração parece assim carregar consigo até hoje (passados quase 40 anos) esse fundamental e inelutável fruto do mero "exercício experimental da liberdade". Uma liberdade que, apesar de sempre resvalar em crítica social, comprometimento e resistência, poucas vezes deixa de incutir um sorriso em quem participa vendo, desfrutando ou mesmo entrando em jogos libertadores. São 98 os artistas representados na exposição, com obras apoiadas em substratos e intenções amplamente diversificadas. Quarta mostra desse tipo apresentada no Instituto (as outras: "Pincelada - Pintura e Método, Projeções da Década de 50", "A Geração da Virada ou 10+1 - Os Anos Recentes da Arte Brasile

Ciao (de Priscila Nicolielo) (direção: Ruy Filho) (até 28/10)

Texto: Seis quadros, inspirados na obra de Caio Fernando Abreu, sobre despedidas ou o ruir dos mundos antes, durante e após um adeus (ciao). Quadros que desenvolvem tramas de amores inconfessos (Diego Torraca e Guilherme Gorski), platonismos arrependidos (Cintia Rosini), incompatibilidades (Silvana Lins e Guilherme Gonzalez), cinismos destrutivos (Diego Torraca e Guilherme Gonzalez), invisibilidade autoaniquiladora (Raiani Teichmann) e autodestruições acompanhadas (Guilherme Gorski e Silvana Lins). Os quadros revelam embates que sempre transitam entre o trágico e a comédia, a depender do envolvimento e da empatia. Fica a pergunta: acaso não há ciaos amigáveis? O caráter soturno de algumas situações parece existir para confirmar o ditado tão batido de Sartre: acaso o inferno são os outros? Geralmente ágil, o texto requer, em alguns quadros, a construção de situações (por exemplo, em "cinismos destrutivos") em que torna-se até certo ponto difícil o entendimento imediato. Pontos

Autran

Como de praxe, todo mundo deveria saber que Paulo Autran estava doente. Ninguém morre de repente. Isso não quer dizer, porém, que à espera de sua morte todo mundo estivesse querendo usufruir, de alguma forma, da unanimidade criada ao seu redor. Mas quer dizer, sim, que ao entronizá-lo como exemplo seus fãs faziam eco, advertida ou inadvertidamente, aos seus últimos dias, ora para homenageá-lo, ora para esconder suas (deles) próprias carências. Torna-se comum hoje admitir, por um lado, o desmesurado crescimento das iniciativas artísticas sob a batuta do que se chama teatro, e, por outro, a desigual qualidade dos projetos em voga, seja sob o ponto de vista técnico (profissionais "amadores"), seja crítico (profissionais "vendidos" a projetos caça-níqueis). Paulo Autran, nesse panorama, parece pairar, altaneiro, distante de quaisquer críticas. Ora enaltecidas sob o prisma de "uma vida dedicada ao ofício de ator", ora como "profissional com elegância e ded

Onde vc estava? ou Fugindo (minipeça em dois microatos), de Rodrigo Contrera

Direção Brunno Almeida. Com Rafael Fabrício e Renata Becker Numa platéia composta por um casal de homens se beijando sem parar, três ou quatro rapazes dormitando, um ou dois amigos dos atores, a esposa do autor e alguns perdidos em manhã nem tão suja mas incrivelmente vazia, Onde vc estava? ou Fugindo, de Rodrigo Contrera, apresentado no Dramamix às 6h da manhã de sexta, elencou as fixações do autor (no personagem do mesmo nome) relacionadas a mortes trágicas ou eventos políticos recentes. Caracterizado (por Rafael Fabrício) como um boxeador em preparo para uma luta imaginária (contra o mundo?), Contrera dialoga com um periquito inquisidor e zombeteiro, repete num gravador pequenas frases (para ele, referências) de seu guru, Gerald Thomas, numa clara referência irônica a várias peças de Beckett, para no final (sob forma de monólogo) destilar um comovente chamado aos seres pensantes que ainda se comovem e libertar o periquito, que foge mas não consegue sair da gaiola formada peas luzes

Flávia Sammarone - Parabéns pra você (performance, Teatro Viga, 6 e 7 de outubro de 2007)

No porão do teatro, espaço fechado com pé direito de no máximo 1,80m, uma mesa de jantar é encimada por um bolo e velas acesas. Ao redor da mesa, pessoas, todas com uma mesma máscara de mulher rindo sem jeito, e um gravador fazendo ruídos estridentes. O espectador entra e se senta em cadeiras que possuem, todas, uma máscara para vestir. A festa convida os espectadores a se aproximarem. Nada acontece. Só o gravador, as velas, e as pessoas que se olham, sem parar. O sarcasmo obriga o riso. Minutos depois, as palmas de um aniversário, sem canto. As velas são apagadas. O espectador ganha um pedaço de bolo: um espelho em formato de pedaço. Flávia Sammarone fez parte do grupo de performances Grupo Sérgio. Compõem o grupo atual três pessoas. A performance não usa palavras. Não usa referências. Não pede explicações. Nada explica. Deixa ao espectador a tarefa de participar. Puxado pelo sarcasmo. Que brota incontível da situação.

Eduardo Fukushima - Canto (performance, Teatro Viga, 6 e 7 de outubro de 2007)

Um homem pequeno, de 1,50m aproximadamente, sentado em um de quatro banquinhos que demarcam os vértices de uma sala retangular. Tremendo de forma inusitada: sem o movimento dos ossos. O homem abre os olhos de repente. Amarfanha-os incessantemente, um após o outro. Novamente, para depois os dois, juntos. Algo obriga o homem a levantar o braço direito. Afunda-se em seguida em seu respirar. Duas vezes. Os bancos são deslocados: com cuidado. Para depois serem depositados mais ao centro da sala, com violência. Algo incomoda o homem, que reage com golpes de ataque e fuga. Movimentos complexos de kung-fu/tai chi/chi kun habitam no interior do homem, que em meio aos espectadores ataca algo que o atinge - por dentro. Mas o homem quer fugir: pelos vértices. Pelos vértices. Como por dentro de espelho que nada engloba. Pula e quer fugir. Seguidas vezes. O homem pára. Desloca os bancos aos vértices: com cuidado. Remete-se ao banco inicial. Tremendo. Eduardo Fukushima é dançarino. Achou a tremedeira