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Mostrando postagens de maio, 2013

Espasmos (texto: Gabriela Mellão, dir. Marcos Damasceno)

Sou convidado pela Gabriela, que conheci por intermédio do Ruy Filho. Fizemos, há meses, uma crítica a quatro mãos para a Antro Positivo. Depois, não nos encontramos mais. Fiquei sabendo da peça de sua autoria. Fui curioso. Acabando de ler a resenha crítica da Época São Paulo, reflito agora - após vários dias de ver a peça, inclusive após a Virada Cultural - naquilo que pude SENTIR do que vi. Que a encenação é minimalista e de índole beckettiana, basta um olhar para entender. Mas há mais aqui. Em última instância, o que existe em cena? Uma mulher nua lá ao fundo, envolta em fumaça e com uma luz que faz as vezes de movimento. Uma mulher do lado esquerdo, vestindo um casaco verde, em diagonal (não é possível ver-lhe o rosto), envolta em fumaça, com uma luz que lhe aumenta ou diminui o porte durante o transcorrer da peça. Que é um texto onipresente, quase sempre em primeira pessoa, narrando o inenarrável; aspectos da vida que optamos por manter escondidos em nós mesmos. As afinidades

Ontem

encenei fugindo, na oficina. três vezes. a primeira, tosca. a segunda, tentando. a terceira, conseguindo. a rê comentou que sentiu o baque. depois a pá fez lady macbeth. e depois a rê. tudo muito lindo. aprendizado para karalho. é assim que vamos que vamos.

Guzik

O Aimar Labaki entrou em contato por email perguntando por um tal de Rodrigo Contrera, um texto que ele teria apresentado ao Gerald Thomas e um outro sujeito Zappala. Disse a ele que o Rodrigo sou eu, que o Guzik me conheceu pelo meu blog, indicando-me ao pessoal dos Satyros, que eu apresentei o texto Fugindo numa peça do Gerald e que o Zappala é o Leandro Zappala, diretor do Quarto Performing Arts, da Suécia. Passei os contatos do Leandro ao Labaki. De repente, lembro do Guzik. De como sua figura me dava medo (vai entender por quê), de sua simpatia incomensurável, do seu desempenho no palco (parece que foi ontem). Começo a me cansar. A sentir saudade dos que se vão. A nutrir desconfiança em relação ao presente e ao futuro. Será a morte, rondando?

After Sun, de Rodrigo García

Uma indicação, em espanhol After Sun, de Rodrigo García García é o queridinho do teatro espanhol contemporâneo. Com o seu grupo La Carnicería (ele é filho de açougueiro, daí o nome), ele pretende chocar com peças em que tripas são manuseadas, jatos de água jogados, e outros recursos não-ortodoxos utilizados. Leiam a peça mais conhecida dele. Em espanhol. http://redenasa.tv/web/ uploads/biblioteca/arquivo/ 4bff9610b4e8d0.40577627.pdf

Nadando contra o vento

Ontem fui ao velório do Paulo de Tharso. Não era amigo dele, mas sou solidário aos seus amigos, alguns dos quais meus amigos e conhecidos, e ao longe apreciava tudo aquilo que ele era e representava. Antes desse, o último velório ao qual fui foi o do cineasta e cinéfilo Carlos Reichembach. Lá, eu não conhecia ninguém. Fiquei isolado, esperando o corpo, que não chegava, até que fui embora. Foi meu esforço numa breve homenagem. É sumamente triste ver gente como eles irem embora. Com seu desaparecimento, fica um vazio em todos nós e na cultura em geral. Fiquei espantado com o fato de o gerente da administradora com quem ficamos 4 horas no condomínio conhecer a vida e obra do Paulo de Tharso. Nunca imaginaria. O cara aparentemente não tem o perfil de quem curte esse tipo de vida-obra. Isso só prova que a ferida vai muito mais longe do que imaginamos. Lembro-me de uma cena em especial em que o Paulo dividia com o Nelson Peres um diálogo a mil por hora lá no fundo do palco. O Paulo usav

Só uma música (em memória a Paulo de Tharso)

Na oficina desta segunda, acabou acontecendo uma discussão - que acabou sendo frutífera - quanto a objetivos, etc. Não me lembro se foi antes ou depois, mas num determinado momento o Loureiro pediu para a Rê procurar no seu tablet uma música, que acabou colocando. Essa música, aos poucos notei, era do Paulo de Tharso. Vi também aos poucos que era "Contra o vento". Não sei o que aconteceu na hora, mas todo mundo calou e deixou a música fluir, e ela chegou ao seu fim. Ninguém comentou nada. Foi um instante de silêncio. Conto isso a vocês numa breve recordação desse que não deu tempo de se tornar um amigo.

Sobre grupos e mesas de bar

Ontem, durante os ensaios, ouvi algumas coisas que me deixaram alerta. As consequências: comecei a duvidar daquilo em que acredito - ou não acredito, apenas frequento. Há grupos por aí em que a ideologia é determinada por todos. Em outros, há alguns membros que decidem em nome de todos. Outros grupos são praticamente de posse de um sujeito, que dá forma ao grupo como um todo. Comecei a me questionar: será que compartilho mesmo da visão de grupos que frequento há alguns meses? Será que não estou mais é preso por amizades ou pela incapacidade de ousar discordar, pura e simplesmente (algo que antes eu não fazia, ou seja, não me calava tanto)? Podem dizer que sou falso por não dizer o que acho. Não sei. Só não quero criar conflito. Além do mais: quem realmente sou eu? Seja como for, passei também a olhar os afeitos por teatro mais à distância. Sabem, aquelas mesinhas na Roosevelt, aquelas atrizes, atores e simpatizantes que frequentam aquele restaurantes que tanto aparecem nos flyer

Prometeo Encadenado, de Ésquilo (tradução de José Alsina, em Obras Completas/ Ésquilo, Sófocles, Eurípides, em Bibliotheca Avrea, edições Cátedra)

Encontrei este volume na Martins Fontes da Paulista. Eu já havia lido tudo o que pude encontrar em todas as livrarias que visitei durante anos sobre e do teatro clássico grego. Prometeu havia sido uma das primeiras. Tanto que não me recordo bem daquilo que pude auferir da leitura àquela época. Agora foi diferente. Li o Prometeo na versão do tradutor Alsina num revezamento pouco antes de dormir. Fui entendendo o drama do deus grego contemplando seu diálogo com diversos viajantes que o viam no rochedo, encadeado, tendo seu fígado comido por abutres. Esses viajantes, a maioria deles, tentavam dissuadi-lo do seu destino, mas Prometeu, consciente do seu ato libertador dos homens e mesmo de si mesmo, negava diversas vezes fugir do seu destino inelutável. Não sei por que, foi nesta leitura em espanhol que mais pude ser engolfado pela riqueza de detalhes da chama. Terá sido porque a tragédia, desta vez, é escrita em versos (e nisso tenho de concordar com o Alvim)? Terá sido porque desta vez

"Um trabalhinho para velhos palhaços", de Matéi Visniec (em "A História dos Ursos Pandas contada por um Saxofonista que tem uma Namorada em Frankfurt" e "Um trabalhinho para velhos palhaços", de Matéi Visniec) (É Realizações Editora)

A última resenha a fazer com os livros do romeno radicado em Paris Visniec enviados pela editora tem três personagens, que como o próprio nome diz são velhos palhaços. Os nomes deles: Filippo, Niccolo e Peppino. Eles se encontram num determinado lugar ao qual eles foram chamados. Esse lugar é como que uma sala de espera para um novo emprego para os três. Eles já se conhecem de tempos e já trabalharam juntos. Um deles relembra seu protagonismo num circo conhecido pelos outros dois, que comentam o fato. No geral da trama, eles se provocam e criam situações que se propõe serem engraçadas. Num determinado momento, um deles engasga e morre, aparentemente. Os outros se desesperam, e um deles faz respiração boca a boca. Mas o que engasgou ri: ele enganou os outros dois. Ao final eles saem, e chegam outros, como que repetindo tudo. Encontra-se um cadáver e a trama é mantida em suspenso. Como em quase todas as peças de Visniec que li nos livros dedicados pela editora, há aqui um jogo com o

Borrasca (texto e direção: Mário Bortolotto, estréia)

Chego cedo ao Teatro Cemitério de Automóveis. Encontro o pessoal conversando, o Marião entre eles, e ele já me inclui na lista amiga. Sou o primeiro a comprar ingresso. Chega Mirisola e mais pessoal, que ficam lá fora. Vou lá uma hora e fico até o movimento acalmar. A peça é a última do Marião, que segundo alguns fez o texto na pauleira. A peça tem destaque no Guia da Folha, se bem que com o Batata como um dos personagens - na estréia, os atores foram o próprio Marião e o Pablo. A história é resumida como uma conversa entre dois amigos sobre a morte de outro. O cenário, como quase sempre nas peças do Marião, é singelo. Um sofá e uma mesa, aqui uma geladeira, lá um banheiro. A porta lá no fundo é a saída (eu sentia falta dessa porta, que em Mulheres era a porta de um quarto - não sei por quê, queria ver o pessoal sair por lá rumo ao desconhecido - como em Inferno em Mim e outra penca de peças do pessoal). Gabriel (Marião) é um escritor que deixa de ir ao enterro do amigo - que roubo

A morte sorriu para mim (texto: Guilherme Junqueira ("Sugar"), leitura, lançamento do livro Intrigas Augustas, do "Sugar", Espaço Cemitério de Automóveis)

Vou ao lançamento do livro do Sugar Gay Leonard, o Guilherme Junqueira, premido pela necessidade de economizar. Não sei se me comoverei a comprar o livro. Chego e encontro o Sugar e amigos na entrada do Teatro Cemitério. São poucos amigos, mas amigos. O Sugar está com os livros à mostra. Pego um deles e o folheio mas não me decido. Ficará para depois. Aí começa a leitura desse que é o último conto do livrinho. Sou pego desprevenido. Não sabia que haveria leitura. Não queria perder os curtas no Cine Parlapas, nos Parlapatões, às 23h, por isso nem sabia se conseguiria ficar até o fim. Mas fico. Respondo pela filmagem, um ou outro enquadramento mais focado, e por aí vai. Fazem a leitura o Fernando Fecchio, a Lara Giordana, o próprio Sugar (com as rubricas) e o Pablo (Perosa). A trama gira em torno de um sujeito, pintor, que convive com Celine, uma atriz. Convive em termos, pois desde já somos defrontados face à realidade: ela está morta. Mas ela invade sua vida. Aparece diante dele e

Nova York, Eu Te Amo (dir. vários)

Peguei o filme emprestado com a Lê para utilização na oficina do Loureiro, prioritariamente. Confesso que não estava muito animado: eu não gosto de sacadas, tipo filme com muitos diretores, temáticos, etc. Mas entrei nessa. Não tenho a menor ideia de quem dirigiu o quê (devem ser todos diretores já famosos em seus respectivos países e mercados). Mas assistindo todos em sequência reparei que o amor (de homem e mulher) está praticamente no centro de todos eles. São tratamentos bem sutis e singelos, com atores que mandam bem. A quem não sabe, são 12 curtas de 5 minutos cada (não conferi). São, como o título bem diz, histórias em que o pano de fundo é a cidade. Os curtas são entremeados por imagens genéricas e os personagens, como já virou clichê, transitam entre as histórias. Há diálogos (refiro-me a cenas, não a diálogos escritos) entre personagens de histórias diferentes, mas tudo tratado de forma não-forçada. Essas são as impressões gerais. Na prática, as cenas começam com muito t

Uma cena sutil ou Acessando camadas (internas e externas)

Transcrevi aqui uma cena em que a Rê atua comigo. Ela era para ser outra, que fiz com a Lê. Mas virou outra, inspirada em Não amarás, do Kieslowski. Eu queria ensaiar uma cena de amor com toques surreais. No caso, é uma cena de amor possível ou impossível em que as mãos fazem as vezes da boca, do corpo, do sexo, de tudo. É a cena mais avançada na oficina do Loureiro. Ele mesmo disse que o bolo está pronto, só falta colocar algumas cerejas aqui e acolá. Mas aqui comigo eu estranho. Por que não me sinto tão à vontade com o resultado? Algo com a Rê? Algo comigo? Eu tenho de expressar uma dor que pode se assemelhar a outra, real, que sinto há mais de ano e meio, quando me separei. Não creio que seja isso. Ocorre que a cena destravou uma coisa em mim. Com ela percebi o quão longe estou de sentir como quero. Outra cena, em que sou um homossexual cafetão, irá exigir também uma sensibilidade acachapante. Mas a energia nesse caso deve se conduzir necessariamente para outro lugar. No prim

Antro Positivo na Folha ou Enquanto a maré não vem

Lembro-me bem de quando o pessoal da Antro Exposto, a companhia de teatro do Ruy Filho, me convidou à inauguração (ou anúncio da criação) do Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena. Na época eu queria me intrometer no teatro, sei lá por quê, e não conhecia quase ninguém. Aos poucos fui-me encontrando. Um dia, o Ruy me ligou - acho, ou mandou mensagem - me convidando para contribuir, numa crítica a quatro mãos, com a revista online Antro Positivo, que ele havia criado com a Pati, sua esposa. Aceitei, claro. Foram três críticas com amigas dele. Foi uma experiência bem legal. Não contribuí na última edição da Antro. Mas acompanhei ao longe sua evolução. O Ruy já havia dito no Facebook que a edição 6 (essa) havia superado no primeiro dia tudo o que as outras haviam causado em leituras. Mas aí eis que ontem, zapeando o portal da Folha, encontro naquele espaço que muda a toda hora menção à revista, com base na campanha que eles, o Ruy e a Pati, criaram em nome da liberdade (de amor,

A Sutileza, Um Baixo ou Ouvindo Leonard Cohen

Comprei um baixo elétrico há vários anos. Quando o comprei, eu estava fixado nele, como costumo estar com coisas cuja relação com minha sensibilidade é uma incógnita. Troquei as cordas por cordas lisas e comprei um pedal de distorção. Passei anos brincando com o som sujo saído do amplificador, achando - achando - que era isso o que eu queria. Eu estava fixado em imitar/emular o som do Rickenbacker do Lemmy. Os Rickenbacker que eu vi eram caros demais. O meu baixo é um Fender Jazz Bass mexicano preto. Em algum lugar de meus blogs tem fotos dele. Mas noite dessas peguei-me ouvindo Leonard Cohen baixinho - era depois das 22h, o horário de descanso nos prédios. Cantando uma música dele relativamente recente. Vocês devem conhecer o timbre extragrave da voz do sujeito. Eu até que consigo imitar/emular. Ouvindo essa música em particular, de repente me veio um clique. Algo me fez crer que o exagero nos graves e no ritmo lento lentíssimo dizia algo ao meu coração que eu havia escondido por m

Na Folha

O Ruy Filho, da Antro Positivo, revista para a qual contribuo de vez em quando, deu uma entrevista na Folha sobre a campanha que eles, o Ruy e a Pati, sua esposa, lançaram em prol de liberdade - a campanha mostra beijos de homem-homem e mulher-mulher relativamente conhecidos. Eu comentei na matéria minha experiência na oficina do ano passado. Nela, tive que receber um beijo bem forte do Matheus para uma cena. Antes, eu achava que beijo entre similares era nojento. Depois, mudei de ideia. Continuo sendo hetero, nem passa pela minha cabeça experimentar outras coisas, mas deixei de achar nojento. Bom, parabéns ao Ruy pela campanha. Vida longa à liberdade.

Mulheres (de: Charles Bukowski, adaptação: Mário Bortolotto; Grupo Cemitério de Automóveis, última apresentação)

Muitos estranham que eu tenha sido o recordista absoluto em assistir esta peça do grupo do Marião. Não entendem por quê. Nem eles, na verdade. Antes desta última apresentação, inclusive, o próprio Marião, o Gabriel, o Batata e o Pablo meio que me "tiravam" questionando quantas vezes eu fiz parte da platéia. Foram oito vezes. Mais que todos os outros concorrentes - aqui, 5, acolá, 6. Esta vez assisti a peça do Buk lá de cima, para não pegar lugar na plateia e também para variar. Amei. Desta vez eu podia ver a peça meio que por dentro. Desde o começo, quando o Chinaski-Marião declama aquele poema rastaquera até as passagens das atrizes, fazendo as vezes de ligar para o Chinaski e de personagens de baixa estirpe discutindo sobre cerveja e outros detalhes. Eles apareciam praticamente ao meu lado. Foi muito legal. Mas mais legal ainda foi reparar como a plateia reagia de forma inusitada a detalhes de interpretação que me escapavam. Houve momentos em que todos, TODOS realmente,

Desequilíbrio (curta, dir. Francisco García)

Assisti este curta há várias semanas, a primeira vez que fui ao Cine Parlapas - indicado pela Marcela Lordy, que apresentou seu primeiro curta por lá - esse que já comentei (não é o "Aluga-se"). Este, de Francisco García, tem Leona Cavalli no "papel" de uma prostituta que admira o "trabalho" de um sujeito que passa a cidade equilibrando-se, não se sabendo bem por quê, e que aparece os mais variados locais, alguns deles realmente estranhos. Mas aquilo que poderia parecer pueril ou não dar sequer um argumento decente mostra-se um ponto de partida bem profícuo, pois somos colocados às voltas com o desequilíbrio da vida urbana, em última instância. Leona admira o equilibrista mas transita num desequilíbrio tal na vida que faz-nos crer que o que ela busca mesmo é sair dessa condição - e que não consegue. Cria-se um tal clima de paz budista no sujeito que aparece aqui e acolá que somos levados a sentir uma escondida inveja dele - algo quase inconfessável nest

Cena Vivi/ Rô

Cena Vivi/ Rô Vivi (em pé, esperando) Rô chega. Vivi - Por que demorou? Rô - Fiquei resolvendo problemas no trabalho. Vivi - Ainda se humilhando? Você tem de ser muito babaca de continuar lá. Rô - Você não sabe como está o mercado. Vivi - Para mim, você é um covarde. Qualquer um já teria caído fora faz tempo. Rô - Pensa o que quiser. (tempo) Vivi - Meu, não vejo a hora de sair do teu lado. Afinal, quando você vai embora? Rô - Não dá ainda para saber. Vivi - Porra, não aguento mais. Você podia pelo menos sumir até tudo se acertar. Rô - Mas não era você que estava me esperando? Você não quer que eu tire as coisas? Como você quer que eu faça? Que tire tudo de madrugada? Vivi - Não quero saber. Estou farta de você. Rô (calado) Vivi (calada) Rô (arrumando a mala) Vivi (olhando, fingindo não olhar) Vivi - Peraí, esse cd é meu! Rô - Tudo bem, toma então. (dá o cd a ela) Vivi (pega com má vontade) Rô (continua pegando coisas e pondo na mala) Vivi

Cena Lê/ Rô

Cena Lê/ Rô Lê (animada) - A mãe já está até acertando concertos para a próxima temporada. Será que estarei pronta até lá? Rô (calado) Lê - Por que essa animação toda? Rô - Não é nada. Lê (aos poucos, sombria) - Quantas são as chances? Você já me disse? Rô - 5 para 1. Lê - Ou seja, deixa eu ver, mais de 80% de dar tudo certo, é isso? Rô - Mais ou menos. Mas são estatísticas, apenas. A realidade é outra. Lê - Como assim, a realidade? Rô - A ocorrência de complicações não é algo que possa entrar em estatística. Infelizmente. Lê - Mas vai dar tudo certo. Se anime!!! Ocha, eu falando para você se animar!!! Quando a operada serei eu! Rô (com cuidado) - Preciso pensar. Lê - Em quê? Rô - Não sei se posso. Lê - Pode, o quê? Me operar? Mas é claro!! Você é o melhor, eu sempre soube disso. Rô - Faz tempo. Lê - Faz tempo do quê? Rô - Que eu não opero. Lê - Mas isso não se perde, você saberá muito bem o que fazer. Estarei nas tuas mãos, meu querido. Rô - Vo

Cena Rê/ Rô/ Garçonete

Cena Rê/ Rô/ Garçonete Rô - Ele é tão importante assim para você? Rê - Ele me trata bem. Rô - Só isso? Rê - Por que você me cerca? Rô - Porque eu te amo. E ele não. Rê - Você me ama? Rô - É. Rê - E o que você quer, então? Você quer me beijar, é isso? Rô - Não é o momento ainda. (ou: Ainda não) Rê - Você quer ir para a cama comigo? Rô - Ainda não. Rê - E enquanto isso? O que que a gente faz? Rô (após algum tempo) - Me dá sua mão. (Exploração das mãos. Sensual) Garçonete - Vocês vão querer mais um café? Rê (olha para ela, fuzilando) Rô - Sabe o teu brinquinho? (tempo breve) Rô - Ele me irrita. Você poderia tirar? (ela afasta as mãos das dele e se afasta) Rê - O quê? Eu não vou tirar, não. Rô - Ah, não, então tudo bem. (ele oferece as mãos. ela brinca com isso. ele vê o corte no pulso. pega a mão dela com força. faz gesto de carinho) Rê (ela tira a mão, com força. pausa) Rô - Vem comigo. (tempo breve) Rê - Eu não sou boa. (lentament

Disciplina

Há gente que insiste em fingir que não entende. Quem trabalha com teatro precisa ter disciplina. Pois é fácil confundir arte com displicência. A Fernanda D'Umbra ensinou: corpo em teatro exige disciplina. A Lulu ensinou: coxias precisam de silêncio, ator precisa de concentração, horário é algo sagrado, ingresso de graça é desaconselhável. Tudo para dizer que é preciso ter disciplina. Mas a juventude muitas vezes é desregrada. Acha espaço onde ele não deveria existir. Não sou mais jovem. Não tenho saco para perda de tempo e cultivo de fru-fru. Ontem, eu havia dito à Marba que o meio artístico é engraçado. É engraçado até o momento em que supera os limites pré-estabelecidos. Eu trabalho em expediente comercial. Não posso ir para o leito às 4h, todo dia. Mas, como eu já disse, há quem insista em fingir que não entende. ` Paciência. Quem tem disciplina acha tempo. Quem tem disciplina evita perdas de tempo. E eu não tenho tempo. Não mesmo.

Fassbinder, Loureiro e a humanidade dos personagens

Tenho um pequeno livro sobre e com o Fassbinder, e nele, um trecho causa-me uma impressão especial: quando, ao se referirem a ele, dizem que ele olhava os seus personagens sempre com um olhar compassivo, respeitoso, humano até. O Loureiro lembrou-me esse trecho ao analisar a cena que fizemos em que eu faço uma bicha aidética sádica e quatro prostitutas, cada uma com sua história de sofrimento e dor. Na hora, ele disse que poderíamos emburacar a humanidade de cada prostituta, sendo esse um caminho viável, quando não o único. Na hora eu estranhei. Por várias razões (algumas pessoais). Diria apenas a vocês que as prostitutas baseiam-se, regra geral, em minha própria experiência com elas - conheci muitas delas, muitas mesmo. Tem uma delas em especial que tem uma realidade acachapante: uma pequenininha feinha disputada a tapa pelos clientes. Por quê? Porque só ela fazia anal - não acreditem quando dizem que todas elas fazem, é mentira. Os caras queriam ela de qualquer jeito. Ela trabalha