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Prometeo Encadenado, de Ésquilo (tradução de José Alsina, em Obras Completas/ Ésquilo, Sófocles, Eurípides, em Bibliotheca Avrea, edições Cátedra)


Encontrei este volume na Martins Fontes da Paulista. Eu já havia lido tudo o que pude encontrar em todas as livrarias que visitei durante anos sobre e do teatro clássico grego. Prometeu havia sido uma das primeiras. Tanto que não me recordo bem daquilo que pude auferir da leitura àquela época. Agora foi diferente.
Li o Prometeo na versão do tradutor Alsina num revezamento pouco antes de dormir. Fui entendendo o drama do deus grego contemplando seu diálogo com diversos viajantes que o viam no rochedo, encadeado, tendo seu fígado comido por abutres. Esses viajantes, a maioria deles, tentavam dissuadi-lo do seu destino, mas Prometeu, consciente do seu ato libertador dos homens e mesmo de si mesmo, negava diversas vezes fugir do seu destino inelutável. Não sei por que, foi nesta leitura em espanhol que mais pude ser engolfado pela riqueza de detalhes da chama. Terá sido porque a tragédia, desta vez, é escrita em versos (e nisso tenho de concordar com o Alvim)? Terá sido porque desta vez muitas referências não são explicadas e ficamos com o texto como que aberto à nossa frente, esperando decifração? Não sei.
Sei apenas que quando menos esperava o texto acabou - e olha que tem 37 páginas numa trama complexa, em diálogos que sempre deixam trechos a revelar. A tradução parece consistente e motiva a ler novamente. O livro é relativamente barato, tanto revelando ao interessado.

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