Comprei um baixo elétrico há vários anos. Quando o comprei, eu estava fixado nele, como costumo estar com coisas cuja relação com minha sensibilidade é uma incógnita. Troquei as cordas por cordas lisas e comprei um pedal de distorção. Passei anos brincando com o som sujo saído do amplificador, achando - achando - que era isso o que eu queria. Eu estava fixado em imitar/emular o som do Rickenbacker do Lemmy. Os Rickenbacker que eu vi eram caros demais. O meu baixo é um Fender Jazz Bass mexicano preto. Em algum lugar de meus blogs tem fotos dele.
Mas noite dessas peguei-me ouvindo Leonard Cohen baixinho - era depois das 22h, o horário de descanso nos prédios. Cantando uma música dele relativamente recente. Vocês devem conhecer o timbre extragrave da voz do sujeito. Eu até que consigo imitar/emular.
Ouvindo essa música em particular, de repente me veio um clique. Algo me fez crer que o exagero nos graves e no ritmo lento lentíssimo dizia algo ao meu coração que eu havia escondido por medo. Será que é isso que eu quero?, pensei. Passaram-se alguns dias, peguei o meu baixo. Difícil captar a nota certa. Difícil entender o que pode ser dito com o discorrer das cordas de um artefato - qualquer (tenho dificuldade com todos). Mas a calma advinda da descoberta me desconcertou. Eu consegui acessar lugares inóspitos somente dessa forma.
Lembro-me que ontem mesmo assisti "Nova York, Eu Te Amo" (vários diretores). Que fui me encaminhando aos poucos em direção a zonas cada vez mais sutis por meio das tramas. Que acabei chorando desprevenido. Um choro suave, gostoso, como gosto. Tudo, orientado pela cena que a Rê e eu estamos fazendo. Uma cena linda, mas (ainda) não tão sutil quanto gostaria.
Pena que tô com falta de grana. Preciso aprender a tocar esse meu baixo. O trovão do Rickenbacker vai ficando para depois.
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