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Mostrando postagens de julho, 2014

2001 (Kubrick) e Alien (Scott)

Assistindo a segunda e crucial parte de 2001 agora há pouco, veio-me à mente a estreita semelhança entre o argumento ou parte do argumento desses dois clássicos da metade e final do século XX. Antes de mais nada, reparem que 2001 foi feito em 1968 OU SEJA, ANTES de o homem pisar na Lua. Incrível como já então Kubrick estava aceso às questões e como já então ele previa certos questionamentos que o homem iria se fazer a partir daí. Mas indo direto ao ponto: tanto em 2001 como em Alien o homem - e a mulher, claro - é considerado um entrave ao contato com a vida extraterrestre. No primeiro caso, Hal, tendo em vista sua profunda insegurança, argumentou com Dave que os homens restantes não poderiam ser um empecilho à conclusão da missão, que era a de encontrar vida extraterrestre. Já em Alien a questão era quase a mesma, da parte do cientista-chefe que na verdade era um robô. Os homens não podiam simplesmente destruir essa fonte de vida, a do Alien, até mesmo pela própria (dos humanos)

Shakespeare Nosso Contemporâneo, de Jan Kott

Levei tempo para adquirir esse clássico que o próprio prefaciador não considera tão fundamental assim. Meus motivos foram vários, mas um dos principais foi que estava há muito desacostumado de ler em versos, algo a que só o Fausto do Goethe, lido antes de dormir, voltou a me reaproximar. Hoje até volto a ler Camões. Mas em termos de teatro só Shakespeare exige tamanha atenção - algo de que sinto falta nos textos atuais, cuja ênfase autoexplicativa cansa por facilidade aqueles que só querem se cansar pelas dificuldades. Kott, o polonês descoberto por Peter Brook, faz algo que eu já havia feito em trabalho acadêmico - no caso, envolvendo o tão amado Maquiavel e até mesmo Rousseau -, que é acompanhar a "leitura" do bardo, por meio de uma viagem pela sua obra, enquanto destaca aspectos que lhe interessam visando provar uma tese (no meu caso, o método era outro). Seria uma chatice como a de quase qualquer trabalho acadêmico se nessa viagem Kott não nos revelasse meandros nas li

2001 (Kubrick) e Teatro (Mamet)

É sobremaneira irônico que 2001 tenha sido a data escolhida por Kubrick para ambientar seu divisor de águas do cinema contemporâneo. Pois até as pedras lembram ter sido 2001 o ano em que os Estados Unidos foram divididos em dois. Mas as (in?)felizes coincidências páram por aí. Pois não foi em 2001 que os Estados Unidos finalmente deixaram para trás o bipolarismo reinante até então - pois a União Soviética caiu, sim, mas o bipolarismo continuava - para embarcar - finalmente, dirão alguns - no dilema de ser o xerife e não ter como pagar a gasolina da viatura. Refiro-me - claro - à crise de 2008. Agora, assistindo a 2001, reparo na posição da câmera como ponto de vista estático e dinâmico (personagem), ou seja, como ela pode - e naturalmente assume - papel protagônico, se deixarmos que a isso ela se refira. Por que digo isso? Porque em filmes de ação atuais a câmera como que "sofre" todos os efeitos da ação mas não aparece como protagonista, ou seja, não há SUJEITO que a el

Suzuki (filosofia) e Fukushima (dança)

Saio em busca de conexões que me façam tornar viva a música naquilo que pretendo - teatro, cinema e, por que não, quem sabe um vídeo ou mesmo tv -, e após encontrar um "achado" (nem vou falar sobre isso agora) não é que vejo o Márcio Suzuki, ex-profe na fefeleche, com uma garota e ele muito feliz em me ver? Fico extremamente contente ao falar com ele, e fico ainda mais contente ao reparar que, de alguma forma, deixei uma boa impressão nesses que cotidianamente enfrentava - em aulas, tentando entendê-los - e dos quais apreendi uma vontade indômita de aprender sem limites? A garota que tava com ele não disfarçava o mal-estar ao ele me cumprimentar de forma tão efusiva, e isso deixou-me tremendamente tímido na hora - o que não me impediu de dizer-lhe minhas últimas conquistas e de, de alguma forma, reestabelecer um contato - algo que pretendo retomar dia destes. Não abandonei a filosofia, não; simplesmente naquela época eu não conseguia estudar, não me deixavam, aqui e acolá, e

Cage e teatro (nosso grupo)

A ida ao SESC (Pinheiros) para tentar conseguir um ingresso por esse que já não me surpreende, refiro-me a Bob Wilson, não digo isso para causar qualquer impressão, é que simplesmente não me sinto mais embasbacado por ele, então, essa ida valeu ao menos para comprar um cd do Cage, que tanto custam por aqui - eu deveria haver comprado aquele, àquele tempo, com homenagens a ele, quanto eu poderia ter progredido desde então. Agora o ouço e ele sinceramente não me surpreende, como poderia, mas me agrada demais. Vejam, vivemos no século XXI, em que o conhecimento multiplica-se todo dia de forma exponencial. O Cage é no máximo da época em que os microcomputadores saíam da tela alfanumérica. Mas ele agrada muito, sim, pois percebo nele uma graça, uma singeleza, que não vejo muito por aí, e isso incluo muitos dos que dizem fazem música inapelavelmente eterna, tipo jazz, ou coisa que o valha. Pois eu sou sobejamente sensível a narizes empinados, e eles existem demais por aí. Mas ouvindo C

Estatísticas - Julho/2014

Kott, Dramas históricos de Shakespeare, Mamet e Bunge

Acabo de comprar a Caros Amigos de AGOSTO deste ano. Vejam, nem acabou julho. Isso seria simpático, apenas, se a revista não tivesse sido encontrada aqui em Taboão da Serra, onde tudo chega atrasado, quando chega, e se ela - a revista - não dissesse respeito à JUSTIÇA. Pois reflito. Estou assistindo Lutero, filme cuja distribuição é financiada por entidades de âmbito religioso diverso, e ele tem me causado uma confusão dos diabos. Pois por um lado algo em mim exige subserviência à autoridade - e ele, Lutero, só seguia a razão e por isso dividiu o mundo -, ao passo que algo me leva à rebelião - pois sempre há muita autoridade que exige ser dispensada -, enquanto outro tanto me leva ao acordo - pois não sou beligerante. Não consigo me decidir a respeito de nada - embora meu sofrimento ao ver o filme tenha diminuído -, e enquanto isso leio o bardo e comentadores - Kott - do dito cujo. E finalmente as sinapses parecem surtir efeito, consigo ligar uma coisa à outra - e pela leitura de obra

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Lendo sobre Duchamp e Matisse deixo-me influenciar pelo rigor desses precursores sabendo porém que eles não necessariamente devem ser privilegiados como influência pelo CONTEÚDO a que eles dizem respeito - pois sinto (SINTO) que há mais relevância em outras carreiras, em outros percursos, em outras amizades. Pois sinto que em última instância a noção de amizade é aqui realmente importante. Não nos deixamos influenciar por aqueles de quem nos distanciamos por não nos darmos bem com eles - a gente se deixa influenciar por aqueles com que conversamos, rimos e curtimos a vida. Nesse sentido a ligação com quem desenvolve trabalhos de dança - no caso, da dança artesanal do Diogo Granato - ainda repercute em mim, embora tenha me desligado há bastante tempo de sua influência. Lembro-me por exemplo de quando fui a Guarulhos - GUARULHOS! - para apresentar uma performance com o Felipe e outras garotas. Cara, eu me perdi naquela ocasião, inclusive, tendo ido parar na Fernão Dias e precisado corta

Método? 4

Imagino que haja quem apenas imagina onde quero chegar com minhas observações, retiradas de comentários sobre escritos de Grotowski. Para sair disso, basta ler a transcrição que faço a seguir. É uma página de livro, mas é autoexplicativa. "Quero lhes dar um exemplo de sede da montagem na percepção do espectador. Tomenos o Príncipe Constante, de Ryszard Cieslak, no Teatro Laboratório. Antes de encontrar-se no trabalho sobre o papel com os seus partners no espetáculo, por meses e meses Cieslak tinha trabalhado só comigo. Nada no seu trabalho era ligado ao martírio que, no drama de Calderón/Slowacki, é o tema do personagem do Príncipe Constante. Todo o rio da vida no ator era ligado a uma recordação muito distante de toda obscuridade, de todo sofrimento. Os seus longos monólogos eram ligados às ações que pertenciam àquela recordação concreta da sua vida, às menores ações e aos impulsos físicos e vocais daquele momento rememorado. Era um momento da sua vida relativamente breve - di

Método? 3

A quem, do grupo, possa estar achando que eu "encontrei" uma "fórmula" para um teatro que possa vir a "formatar" o que fazemos, desde já informo que: * minha aproximação a Grotowski se deu a posteriori, ou seja, acabei descobrindo que muitos de seus pressupostos de trabalho tinham a ver com aquilo em que eu JÁ acreditava, e não ao inverso, ou seja, como se eu resolvesse adotar algo que acabei encontrando em livrarias. * o grupo do polonês deu oficinas de ampla repercussão no Brasil nos anos 90 e o grupo Lume atua com base em muitos de seus pressupostos. Por outro lado, não tenho muito interesse em me informar com eles em como o teatro do polonês era, até porque não quero me meter a trilhar um caminho de outros profissionais. Ele mesmo, aliás, desconsiderava esse negócio de tornar tudo uma espécie de método a ser seguido. No fundo, nem a isso eu ligo. Outra coisa é que profissionais como Fabiano Lodi - contato proposto pela Samya Enes - dominam outros m

Método? 2

PRECISO continuar a ressaltar alguns aspectos que considero merecedores, ao menos, de reflexão por quem quiser ENTENDER ou mesmo participar do teatro que eu venho me dispondo a estudar e a praticar, seja enquanto autor, diretor ou mesmo ator - neste último caso, nem imagino como isso venha se dar, realmente. Transcrevo agora outro aspecto salientado por Grotowski em Para um Teatro Pobre, nas duas traduções disponíveis em português. 1a tradução: "No nosso teatro a formação de atores não é uma questão de ensinar algo, mas de tentar eliminar do seu organismo a resistência a esse processo psíquico, acabando, assim, com o lapso de tempo entre impulso interior e reação exterior de tal modo que o impulso já se transforma numa reação exterior. O impulso e a ação acontecem simultaneamente: o corpo desaparece, arde, e o espectador assiste apenas a uma série de impulsos visíveis. Nossa formação torna-se então uma via negativa - não um agrupamento de habilidades, mas uma erradicação de blo

Método? 1

Voltemos àquilo que Grotowski fala, em poucas linhas, sobre um determinado método. Está em Para um teatro pobre, texto clássico do polonês (existem duas traduções, que ponho uma após a outra): "O nosso método não é dedutivo a partir de um conjunto de habilidades. Nele, tudo se concentra no 'amadurecimento' do ator que se expressa através de uma tensão levada ao extremo, de um completo desnudar-se, da exposição da própria intimidade - e tudo isso sem nenhum traço de egoísmo ou deslumbramento" (primeira tradução). Ou: "O nosso não é um método dedutivo para colecionar técnicas. Aqui tudo se concentra na 'maturação' do ator que é expressa por uma tensão em direção ao extremo, por um completo desnudar-se, por um revelar a própria intimidade: tudo isto sem a mínima marca de egoísmo ou de autocomplacência" (segunda tradução). Pontos a ressaltar: 1) a não dedução a partir de um conjunto de habilidades ou técnicas. Esse aspecto me interessa porque não co

Método?

Preciso discorrer brevemente sobre Grotowski e como seu teatro tem algo a ver com aquilo que venho pensando - mas nada a ver com aquilo que pode parecer. Não assumo que a pessoa que vier a ler isto tenha lido nada do polonês. Não assumo mesmo. Até porque cada um é livre para propor o teatro que quiser - e nada me diz que eu, por ser diretor do meu pequeno grupo, tenha posição privilegiada a respeito. Mas preciso ser claro quanto àquilo que eu entendo. Vamos a ele, em Para um teatro pobre (existem duas traduções, que ponho uma após a outra): "O nosso método não é dedutivo a partir de um conjunto de habilidades. Nele, tudo se concentra no 'amadurecimento' do ator que se expressa através de uma tensão levada ao extremo, de um completo desnudar-se, da exposição da própria intimidade - e tudo isso sem nenhum traço de egoísmo ou deslumbramento" (primeira tradução). Ou: "O nosso não é um método dedutivo para colecionar técnicas. Aqui tudo se concentra na 'matur

Melhor Teatro, de Plínio Marcos (Navalha na Carne)

Acabo de reler uma peça já considera clássica no cânone do teatro contemporâneo brasileiro, tendo em vista assistir uma nova montagem do texto, e cheguei a uma conclusão que vai irritar algumas pessoas, alguns amigos, e quem sabe alguém mais. Refiro-me a "Navalha na Carne", do todo-poderoso Plínio Marcos. O Louro (Marcos Loureiro) está assinando uma nova direção do texto, que está passando num teatro lá da Vila Romana - longe, bem longe para mim -, e pretendo ir até lá para conferir. Foi para sentir o drama que peguei o texto, que comprei há bastante tempo, nessa coletânea que indico aqui e que inclui outros clássicos, mas acabei me decepcionando - um pouco, pelo menos. Gosto de teatro cru. Gosto dessas peças que pegam bem no estômago, que causam engulhos e até certa repulsa. Vejo nos momentos dramáticos de peças desse tipo algo que me agrada, justo a mim que numa determinada época li quase tudo o que havia à disposição sobre crimes, traições e mundo cão. Gosto mes