Pular para o conteúdo principal

Método? 3

A quem, do grupo, possa estar achando que eu "encontrei" uma "fórmula" para um teatro que possa vir a "formatar" o que fazemos, desde já informo que:

* minha aproximação a Grotowski se deu a posteriori, ou seja, acabei descobrindo que muitos de seus pressupostos de trabalho tinham a ver com aquilo em que eu JÁ acreditava, e não ao inverso, ou seja, como se eu resolvesse adotar algo que acabei encontrando em livrarias.

* o grupo do polonês deu oficinas de ampla repercussão no Brasil nos anos 90 e o grupo Lume atua com base em muitos de seus pressupostos. Por outro lado, não tenho muito interesse em me informar com eles em como o teatro do polonês era, até porque não quero me meter a trilhar um caminho de outros profissionais. Ele mesmo, aliás, desconsiderava esse negócio de tornar tudo uma espécie de método a ser seguido. No fundo, nem a isso eu ligo. Outra coisa é que profissionais como Fabiano Lodi - contato proposto pela Samya Enes - dominam outros métodos e quem sabe eu me meta a aprender com eles. Mas é um processo bem meu e não pretendo propor para ninguém. Prezo acima de tudo que tenhamos liberdade para fazer aquilo em que acreditamos.

* pelo que reflito, no futuro irei propor a todos certos "treinamentos" com base em métodos que amigos do grupo já dominam. Algo bem livre que quem quiser pode fazer sem qualquer custo. O método Suzuki é uma das propostas. Alongamento por esse método é algo que o Adriano Costello já domina e que eu mesmo pude provar como bem interessante. Seja como for, não pretendo também entrar na proposta radical do grupo do polonês. Minha intenção é continuar com as cenas do jeito que elas vêm sendo tocadas, simplesmente. Mas algo me tocou, dentre tudo o que vejo e experiencio e quis compartilhar com vocês.

Logo estaremos com novas cenas, para duplas que eu já especifiquei. Vejo me informando com novos integrantes quanto a suas preferências e logo espero ter bastante material para tocar. Outra coisa é que pretendo alugar, por algumas horas, um espaço na Augusta para que nos conheçamos - hoje somos quase 20 pessoas - e para que conversemos para estreitarmos relações e criemos possibilidade de novas duplas e novas cenas. Só isso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c...