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Mostrando postagens de julho, 2012

Aqui não, senhor patrão! (Núcleo Pavanelli)

Teatro de rua, a peça do Núcleo Pavanelli, da zona norte paulistana, traça a passagem de personagens no começo rurais, gradativamente inseridos no contexto do trabalho registrado e depois envolvidos diante da opção da greve pela luta por seus direitos, mas sempre explorados pelo patrão que diz apenas cumprir a lei ou a lei não dita do costume que achincalha o trabalhador em prol do capital. Conduzida com diálogos simples e contundentes e com pequena participação da plateia, disposta ao redor da cena em área aberta, entremeada também por danças e músicas e encenações musicais variadas, a peça tem uma mensagem muito simples mas cujo maior mérito é inserir o espectador no contexto da luta de classes sem com isso descambar em cartilha. Mostra-se o preparo circense do grupo, claro na agilidade dos membros e na apresentação de figuras como homem placa com perna de pau, homem soltando fogo e outros. Todos curtem muito o desenrolar das cenas, sempre muito bem representadas e em que membros da

Os Persas (Ésquilo, direção Roberto Alvim) (reassistida)

Conforme texto apresentando anteriormente, a peça, conduzida com cinco atores praticamente imóveis, envolve o espectador diante da tragédia da derrota persa diante dos gregos reproduzindo a dramaticidade do texto original e apostando em pequenos gestos e gritos contundentes para demonstrar a gravidade da cena. Maravilhosa.

Revolution Now! (grupo Gob Squad)

O grupo anglo-alemão Gob Squad caracteriza-se, segundo a divulgação, por encenações performáticas, e disso não foge o espetáculo Revolution Now! Tudo começa com a entrada confiante da trupe em busca de motivos em prol da revolução. Os personagens têm os nomes dos atores, que são qualificados em sua libertariedade, contrários a qualquer indício de aceitação dos poderes constituídos. Traduzidos por dois atores brasileiros, os performers do grupo questionam se o teatro vale alguma coisa – dizem que não –, se a poesia algo diz – nada –, se há quem se disponha a matar pela revolução – há –, se há quem se disponha a morrer por ela – há (todas as respostas são encenadas por membros da plateia, convidados em certo momento a desempenharem seu papel no palco ou mesmo fora dele), se os membros da trupe são sinceros em sua adesão à busca da revolução – comicamente todos se defendem, até o momento em que os valores burgueses são postos à prova, até que num determinado momento, após o convite a doi

Urubu come curubu come carniça e voa! (Grupo Clariô, de Taboão da Serra)

Apresentada na 20ª mostra de teatro Monte Azul, na zona Sul, perto da Estrada de Itapecerica, a peça é a terceira do repertório da companhia. Tudo gira ao redor de um evento, a abordagem violenta, por dois policiais, de uma dupla de amigos que riu na hora errada. Tudo retorna aos urubus que voam ao redor dessa carniça. Seguem-se pequenas cenas em que habitam o palco personagens supostamente reais e em que o humor é a tônica predominante. Tudo, pequenos esquetes em que a transitoriedade da vida e dos valores conduz o ser humano à negação de sua humanidade. Peça musicada ao vivo por um saxofonista, violoncelista e violonista, ocorrem nela também músicas pontuam os momentos mais dramáticos da cena. Numa das cenas, personagem indefinido puxa um morto enquanto o lamento questiona quem está realmente morto, se o morto ou quem o enterra. Os personagens, não caricatos mas também não realistas, levam a um questionamento bem-humorado da realidade de bairros periféricos. O grupo apresentou a peç

Hieronymus nas Masmorras (autor Leprevost, direção Roberto Alvim)

A peça apresenta um personagem, historicamente indefinível, algo medieval mas – como se verá – atento à contemporaneidade, patético e interessante. Uma espécie de guerreiro de meia tigela, baixo como si só, mas ao mesmo tempo sério em sua busca – do quê, não se sabe muito bem, mas claramente em oposição a uma realidade também indefinível mas contemporânea. O texto conduz a um autoexame de Hieronymus, em suas motivações, sua própria existência, sua força, sua determinação, e a um defrontamento com personagens retirados de uma espécie de almanaque medieval – um andarilho e um homem das cavernas com espada e pronto para matar. Posteriormente o defrontamento de Hieronymus – que alcança o poder – é com ele mesmo. Texto difícil, irônico e forte, que nos deixa numa espécie de locus   mitológico externo a qualquer mitologia e que nos apresenta um “e se...” cujo destino tornou-se uma incógnita (não por outro motivo senão pelo fato deste resenhista ter sido impedido a ver o fim – duas frases –p
só para constar: eu estive na última sessão de Revolution Now!, do Gob Squad, li uma poesia, toquei guitarra, gritei bastante e subi no palco.

encontros e desencontros

hoje à noite, lá pelas 10, vai acontecer, no club noir (augusta, 331, acho), um debate sobre teatro com o alvim e o ruy filho. estará também o autor de hyeronimus nas masmorras, que está sendo apresentada até o final do mês (ou algo mais). espero poder ir a ambos. fiz um breve curso de história de teatro, de graça, com o alvim. fiquei surpreso com a integridade de sua visão da história e com a intenção de coroá-las com suas propostas. jovem mas já tarimbado, o alvim capturou, no curso, momentos relevantes da história do teatro e localizou a contemporaneidade em relação a ela. claro que esta explicação não resume tudo o que o alvim deu. nem poderia. a questão foi que ele nos preparou para o novo. esta terça ele lançou um livro sobre sua proposta, dramáticas do transumano, que espero poder ler com calma. o ruy filho diz que eu sou inquieto ("talvez o mais inquieto, dedicado ao estudo do teatro"). fato é que não consigo, salvo raras exceções, vislumbrar novos caminhos nisso

Hoje (direção: Tata Amaral)

Tomo a liberdade de tratar o novo filme da Tata Amaral como uma peça de teatro. Por diversos motivos, o maior deles o fato de que praticamente todo o filme transcorre num apartamento vazio (em fase de mudança) e no fato de que muito da apreensão do filme vem do embate íntimo entre os personagens. Vera (ou Ana Maria), interpretada por Denise Fraga, é uma ex-guerrilheira que recebe ressarcimento do governo brasileiro pelo desaparecimento do seu então marido (cujo nome me escapa). Com o dinheiro ela compra um apartamento no centro de São Paulo. Cesar Troncoso interpreta o ex-marido que reaparece sem aviso. Todo o filme transcorre enquanto carregadores fazem a mudança. Aquilo que poderia ser tido apenas como uma reflexão sobre os resquícios íntimos da ditadura revela-se como um combate em que o que está em jogo é a ligação sentimental entre os personagens, após tantos anos, a culpa resultante de como se deu a captura e a tortura em ambos e a necessária resolução do problema: reaparece

sobre escrever sobre teatro

confesso a vocês que não sei por que escrevo sobre teatro. não sou especialista. não tenho formação na área. leio muito, mas por causa disso mesmo sei das minhas limitações. não quero me meter a dar uma de crítico por valorizar o suficiente a função. por isso só faço comentários. nos blogs eu escrevo comentários. também faço entrevistas com atores, escrevo sobre temas relacionados ao trabalho de palco e ajudo colegas com críticas a quatro mãos, em que levantamos temas interessantes. por colegas refiro-me especialmente ao ruy filho, com sua revista antro positivo. mas o pessoal do teatro assume uma postura ambígua com quem escreve. a escrita atribui um certo poder a quem escreve. alguns atores e diretores passam a te olhar de outra forma. é sutil a diferença, mas existe. outros colegas do teatro se sentem lisonjeados em conversar com você - ou em ler os teus textos. outros odeiam com todas as forças aqueles que se propõem escrever sobre teatro sem terem formação na área - ou me

mas faça-se luz

não me lembro exatamente de como começou meu envolvimento com o teatro. mas esse envolvimento tem tudo a ver com a luz, no sentido estrito ou figurado. lembro-me de que trabalhava no Pelé.net e que o Christian Carvalho Cruz sugeriu que eu visse a peça que o Vertigem fazia à época. recusei. disse que eu não iria aguentar. era muita luz para minha situação. ainda no Pelé.net, encontrei um dia o Sérgio de Carvalho, que me sugeriu a peça que o Gerald (Thomas) estava fazendo (Esperando Beckett). fui. saí convicto de que não estava sozinho. e de que a luz podia criar um novo mundo em que eu pudesse me adaptar. nas minhas andanças no teatro, considero a luz algo concreto. tão concreto quanto madeira. com uma ressalva: a luz pode assumir qualquer forma. e desaparecer num átimo. as peças do marião usam uma luz tranquila, simples sem ser simplória. está lá, a luz, mas é como se não estivesse. gosto em especial quando a luz, nas peças dele, some quase por completo e quando as sombras são

Strangenos (Teatro Labirinto, ator Daniel Alberti)

Um palco vazio sempre oferece inúmeras possibilidades e não é preciso entender de Grotowski para chegar a essa conclusão. Daniel Alberti, do Teatro Labirinto, prefere explorar o trabalho de interpretação para atribuir sentidos a histórias de imigrantes. O espetáculo começa com ruídos que não se sabe se imitam ou se não querem mesmo imitar. Em seguida, num trabalho de mímica, Daniel como que manipula arquivos. Num repente, transforma-se numa espécie de sem-teto estrangeiro com alucinações com as quais introduz espectadores (eu, no caso). O sem-teto imigrante desespera-se não se sabe bem com o quê. Aparece outro personagem e mais outro e mais outro. Cada um com trejeitos peculiares. A luz funciona como intervalo, como atribuição de movimento e urgência (com luz estroboscópica), limitação de espaço (cena de telefonema), etc. Num determinado momento, Daniel imita uma partida em que os movimentos referem-se a entradas e saídas de imigrantes. Chama os espectadores que comemoram um gol e q

The Pillowman (O Homem Travesseiro, de Martin McDonagh) (Direção Bruno Guida e Dagoberto Feliz)

A platéia em arena convida a um relacionamento próximo com os protagonistas. A luz engrandece um recinto fechado dominado por mesa e cadeiras metálicas. Aos cantos, armários também metálicos. O cenário sombrio enquadra personagens no limite de suas forças (Katurian), crueza (Ariel) ou cinismo (Tupolski). A história é simples. Num regime totalitário, Katurian é acusado de escrever histórias. Essas histórias, conta-se posteriormente, são idênticas a crimes que estão sendo cometidos na cidade do país imaginário. Thriller em que a identidade do criminoso é o mote mas em que o próprio ato de escrever histórias é colocado em questão - assim como a eternidade atribuída a quem as idealizou e a responsabilidade pelo próprio destino. A trama é ágil e os diálogos, convincentes. Centro da trama, Katurian encarna a posição subalterna em que tudo o que há de humano aparece a quem detem o poder de vida e morte. Tupolski, numa atuação formidável de Daniel Infantini, encarna o bufão que mexe a seu

Brincando com Fogo, de Strindberg (direção Nelson Baskerville)

Somos levados a entrar, mas de leve, na cerimônia e confraternização de um casamento. ocorre a cerimônia, os recém-casados comemoram, e surgem os pais da noiva, amigos, empregadas, tudo é uma festa. restrita a uma armação que coloca a todos numa espécie de aquário, de onde podemos ver todos como vemos ratinhos de laboratório. por vezes um ou outro sai, com isso mudando de plano e vídeos aparecem aos dois lados da armação comentando ou informando o que ocorre do lado de dentro. aos poucos torna-se patente a relação conflituosa desses que tanto comemoraram. a dependência abjeta do ex-noivo pela esposa que ele prefere humilhar. a divisão interna de um amigo apaixonado pela esposa do amigo. o comodismo hedonista do pai do recém-casado. a incômoda situação da esposa que não se sente bem-amada. a empregada que busca outros desejos e que se rende a um ou a outro. os personagens não abandonam o visual de quem está de férias ao longo da beira da praia. a peça propõe um final, que a companh

Ifigênia (direção Marcelo Lazzarato)

Montagem da Companhia Elevador de Teatro Panorâmico em parceria com o dramaturgo Cássio Pires, Ifigênia é baseada no Ifigênia em Áulis de Eurípides. A trama é conhecida: preso num mar sem vento, Agamenon é levado pela deusa Ártemis, irritada com sua presunção, a mandar trazer a filha Ifigênia com a desculpa de casá-la com Aquiles e levá-la ao suicídio para que os ventos voltem ao mar. Para isso, Agamenon convence sua esposa Clitemnestra do falso casamento e, sem poder rever sua decisão (uma segunda carta a Clitemnestra cancelaria a ida de Ifigênia) e pressionado pelo seu exército, convence Ifigênia a se sacrificar. Num último instante, Ártemis faz com que Ifigênia seja salva, morrendo uma corça em seu lugar (trecho que, ao lê-lo pela primeira vez, me fez ficar realmente espantado com sua beleza). A trama é essa. A companhia Elevador, conduzida por Marcelo Lazzarato, utiliza há alguns anos uma metodologia desenvolvida por ele chamada Campo de Visão. Consistindo na movimentação dos at

Il Viaggio

O universo felliniano presta-se, pela sua própria riqueza, às mais diversas encenações. Ora sob um viés farsesco, ora cômico, ora simplesmente escrachado, a obra de Fellini, quase como nenhuma outra, permite apropriações que mesmo fugindo da trama e dos temas fellinianos conseguem tocá-la - e não tão de leve. Il Viaggio é uma viagem desconcertante na qual um passageiro em especial (Ésio Magalhães) vê-se às voltas com a queda do seu avião numa praça de uma cidade italiana e cujo destino é cada vez mais incerto. Ora porque não consegue contato com a esposa, ora porque não sabe se terá tempo de chegar ao concerto no qual ele é músico, ora porque suas convicções do real e do imaginário mostram-se a todo momento mais embaralhadas, o personagem de Magalhães é um mero fantoche do destino, traçado por personagens arquetípicos - esses, sim, ligados ao mundo de Fellini. Ágil, a peça transcorre em meio a estruturas metálicas que servem de suporte a diversas cenas e que imitam objetos ou estrut

O Mistério Bufo, de Maiakovski (Academia de Palhaços, direção Fernando Neves)

Somos recepcionados por um pianista que deixa um certo clima farsesco no ar, e em seguida conduzidos pelas duas mãos por uma trupe incansável de cinco palhaços (sem narizes), melhor seria dito por cinco clowns, numa viagem sem fronteiras pelos limites do fim do mundo. Num primeiro momento, é relativamente difícil localizar-se (afinal de contas, qual é a trama?), mas passados diversos esquetes em que todos os integrantes (três homens e duas mulheres) assumem as mais diversas personagens, entende-se que o mundo acabou, que houve uma espécie de dilúvio, que a arca de Noé tornou-se realidade, e que arquétipos de todas as nações mais poderosas passaram a dividir para dominar o mundo. E nós, onde ficamos? Ocorre a falta de alimentos, e para aproveitar a situação surge um rei que come tudo, não deixando nada para todos. Após cenas de vritual canibalismo (pelo menos foi quase isso que entendi) e de extremos, como o líder da religião mundial deliciar-se com fezes, surge a viagem dos camaradas p

Os Persas, de Ésquilo (texto e direção Roberto Alvim)

O cenário é o mesmo de As Suplicantes: uma armação quadrada de aço em que a luz provém apenas de uma luz comum ao fundo (é formada uma simetria de formas diagonais). As personagens dispostas de outra forma. Pelo lado esquerdo, do lado de dentro da moldura, mais à frente, uma figura cuja silhueta não permite sequer distinguir os cabelos. Ao fundo, à direita, duas figuras masculinas uma ao lado da outra voltadas para a frente (é possível divisar as formas dos rostos). Pelo lado direito, à frente, uma figura mais explícita (é possível ver a forma do rosto) voltada para o lado de dentro da moldura. Ao fundo, à esquerda, uma figura voltada para o lado de dentro da moldura (também é possível divisar as formas do rosto). A peça, a primeira da história, trata da derrota dos persas diante dos gregos. É narrada pelos persas. A narrativa pode ser dividida em algumas partes bem claras: a impaciência das mulheres por não terem notícia da guerra. A chegada do mensageiro e a notícia da derrota. O

Quartos de Hotel (Texto e direção Mário Bortolotto)

Seis quadros. Nem tão breves, nem tão longos. Cliente de prostituta que quer apenas desabafar. Noiva dividida entre amar e odiar seu noivo às vésperas do casamento. Amiga que se revela amando a mulher do melhor amigo. Gordo amante à beira de matar a própria mãe para agradar a amante interesseira. Namorado não aguentando mais. Sujeito louco para transar com duas irmãs, que perdem a esperança de encontrar o amado perfeito. Todos à beira ou em cima de uma cama, que muda de posição a depender da cena (e que quebrou rs). Tudo muito agradável e bem tramado, sempre com recursos mínimos. Os recursos de cena e de iluminação são simples e eficazes (como sempre nas peças do Marião). Os momentos entre as cenas trazem certa melancolia, pelas sombras dos personagens que se movimentam como que perdidas. As trilhas conduzem o espectador ao universo blues que embala qualquer cidade grande. A um desavisado, pode parecer que pelo inusitado das cenas o desfecho deve ser fundamental. O que não acontece, d

a vida - e a morte

acabo de ler em cronin, the last modernist, que o beckett da última fase não se reconhecia nas obras anteriores. na verdade, nem nessas que tanto considero beckettianas. beckett teria dito que não conhecia (mais) o autor daquelas obras. o aspecto plástico, estético, é o que mais me atrai nas últimas obras dele. acho fantásticas as figuras cobertas de quad, por exemplo (aqui reproduzidas). teimo em considerar que a aventura humana tem essa cara, branco e preta, estilizada, sucinta e sincera. mas não é assim que o mundo aparece. o mundo aparece com facetas mais singelas. com pessoas, personalidades, personas e coisa que o valha (das quais o jung tanto falou, e não só ele). podemos até nos sentir como nas figuras. mas somos algo bem mais concreto, bem mais trivial, bem mais humano. como se as figuras beckettianas da última fase fossem quase sobrehumanas (não digo superhumanas para não me fazer mal-entendido, nietzsche e coisa que o valha). fato é que, tirando as pesquisas de se

se o teatro é do ator

leiam as palavras do plínio. fazem todo sentido. venho pensando a respeito. será? será que o teatro é mesmo privilégio do ator? quem escreve pode querer dizer muita coisa. a decifração será por quem lê ou por quem assiste algo com base naquilo que ele escreveu. podem haver mensagens maravilhosas escondidas em meio às palavras. podem haver. no caso do ator, o drama é outro. ele expressa por meio de diversos recursos algo que pode ou não ser um texto, algo que pode ou não estar subjacente àquilo que é dito, algo que pode estar contido na ação. ele pode expressar o que é único. poucas ações, poucas falas, muita ação, muito significado, muita emoção. minha emoção. o espectador vê por meio do ator. eu tinha - e ainda tenho, a bem da verdade - uma noção muito limitada do texto. achava que ele podia tudo, que ele podia dominar o ator, torná-lo um marionete. para alguns, até que ele pode mesmo fazer isso. mas para o bem do espetáculo, do que é visto, o texto pode antes ser des

Amante (texto e direção Roberto Alvim)

a peça é curta - e pelo jeito isso motivou críticas de uns e outros. bobagem. a peça é do tamanho que deve ser. narra-se o assassinato de uma empregada surda-muda pela patroa. entram em cena o marido, um detetive (?) e a própria. a peça transcorre nos solilóquios do marido e mulher, desvendando momentos do dia-a-dia do casal, alguns revelando a intimidade da mulher, outros os pensamentos dele, que pendula entre o espanto (embora ele disse ter ouvido o assassinato) e a culpa (de alguém, quem sabe dele). ele se mostra destruído. os movimentos são quase nulos. a dramaticidade está presa ao falar. o texto é certeiro e em alguns pontos tocante. gravita o palco uma indefinição do que seja o convívio, o amor ou - menos - a simples convivência - até com a empregada estranha, que não podia resistir porque não podia discutir. a empregada é achada em pedaços em trens. menos a cabeça. fica a incógnita como se fosse o final de um thriller. mas é bem mais que isso. apesar disso, ouço brincad

Prèt-à-porter 10

São três cenas médias, não curtas. Elas ocorrem em sequência, com pequenos intervalos. A primeira, Adorável Callas, aproxima duas personagens que por não conseguirem se complementar, permanecem entre o dio e o desdito. Uma, dançarina famosa que se recupera de uma lesão; a outra, enfermeira que gostaria de não cuidar da primeira e que, sem ter com quem compartilhar, fala de episódios de sua vida amorosa. Os relatos desta última são crus. Chama a atenção a economia de gestos da primeira, que praticamente não fala, e o falatório incessante da segunda, que desgosta da primeira mas que parece não poder admiti-lo, para ela mesma e para a primeira. A ação transcorre com elas distantes, aproximando-se apenas para a enfermeira ajudar a fazer os exercícios do braço da dançarina. Há uma relação de ironia na dançarina com respeito à enfermeira e de ódio contido desta com relação àquela. O final tem um quê de melancólico. A segunda cena, O Homem das Viagens, é conduzida quase todo o tempo po

as suplicantes

Surge a luz. Aparecem "personagens" ou "personas". Todos nos cantos de um cenário vazio, enquadrado por uma moldura retangular de aço. Os personagens entram. Pisam no espaço interno do retângulo e recitam as linhas do texto, o primeiro do teatro mundial. Perco-me na necessidade de dar sentido àquilo que perco, enquanto as falas continuam e permaneço perdido, sem saber a que lado elas se dirigem. Todos os personagens entram, o primeiro sendo uma mulher no fundo do palco, em falas que não são dramáticas por o "dramático" estar absolutamente fora de contexto. Num determinado momento, personagem masculino à esquerda revela a fala gravada num gravador de mão, criando contraste espaço-temporal. O tempo transcorre praticamente sem qualquer ação. Os personagens mal se mexem e quando falam é num registro contido, quase impessoal. Apaga-se a luz. Seria necessário rever e rever para principiar a entender. Não me ponho a criticar o cenário, mas ele com toda certeza e