Pular para o conteúdo principal

Revolution Now! (grupo Gob Squad)

O grupo anglo-alemão Gob Squad caracteriza-se, segundo a divulgação, por encenações performáticas, e disso não foge o espetáculo Revolution Now! Tudo começa com a entrada confiante da trupe em busca de motivos em prol da revolução. Os personagens têm os nomes dos atores, que são qualificados em sua libertariedade, contrários a qualquer indício de aceitação dos poderes constituídos. Traduzidos por dois atores brasileiros, os performers do grupo questionam se o teatro vale alguma coisa – dizem que não –, se a poesia algo diz – nada –, se há quem se disponha a matar pela revolução – há –, se há quem se disponha a morrer por ela – há (todas as respostas são encenadas por membros da plateia, convidados em certo momento a desempenharem seu papel no palco ou mesmo fora dele), se os membros da trupe são sinceros em sua adesão à busca da revolução – comicamente todos se defendem, até o momento em que os valores burgueses são postos à prova, até que num determinado momento, após o convite a dois membros de irem à rua para dar início à revolução, abre-se a cortina àquilo que se propõe – abordar um transeunte na rua e convidá-lo a dar o start na revolução. Aparece um homem comum, que ora se aproxima ora se afasta de uma tela com som, colocada na rua, e posteriormente um professor que acabara de sair do Sesc. Ocorre um enfrentamento entre o professor e perguntas colocadas pela trupe e pela plateia, que acompanha aparecendo também na tela, e o homem comum do começo é convidado a aderir, aceitando o convite da trupe a... (segredo). Enquanto isso, são ligadas mais de dez guitarras dispostas à frente, na plateia, e pessoas da plateia as empunham, e, com simples indicações de onde colocarem os dedos, são convidadas a tocá-las, em cena que dura minutos a fio, com um som interessantíssimo que simboliza a entrada de todos à cena da revolução. Ao final, os homens abordados na rua aparecem no palco empunhando a bandeira da revolução. Aplausos gerais, em que a empatia com os homens comuns torna todos os assistentes em testemunhas do valor de se lutar pelos valores de uma revolução que está o tempo todo nas mãos de todos. A confraternização –e a peça – terminam com um convite a todos de se aproximarem e cumprimentarem os homens comuns – o homem comum e o professor – e conhecerem os integrantes da trupe. Poucos assistentes permanecem fechados, sem se abrirem à iniciativa do grupo. A confrraternização é mesmo geral – a ponto de eu ter visto vizinho da plateia claramente detestando a forma como tudo era conduzido mas, ao final, absolutamente absorto pela alegria de ter participado, sim, de uma espécie de revolução. Fui agraciado duas vezes durante o espetáculo, primeiro ao ser convidado – e ter aceito – recitar uma poesia e em seguida por ter sido um dos que pegaram as guitarras e tocaram. Espetáculo que abre todo um novo leque de possibilidades a quem não quer mais levar o palco tão a sério, reproduzindo cenas ou textos ou algo similar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c...