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Ifigênia (direção Marcelo Lazzarato)

Montagem da Companhia Elevador de Teatro Panorâmico em parceria com o dramaturgo Cássio Pires, Ifigênia é baseada no Ifigênia em Áulis de Eurípides. A trama é conhecida: preso num mar sem vento, Agamenon é levado pela deusa Ártemis, irritada com sua presunção, a mandar trazer a filha Ifigênia com a desculpa de casá-la com Aquiles e levá-la ao suicídio para que os ventos voltem ao mar. Para isso, Agamenon convence sua esposa Clitemnestra do falso casamento e, sem poder rever sua decisão (uma segunda carta a Clitemnestra cancelaria a ida de Ifigênia) e pressionado pelo seu exército, convence Ifigênia a se sacrificar. Num último instante, Ártemis faz com que Ifigênia seja salva, morrendo uma corça em seu lugar (trecho que, ao lê-lo pela primeira vez, me fez ficar realmente espantado com sua beleza). A trama é essa.


A companhia Elevador, conduzida por Marcelo Lazzarato, utiliza há alguns anos uma metodologia desenvolvida por ele chamada Campo de Visão. Consistindo na movimentação dos atores na exata medida da movimentação percebida em seu olhar periférico, o Campo de Visão foi utilizado na montagem de Ifigênia. Outro aspecto destacado na montagem seria que as falas do texto seriam distribuídas pelos atores, sem indicação exata de quem deveria declamá-lo.

Na prática, percebeu-se que a metodologia Campo de Visão foi efetivamente usada ao menos no começo do espetáculo, espetáculo esse em que todos os atores foram vestidos com vestimentas presumidamente da época. Mas com o passar do tempo a metodologia foi deixada para trás, cada ator desempenhando claramente uma função determinada, um papel determinado, e os movimentos não correspondendo às conseqüências esperadas pela metodologia. Apesar disso, a peça flui bem e consegue capturar a atenção pela integridade das atuações, exageradas como cumpre ao tom do texto e à dramaticidade envolvida. Um espetáculo interessante e prazeroso.

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