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se o teatro é do ator

leiam as palavras do plínio.


fazem todo sentido.

venho pensando a respeito.

será?

será que o teatro é mesmo privilégio do ator?

quem escreve pode querer dizer muita coisa. a decifração será por quem lê ou por quem assiste algo com base naquilo que ele escreveu. podem haver mensagens maravilhosas escondidas em meio às palavras. podem haver.

no caso do ator, o drama é outro. ele expressa por meio de diversos recursos algo que pode ou não ser um texto, algo que pode ou não estar subjacente àquilo que é dito, algo que pode estar contido na ação. ele pode expressar o que é único. poucas ações, poucas falas, muita ação, muito significado, muita emoção. minha emoção. o espectador vê por meio do ator.

eu tinha - e ainda tenho, a bem da verdade - uma noção muito limitada do texto. achava que ele podia tudo, que ele podia dominar o ator, torná-lo um marionete. para alguns, até que ele pode mesmo fazer isso. mas para o bem do espetáculo, do que é visto, o texto pode antes ser destruído para muito ser construído em seu lugar. o texto, que permanece, enquanto o teatro escoa todos os dias, o texto pode ser apenas uma abstração. a concretização, muito mais forte, pode ser feita sem ele.

é preciso ter coragem para atuar. mais que a coragem de estar na frente de todos, a atuação exige a coragem de enfrentar todos os dilemas humanos. tabus, disputas, dilemas, morte, tortura, presente e futuro, tudo pode ser discutido no palco. o ator é intérprete de algo que o supera e subjuga.

por isso para mim o ator sempre foi imortal. mesmo antes de agora, em que a muitas penas tento expressar-me no palco.

pode muito bem ser que o teatro seja domínio do ator. mas se não for não faz muita diferença. é no ator que o teatro se apresenta imortal. só nele.

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