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Aqui não, senhor patrão! (Núcleo Pavanelli)

Teatro de rua, a peça do Núcleo Pavanelli, da zona norte paulistana, traça a passagem de personagens no começo rurais, gradativamente inseridos no contexto do trabalho registrado e depois envolvidos diante da opção da greve pela luta por seus direitos, mas sempre explorados pelo patrão que diz apenas cumprir a lei ou a lei não dita do costume que achincalha o trabalhador em prol do capital. Conduzida com diálogos simples e contundentes e com pequena participação da plateia, disposta ao redor da cena em área aberta, entremeada também por danças e músicas e encenações musicais variadas, a peça tem uma mensagem muito simples mas cujo maior mérito é inserir o espectador no contexto da luta de classes sem com isso descambar em cartilha. Mostra-se o preparo circense do grupo, claro na agilidade dos membros e na apresentação de figuras como homem placa com perna de pau, homem soltando fogo e outros. Todos curtem muito o desenrolar das cenas, sempre muito bem representadas e em que membros da plateia são abordados pelos personagens, e participam ao final de uma dança de confraternização da própria posição no contexto da luta de classes. Ao final, a companhia passa o chapéu. Espetáculo extremamente agradável em que parte da graça está mesmo em participar, ora cantando, ora admitindo o fingimento de representar ser boi ou vaca, ora carregando faixas e dançando.

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