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Mostrando postagens de 2013

no teatro, a gente jamais está só

soube por um post do marião do falecimento do fauzi arap. é estranho, mas o fauzi adquirira tons de mito mesmo desde antes de ouvir falar dele pela boca do loureiro. e um mito como sempre inacessível. como se ele tivesse se trancado ao mundo. pelo menos era isso que eu podia inferir. vez ou outra, via o nome dele num e noutro post e a curiosidade aumentava. mas o fato é que venho descobrindo que há pessoas e lições em direção das quais a gente não deve ir atrás. ocorre porém que, se bem venho entendendo, algo do teatro do fauzi não me parece ser estranho. pois, verificando o quanto é verdade que os mestres ditam o rumo do teatro por meio de seus pupilos, entendo que algo do método fauzi deve ter me sido cedido, com muita boa vontade, nas lições e no simples convívio com alguns de seus pupilos diletos que considero meus amigos. a singeleza. o domínio do que faz. a educação. jamais levantar a voz. sempre compreender. a rigidez na atribuição do papel de cada um. a necessidade de exigir

debate

ontem quase vou assistir um debate. não fui e aproveitei bem a noite. fiquei sabendo que quase ninguém foi ao dito. tá certo, um debate vale pelo debate. mas, sei lá, acho que não dá para ficar tudo entre amigos. é preciso trazer sempre alguéns de fora. alguéNS. pois fico sabendo, por um artigo do Michel Laub na Piauí, que lá em frankfurt uma cidade de 20 mil habitantes consegue trazer 80 pessoas na plateia de um debate. aqui, às vezes falamos com um e outro, e olha lá. não quer dizer que sejamos tão ignorantes, acho eu. mas fato é que as prioridades culturais da grande maioria vão em direções, diria, mais escatológicas. falta um diálogo, aqui. não acredito que não haja mais esperança.

novela

nunca assisti uma novela como assisto amor à vida. agora entendo a fissura que o espectador tem com reviravoltas na trama. agora entendo esse negócio de "novela pegar". digo, não que entenda, agora eu sinto o drama. é curioso que no caso de amor à vida sinto que todos os personagens possuem demasiadas arestas, e que são elas que lhes permitem criar subtramas que, de alguma forma, cativam o espectador. temos a gorda que se separa para se aceitar melhor. temos a amiga da gorda que não consegue se separar de um sujeito que é casado com uma advogada que lhe dá chifre com a primeira (amiga da gorda). temos a piranha que casa com um homem muito mais velho para se vingar. temos a esposa do sujeito mais velho que condenou à cadeia a babá que não conseguiu evitar a morte do filho. temos o filho caçula que aprontou com quase todos e que agora está na merda, vendendo cachorro quente. temos a médica, filha do homem mais velho, que teve uma filha com um sujeito que é artista reco

conceito e verdade sensorial

minha formação é multidisciplinar, ou mesmo interdisciplinar. inclui jornalismo, marketing, filosofia, ciência política, estratégia, letras, artes plásticas e teatro. com laivos de economia. por isso, consigo navegar em vários âmbitos. mas há um ponto negativo em tudo isso. algo faz com que crie em mim uma distância mortal de textos de especialistas. como se desconfiasse das tramas conceituais de gente que fica apenas em sua casinha. por outro lado, minha formação recente em artes faz-me dar uma importância atroz a argumentações que revelem, em si, algo mais do que apenas o conceitual. dessa forma, textos fracos ou mesmo anódinos às vezes me revelam mais do que textos verdadeiramente profundos. pois é dos insights que a verdade sensorial aparece. e ela nem sempre vale como conceito. é isso.

Atuar

Confesso que encano um pouco com esse negócio de atores querendo achar a verdade absoluta. Como se estivessem num curso de autoajuda. Ator é para atuar, porra.

Estatísticas - Novembro 2013

Sem bóia

Não gosto quando ouço falar ou leio sobre as tramas que alguns escritores, se não todos, desenvolvem para achar o seu lugar no mundo. Não gosto porque em muitos casos eles mostram que tão somente querem sucesso. E sujeitos em busca de cenouras atraentes me enchem o saco. Isso acontece muito especialmente com o meu B. Já se tornou chato ler que de secretário do Joyce, que apelava ao excesso, a imiscuir o inglês com outras línguas para atribuir ainda mais riqueza àquilo que deveria ser a vida, passou à subtração, ao mínimo, etc. Isso assim acontece porque, segundo algumas línguas, B. apenas queria o sucesso, assim encontrando sua via ao estrelato. Eu amo a opção dele. Mas não busco com ela nada demais. Simplesmente ela me agrada - embora outras coisas também me agradem. Pois por meio dela finalmente encontro bases para a ausência de base. Coisas que me fazem elevar e cair, sem precisar apelar a fingimentos, a desculpas, a tentativas de encontrar bóias para o mundo. Aos poucos, já bem

A luta pelos 100 milhões e pela cultura como política de Governo do Estado

Rudifran Pompeu, presidente da CPT (Cooperativa Paulista de Teatro), para o jornalista Rodrigo Contrera. Em que consiste a luta pelos 100 milhões? O proac editais é uma espécie de cobertor curto para suprir as demandas do teatro paulista. Existem uma infinidade de cias, grupos, trupes e artistas independentes no interior do estado e os atuais 30 milhões para o estado todo, incluindo a capital, são insuficientes para contemplar sequer uma pequena parcela dessa demanda! Ganhar um PROAC é mais difícil que entrar em medicina na USP! A luta consiste em fazer o parlamento e o poder executivo entenderem arte como necessidade básica, tão importante quanto alimentação e saúde ... Pelos meus dados, existem 300 grupos de teatro (mais ou menos) na cidade? Existem mais! Essa sua conta esta errada. Só na cooperativa que eu presido existem cerca de 700 grupos inscritos e é claro que talvez uma parcela desses não esteja trabalhando com frequência, mas certamente existem muito mais do que 30

Teatro

Acordei tarde hoje e estava ao meu lado com um livro do Sam Shepard - Cruzando o Paraíso -, comprado há muito. Li a orelha. Histórias pequenas. Resumos. Nada de mais. Mas de repente entendi. A peça do Lucas de que participei e mais ainda o teatro do Marião, que assisto há tanto tempo, abriram-me comportas para o lirismo contido de nossas pequenas histórias. Quando digo nossas refiro-me aos seres humanos. Foi agora então que vi o panorama. E vi também minha inserção nele. Nada de mais. Algo que eu já vislumbrava em meu desejo de entrar nesse universo - no universo do teatro -, algo de que fico satisfeito tão logo novos mundos me são sugeridos. Claro que a história não acabou por aqui. Existem n outras influências de peso que fizeram e fazem minha cabeça. Mas agora compreendo em que lugar estou. 

No palco, um nascimento

Fui dirigido nos últimos meses por dois caras que eu admiro: Mário Bortolotto e Marcos Loureiro. Cada um tem seu estilo e com cada um tive minhas dificuldades. Com o primeiro, fiz um papel numa peça de um outro cara legal, o Lucas. Com o segundo, um papel para apresentação única numa peça feita por mim e pela Renatinha. Seria inviável tentar contar tudo o que aprendi nesses processos. Mas gostaria de falar de um negócio em particular. O Marião me convidou para um papel porque, segundo ele, o personagem tinha a minha cara. O personagem, no caso, chama-se Pedro e é catedrático de ciências humanas (provavelmente Literatura). Na cena, ele conta a sua primeira mulher (está casado com outra) sua paixão por uma aluna maluca. O Marião me convidou porque o Pedro tinha a minha cara. Nesse sentido, o que eu precisava fazer era decorar bem o texto e encená-lo com os meus recursos - que até o momento são bem parcos. O Marião me passou as marcações e dicas de como fazer tal ou qual fala. Segui tu

Conduzindo conduzido

Ontem fui a Chapecó, SC. Cobrir a visita de uns russos a um grande fabricante de caminhões frigoríficos. Eu já me acostumei a galpões imensos em polvorosa. Dessa vez, parecia uma déja vu. Quase todos os russos não sabiam sequer algumas palavras em inglês. E, se querem saber, quase todos estavam vestidos como se estivessem em férias - o que de certa forma era verdade, pois a seguir foram fagueiros rumo ao Rio de Janeiro. Conhecemos bastante gente legal, dentre eles o vice-prefeito da cidade, que me animou mais um pouco com respeito a política - uma de minhas maiores paixões. Mas é um trampo chegar na cidade. Sair de Congonhas rumo a Viracopos rumo à cidade. Mas reparei por outro lado que grande parte dos presentes no avião pareciam seguir a mesma via - ou seja, conexões e mais conexões. Acabei me cansando bastante, embora durante a visita eu tenha me sentido nadando da braçada. As novidades vieram por meio de perguntas mais aprofundadas com respeito a sistemas de fabricação das ca

Félix e o mal que se esconde

Tenho "perdido" boa parte das minhas noites assistindo Amor à vida. Isso nunca aconteceu. Eu, ver novela? Jamais imaginaria. Ontem, não poderia ter sido diferente. Além do que era um momento chave na trama toda. O desmascaramento de Félix. Não vou fazê-los bocejar comentando a trama de forma rasteira. Opinando se o Félix merecia, se foi um bate-boca excessivo, se parece novela mexicana, nem outros quejandos. Vou falar sobre as reações do Félix. Era legal vê-lo troçar do pai quando do começo da cena. Usar as armas do sarcasmo é típico de gente como ele, mas ao mesmo tempo era temerário vê-lo puxar a corda até ela esticar. Ele com toda certeza havia se esquecido do mal de ter jogado a Paulinha na caçamba. Podem crer, ele com toda certeza achava-se inocente - ao menos naquele momento. Quem comete muitos males acaba esquecendo-se deles - até porque é conveniente. Mas aí, com a tacada certeira do Fagundes, e a recepção da Paloma, o semblante do Félix mudou. Ele não gostava do

IMortalidade

Hoje passei o dia inteiro com as músicas de Dias e Noites, a peça que fiz desde setembro até ontem, na cabeça. Principalmente as músicas que embalam a cena do James Dean encarnado pelo Eldo contracenando com a Tereza (Gabriela Fontanell). Engraçado. A peça já se foi quase por completo - encenaremos uma última vez nas Satyrianas, sábado às 1h30 -, mas é como se ainda permanecesse. Pois permanece. Sempre entendo que os momentos marcantes em nossas vidas não desaparecem. Que as próprias pessoas envolvidas nesses momentos como que se tornam dessa forma imortais, e não estou cometendo um jogo de linguagem. É real. O aprendizado foi tamanho que mal dá para contá-lo e rememorá-lo para mim mesmo. A percepção e vivência do lado de dentro do palco parece ser, atualmente, para mim, muito mais do que qualquer elucubração bem desenvolvida em busca de algum protagonismo vanguardista latente. É mais arrebatador encontrar o tom certo para uma fala do que simplesmente bolar algum efeito estratosfér

A NOITE FINAL

DIAS E NOITES - A NOITE FINAL Estamos em final de temporada e tudo parece avançar como se não tivesse fim, mas tem. Ao grande Lucas Mayor, puta autor, o agradecimento pela generosidade, bom humor e paciência (ainda não sei se sou mesmo um  selvagem idiossincrático, mas tudo bem). Ainda estou estupefato em como a Cia La Plongée acolheu tão bem este quase bebum (de café, bebum) que vos fala. Ao generoso e corajoso (no meu caso) Mário Bortolotto por tudo - convite, paciência, força, acolhimento, risadas e tudo o mais. Vc não imagina, Mário, como tudo foi tão importante para mim. Eu normalmente fico na minha, mas é que vocês ainda não me viram chorando - patético. À Toty, pela simpatia, acolhimento, dicas, exemplo, tudo - e de quebra ao Alberto pela força inestimável, esse que nos assistiu mais do que qualquer um. Á Helena, pela paciência inestimável com esse cara que mal consegue pronunciar duas frases sem sentir que o chão rui a seus pés. Pelo apoio, pelo profissionalismo, por tudo. Á Ga

DESPEDIDA

estou me despedindo de meu personagem. hoje será a antepenúltima vez que faço com que ele vire realidade. depois haverá amanhã e por fim, às 1h30 do sábado, nas satyrianas, o derradeiro encontro. sentirei muita falta dele. o nome  dele é pedro. é um catedrático, ao que parece das ciências humanas, provavelmente literatura. é um cara estranho. encarnei o pedro simplesmente decorando o texto e tentando ser o mais natural possível. digo, do meu jeito. o pessoal gargalhava - e gargalha - para valer. algo nisso do como falar fez com que o pessoal entrasse na vibe da situação do sujeito. claro que não somente o pedro era motivo para gargalhadas. o texto hilário do Lucas Mayor encontrou claramente seu lugar nas falas da Helena (Helena), Gabi (Soraya) e Aline (Helena). eu fui achando novos lugares para as falas do pedro aos poucos. hoje estou num processo contínuo de achar novos lugares. mas, como tudo, a peça um dia acaba e o processo, com ela. c'est la vie.

analíticos

venho começando a ler as peças de teatro que me interessam, inclusive as minhas, com um olhar analítico necessário que costumava me fazer crer em mensagens que, sopesando os argumentos, no fundo não existiam. uma dessas peças é a que apresentaremos no dia 15, às 23h59, nos Parlapatões, a Binóculos, o amor e a morte, da  Renata Gouveia  e eu, dirigidos pelo  Marcos Loureiro . isso tem me levado em dire ções insuspeitadas, obrigando-me a acreditar - enfim - que não me contradigo - pecado mortal na filosofia que tanto prezo. menos mal. estão convidados. logo, arte do Kita  André Kitagawa ), para vocês curtirem. desde já meu grande muito obrigado ao cara. e ao  Régis Trovão Rodrigues , e a todos os demais que porventura venham a nos ajudar.

firmes e fortes

eu já sabia, ao menos teoricamente, o que era esse negócio de domínio de palco. mas ontem pude experimentar a bagaça pessoalmente. estávamos no palco, em cena, quando deparei-me com que a helena, uma de minhas partners, começava a "brincar" (no bom sentido) com seu personagem. ela parecia como se tivesse esquecido o que deveria falar quando na verdade preparava o bote para atribuir às falas ingredientes que as tornavam ainda mais apetitosas para nós e para o público. foi sem querer que acabei entrando nessa. e a gabi, por alguma razão, também foi nessa direção. o ponto crucial foi bem no fim, quando eu ia falar um pequeno bife dirigido à soraya (a gabi). num determinado ponto do bife, eu parei, como se tivesse esquecido - e não tinha. a cena como que parou. aí retomei a fala, com um tom praticamente idêntico ao momento imediatamente anterior. a galera caiu na gargalhada. entendi. depois da cena, conversando na coxia, elas me perguntaram se eu havia esquecido a fala. eu n

ficções

eu sou extremamente tímido. e temo em especial pelas consequências de atos que eu possa vir a verbalizar e que - sem o saber, ou sem passar pelo diálogo - possam incomodar alguém. por isso, tenho muito receio em sugerir qualquer mínima coisa, gesto ou atitude. digo isso porque não consigo verbalizar, às pessoas que me rodeiam que para mim a distância entre ficção e realidade, literatura e palavra, gesto interpretado e gesto real é ínfima, quase composta apenas de ar. por isso, sempre que me vejo nessa situação, gosto de transitar entre palco e plateia, teatro e bar (quando tem um bar), ficção e realidade. isso acaba perturbando alguns, incomodando os responsáveis pela peça como um todo, abrindo portas que não devem ser abertas. mas sou disciplinado. antes da peça, é preciso concentrar-se, passar as cenas, aliviar as cordas vocais, alongar-se e fazer isso que o eldo chama de aquecimento leonino. faço e me contento com isso. claro que tem o outro lado. enquanto vivo, converso com g

SÓ decorar?

estamos nos preparativos para um festival. uma peça já em cartaz e outra, criada em exclusivo para a ocasião. com esta última, conversei com minha partner. ela tava exultante. cheia de ideias. a animação saindo pelos poros. eu, por outro lado, pareço andar mais plácido. entendo tanta animação, eu mesmo quero que tudo seja ASSIM, mas vejo que as atribuições são bem definidas. diretor dirige, ator a tua. todos montam o cenário. e por aí vai. tenho receio de magoar minha partner. descobri nos últimos meses a alegria que é ser bem dirigido, com segurança. o ator quer atuar, porra. não entendo mais essas viagens a que tantos se submetem. entendo que haja sempre algo mais. mas como pensar assim se ainda há tanto a fazer em termos mais básicos, tipo decorar, simplesmente? além do que, nessas viagens todas, dá uma insegurança. é curioso. lembro do desgaste que era criar numa base em que todos apitavam ou podiam apitar. é desgastante demais. cansativo. enche bastante o saco. claro que tem s

direções

o meu blog comentariossobreteatro.blogspo t.com vai meio mal. também, eu não posto quase nada. assistir outras peças, ainda assisto.  mas pouco escrevo.  sinto-me mais calmo, sentindo agora as lições que remetem a estar no palco. a decorar o personagem. a descobri-lo com o tempo. a fazer isso contar lá na cena. a sofrer reveses. momentos em que não nos saímos bem. ou em que isso acontece com outro s. momentos em que por segundos intermináveis esquecemos uma ou outra fala - que vergonha. mas saber sair do sufoco sem entregar o jogo. pequenos esquecimentos de adereços da cena. luzes que dão pau. espectadores mal-educados. choros convulsivos, às vezes. são incontáveis os eventos que podem ocorrer - e ocorrem - enquanto uma peça torna-se realidade para o espectador. nesse sentido, percebo muito mais do teatro do que antes. entendo as qualidades que prezo num diretor. num partner de cena. num autor. num assistente de direção. num técnico. nos amigos que ajudam aqui e acolá. claro que nem tu

A camiseta listrada

Ontem vesti e dormi com uma camiseta. É comum, de listras vermelhas e marrons, mangas curtas e pano bem simples. Mas ela é especialmente importante para mim. Com ela, encenei minha primeira peça, a primeira que dirigi e em que atuei, Soment e uma pequena prova de amor, em 2008, numa escola do Jabaquara. O Brunno Almeida Maia e o Raffael Fabrício Viana me ajudaram. O Brunno fez o papel principal, e o Raffa fez uma voz em off e a técnica. O Rycardo Moreno fez um papel lá atrás, deitado no palco, falando ao microfone. Eu atuei também, recitando um texto, o único que me cabia dizer à época (o Fugindo) - e que a Cris odiava, até hoje não sei bem por quê. Mas este pequeno post não é para comentar sobre a peça. A camiseta em questão, percebemos depois o Brunno e eu, combinava com as listras brancas e pretas da camiseta do próprio Brunno na peça. Elas, ambas as duas, remetiam a prisões, a grades em que os "personagens" se encontravam. Grades internas. Não sei como, um fotógrafo profi

Atraso

hoje cheguei atrasado. bem atrasado.  não conto porque farei um conto. mas então. aí mal deu tempo de colocar a roupa do pedro e mandamos ver. eu havia dedicado a apresentação - a minha - a uma pessoa. uma linda pessoa. e foi, segundo o lucas, o autor, a melhor de todas. houve um momento em que vacilei. dois segundos que pareceram criar um buraco na realidade. mas aconteceu que o personagem foi se  impondo, os tempos perfeitos com os da helena, muito inspirada, e foram saindo acepções e tempos em mim que eu nem sabia que existiam - dentro de mim. foi foda. é o amor.

Elogios

um dos maiores problemas ao se elogiar alguém está no fato de essa pessoa não conseguir entender que um elogio é um elogio, e que os fatos são coisas diferentes. embora para pessoas como eu elogios são fatos (embora os fatos também mudem e aconteçam novos a todo instante - nem sempre elogiosos)

Mortes

ontem eu estava livre, conversando com uma amiga atriz, e tocamos no tema da morte. uma atriz conhecida de ambos morrera recentemente, e era relativamente jovem.  sinto que a linha traçada entre vida e morte é ainda mais sutil e relevante para nós, vivos, do que simplesmente o fato de cruzarmos o fato de existirmos e de não mais existirmos. pois estamos todos vivos, sim, aqui desse lado do univers o, mas sentimos claramente que as pessoas vivem e morrem mesmo antes de tombarem. pessoa viva para mim é aquela que consegue fazer seu olhar encontrar o olhar do outro. que não precisa de subterfúgios para mostrar sua beleza - que sempre existe - e que não decepciona tanto a ponto de a descartarmos da nossa frente. pois para estar vivo para o outro é preciso pagar um preço. reparem que eu digo estar vivo para o outro, não simplesmente estar vivo. bilhões estão vivos neste mundo mas só uns poucos o estão para mim. poucos que eu quero que sejam muitos, mas que minhas limitações me fazem parar p

Dias e Noites - 29/10

ontem tinha muito pouca gente na plateia. mas todo mundo deu o seu melhor. sinto que para mim quanto menos gente mais me animo. mas não sei bem. sei apenas que atuar de olho nas risadas é desmerecer tudo o que é possível fazer com o personagem - que não é simplesmente motivo para risadas. e estou conseguindo coisas que há algumas semanas seriam quase milagres - ao menos para mim. ficamos contentes  com o resultado ontem. mas não pude deixar de reparar que os aplausos foram, digamos, amenos. houve problemas, é claro, mas, como o marião ( Mário Bortolotto ) faz questão de dizer, tá tudo certo - é incrível como assumimos como nossas frases de gente de que a gente gosta. hoje estarei em feira no anhembi e em palestras que em geral não me surpreendem. o problema de tentar andar à frente de tudo é sentir que pouco do que vemos abre nossos olhos. ah, quanto à peça, refiro-me a dias e noites, de  Lucas Mayor , cuja temporada se estendeu até quarta, dia 20. terça, dia 26, o marião confirmou, es

Dias e Noites - 30/10

passei o caminho até o trabalho com a música que o público curte logo na entrada da peça. se não me engano, é neil young.  os atores cantam junto, baixinho, quase sempre. eu não conheço a letra, só fico assobiando mentalmente. a cena em que a helena (ou aline) entra para contracenar com o mau (maurício bittencourt) já deixa claro a que a peça vem. são sentimentos sutis, difíceis de decifrar, ao me nos aparentemente, mas que deixam marcas indeléveis. ao final, "é bonito?" desmascara a solidão. bom, poderia estender-me muitas linhas com muitas impressões que tenho de dias e noites, de  Lucas Mayor , direção  Mário Bortolotto , da qual faço parte, mas não importa muito. importa que a peça foi estendida até 20 de novembro. e que a música continua na minha mente. talvez eu queira entrar no palco. agora.

Estatísticas - Outubro 2013

retorno

ficamos uma semana apenas sem apresentar dias e noites, e parece que passou um século. deve haver alguma razão psicológica para isso.  fato é que estava com saudades. voltou o pedro, meu personagem histriônico, voltaram todos meus colegas atrizes e atores, cada um investindo tudo na caracterização rasgante que o marião  Mário Bortolotto  deu, com eles, a tudo que estava lá atrás no texto do grande Lucas Mayor .  tenho aprendido muito com todos, sem exceção. e com o batata, o sugar, toda essa galera que levantou esse edifício que é quase palpável ao espectador. muitos saem com um gosto amargo ou doce consigo, isso eu sempre reparo. poucos ficam a meio termo. não é esse negócio de amar ou odiar. é esse negócio de afetar. como bom admirador de cassavettes, o lucas deve estar bem feliz com tudo. o marião adora.  estaremos hoje e amanhã lá no teatro cemitério novamente, frei caneca, 384, 21 h. 20 pilas. sei que sou suspeito, mas realmente vale a pena.

novatos

todo ano gente nova entra na roda. os olhos brilham nessas pessoas. elas acreditam, ainda. e por isso se dedicam. com o tempo, os olhares tornam-se esmaecidos e os olhos perdem o viço. é quando essa gente começa a questionar. e depois, levados alguns tombos, a deixar de acreditar. é interessante ver isso na vida real. há quem nutra ilusões e é chamado de idealista. há aqueles que permanecem e são chamados de teimosos. mas, vem cá, para quem não consegue viver sem, continuar, o que é? nada, simplesmente passos a mais. raulzito dizia tente outra vez.

Estatísticas - Setembro

agora

agora que atuei numa peça convidado pelo marião e aceito pelo pessoal da la plongée e que convivo frequentemente com todo o pessoal do cemitério de automóveis e outros muitos amigos do teatro, eu poderia me sentir mais capacitado para escrever sobre teatro. mas não é nada disso, ao contrário. sinto-me cada vez mais confuso sobre o que vejo e sobre aonde quero chegar com isso. isso não significa necessariamente que me sinta constrangido por agora todo mundo ser amigo ou quase isso. simplesmente meus critérios são mais complexos, agora. vejo de vários lados e por isso vejo mais e mais claro, e minha arrogância de outrora, essa que me fazia tentar alturas a que jamais sozinho poderia sequer pretender, agora está por debaixo de tudo, onde deve ficar. vamos ver se escrevo algo legal, agora.

o mundo invertido

invade-me a trilha final de nossa peça. caio numa melancolia profunda. mas, contrária a ela, uma forte tendência a sair de mim. a gabi (não a da peça) desvelou-me poesias de outrora. hoje ela passa no teatro. irá ver a peça. preciso agradecer-lhe. há tempo que não me emocionava com uma poesia, de grande de outrora.  ontem, outra amiga - que conheci pessoalmente na ocasião - mostrou-me quão extensa e intensa pode ser a subjetividade própria e alheia. a timidez é passo segundo. como explicar que em mim o mundo parece caminhar invertido? a tarde avança enquanto reparo em mais e mais caminhos no personagem que eterniza a vida na arte.  dias e noites, de  Lucas Mayor , direção de  Mário Bortolotto , na frei caneca, 384, 21h, 20 pilas.

antes, na coxia

antes de entrar no palco, bate um medo. o medo de esquecer. mais ainda, o medo de, esquecendo, parar no meio. do jeito que eu venho aprendendo, eu, que também escrevo e dirijo minhas bagaças, só posso mesmo agradecer. e é o que, calado, acabo fazendo pouco antes.  mas isso não evita que poucos segundos antes do palco, quando a luz começa a se fazer, quando o momento torna-se meu, o peito bata (um  pouco) mais alto. um jeito de tentar superar algo disso é concentrar-se antes. a coxia é um lugar sensível. diria que uma hora antes do palco não é legal que as energias contaminem com nada negativo. por isso, a introspecção é algo salutar nesses casos. tentar a voz, os movimentos, passar o texto, tudo com calma e singeleza. nada que é brusco pode dar nada bom nesses momentos. nada de gritos, principalmente. a coxia é um local sempre acanhado pelo tanto de energia investida nisso que irá acontecer. hoje, quinta semana, dias e noites, de  Lucas Mayor , direção mahavilha do  Mário Bortolotto

plebiscito e plateia meio fria

acho que foi em 87. minto, foi mesmo em 88. rolou uma viagem por caravana para o chile. eu era chileno à época.  tava sem grana para bancá-la sozinho, e eu tinha uma dúvida cruel. embarquei nela. não sabíamos, ninguém sabia, mas a caravana era bancada pelo partido comunista chileno. ou seja, não ia passar. era ditadura. desci em mendoza. eu iria ser preso se não fosse diferente. os outros, apenas expulsos. como aconteceu. mas eu passei antes, de ônibus. e assisti ao primeiro de maio. era ano de plebiscito. meus documentos não estavam em ordem, então não votei. hoje, sei lá por quê, acabei me lembrando. quiçá pelos 40 anos da implantação da ditadura. não sei. sei apenas que ontem ao ver amigas na plateia gostei muito. depois conversamos à saída. apresentei-lhes o pessoal da companhia. se o pessoal soubesse o quão tímido eu sou. algo inabordável. a plateia tava meio fria, acho. mas tudo rolou como de costume. começo a vislumbrar algo fora do costume. enquanto isso, a gente toca a vida e

ainda palavras

ainda sobre palavras. é curioso admitir. quando estou no palco representando as palavras simplesmente saem. claro, elas foram decoradas, daí elas saírem. mas há também um fenômeno esquisito. eu posso lhes dar significado por ênfases, trejeitos e volume de voz, mas elas a maior parte do tempo parecem independentes de mim. sinto-me como que entre elas, o significado na peça escrita e o significado na peça encenada. sou realmente um instrumento. mas curioso, um instrumento que é sujeito. digo agora que, em meio ao final da quarta semana de encenações, COMEÇO a descobrir o texto, o personagem e a direção. pois o texto do lucas é claro, sim, límpido, mas as direções a que ele leva não são óbvias. quem pode imaginar que a zelda fitzgerald esteja presente lá? e está! do seu jeito, mas está! muitas outras referências - o lucas é lido para caralho - eu nem pesco direito. e olha que tenho biografia - não lida - da yourcenar.  pode parecer que o problema esteja no conteúdo. não, a questão mesmo é

risadas

ontem, todo mundo da trupe comentou que talvez tenha sido a melhor noite de todas. o pessoal ria adoidado e não paravam de comentar com as risadas as tiradas mais interessantes e hilariantes do texto do  Lucas Mayor . no caso da helena, gabi e eu, digo, da cena, a risadaria tomou conta da cena. é nisso que gostaria de comentar um ponto. quando, após a estreia, ficou patente que eu havia conseguido fazer o personagem, passei a entrar num dilema. que é. quando a tirada sai e o pessoal ri, dá um tempo até que o pessoal consiga terminar de rir, curtir a risada. nesse tempo, há a tentação a deixar tudo parar um pouco para deixar tudo rolar. mas por outro lado se a gente parar a toda hora a cena acaba ficando truncada. acontece então que o texto vai rolando, as interpretações dão vida à coisa toda, e as risadas permanecem vivas e esparsas pelo palco. bom, isso respeitando todos os tempos e lugares. foi então que perguntei ao Marião  Mário Bortolotto , meu diretor, o que ele achava: espero ou

passagens

ontem, à saída da peça, alguns amigos de amigos comentaram: - a falta de experiência (minha) era real?  - ela (a toty) realmente se machucou? - a marca de beijo em minha face queria dizer algo mais? sim, sim e não. há uma barreira invisível separando o mundo da arte do mundo real. poucos, que não os artistas, buscam entender o primeiro sem abandonar o último. ainda contemplo, em mim, a sensação de abrir a porta do teatro. achava que era fácil passar de um universo para o outro. não é. muito a respeito do que refletir. dias e noites, de  Lucas Mayor , direção de  Mário Bortolotto . hj, frei caneca, 384, 21 horas. 20 pilas. tá indo bem.

65%

ontem, após dias e noites, de  Lucas Mayor , direção do  Mário Bortolotto , com a cia la plongée e convidados (helena, eldo e eu), o marião me chamou para dar um toque. não digo qual foi, se não tira a graça - e eu quero que vocês vão, ora. mas digo que esse toque tem a ver com esse negócio de a comunicação ser 65% não-verbal e resto verbal. o problema para mim é que eu quase o tempo todo tento investir na verbal, e claro como sempre eu me fodo. meu corpo vai numa direção, minha fala noutra. completamente desconjuntado. e digo, bastou ver para notar que a dica do marião faz toda a diferença. com um porém, quando ele a encena ele a faz como ele, enquanto no meu caso a farei como eu mesmo. e isso para acrescentar mais ao personagem. realmente é foda. o motivo para que ele tivesse me escolhido e convidado para a peça teve a ver com o fato de ele notar que o personagem tinha tudo a ver comigo. engraçado. mas o fato de conseguir retirar da oportunidade  algo legal teve a ver com o fa

palavra?

ontem, lendo adler, me pego com frases dela comentando o peso da palavra na atuação. ela diz que é preciso superá-la, ir além dela. eu, que sou tão umbilicalmente ligado à palavra, não só eu, muitos amigos o são, levei tempo até sacar. hoje, creio sabê-lo. mas foi necessário torná-la ato, no palco, para que isso acontecesse. não digo que antes não houvesse entrado no palco, entrei, mas eu via os personagens de fora. bom, mais um passo. hoje, dias e noites, de  Lucas Mayor , direção potente, para dizer o mínimo, do Marião,  Mário Bortolotto , com a cia la plongée, mais a helena cerello, o eldo e eu. frei caneca, 384, 21 h, terças e quartas, 20 piras.

uma interna

ontem, enquanto esperava, li umas 30 páginas de um livrinho da stella adler sobre interpretação e, após chegar em casa, ensaiei mais uma vez comigo mesmo. interessante foi perceber o quão básicos são os conselhos da adler - o que não significa, é claro, que eu os domine, bem longe disso. mas, abstratamente falando, não são realmente nada demais. o próprio loureiro já havia ido nesse caminho. essa sensação de déja vu fez com que eu me sentisse mais à vontade - finalmente tenho com O QUE comparar a partir do que leio. mais interessante, porém, foi ensaiar em casa, pouco antes de dormir. vieram-me características do personagem que até então, não diria que tenham passado batido, mas não se impunham com uma verdade tão óbvia. isso fez com que eu visse melhor ESSE em que me TRANSFORMO no palco. não sei se foi mesmo necessário ler o livro da adler, sei apenas que minhas percepções foram a partir de então encaminhando-se numa outra direção, diria mais INTERNA. hoje, começa a QUARTA SEMANA de d

flaneando, acompanhado

fazia bastante tempo que não encarava uma nova peça. com medo de me deixar influenciar, quem sabe. não sei, no fundo. conviver no saguão com o público faz com que a gente permaneça no nível da plateia sem que o apercebamos facilmente. o outro estará lá, no palco. não seremos nós. será o outro. antes, entabulo conversa com linda atriz vinda de campinas. falo o de sempre, não fico nervoso, e fica a imagem do rosto e do diálogo por meio do olhar. encontro amiga atriz antes de entrar na peça e saio em completa dúvida. não sei se encontrei minha área de conforto, mas realmente navegar em outras percepções e visões do teatro chega a quase me cansar. prefiro ficar com os amigos e falar alguma bobagem. ver peça de amigos, assistir diálogos quase decorados, entrar na vibe que me agrada. a noite vale, assim fazendo.