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ainda palavras

ainda sobre palavras.
é curioso admitir. quando estou no palco representando as palavras simplesmente saem. claro, elas foram decoradas, daí elas saírem. mas há também um fenômeno esquisito. eu posso lhes dar significado por ênfases, trejeitos e volume de voz, mas elas a maior parte do tempo parecem independentes de mim. sinto-me como que entre elas, o significado na peça escrita e o significado na peça encenada. sou realmente um instrumento. mas curioso, um instrumento que é sujeito.
digo agora que, em meio ao final da quarta semana de encenações, COMEÇO a descobrir o texto, o personagem e a direção. pois o texto do lucas é claro, sim, límpido, mas as direções a que ele leva não são óbvias. quem pode imaginar que a zelda fitzgerald esteja presente lá? e está! do seu jeito, mas está! muitas outras referências - o lucas é lido para caralho - eu nem pesco direito. e olha que tenho biografia - não lida - da yourcenar. 
pode parecer que o problema esteja no conteúdo. não, a questão mesmo é corporificar uma mensagem que está lá mas que vira outra coisa. e de certa forma EU sou a coisa. é interessante ver o olhar do público após a peça. os caras, as garotas, procuram a gente no olhar. tipo, ele é ele mesmo? é engraçado.
bom, hoje tem mais. tenho várias amigas confirmadas. espero que ninguém fique de fora.
dias e noites, de Lucas Mayor, direção do super Mário Bortolotto, cia la plongée e galera a mais (Cerello, eldo e eu). frei caneca, 384, 21h, 20 pilas. até mais. agora só eu e o busão.

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