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Mostrando postagens de abril, 2013

Cena Lê/Pá/Rô

Paloma/ Rodrigo/ Letícia Paloma chega. Lê - Onde ela está? Paloma - Com a tia. Lê - Eu quero ela aqui. Paloma - Quer parar? Lê - Não, não páro. Quero ver minha fi... minha neta agora. Paloma - Por que você não nos deixa em paz? Lê - Olha só. Acaso não é você que se pendura na gente? Não é, Wilson? Rodrigo olha de relance, mas continua lendo o jornal. Lê - E pensar na fortuna que gastei com psicólogo para te ajudar. Paloma - Você é ridícula. Lê - E você, uma pu... Paloma - Fala, fala logo! Fala, se tem coragem! Lê - Uma puta, sim! Teve a garotinha com 16 anos, nem soube cuidar, sobrou para mim. Não que eu esteja reclamando, claro. E agora? Não consegue sequer achar um sujeito decente para ficar com você. Paloma - Isso é problema meu. Lê - Seu, uma ova. A garota merece muito mais que isso. Paloma - Ela é minha filha. Minha (bate no peito). (tempo) Lê - Wilson, quem é mãe de alguém? Quem pare ou quem cuida? Hein, hein? Wilson - Chega, tô cansado.

Indo em busca de cenas delicadas ou Um grito mudo

A cena que a Rê e eu fizemos ontem foi delicada. O que me agradou mais foi que os dois chegamos a ela juntos. Há um momento em que nos damos as mãos. Adoraria se isso conseguisse passar uma sensualidade explícita. Há motivos pessoais para isso. Tenho muitas dificuldades de relacionamento, com homens e mulheres (embora mais com estas). Ou sou extremamente sutil e não me notam, ou preciso quase gritar para me impor. Acabo às vezes passando a impressão de grosso ou ausente. Quero com as cenas delicadas passar para a cena a impressão dos fatos em mim. Ontem, quando a Rê ia embora, eu COMO QUE senti o fim - de um amor que sequer começou. Foi ótimo, excelente. Tento seguir à risca as indicações do Loureiro, que me fazem adentrar ainda mais no personagem, em mim e naquilo que passamos com a cena. Essa intenção existia também numa cena com a Vivi, mas ela preferiu não continuá-la. Fiquei um pouco decepcionado. Eu sentia que por meio dela ela conseguia expressar algo suave demais, quase

Visitações em Abril (até 30, horário do almoço)

Três cenas

Apresentamos três cenas na oficina de ontem. Numa delas, a Rê e eu somos um (quase) casal (ele quer, ela não). Em outra, a Lê é mãe, a Pa é filha e eu sou marido (ausente) da Lê. Na terceira, as garotas são prostitutas e eu, uma bichona cafetona aidética e sádica. O feeling da Rê e eu foi acertado (primeira cena). A sutileza da cena ficou expressa em pequenos detalhes que cresceram ocupando todo o lugar. O Loureiro guiou a Rê pela mão e ela assumiu matizes insuspeitados. Eu, por meu lado, fui fazendo o personagem crescer aos poucos, até um desfecho quiçá previsível mas mesmo assim muito expressivo. Adorei nosso trabalho e como a cena foi conduzida pelo Loureiro. Amei mesmo. Vi como acrescentar camadas ao personagem e dominar minhas limitações enquanto ator. A segunda cena foi mais complexa, especialmente para a Pa e para a Lê. Eu praticamente permaneço imóvel, mas mesmo assim minha presença acaba ressaltada pelas dicas do Loureiro. Há algo de muito engraçado na ausência dele quando

Não cobiçarás a mulher do próximo (dir. Kieslowski)

A Lê e as garotas viram este filme uma madrugada, e dele retiraram algumas cenas que quiseram me propor, agora que eu vislumbrava voltar ao grupo. Tudo bem. Ela me emprestou o dvd. Assisti a ele após pegá-lo com ela, lá na Roosevelt. Bem de madrugada. Conta a história de um homem que se vê impotente mas que continua amando para valer sua esposa, que sente o mesmo, mas que apesar disso o trai com um garoto cheio de energia. O filme trata como o cirurgião (é sua profissão) lida com a situação (bem mal, aliás). O final termina relativamente bem. A montagem das cenas por Kieslowski é magistral. Tudo é dito com muito poucas palavras. Tudo é dito. O filme, relativamente breve, tem entremeada outra história, a de uma garota feita para o canto lírico que pede ao cirurgião que lhe faça uma cirurgia. Ela reluta em seguir o desejo da mãe, que lhe prevê muito sucesso no canto. Ao final, ela diz que quer, sim, seguir a carreira, que quer ver plateias imensas à sua frente. O cirurgião reluta. Es

Cair na real ou Rumo a um novo mundo

Comecei duas vezes a escrever um pequeno texto com o mote de "cair na real" e não consegui chegar a nenhum lugar. Talvez seja porque quero revelar algo sem revelar tudo. Pois tenho uma certa vergonha. Cair na real. Ninguém cai na real impunemente. É preciso que algo, alguma coisa o faça cair. E caindo "na real" não há mais o que justificar. O real é o que é, e ponto. Quando a gente anda apenas com nossas pernas, às vezes dá uma fraqueza e a gente quase desiste. Mas não se pode desistir nesses casos. Só nos resta nossas pernas. O negócio é achar forças em algum lugar e mandar ver. O raciocínio instrumental é o que mais ajuda nessas horas. Sei bem que ele não é muito bem quisto entre defensores de um pensamento complexo, mais humano, mas o fato é que é no cálculo que as coisas começam a se resolver e no final se resolvem (ou não). Antes, eu usava mais esse tipo de raciocínio. Acomodei-me e me deixei levar por cantos do bode. Agora preciso voltar à vaca fria. Tu

Escrever cenas ou Uma bela forma de viver

Anteontem a Lê me arrumou um esboço de cena minha com ela e com a Paloma. Ontem peguei a cena e transcrevi para o micro. Não sei bem por quê, decidi reescrevê-la. O esforço correu como nunca antes. De repente, me vi com o texto em mãos. Um final estranho. Eu sempre gosto de finais estranhos. Sem explicações. Imprimi e passei a elas. Assisti o Decálogo - Não cobiçarás a mulher do próximo, do Kieslowski. É muito interessante. Foi muito interessante. Hoje farei cena com a Renatinha e com a Lê. Teremos de escrever. Não trouxe o micro. Terá de ser na mão. A facilidade de escrever sozinho vai se defrontar com o desafio de escrever acompanhado. A quatro mãos. Minha sensibilidade recém-recuperada me faz temer o envolvimento no texto. Pode parecer viadagem. É minha sensibilidade.

Tratado da Mulher Contemporânea (dir. Alexandre Ogata, no Viga)

Chego muito cedo ao teatro Viga e espero impaciente por algo que me faça sair desse ambiente repleto de gente falando. A peça é um monólogo. O flyer já diz a que ele veio: é uma mulher que decide se prostituir. Ela dirige-se a alguém e fala como se fosse íntima dessa pessoa. Explica, primeiro, como se deu o rompimento da corrente que a mantinha presa a uma vida que não era sua - ou que ao menos assim parece. A atriz (Samantha Maneschi) é carismática, e vemos as decisões sendo tomadas com a simplicidade que a personagem faz crer que domina os seus dias. Ela se encontra. Diz o preço justo, mas que não é o seu preço. Ela parece estar sempre de fora. Os homens aparecem em trechos gravados de programas. Ela os ouve com certa aflição, que contamina a plateia. É estranho ouvir os outros lados da moeda. Afastamo-nos, por meio deles, do universo íntimo da personagem, e tudo acaba adquirindo um matiz mais cinzento. O transcorrer do tempo mostra o constrangimento em uma situação que, ela diz

Novas cenas ou Cada um escolhe o seu caminho

Após assistir mais uma peça no Viga, no Sumaré, lá fui eu ver mais três curtas no evento que ocorre toda quarta às 23h nos Parlapatões. Economizei para dar 5 reais ao pessoal. É preciso ajudar a manter a bagaça. Lá chegando, sou encontrado pela Renatinha, com a qual converso a respeito de minha reentrada e de uma nova cena com ela. Terminamos a conversa depois dos curtas, que ela viu ao meu lado. Havia pouca gente, mas faço o que posso. O grupo se dividiu, parte dele rumando, ao menos em parte, a um projeto de um cara com quem troquei altercações aqui no Face, bem no começo. Acompanhei um certo ar de "traição" por parte de alguns deles, mas o fato é que traição não existe, quem "trai" abraça mais forte suas próprias paixões e escolhas. A Rebeca aparece depois, e sinto nela um certo ar de cansaço e, diria, quase de constrangimento. Chega o Sugar e falamos um pouco sobre a peça dele, lá no Cemitério de Automóveis. Ele "reclama" do grau de exigências de q

De volta ao estilo beckettiano

Chamo de estilo beckettiano um jeito de escrever peças que se afasta de tudo o que possa dizer respeito a realismo ou naturalismo ou coisa que o valha. Minhas primeiras peças, que ainda pretendo editar, seguem essa linha. Não fazia assim para imitar ou emular nada. Simplesmente era assim que tudo saía. Mas aí fui fazer oficinas diversas e me sujeitei a uma série de influências que, dentre outras coisas, me levaram a entender e curtir o teatro de uma forma mais lúdica. Não vou citar aqui que influências foram essas, só digo que fiz amigos em todas elas. Algo de que eu precisava. Tentei então fazer uma peça longa induzido por necessidade primeva. Fiz de tudo, escolhi trilha e tudo o mais, mas a peça em si não chegou sequer ao papel. Está incompleta. Noite dessas, esperando para assistir uma peça, apresentei a ideia de uma das primeiras, aquelas tipo beckettiano, a um colega. Ele questionou se era só isso, estranhei e lhe disse, cara, é muito! Na hora, experimentei o prazer de ter ME

De volta para o futuro

Conversei longamente com a Lê. Disse a ela o que sentia, mas a maior parte do tempo falamos sobre um negócio que tá acontecendo lá com a turma. Indiquei uma pessoa com a qual ela deveria falar, e ficamos conversados. Topei voltar mas com a condição de que tudo agora seria diferente. Mais intenso. Não quero mais sentir o tempo simplesmente passar. Fui para casa em seguida e cantei, como muitas vezes tenho feito. Raphael, Motörhead, nada ainda de Inti Illimani (agora há pouco cantei, sim, e mais um Ray Charles e um Erasure). Eu canto bem. Mas não me motivo a ir a encontros, saraus, sei lá, talvez porque sinta que não tenho espaço. Tá tudo ocupado. Não quero ficar lutando com os cotovelos por uma oportunidade para me expressar. Não tenho mais idade para isso. Sei lá, não acho que valorize o suficiente a palavra para passar o tempo vendo os caras se expressarem, cada um do seu jeito. Talvez eu nem queira ser escritor, e tudo seja apenas uma fuga, mais uma das muitas que coleciono. Mas

A pedido do Euler - CIORAN, PALESTRA SOBRE NADA

Ele até me cita. Gracioso... ÀS QUINTAS!!!!! Oi Contrera! Tudo bem? Será que você poderia nos dar uma força pra divulgar nossa peça no seu Blog? Segue abaixo o release com algumas informações e criticas da peça que você poderá utilizar como quiser... Muito Obrigado O teatro da Aliança Francesa trás E. M. Cioran para os palcos em SP com a peça "Palestra Sobre Nada." Considerado pela crítica especializada um dos melhores conteúdos das artes cênicas na atualidade, a peça: E. M. Cioran - “Palestra Sobre Nada”, é uma adaptação dramatúrgica concebida pelo ator-diretor Euler Santi, sobre as obras do pensador franco-romeno Emile Michel Cioran, um dos maiores pensadores do séc. XX. Cioran nasceu na Transilvânia em 1911, região da Romênia, mudou-se para Paris em 1937, onde escreveu a maioria das suas obras e morou até a sua morte em 1995. É considerado um dos maiores prosadores da língua francesa, conhecido pelo extremo pessimismo e ironia corrosiva. O espetáculo estreou

Ler teatro

A primeira pessoa que me indicou a diferença que pode causar uma leitura de peça de teatro em cena, em relação ao texto em si, foi o Roberto Alvim, e por isso eu agradeço. Realmente é diferente, sumamente diferente, encarar o texto enquanto na página e sendo dito. Neste último caso, abre-se todo um leque de possibilidades que mostram que o texto foi feito realmente para teatro. Em que consiste essa diferença, muito especificamente, eu não sei. Nem quero saber. Sei apenas que me é sumamente difícil captá-la, acostumado que estou a ler, simplesmente. Quem sabe a primeira vez em que vi, na prática, o quanto a encenação pode ser diferente do texto puro e simples tenha sido a oficina do Loureiro. Com o exemplo por definição, Ser ou não ser. Lembro-me como se fosse hoje da sensação de ler algo intransponível, algo rebuscado demais para poder ser levado aos palcos. Qual nada. Aos poucos, eis que o texto se impôs e passei a ver TANTO no lugar que fiquei chapado. Hoje, embora esteja fora

Uma certa ausência ou Como faz falta ver o teatro por dentro

Todos vocês sabem que saí da oficina do Loureiro, que, claro, ocorreu normalmente. Precisei ir ao terapeuta e me meti a resolver diversos pontos relativos aos blogs que tenho sobre tradução. Mas admito que senti falta de ver o teatro por dentro. De ver como as coisas são e podem ser resolvidas mais a contento. O próprio Loureiro me mandou mensagem pelo face, mas muito atrasada. Tentarei falar com ele pessoalmente dia desses. Não vai faltar oportunidade. Sei apenas que não me arrependo. Minha vida está atabalhoada demais para perder energia em atividades que não rendem tanto quanto eu gostaria. Pensar (ou melhor, ver) o teatro por dentro permite-nos entender como as coisas são e poderiam ser. Vemos melhor os buracos que os outros sentem mas que não conseguem aquilatar. Entendemos melhor por que as atenções viram de foco repentinamente, e entendemos algumas artimanhas que podemos fazer para evitar situações desconfortáveis. Eu adoraria, claro, poder me meter diuturnamente em atividad

Oficina prática - Catedral da Sé 1

Combinamos a Thaís e eu nos encontrarmos na Sé. Já havíamos chegado a consenso quanto a nossa proposta, os meios e as formas de ensaio. Começamos entrando em meditação por meio de pequena caminhada, meditação em si e conversa. Continuamos entrando na Sé e observando. Foi meia hora nessa lide. Depois começamos os exercícios práticos. Com base naquilo que o Diogo havia nos passado - e em outra influência, no caso da Thaís -, visualizamos o espaço cênico, nas escadarias, e coreografias neles mesmos. Depois, entramos e saímos, tal qual a dança artesanal proposta pelo Diogo. Em seguida, entramos e saímos e fizemos um movimento isolado. Depois, uma combinação de dois ou mais. Depois, quando íamos encenar juntos... chegou uma manifestação de estudantes que ocupou a escadaria. Um rapaz postado nas escadarias ficou encafifado. Não descansou até nos perguntar o que era tudo isso. Respondemos. Ele até indicou um número de um cara com ratos falsos, ali pelas redondezas. Conversamos a Thaís

Os vivos e os mortos (texto Kiko Marques e Maucir Campanholi, com Tagore; direção: Francisco Gomes)

Tenho diversos livros de Tagore em casa. Nunca os li. Até tentei mais a sério durante a oficina com o Loureiro mas parei por aí. Tagore é um importante poeta indiano. "Os vivos e os mortos" trata da morte de uma forma lírica, contando a história de uma mulher (de cujo nome não me lembro) que morre, vai ser cremada mas acaba ressuscitando. Ela estava do outro lado do rio, mas agora não sabe em que lugar está. Conhece um dos carregadores do corpo, que acaba se afeiçoando a ela e que sai com ela em busca de um certo lugar. Encontram antiga amiga dela, de infância, hospedam-se lá e, bom, o resto é a história. Tudo começa e é embalado o tempo todo por música indiana, que é interpretada ao vivo. Tudo faz com que entremos suavemente no universo de uma cultura a mim praticamente desconhecida e que acompanhemos, sob esse ponto de vista, as estripulias do carregador e o destino da ex-morta. O correr das cenas é demarcado pelo encontrar de tapumes carregados por contrarregras que ta

Fã-Clube (texto: Keli Freitas, direção artística: Renato Livera, Cia. Físico de Teatro (RJ))

Tinha acabado de me despedir intimamente da oficina do Loureiro quando vi, no cartaz em frente ao Sesc Consolação, uma foto de jovens em situação de sanduíche, ela sofrendo, que me remete a peças juvenis. Vou ao caixa e sem querer encontro um convidado da autora, carioca (a autora), que desmente que a peça seja juvenil. Não tendo quaisquer referências mais, acabo aceitando ver a peça, que passará no espaço Beta, lá no terceiro andar. Lá estando, encontro um sujeito que vejo sempre em apresentações as mais diversas, às vezes de teatro, às vezes não. Conversamos um pouco, conto o que se passa comigo, e ele vai assistir Ná Ozetti com aquele musicista tão conhecido de cujo nome não me lembro. A peça trabalha com luz e escuridão, mais escuridão que luz. Os personagens são dois sujeitos vestidos como que num faroeste caboclo e uma garota que, muito depois, reparo que está com os braços atados. Mas essa situação - e tudo o decorrente - vem bem depois. Há um quê de absurdo no texto de Keli

Irmãs Jamais (dir. Marco Bellochio)

Havia acabado de deixar a Thaís no metrô e me despedido do Zé e da Luísa, que encontrei no Itaú da Augusta (eles iam ver "Therèse D.", a que não me motivei), quando li, naquele mural do cinema, um pequeno texto que saiu na Folha sobre o filme de 2010 do Bellochio. Tomou-me uma certa curiosidade de ver algo feito com intuito mais experimental por um cara de renome cuja obra conheço superpouco (quase nada, a falar a verdade). O sujeito da Folha terá exagerado em alguns qualificativos? Não sei. Somos colocados diante de uma história que passa pelos anos. Vemos um jovem substituindo a presença da irmã face a filha desta última. Ficamos sabendo depois que ele está comprometido com uma menina. Esta dedica-se a lapidar jóias, o que é o mote para ele conseguir um empréstimo da família. Tudo, o casamento deles e o empréstimo, degringola e o sujeito vê-se diante dele mesmo. A história passa-se com os anos, indicados bem no começo das cenas. O que atrai é que a história somos nós, esp

Ensaios ou A sensação de estar dentro de si mesmo

Os ensaios com o Loureiro vão de vento em popa. Há diversos exercícios a desenvolver. Um deles é a leitura de Hamlet e outro texto do bardo. Não digo exatamente o que está sendo pedido: atenho-me àquilo que venho sentindo. A primeira vez que LI o texto fiquei decepcionado. Achava que ele fosse mais direto - levando a ação. Mas aos poucos senti o drama. OOOOOO drama. É maravilhoso. Tudo está ali. A dor de viver ou morrer. Simples. Ser ou não ser. Mas é necessário dizê-lo. COMO sentir o drama? Como contextualizá-lo? COMO expressá-lo na sua premência, urgência e importância? Entendi por que o bardo é o que é - ou foi o que foi. Lembro-me da primeira vez que li Fugindo, aquele meu texto, com a mesma ênfase. Senti o mundo escapando dos meus pés. Não sabendo mais o que eu queria dizer. A Lê decifrou-o fácil, fácil, mas AQUI DENTRO eu NÃO SABIA o que sentir. Em mim, a palavra SAI e se me escapa. Não permanece de forma que eu dela possa me apossar. É como se fosse um grito. A dor

Programação do Cine Parlapas

Parlapatões, praça Roosevelt, quartas, grátis ou R$ 5. Ø  24/04 – “Aluga-se” – direção: Marcela Lordy, “O sacrifício do Jegue” – direção: Zé Bob, “Exercício de Fotografia” – direção: Paula Um Mi Kim. Ø  01/05 – "Janela Aberta"  - Philippe Barcinski, “Cidade Improvisada” – direção: Alice Riff, “Musa Divinorum” – direção: Carlos Eduardo Nogueira. Ø  08/05 – “Eu Não Quero Voltar Sozinho” – direção: Daniel Ribeiro, “Além do Ateu e do Ateísmo” – direção: Carine Immig e Fábio Goulart, “Doido Lelé” – direção: Ceci Alves.

Sobre juízos

Noite dessas, após assistir uma peça, encontrei com atores que já a haviam assistido. Ela me perguntou o que eu havia achado. Eu disse que havia gostado, mas que não havia me surpreendido. Mas, convicto do meu papel de aprendiz, disse preferir ficar quieto. Não iria externar algo sobre o que não tinha nada a falar. Mas ela desancou. Disse cobras e lagartos. Meteu o pau na direção de atores, no caráter chapado dos personagens, das falas, sei lá, em muita coisa. Foi tão rápido e forte que nem consegui entender direito. O ator que estava junto foi junto nessa. Tocou outro aspecto, aqui e acolá, e lamentou que não poderia dizer aos amigos que atuavam o que havia achado. Que teria de arrumar uma forma de aprontar o terreno para falar o que havia auferido do espetáculo. Me senti um cara em pré-primário. Eu não tinha o que retrucar. Havia sentido, sim, alguma coisa para lá e para cá, mas o que eu dizia não tinha muita base, quem sabe nenhuma. Era achismo. Era juízo de quem foi sentir algo

As estrelas cadentes do meu céu são feitas de bombas do inimigo (dir. Nelson Baskerville)

A montagem da Cia. Provisório Definitivo, com direção do Nélson, prometia algo de chocante. Relatos de guerra de crianças e jovens de todas as partes do mundo não prometem nada muito leve. Eu mesmo tenho os dois livros em que a peça se baseia, Diários de Guerra - Vozes Roubadas, de Zlata Filipovic e Melanie Challenger, e o Diário de Anne Frank. Mas apenas comecei o primeiro, e o segundo descansa intacto (não sei porquê). Eu mesmo tenho em mim um pouco de uma criança desse tipo, pois vi o golpe do Chile, em 1973 (tinha seis anos), e as pegadas em minha alma eu as avalio até hoje. Por isso fui com certa aflição, preparado para uma peça forte sem ter muito pára-quedas em que pudesse me fiar. A encenação trabalha com o excesso de escuridão e luzes focadas, pontuais. Mas esse é só um dos recursos utilizados. Os relatos são sempre em primeira pessoa. As atrizes e os atores se revezam, caso a caso, e muitos relatos são esmiuçados naquilo que - aparentemente - conseguem passar de dramático.

Funeral à Cigana (curta, dir. Fernando Honesko)

O curta de Honesko, presente durante a exibição, propõe contar uma história com começo, meio e fim. Face tudo o que já vi aqui nos Parlapa, isso chega a ser quase revolucionário. Não careta. Em takes bem delineados, em que muito é dito com poucos gestos e menos ainda palavras, somos conduzidos a um dilema: a família cigana viajar para enterrar um de seus membros, homem, na terra onde nasceu - conforme seu desejo. Eles precisam colocar o caixão numa caminhonete velha, misturado a pessoas, artigos cotidianos, quem sabe até animais. São parados por um guarda rodoviário. Após certa altercação com o líder, que mal consegue falar de forma compreensível, o guardo decide reter a carga. Tudo bem. A trupe acampa ali mesmo. O guarda passa a sofrer com a situação até o desfecho de certa forma previsível. Simpática, a fita. Mas, não sei por quê, sinto que falta algo da premência do tema. Parece uma história contada de pai para filho pequeno, com todo o risco que isso implica - a folclorização d

Sonhos de Lulu (curta, dir. Marcela Lordy)

Conheci a Marcela Lordy numa oficina que ela ministrou com o pessoal do Cemitério de Automóveis. Ela me apresentou ao cinema como ele é de fato, uma indústria extremamente organizada e estratificada. Ela, no caso, foi assistente de direção (1, 2 e 3, acho), e é diretora de curtas. Tem uma série de outras atribuições, mas páro por aqui. Aproveito porém para dizer que é uma pessoa extremamente simpática e acessível. Fico sabendo da exibição de seu primeiro curta pelo face. Chego supercedo e a encontro por lá. Conversamos, ela agitada de dar agonia. A exibição começa 30 min mais tarde. O curta dela é o do meio. Tudo parte da ligação da personagem Valentina, de Guido Crepax, com a atriz Louise Brooks. A Marcela pesquisou para caralho e achou cartas que colocou como diálogos espaçados mostrando como Louise foi se tornando Valentina e esta, arte do mais alto nível (em sua especificidade, claro). A narrativa é dada pelas cartas, transcritas, e pelo aparecimento de imagens da lindíssima Si

Viva SÓ o teatro?

quando me meto a refletir na importância do teatro na sociedade, tendo a dar de ombros a mim mesmo. estudo o teatro. tendo compreendê-lo. captar suas especificidades. suas manhas. atuar. é difícil. é sumamente difícil CAPTAR o que está por trás do ser ou não ser. torná-lo cena. corporificar uma intenção potente. entender o teatro é outra lide, tão ou mais árdua. e tanto há para ler. mas, assim como fassbinder, não consigo me imaginar preso apenas a ele. pois assim como curto as especificidades do teatro nada me faz crer que o cinema e a tv não tenham as suas próprias e que assim sendo possam ser tão ou mais interessantes para mim. diria que por enquanto o teatro é o lugar em que mais me acontece. dizem que levo jeito para um certo tipo de palhaço. que meus movimentos têm um timing cômico. que minha seriedade contrapõe-se a situações hilárias. não sei. busco o teatro em parte para melhor me aceitar. busco também para fazer amizades. busco também para não ficar sozinho quando a

Booker Pittman (curta, dir. Rodrigo Grota)

Tudo (ou quase tudo) neste curta é ambiente. Cenas esparsas de ambientes dominados pelo jazz. Declarações (traduzidas) de jazzistas conhecidos sobre Booker. O Edson Montenegro estrelando o próprio. Um garoto fazendo as vezes do próprio. A Cléo de Páris claramente como amante. A escolha dos anos parece arbitrária. Vamos para cá e para lá sem aviso. Ficamos perdidos? Não. Entramos no clima, nos vários climas desse assunto que é simplesmente um homem. O tal Booker Pittman. Que existiu. E que aparece bem ao final tocando com a (aparente) esposa - linda, carismática, uma negra maravilhosa. Mostra-se: Booker faleceu em 1969. Mas está vivo. Bela homenagem. Fico emocionado.

Super Nada (dir. Rubens Rewald)

O Rubens Rewald foi colega meu na ECA. Ele fez cinema, eu jornalismo. Noite dessas, encontramo-nos lá nos Parlapa e ele não se cansava de lembrar de quando eu, na ECA, encenei o Trimalchão do Satyricon, dirigido por ele. Não me lembro muito bem disso, não. Só sei que fiquei meio ruborizado. Creio. Ele contou para todos os presentes da cena. Tudo bem. Ele carregava um flyer do filme dele. Ele estava com o Marat (Descartes). Eu queria ver o fruto do seu trabalho. Eu já havia visto há meses um filme do qual ele fez o roteiro - não me lembro do título, sei que era de uma cineasta conhecida e que foi lá no Memorial da América Latina. Gostei mezzo daquele filme. Este, Super Nada, tentei ver outro dia. Mas cheguei tarde demais. Eu até estranhei que o filme continuasse no Itaú Cultural. Mas conferi nos guias da semana e lá fui eu percorrer toda a Francisco Morato, Rebouças etc. Afinal, saio do Taboão. Cheguei bem cedo. Tinha até vários interessados no filme. A história é simples. Marat f

Vocês ainda não viram nada (dir. Alain Resnais)

A Europa tem um patrimônio cultural imenso, disso não há dúvidas. Pois bem. Este é o segundo filme que eu vejo daquele continente que utiliza um certo pretexto para divulgar, no cinema, uma obra já tradicional, no caso Eurídice, de Jean Anouilh. O primeiro foi César deve morrer, dos irmãos Taviani. O filme, dirigido pelo conhecido Alain Resnais, mostra atores e atrizes representando a si mesmos. O mote é a morte de um determinado diretor, que os chama para a leitura do seu testamento. Pois então. Aparece o morto na tela e lhes pede uma posição quanto à encenação da obra Eurídice por uma companhia iniciante. Tudo se passa a partir daí. A partir daí, o quê? A peça, claro. Encenada por várias Eurídices, vários Orfeus, vários outros personagens. Tudo de forma tal que esquecemos a que viemos. Somos, assim como no filme dos Taviani, conduzidos pela mão à trama tão bem colada por esses que ficaram para a tradição. Uma beleza. De vez em quando reparo que as artimanhas da arte gráfica deixa

nada sobre teatro

assisti na última semana 6 curtas. mais um filme - sobre teatro ("vocês ainda não viram nada"). não li tanto tantas peças. nem li muito sobre. aprendi para kralho com o loureiro. fiquei mais próximo do pessoal da oficina. peguei uma gripe forte e fiquei praticamente um dia de cama sem comer. não tenho babá nem nada, ou seja, alguém para cuidar de mim. a vida vem se mostrando mais alvissareira nos últimos dias. o que venho sentindo. ontem senti até ternura por uma colega. uma ternura mesclada a algo mais mundano, como quase sempre. mas foi sincero.

Algumas linhas sobre alegria

Ontem à noite, fiz mais uma sessão da oficina do Loureiro. Nela, algumas cenas foram apresentadas. Irei deter-me em uma delas para tocar num assunto estranho. Uma garota nova, a Rê e o Artur fizeram uma cena em que a Rê é mulher dele mas pede separação para ficar com a garota. Rola um excesso de energia, xingamentos, empurrões, puxadas de cabelo, etc. Foi engraçado. Todo mundo riu. Era legal ver tanta energia. Mas, pensando bem, foi legal? Ou seja, tecnicamente valeu? Lembro de um entrevero recente entre os Parlapatões e a Folha. O Gustavo Fioratti viu a peça deles sobre o universo do Angeli e desceu a lenha. O Hugo Possolo, dos Parlapa, retrucou em seu site e na própria Folha. Depois houve tréplica (para mim, desnecessária, mas deixa para lá). Num determinado momento de sua réplica, o Hugo diz que o Gustavo talvez não estivesse acostumado a comédias e ao retorno retirado delas (os apupos, aplausos, risadas, etc.). Pelo visto, o Gustavo levou no pessoal, daí a tréplica. Dir

Depois de Ontem (texto e direção Renata Bortoleto)

Fui assistir esta peça que iria rolar no espaço Piscina do teatro Viga esperando insights relativos a amor entre homem e mulher, digo, um casal. Estava meio nervoso por razões óbvias - enfrentar esta parada sem que a ferida tenha cicatrizado, ainda. Mas sou defrontado face uma outra forma de amor: entre mãe e filho. Thiago Spektror foi um colega meu numa oficina do Diogo Granato. Eu não sabia que ele iria estrelar a peça. A colega eu não conheço. Foi interessante vê-lo enfrentando um texto ágil e forte, com encenação restrita a jogos de luz e de sombra. O texto, como disse, é forte, mas algo fez com que eu me afastasse. Como reação, quem sabe a relação entre essa mãe e esse filho tenha me rendido uma certa aflição difícil de encarar. Percebia-se que ela havia desistido de uma certa vida por ele. Havia um misto de dor e culpa na própria existência dele. Ela deixava claro que não gostava desse seu rebento. Queria matá-lo. E ele como que queria morrer. Ou matar. A peça é curta, 40 min

Monalisa Underwear (texto e dir. Guilherme Junqueira)

Assisti à peça do Sugar (Guilherme Junqueira) atraído pela possibilidade de ver a Lara (Giordana), sempre presente nos shows do Marião, e o Haroldo (Ferrari), cara que acompanho desde a penúltima Satyrianas, atuando juntos numa peça de ambientação dark, que algo deveria ter em comum com o universo da turma do Teatro Cemitério. Eu não sabia que o texto já havia sido publicado pelo Sugar, em livro que pretendo adquirir. A história toda gira em torno da tal Monalisa, vivida pela Lara. A Monalisa é, para Lagache (Haroldo), FODA. Ele se apaixona por ela, que por sua vez deixa-se amar, mas sem perder seu estilo de vida. Um estilo de vida FODA. Tudo fica patente já no primeiro encontro dos dois no palco. A Lara convence. Sinto que a Monalisa é quase palpável. Uma garota perdida andando no fio tênue que existe entre a vida e a morte. Lagache se deixa levar. Até o momento em que ele quer que ela saia dessa vida e opte pela VIDA. Taí uma decisão que Monalisa reluta em tomar. Aparece Nefasto, u

Um monólogo (mentira) descontraído

O Euler Santi é um rapaz bem apessoado que está se virando para encenar uma peça sobre o meu amigo Cioran. Encontro ele numa festa. Ele me chama. Eu havia dito para ele ler uma pequena peça de um outro romeno (quem me acompanha sabe quem é). Ele comprou o livro - livrinho. Eu disse a ele, se formos encenar quer tal papel. Não faço questão de dirigir. SÓ QUERO TAL PAPEL. Ele topa. Conversamos sobre Cioran. Uma conversa imensa, louca, avassaladora. Na verdade, eles me deixam falar. Explodo de alegria ao falar de uma paixão. O Marião passa perto e estranha - normalmente eu sou tão calado... Eu disse ao Euler, para mim só existem duas posturas, calado ou terrivelmente falante. Não causa, isso, a menor impressão. Fico exausto. Eles vão embora e eu fico - para encontrar aquela amiga encostada no carro de que já falei. Estamos juntos.

Olhares

Na festa de ontem, enquanto conversava com conhecidos, reparo numa colega de ensaio  sozinha, lá longe, apoiada num carro, fumando. Vou até lá. Conversamos. Nunca havíamos conversado antes. Digo aqui: ela me amedronta, pois, além de linda, é poderosíssima no palco. Sinto-me  subjugado pelo seu prazer de viver e bom humor. Mas na hora esqueço. Falamos da oficina, dos textos, do teatro, digo a ela o meu texto fugindo, mas, o que é  aqui mais importante, começo a me soltar com a bebida - não queria ter bebido, mas me  rendi (mais uma vez). Fico tão nervoso que começo a tremer enquanto falo - como se  entrasse numa piscina gelada. Há um momento em que sinto uma relação. De amigos, claro. Mas sinto algo potente.  Consigo vê-la em todas as dimensões que me é possível ver e gosto muito do que vejo. Vamos dançar. Dançamos. Ela é descolada, sabe se virar de muitas formas, e logo está noutras. Bebemos ainda  mais. Não sinto muito o efeito da bebida. Mas me solto. Vou embora às 3h (é

Arte (e Monalisa Underwear)

Eu confesso que fico meio ressabiado quando insistem em me motivar a frequentar eventos em que desejamos vida longa ao teatro. É uma resposta minha aos delírios da democracia direta. Não gosto de manifestações simplesmente afirmativas. Prefiro as reivindicativas. Mas o fato é que luto, como todos, pelo teatro. Mas mais ainda luto pela arte em geral. Pois para mim o teatro nada mais é que outro ramo das artes plásticas. Ontem, encontrando o Euler (Santi), ficamos conversando sobre a peça dele sobre Cioran e sobre as peças do também romeno Visniec, algumas das quais resenhei aqui. Foi muito legal o encontro, do qual saí rouco de tanto falar. Eles me deixaram falar, claro, mas o fato é que quando sou tomado pelo tema fico irresistivelmente chato. Mentira, eles gostaram, ao menos aparentemente. O Euler é um condenado a acreditar como eu e tem tido sucesso em montar sua peça em alguns lugares. Hoje é na Aliança Francesa. Ficamos acertados de que eu iria, sem forçação de barra, ten

After Sun, de Rodrigo García

Fiquei sabendo do espanhol pela internet. Filho de açougueiro, García é um rapaz considerado "enfant terrible" nas bandas da Espanha, com seu grupo La Carnicería. Tenho tese comigo em que diversos aspectos de sua obra são criticamente avaliados, mas não irei partir nessa direção. Atenho-me à peça After Sun, que consegui com alguma dificuldade e que será a primeira que irei traduzir. After Sun é estranha. Não há personagens - praticamente. O texto presente é uma gozação sutil do começo ao fim. Como entender, de outra forma, um texto dividido em blocos em que, num primeiro instante, é dissecada a sociedade anoréxica, identificada à política, para depois prendermo-nos à morte em determinadas formas, muitas delas pop, depois entrarmos numa avaliação do mundo pela ótica de Maradona, cair numa avaliação cínica do jogo entre indivíduo e grupos, tudo sempre pendendo para a perda por parte do indivíduo, entrarmos numa avaliação de edifícios, por altura e detalhes construtivos, e

O caráter discricionário das observações ou Em que consiste um artigo sobre peça de teatro

Pode parecer simples meter-se a realizar observações sobre o que vemos diante de nós no palco sem a intenção de fazer críticas. Mas apenas aparentemente. Deixando um pouco de lado a simples necessidade de expressar o que sentimos, é amedrontador termos de avaliar, em nossa sensibilidade, espetáculos nos quais estão presentes cuidados extremos de mensagem, forma de expressão e outros recursos - estes, cênicos. Aparentemente teríamos de apelar a conceitos de crítica para nos satisfazermos. Mas mesmo isso é estranho. Como apelar a recursos argumentativos meramente teóricos para classificar obras de arte vivas? Refiro-me a obras de arte "vivas" porque é isso mesmo o que vemos no palco. Hoje, com tudo o que o teatro já experimentou, pode parecer básico demais acharmos que a peça apresentada estaria pronta e acabada. Tudo hoje parece ser work in progress. Mas, mais que isso, dada a necessidade de envolvimento cada vez maior do espectador, a obra de arte final não é mais, e já há

Três noites com Madox, de Matéi Visniec (É Realizações Editora)

Há algo de profundamente beckettiano nesta peça de Visniec - outra que me foi enviada pela editora. Primeiro pelo clima bufonesco dos personagens, sempre tirando sarro uns dos outros, entrando quando bem entendem e num relacionamento conturbado com o único personagem citado o tempo todo - o tal do Madox. Depois pelo próprio fato de este, o Madox, ser mantido até o fim num clima de suspense, tal qual Godot, na famosa peça do irlandês. Um observador mais acurado poderá encontrar muitas mais semelhanças, mas eu prefiro parar por aqui. Prefiro também salientar um aspecto - que não irei revelar - que tão forte impressão deixa no leitor - e deixará no espectador: o jogo entre espaço e tempo. Ou seja, se por um lado digo a quê esse aspecto diz respeito, por outro não revelo como esse mesmo aspecto aparece. Isso deixo a quem for ler a peça. Digo apenas que tudo surge de sopetão e mantém a força até o fim. A questão da identidade alheia e da própria é o que aparentemente mais é levado em c

A História dos Ursos Pandas contada por um saxofonista que tem uma namorada em Frankfurt, de Matéi Visniec (É Realizações Editora)

A peça, uma das duas de um dos quinze livros da coleção, chama a atenção pelo detalhismo. Na trama, ele se vê na cama, nu, diante dela, sem se lembrar de nada o que aconteceu, se aconteceu, entre eles. Em seguida, eles combinam que ficarão nove dias juntos, sem se saber exatamente por quê. A peça narra diálogos e situações em que eles passam nesses nove dias até um desfecho impressionante. Aqui nesta resenha fico numa situação desconfortável pois, ao contrário das outras, as situações e os detalhes não podem ser contados antecipadamente com prejuízo da leitura e do entendimento. Nota-se contudo que os detalhes são os que conferem atração à trama e o inusitado das situações, um efeito catártico à inversa - pois não somos conduzidos a um desfecho que explica, mas a um que complica. Terminamos sem saber o que pensar mas, note-se, sabendo o que pensar de um inusitado remetido ao nível do quase escatológico. O suspense, note-se, permanece aceso até o fim. E ao final até a menção a cheiro

Relutâncias

Amanhã vai haver a pré-estréia de uma peça de amigos. Só convidados serão... convidados. Eu acho isso estranho. Não topo muito esse tipo de relutância. Vocês vão dizer, ah, porque você não vive o risco de ter sua peça espinafrada - quando é o caso. Diria que não é bem assim. Diria melhor que eu não tô nem aí para a opinião alheia. Qualquer uma. Dirão que é mentira. Que eu devo dar importância para a opinião de um ou de outro. Acho que não. Semana passada fui a um ensaio aberto. Aprendi bastante. Ao final, falei a algumas atrizes o que eu vi. Elas puderam concordar ou não, mas no final tudo ficou entre amigos. A estréia daquela peça também será amanhã. Não devo ir. Ou quem sabe irei. Sei apenas que estranho tanto cuidado.

Medo da interação

Noite dessas, fui assistir uma peça que já comentei por aqui. Ela se passava num ambiente fechado - um apartamento, e rodava por ele (quatro ambientes, se não me engano). Os atores ficavam colados a nós, da plateia. Pelo aspecto da coisa, dava para ver que não iria haver interação. Ocorre que ao final fiquei conversando com o César Ribeiro, teatrólogo de mão cheia, e que acabei conhecendo uma das atrizes - de cujo nome não me lembro. Acabamos tocando no tema da interação. Logo ela disse que odeia isso. Que fica nervosa, fica em pânico realmente. Comigo não funciona assim. Posso garantir que todas as vezes que ela, a interação, poderia ter ocorrido acabou acontecendo. TODAS as vezes. E não me senti mal. Isso, claro, deve acontecer porque sempre sento bem na primeira fileira e bem no meio. Confesso que a surpresa já não é tanta. Me é um pouco estranho ter SEMPRE que encarar a plateia, mas não sofro muito com isso. Com a atriz, como já disse, funciona ao contrário. Ela tem PÂNICO dis

Festim Diabólico (dir. Alfred Hitchcock)

Revi a versão filmada dessa peça anos após a primeira vez. O que me atrai em especial no filme é a opção por planos-sequência longos, quase a perder de vista, algo que, conforme o making off, só ficou desse jeito porque as bobinas não duravam mais do que 10 minutos. Para mim, a opção, que aproxima o filme de uma peça de teatro, evita a distração dos cortes seguidos e torna o espectador mais atento do perfil do personagem. Como quem vê repara, os cortes vão sempre ou quase sempre nas costas de um personagem. Mas isso, embora seja relevante, não é o mais importante. Neste filme, torna-se claro que a câmera pensa. Ela conduz-se sempre cirurgicamente nos pontos importantes da trama. Como quando se aproxima de objetos ou das mãos que os seguram, independente da ocorrência de diálogos que poderiam fazer crer que as feições e expressões dos rostos teriam de ser mais importantes. Não, nada disso. O que importa é a sequência que faz o espectador pensar e sofrer com o que vê. A câmera que pe

A História do Comunismo Contada aos Doentes Mentais, de Matéi Visniec (É Realizações Editora) (leitura completa e reflexiva)

À juventude que hoje domina a realidade dos recursos de informação e o imaginário desses que não são mais tão jovens pode parecer que o comunismo e realidades relativas a ele são inatuais e desimportantes. Seja como for, a mim isso não consegue convencer. Não deixa de ser um problema que para convencer-nos do contrário tenhamos de nos submeter à lenga-lenga de gente velha que parece desconectada da realidade dos dias de hoje. Cumpre ao intelectual ou ao pretendente a um mudar essa situação. É por isso que antecedo com essa introdução de tom deveras assoberbado este breve texto em que teço algumas considerações sobre mais esta peça de Matéi Visniec, esta que até agora me causou a mais forte impressão dentre todas as que a editora É Realizações me mandou nos últimos dias. É foda, mas saí acabado após a sua leitura. O título pode enganar. Por doentes mentais podemos, é claro, entender simplesmente doentes mentais. Mas para quem sabe ou já ouviu falar daquilo que aconteceu no mandato di

Rubros (Vestido - Bandeira - Batom), de Adélia Nicolete (peça)

A Rebeca me indicou a peça da Adélia há vários meses, interessada em encená-la, até porque tem amigos da autora, que pode ceder sua encenação a preços módicos ou mesmo gratuitamente. A intenção da Rê é correr com ela pelo interior do Estado. A peça tem duas personagens, Helô e Teresa, amigas pero no mucho. Sabemos com o passar da peça que Teresa era casada com Ricardo, de quem se separou, e que perdeu a guarda do filho, que levou 5 tiros ao sair da escola, por causa de um relógio. Não se sabe se o filho sobreviveu. Só se sabe que Teresa permanece deprimida, embora não o admita, e que pensa em se matar. Ao final, a dúvida é se ela realmente se matou. Sabe-se também que Helô havia sido namorada de Ricardo e que agora, após a separação com a Renata, Ricardo retomou com ela. Mas a trama é uma desculpa para tratar da amizade de dois seres de 40 e poucos que já passaram pelo cabo da boa esperança, como se sabe, e que buscam um sentido a suas vidas, presas que estão uma à outra. É uma peç

Leituras de Fassbinder

Lendo o próprio alemão nesse livrinho fantástico (Fassbinder, A Anarquia da Fantasia) percebo que há aqui um caminho. Fassbinder decifra o ser humano destacando os papéis nos filmes de Douglas Sirk, e com isso dá um sentido à noção de leituras. Percebemos que ele não quer analisar nada, que ele simplesmente vê e que isso faz toda a diferença. Quantas vezes assistimos a um filme e ao final não sabemos realmente o que aconteceu? Fassbinder, inteligente como só ele, não. Ele não renuncia à sua noção de leitura e nos coloca diante do filme e diante do significado humano das tramas. Há muita filosofia, não acadêmica, aí. Há o sentido da vida. É maravilhoso. É de certa forma muito mais do que um Novarina naquele livro que leio e não consigo resenhar. Numa entrevista no livrinho, Fassbinder reconhece como as relações podem mudar durante o trabalho, seja em cinema como em teatro. Cita o caso de um ator que trabalhava bem com ele no cinema, mas que no teatro acabou dando margem a uma distânc

Reflexão

Eu era um rapazinho ingênuo. Consegui uma grande conquista. Pirei. Me fudi. Me recuperei - parcialmente. Passei a ver o mundo de outra forma - de uma forma pior, diria. Hoje o tempo passou. Acabo de ver que a forma pela qual EU VIA o mundo QUANDO EU ACREDITAVA foi a forma pela qual amigos conseguiram atingir objetivos louváveis. Hoje eu não consigo mas ver o mundo daquela forma. Muito se interpôs entre mim e meus desejos. Carrego o mundo nas costas sem saber direito para onde ir ou aonde QUERER ir. Há um obstáculo entre mim e meus quereres. Para ultrapassá-lo, precisarei voltar A VER. A acreditar.

A Gaivota no Infinito do Espelho (de: Tchecóv e Beto Bellini, direção: Marcelo Galdino) (ensaio aberto)

Fui convidado pela Lê e Paloma a assistir um ensaio aberto da peça do Beto, da qual havia ouvido falar um tanto por aqui e acolá. Com o Beto, eu já havia conversado noite dessas no Parlapa. A peça trata de A Gaivota e de episódios da vida do próprio Beto. Além da Lê e Paloma, conheço outros dos atores. Confesso que cheguei meio constrangido. Não sabia o que iria acontecer e não costumo me sentir muito bem ao avaliar - se é que consigo - o trabalho de amigos. Fui com uma expectativa mediana. Logo no começo, deparamo-nos com três figuras dantescas por detrás de panos que se mexem com o vento. Efeito maravilhoso. Fiquei estupidificado. Um cortejo entra e não entendo bem o que ele quer dizer. Os atores e atrizes entram correndo como se estivessem fugindo de alguma coisa. Uma moça faz uma menção ao merchandising apresentando um café assobiando a melodia do Café Seleto. Dois atores fingem-se de amigos, um deles patente homossexual - um certo clichê que não me agrada muito. O texto rem

Algumas linhas sobre observações

Catando mais e mais livros de minha enorme biblioteca para lê-los e comentá-los, deparei-me com um com "ensaios" do próprio Fassbinder e entrevistas com ele. Comprei com o Bac, acho. Bom, comento aqui o seguinte. É INTERESSANTÍSSIMO como o Fassbinder comenta. Ele é sintético, mas não deixa jamais a peteca cair quanto à verdadeira dimensão do que vê nos filmes que comenta. Isso é algo que eu ainda não consigo fazer. Claro, quem sou eu. Mas é uma boa direção, aquela. Vejamos. Hoje vou num ensaio aberto. Espero gostar.

A História do Comunismo Contada aos Doentes Mentais, de Matéi Visniec (É Realizações Editora) (leitura parcial e contexto)

Antes de entrar no livro já um pouco mais extenso do romeno Visniec, livros esses enviados pela editora, cumpre falar um pouco sobre a importância do comunismo em minha vida intelectual. O Luiz Guilherme, diretor corporativo de uma multinacional que vive nos States, lembra de vez em quando que eu, no Jornalismo da ECA-USP, era simpatizante. É parcela da razão. Parcela porque nunca fui simpatizante, mas parcela também porque no fundo sou, sim, marxista. Mas marxista no sentido mais estrito do termo. Sei que o Marx, no frigir dos ovos, tem razão, mas na prática minha política tá mais para uma social-democracia - algo que no Brasil não existe. Mas mesmo assim a história do comunismo é para mim fundamental. Primeiro, pelo sofrimento que acarretou - tanto na queda do capitalismo em diversos países; segundo, por tudo aquilo que provocou e revelou dos seres humanos. Tenho diversas biografias de Stálin, por exemplo. Uma do Lênin. Diversos livros sobre a história do século XX, em especial s

Baixo Augusta - As coisas são o que você faz delas (de: Lucas Mayor; direção: Lucas Mayor)

O Apartamento Byob é um espaço super bem localizado em Pinheiros dividido em 3 pisos. A peça em questão acontece no primeiro piso, antigamente um apartamento. Super bem decorado, o espaço da peça nos dá um ar nostálgico de rua Augusta e é ambientado com músicas de balada. Cheguei meio cedo - venho de longe e escapo do rodízio. Enquanto espero a peça, beberico um chá e verifico a beleza atual dos ambientes. De repente, eis que surgem os personagens - atraindo a atenção por falarem mais alto que a galera presente. Não me lembro do nome dos personagens - não sou bom de nomes. São um rapaz/senhor homossexual e três mulheres, uma entre 20 e 30, outra com exatos 30 e ainda outra com mais de 30. Comemoram a passagem dos 30 anos da personagem de exatos 30, a mulher de 30 anos. Comentam assuntos diversos, desses que os amigos sempre comentam. Mostram-se amigos, todos, sem contudo disfarçarem os entreveros. Desde já ficam claras as características de cada um, com as escolhas prévias, tomadas

O Rei, o Rato e o Bufão do Rei, de Matéi Visniec (É Realizações)

Li o terceiro dos cinco livros de Visniec enviados pela editora É Realizações motivado principalmente pelo título. Desde sempre fui atraído pela figura do bufão, especialmente nos últimos anos, e vê-lo desempenhar um papel de peso numa trama absurda com patente leitura política serviu-me de consolo à rapidez dos dias e à quase intransponível incapacidade de me aprofundar em "leituras" que requerem maior atenção. A peça é dividida em 3 partes, a primeira com 4 partes e as outras com 3, cada uma. A trama em geral trata de um rei deposto obrigado a conviver com o seu bufão, à festa do país que os condena à prisão e o domínio do lugar por ratos, que aparecem principalmente após a segunda parte e que têm um papel importantíssimo em qualquer leitura que se possa ter da breve peça. Ao final, bom, ao final vocês verão o final. O ritmo é de fábula, os diálogos são em geral cortantes, a presença dos ratos cria um terceiro personagem que se não fala propriamente expressa-se até mais

Anna Karenina (dir. Joe Wright)

Estava morgando perto do Cine Itaú, na Augusta - quando isso acontece, nunca consigo me lembrar o que estava fazendo por lá - quando vi que iria passar esse filme de época que ganhou o Oscar em figurino. Não sou muito chegado a esse tipo de filme, mas o artigo pendurado por lá que saiu no Estadão dizia que o tal do filme fora criado praticamente inteiro num teatro. Dizia também que a forma de atuação era mais teatral que para cinema. No começo, todo esse esforço de criar tudo num tablado fica patente. Há um certo exagero, inclusve. Uma insistência em mostrar luxo e mais luxo. Uma queda por imagens móveis, focando um ou outro rosto e entrando em pedaços da trama dessa forma. Cansa um pouco. Mas o filme é bonito. Não sei muito bem o que a atriz principal (Keira Knightley) tem de tão especial para ser a queridinha do diretor, a ponto de ter estrelado filmes anteriores, também de época. Cansa um pouquinho vê-la repetir trejeitos de beleza indubitável mas sem muito a acrescentar ao pers

Entrevistas

Estou com entrevistas paradas, absolutamente fora do controle: - com o Marião, sobre o espaço Cemitério; - com a Sônia, sobre dança daqui e dos States; - com o pessoal do Redimunho (por impossibilidade de arrumar tempo para as perguntas). Mas continuo tentando.

Os Credores (de August Strindberg, pela Cia Mamba e Nelson Baskerville, direção de Baskerville)

Assisti a leitura que a Cia. Mamba e o Nelson propuseram à peça de Strindberg, montada quase simultaneamente pelo Grupo Tapa, por diversos motivos, dentre eles conferir a atuação da Cacá (Carolina Mânica), que conheço desde que me meti a enfrentar o teatro motivado pelo Gerald, e que nunca vi atuando, pela curiosidade com uma leitura modernizante da peça de cujos diálogos eu quase me lembro ipsis litteris (por haver assistido 3 vezes com o Tapa) e pelo prazer de comparar duas formas diametralmente opostas de expor o universo do autor. Perpassando a peça de cabo a rabo, a relação dos protagonistas com a arte (no caso dele, a pintura e a escultura, e dela, a escrita) é o mote que fez com que o Nelson e a Cia. Mamba inserissem, como que a dialogar com todo o enlace e desenlace, referências ao ato de esculpir (peças, faces, corpos, imagens) e ao diálogo com a arte enquanto reveladora da relação dos protagonistas com a vida. A Cacá, o Flávio (Barollo), o Bruno (Perillo) e a Isa Bela Alzir

Ricardo III está cancelada ou Cenas da vida de Meierhold, de Matéi Visniec (É Realizações Editora)

A segunda peça do romeno Visniec das seis enviadas a mim pela editora trata de um tema para mim sumamente simbólico e importante: o "julgamento" e assassinato de Meierhold pelo regime stalinista (refiro-me a assassinato não tanto pela morte em si, mas pela morte em vida desse que foi desmembrado sumariamente por um regime que não aceitava nada a não ser ele mesmo). Meierhold, para quem não conhece, foi um ator, diretor e encenador russo que apesar de nunca trair o ideal revolucionário do governo russo foi condenado à morte pelo seu trabalho, mundialmente reconhecido, de renovar e revolucionar o teatro soviético e mundial. O estilo de Visniec está também à toda nesta também breve peça - breve, sim, mas com 21 atos. São situações envolvendo a encenação de Ricardo III, do bardo, da pegação no pé pelo regime, que - como sabe todo aquele que ouviu falar da caça às bruxas enquanto o bigodudo permanecia vivo - ia do explícito ao ridículo, passando pelo absurdo, em estratagemas que

O Último Godot, de Matéi Visniec (É Realizações Editora)

Inadvertidamente acertei na mosca ao pegar este livrinho para reiniciar minhas leituras do romeno Visniec, que está sendo editado integralmente no Brasil. Recebi este e mais 5 livros do Visniec da editora. A peça é curta e vem acompanhada de um texto explicativo e de trechos relevantes de duas entrevistas com o autor. No total, apenas 36 páginas. Mas acreditem em mim, vale a pena. A peça foi a última de Visniec, ainda bem jovem, antes de sair da Romênia para estabelecer-se em Paris. Nela, ele dá, como ele mesmo diz, uma espécie de adeus a Beckett enquanto influência, que desde sua adolescência acompanhou o futuro dramaturgo. A sacada é ótima. Godot, em pessoa, encontra Beckett e, lamentando a morte do teatro, pede-lhe uma existência. Beckett aquiesce e ao final tudo se torna o que sempre foi, uma peça. O público aparece. Chorei várias vezes ao ler esta pequena jóia. Nunca imaginaria como solucionar esse impasse, de Godot não existir e existir (uma puta sacada do irlandês), e de da