Pode parecer simples meter-se a realizar observações sobre o que vemos diante de nós no palco sem a intenção de fazer críticas. Mas apenas aparentemente.
Deixando um pouco de lado a simples necessidade de expressar o que sentimos, é amedrontador termos de avaliar, em nossa sensibilidade, espetáculos nos quais estão presentes cuidados extremos de mensagem, forma de expressão e outros recursos - estes, cênicos. Aparentemente teríamos de apelar a conceitos de crítica para nos satisfazermos. Mas mesmo isso é estranho. Como apelar a recursos argumentativos meramente teóricos para classificar obras de arte vivas? Refiro-me a obras de arte "vivas" porque é isso mesmo o que vemos no palco. Hoje, com tudo o que o teatro já experimentou, pode parecer básico demais acharmos que a peça apresentada estaria pronta e acabada. Tudo hoje parece ser work in progress. Mas, mais que isso, dada a necessidade de envolvimento cada vez maior do espectador, a obra de arte final não é mais, e já há bastante tempo, o que aparece no palco. Há muitas mais trocas a serem levadas em conta.
O resto então seria discricionário, mero fruto de escolhas idiossincráticas? Tomara que não. Mas até prova em contrário, sim, isso mesmo.
Minha única saída é dizer que, sem apelar a conceitos, prefiro então ater-me a mim mesmo enquanto sujeito. Sem descansar tudo numa precária doxa, prefiro apelar à minha sensibilidade - que não é doxa por ser definida, e é para mim importante por revelar mais de mim do que eu mesmo posso supor.
Ficamos assim, então.
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