Noite dessas, fui assistir uma peça que já comentei por aqui.
Ela se passava num ambiente fechado - um apartamento, e rodava por ele (quatro ambientes, se não me engano). Os atores ficavam colados a nós, da plateia. Pelo aspecto da coisa, dava para ver que não iria haver interação.
Ocorre que ao final fiquei conversando com o César Ribeiro, teatrólogo de mão cheia, e que acabei conhecendo uma das atrizes - de cujo nome não me lembro. Acabamos tocando no tema da interação. Logo ela disse que odeia isso. Que fica nervosa, fica em pânico realmente.
Comigo não funciona assim. Posso garantir que todas as vezes que ela, a interação, poderia ter ocorrido acabou acontecendo. TODAS as vezes. E não me senti mal. Isso, claro, deve acontecer porque sempre sento bem na primeira fileira e bem no meio. Confesso que a surpresa já não é tanta. Me é um pouco estranho ter SEMPRE que encarar a plateia, mas não sofro muito com isso.
Com a atriz, como já disse, funciona ao contrário. Ela tem PÂNICO disso. O César também não gosta.
Pego-me refletindo o que é que afasta tanta gente da curtição de participar. É como se o pessoal gostasse só de ver. Só de enfrentar o espetáculo pela consciência. Quando você entra nela, outros sentidos são aguçados. E mais, você se compromete. De alguma forma se compromete. Não pode mais simplesmente ficar alheio.
Refletindo com meus botões, acho que a questão está aí. Não poder ficar alheio. Quando assistimos simplesmente, podemos nos alhear. Fazer de conta que não é conosco. Entrar mudos e sair calados. Já com qualquer interação isso não é mais possível, até mesmo se ela, a interação, for levada para a comicidade.
Todos nós estamos acostumados a fingir que participamos. Vamos a reuniões e ficamos calados (ontem mesmo fui a uma, de condomínio). Vamos a uma reunião a portas fechadas e ficamos na nossa. Assistimos filmes e saímos calados. Não refletimos. Não fazemos o menor esforço para isso. Preferimos ficar na nossa.
Claro que muitos vão dizer que a questão é outra. Pode ser.
Mas eu pergunto: têm medo do quê?
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