Pular para o conteúdo principal

Três cenas


Apresentamos três cenas na oficina de ontem.
Numa delas, a Rê e eu somos um (quase) casal (ele quer, ela não). Em outra, a Lê é mãe, a Pa é filha e eu sou marido (ausente) da Lê. Na terceira, as garotas são prostitutas e eu, uma bichona cafetona aidética e sádica.
O feeling da Rê e eu foi acertado (primeira cena). A sutileza da cena ficou expressa em pequenos detalhes que cresceram ocupando todo o lugar. O Loureiro guiou a Rê pela mão e ela assumiu matizes insuspeitados. Eu, por meu lado, fui fazendo o personagem crescer aos poucos, até um desfecho quiçá previsível mas mesmo assim muito expressivo. Adorei nosso trabalho e como a cena foi conduzida pelo Loureiro. Amei mesmo. Vi como acrescentar camadas ao personagem e dominar minhas limitações enquanto ator.
A segunda cena foi mais complexa, especialmente para a Pa e para a Lê. Eu praticamente permaneço imóvel, mas mesmo assim minha presença acaba ressaltada pelas dicas do Loureiro. Há algo de muito engraçado na ausência dele quando combinada com a efetiva presença de sua presença. Os pequenos gestos dizem muito, sempre.
Na terceira cena a figura mudou um pouco. As altercações entre as prostitutas retiraram-lhes algo de humano, de profundo, e a superficialidade - que eu busco, consciente ou inconscientemente, não me perguntem por quê - levou a uma cena chapada sem tensão. Eu fiz o que pude - e há muito mais a que posso me dirigir. Mas foi o possível. Trejeitos que eu imaginava sumiram na hora e fiquei como uma bicha limitada. Mas iremos ainda insistir na cena.
Há muito mais por vir. Mas há condições fortes que podem levar algo a se perder. Vamos ver.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c