A História do Comunismo Contada aos Doentes Mentais, de Matéi Visniec (É Realizações Editora) (leitura parcial e contexto)
Antes de entrar no livro já um pouco mais extenso do romeno Visniec, livros esses enviados pela editora, cumpre falar um pouco sobre a importância do comunismo em minha vida intelectual.
O Luiz Guilherme, diretor corporativo de uma multinacional que vive nos States, lembra de vez em quando que eu, no Jornalismo da ECA-USP, era simpatizante. É parcela da razão. Parcela porque nunca fui simpatizante, mas parcela também porque no fundo sou, sim, marxista. Mas marxista no sentido mais estrito do termo. Sei que o Marx, no frigir dos ovos, tem razão, mas na prática minha política tá mais para uma social-democracia - algo que no Brasil não existe.
Mas mesmo assim a história do comunismo é para mim fundamental. Primeiro, pelo sofrimento que acarretou - tanto na queda do capitalismo em diversos países; segundo, por tudo aquilo que provocou e revelou dos seres humanos.
Tenho diversas biografias de Stálin, por exemplo. Uma do Lênin. Diversos livros sobre a história do século XX, em especial sobre a Revolução Russa. E minhas principais referências literárias são russas.
Considero que devemos muito, até demais, dos russos. Devemos a todos esses que criaram a civilização que iria redundar na Revolução. Devemos também aos que sofreram as agruras do regime. Devemos ao país como um todo, à nação. Devemos muito mais que aos franceses, que capitularam sem soltarem uma bala. Mais que aos ingleses, que apenas defenderam o que era seu. Mais que aos norte-americanos, que utilizaram a vitória aliada para dominarem regiões que nunca lhes pertenceram. Muito mais que aos alemães - tirando os que resistiram ao nazismo nos seus primórdios. Muito mais.
Nesse sentido, sinto (estou na 37a página) que o livrinho do Visniec é pesado. Disse isso a várias pessoas desde ontem. Por quê? Porque o livrinho, conduzido com uma lógica similar a um certo absurdo, trata do comunismo no interior do indivíduo. Visniec, no caso, é um dissidente romeno. Um cara que lamenta toda a insistência em se aplicar poder ao indivíduo. Um cara no fundo preso ao indivíduo. Não se pode esperar dele que tenha uma visão comunitária. Ele é quase um liberal. Um liberal esclarecido, claro, mas um liberal.
O livrinho parte do pressuposto de que o comunismo, durante a era Stálin, precisava ser inculcado em todos, e que desse total não escapam inclusive os doentes mentais. O livrinho narra a passagem de um autor premiado pelo regime pelo interior desse manicômio. Mas a trama exposta é de menor importância. Importa é o medo que subjuga todos face as garras do regime. Algo que não é expresso em palavras. Que é suposto e domina mais que o poder em si. Terrível.
Devo terminar o livro em dois dias. Daí comento-o mais em detalhe. Mas desde já digo: vale a pena.
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