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Anna Karenina (dir. Joe Wright)


Estava morgando perto do Cine Itaú, na Augusta - quando isso acontece, nunca consigo me lembrar o que estava fazendo por lá - quando vi que iria passar esse filme de época que ganhou o Oscar em figurino. Não sou muito chegado a esse tipo de filme, mas o artigo pendurado por lá que saiu no Estadão dizia que o tal do filme fora criado praticamente inteiro num teatro. Dizia também que a forma de atuação era mais teatral que para cinema.
No começo, todo esse esforço de criar tudo num tablado fica patente. Há um certo exagero, inclusve. Uma insistência em mostrar luxo e mais luxo. Uma queda por imagens móveis, focando um ou outro rosto e entrando em pedaços da trama dessa forma. Cansa um pouco.
Mas o filme é bonito.
Não sei muito bem o que a atriz principal (Keira Knightley) tem de tão especial para ser a queridinha do diretor, a ponto de ter estrelado filmes anteriores, também de época. Cansa um pouquinho vê-la repetir trejeitos de beleza indubitável mas sem muito a acrescentar ao personagem. Não consigo entrar no drama da futura adúltera. Ela, no começo, parece-me apenas um rostinho bonito cuja atenção é disputada por quem a rodeia.
A trama, para quem não leu o livro de Tolstói, chega a ser simplória. Casada com homem de influência no governo - um maravilhoso Jude Law -, Anna se apaixona por um militar, tem um filho com ele e é desprezada pela sociedade russa. Só isso, em suma.
Nas mãos de qualquer um, a trama poderia resultar numa revisita realmente chata, mas, quem sabe pela ênfase no tablado, quem sabe pelo esforço dos atores - um deles captou realmente minha atenção, o irmão de Anna -, tudo se desenrola com clara leveza. Ao final, apesar de já se saber do fim da heroína, o visual abre os olhos e não nos sentimos logrados - embora um espectador tenha saído rapidamente da sessão.
Não foi um desperdício de dinheiro nem de tempo. Simplesmente um abaixar a cabeça face a competência alheia regada a bastante dinheiro.

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