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A Gaivota no Infinito do Espelho (de: Tchecóv e Beto Bellini, direção: Marcelo Galdino) (ensaio aberto)


Fui convidado pela Lê e Paloma a assistir um ensaio aberto da peça do Beto, da qual havia ouvido falar um tanto por aqui e acolá. Com o Beto, eu já havia conversado noite dessas no Parlapa.
A peça trata de A Gaivota e de episódios da vida do próprio Beto.
Além da Lê e Paloma, conheço outros dos atores.
Confesso que cheguei meio constrangido. Não sabia o que iria acontecer e não costumo me sentir muito bem ao avaliar - se é que consigo - o trabalho de amigos. Fui com uma expectativa mediana.
Logo no começo, deparamo-nos com três figuras dantescas por detrás de panos que se mexem com o vento. Efeito maravilhoso. Fiquei estupidificado.
Um cortejo entra e não entendo bem o que ele quer dizer. Os atores e atrizes entram correndo como se estivessem fugindo de alguma coisa. Uma moça faz uma menção ao merchandising apresentando um café assobiando a melodia do Café Seleto. Dois atores fingem-se de amigos, um deles patente homossexual - um certo clichê que não me agrada muito.
O texto remete aos dilemas enfrentados pelo teatro no Brasil, hoje. Sem comiserações. Jogando a merda no ventilador e mostrando a que ponto vai o estado dessa arte tão bela mas tão sofrida. Bem no começo, personagem que faz as vezes do autor levanta a lebre e diz que monta mesmo sem pedir direitos (no caso, a A Gaivota). É uma estratégia de guerrilha. Uma insatisfação profunda disfarçada em desesperança.
As cenas de A Gaivota aparecem, esparsas. Tendo a me sujeitar sem reação ao texto maravilhoso e à atuação contida do ator e das atrizes. Fico em especial fixado em uma atriz pequena, loira e sempre presente em cena. A posição do protagonista como autor recoloca os desafios a que os autores se submetem.
Vez ou outra, ocorrem menções à vida do Beto, que aparece com frequência fazendo o papel de si mesmo. É curioso que ao falar o autor ele utilize um outro ator, como se ele fosse em si mesmo dividido. Esqueci de citar que, bem no começo, as três figuras fantasmagóricas aparecem e enfrentam o autor e todo o teatro. Uma delas é a Lê, outra a Paloma. Por algum motivo eu me disperso e sinto-me decepcionado comigo mesmo. Mas houve algo que falta.
Cria-se uma trama em que a vida e obra do Beto são colocados em questão. Surgem três filhos e histórias sobre eles. Surgem questões que envolvem em especial um deles, e a indignação decorrente. Enquanto isso (na verdade, um pouco antes), o Beto remete-se à ex-mulher, que faleceu em decorrência de mal que não fica claro, e ocorrem vestígios de cenas que me emocionam. Há um quê de respeito que não descamba quase nunca em autocomiseração. Há melodrama? Pode ser, mas o mesmo Beto se defende: somos latinos.
A assunção da peça de Tchecov com a vida e obra do Beto deixa muitas lacunas a preencher. Não consigo entender muito bem a ligação entre ambas as fontes. Fico rememorando as posições relativas à autoria em teatro e às dificuldades de se fazer teatro hoje em dia. Mas algo me motiva a ficar satisfeito. É belo, isso. Há uma certa carência de trabalho em conjunto, algo que fiz notar às amigas que me perguntaram, mas isso é com o tempo. Descobri atores que não conhecia e saí com vontade de reler A Gaivota.
Provavelmente eu vá reassistir a peça - agora não como ensaio.
Foi legal, gostei. Aprendi bastante e fiquei impressionado algumas vezes. O resto são opiniões.

PS: Me esqueci de citar diversas menções ao respeito diante do teatro clássico, mas isso vocês poderão auferir na peça mesmo.

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