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After Sun, de Rodrigo García


Fiquei sabendo do espanhol pela internet.
Filho de açougueiro, García é um rapaz considerado "enfant terrible" nas bandas da Espanha, com seu grupo La Carnicería.
Tenho tese comigo em que diversos aspectos de sua obra são criticamente avaliados, mas não irei partir nessa direção.
Atenho-me à peça After Sun, que consegui com alguma dificuldade e que será a primeira que irei traduzir.
After Sun é estranha. Não há personagens - praticamente. O texto presente é uma gozação sutil do começo ao fim. Como entender, de outra forma, um texto dividido em blocos em que, num primeiro instante, é dissecada a sociedade anoréxica, identificada à política, para depois prendermo-nos à morte em determinadas formas, muitas delas pop, depois entrarmos numa avaliação do mundo pela ótica de Maradona, cair numa avaliação cínica do jogo entre indivíduo e grupos, tudo sempre pendendo para a perda por parte do indivíduo, entrarmos numa avaliação de edifícios, por altura e detalhes construtivos, e daí por diante. O único diálogo ocorre ao fim, como uma espécie de conclusão que não existe.
O estilo parece assemelhar-se a muito do que o Roberto Alvim faz em seu teatro contemporâneo. Mas vai também em outras direções. Há mais força, mais cinismo, mais acidez neste texto bem conhecido do espanhol. Logo vocês o terão em português - mas desde já aviso que para isso precisarão se cadastrar. Não vou me esforçar para qualquer engraçadinho se meter a abusar. Até porque o próprio García nada sabe do que faço. Gostaria, na verdade, e muito, de ver encenada esta pequena peça. Daí gastar tanto esforço. Pois é um texto difícil.

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