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O Rei, o Rato e o Bufão do Rei, de Matéi Visniec (É Realizações)


Li o terceiro dos cinco livros de Visniec enviados pela editora É Realizações motivado principalmente pelo título. Desde sempre fui atraído pela figura do bufão, especialmente nos últimos anos, e vê-lo desempenhar um papel de peso numa trama absurda com patente leitura política serviu-me de consolo à rapidez dos dias e à quase intransponível incapacidade de me aprofundar em "leituras" que requerem maior atenção.
A peça é dividida em 3 partes, a primeira com 4 partes e as outras com 3, cada uma. A trama em geral trata de um rei deposto obrigado a conviver com o seu bufão, à festa do país que os condena à prisão e o domínio do lugar por ratos, que aparecem principalmente após a segunda parte e que têm um papel importantíssimo em qualquer leitura que se possa ter da breve peça. Ao final, bom, ao final vocês verão o final.
O ritmo é de fábula, os diálogos são em geral cortantes, a presença dos ratos cria um terceiro personagem que se não fala propriamente expressa-se até mais que os personagens principais. Tudo diz respeito a um outro, sendo que esse outro acaba assumindo a imagem dos ratos.
No final, tudo acaba no mar. Um final - que não contei - perfeitamente coerente com o clima absurdo e leve que envolve toda a peça. É, como já salientei, uma peça que só poderia ser escrita mesmo pelo romeno.
Cumpre vê-la encenada. Pode ser muito interessante, até para discutir leituras que podem surgir aos milhares.

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