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Cair na real ou Rumo a um novo mundo

Comecei duas vezes a escrever um pequeno texto com o mote de "cair na real" e não consegui chegar a nenhum lugar.
Talvez seja porque quero revelar algo sem revelar tudo. Pois tenho uma certa vergonha.
Cair na real.
Ninguém cai na real impunemente. É preciso que algo, alguma coisa o faça cair. E caindo "na real" não há mais o que justificar. O real é o que é, e ponto.
Quando a gente anda apenas com nossas pernas, às vezes dá uma fraqueza e a gente quase desiste. Mas não se pode desistir nesses casos. Só nos resta nossas pernas. O negócio é achar forças em algum lugar e mandar ver.
O raciocínio instrumental é o que mais ajuda nessas horas. Sei bem que ele não é muito bem quisto entre defensores de um pensamento complexo, mais humano, mas o fato é que é no cálculo que as coisas começam a se resolver e no final se resolvem (ou não).
Antes, eu usava mais esse tipo de raciocínio. Acomodei-me e me deixei levar por cantos do bode. Agora preciso voltar à vaca fria.
Tudo isso só para dizer que o mundo precisa se ampliar à minha frente. Sob risco de cair para valer.
É teimar. Andar para a frente, e só.

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