Assisti à peça do Sugar (Guilherme Junqueira) atraído pela possibilidade de ver a Lara (Giordana), sempre presente nos shows do Marião, e o Haroldo (Ferrari), cara que acompanho desde a penúltima Satyrianas, atuando juntos numa peça de ambientação dark, que algo deveria ter em comum com o universo da turma do Teatro Cemitério. Eu não sabia que o texto já havia sido publicado pelo Sugar, em livro que pretendo adquirir.
A história toda gira em torno da tal Monalisa, vivida pela Lara. A Monalisa é, para Lagache (Haroldo), FODA. Ele se apaixona por ela, que por sua vez deixa-se amar, mas sem perder seu estilo de vida. Um estilo de vida FODA. Tudo fica patente já no primeiro encontro dos dois no palco. A Lara convence. Sinto que a Monalisa é quase palpável. Uma garota perdida andando no fio tênue que existe entre a vida e a morte. Lagache se deixa levar. Até o momento em que ele quer que ela saia dessa vida e opte pela VIDA. Taí uma decisão que Monalisa reluta em tomar. Aparece Nefasto, um sujeito forte com ares de pau mandado, e propõe a Monalisa uma treta que ela, em busca de uma saída, não quer assumir. Daí vem o desenlace que, claro, não irei contar.
O universo da peça ladeia o universo marginal, entronizando-o. Monalisa é apresentada como referência nesse mundo de gente caída no meio do caminho. Lagache entra nessa jogada mesmo avisado por amiga, ex-amante, da roubada.
A encenação joga na primeira meia hora com flashbacks em que o perfil de Monalisa é o foco. A Lara, como eu já disse, abraça o personagem com competência. Mas com o correr da trama algo se perde. A trama passa a ser o aspecto mais importante da peça quando o que mais me chama é o aspecto dark dos personagens. A intenção de Lagache de tirar Monalisa dessa vida tem algo de pusilânime - como se alguém quisesse tirar uma prostituta "da vida". Parece que assim colocando os personagens o universo "normal" fosse o objetivo, a vida por excelência, quando a atração que Monalisa exerce vem justamente do fato de ela não querer assumir essa saída - guiada por um passado familiar negro e destruidor.
O final, apresentado como se fosse um desfecho de thriller, corrobora uma camada do personagem Monalisa da qual a gente já havia sido convencido. Nesse sentido, funciona como um anticlímax. Já imaginávamos aquilo que iria acontecer. Monalisa não poderia morrer. Monalisa deveria sair ilesa. Monalisa deveria terminar por cima. Por cima da carne seca.
Assisti à peça na estreia. Imagino que haja algo a depurar. Mas gostei da diversão. Estava me sentindo meio mal na hora e saí correndo. Mas valeu a espera.
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