Tinha acabado de me despedir intimamente da oficina do Loureiro quando vi, no cartaz em frente ao Sesc Consolação, uma foto de jovens em situação de sanduíche, ela sofrendo, que me remete a peças juvenis. Vou ao caixa e sem querer encontro um convidado da autora, carioca (a autora), que desmente que a peça seja juvenil. Não tendo quaisquer referências mais, acabo aceitando ver a peça, que passará no espaço Beta, lá no terceiro andar.
Lá estando, encontro um sujeito que vejo sempre em apresentações as mais diversas, às vezes de teatro, às vezes não. Conversamos um pouco, conto o que se passa comigo, e ele vai assistir Ná Ozetti com aquele musicista tão conhecido de cujo nome não me lembro.
A peça trabalha com luz e escuridão, mais escuridão que luz. Os personagens são dois sujeitos vestidos como que num faroeste caboclo e uma garota que, muito depois, reparo que está com os braços atados. Mas essa situação - e tudo o decorrente - vem bem depois.
Há um quê de absurdo no texto de Keli Freitas. As menções à realidade, esparsas, têm um quê de arbitrário que deixa tudo como que longe de nossa realidade e preso à mente dos personagens. O texto é engraçado, as situações também, há uma ênfase à repetição de situações e diálogos, que muitas vezes ficam em suspenso e não deixam entrever o que realmente está acontecendo - SE está acontecendo.
Num momento determinado, ela faz menção de que quer dormir - e onde? Pendurada pela amarra dos braços. Aí entendemos que há uma relação entre eles, uma menção a que ela está presa, de alguma forma, sem sabermos exatamente porquê. Eles não fazem menção a pedir nada, o tempo passa-se repetitivo e chapado, os vários entreveros entre as vontades dos personagens não assumem um ar sério o suficiente para nos preocupar - ao contrário, beiram quase sempre a uma farsa cujo mote não conseguimos auferir.
A peça acaba de uma forma entrevista por um apresentar dos dois homens de determinada ação com animais. Não digo qual. Aqui algo parece se perder. Tudo fica um "apresentar" que faz com que eu perca o interesse. Capto tudo de antemão. Sei bem o que vai acontecer. Quando acontece, simplesmente tudo se revela - e, no meu caso, com um certo desinteresse. Mas nada que faça o espetáculo se perder. Gosto do que vejo - embora agora tenha interesse em avaliar, de forma mais profissional, as atuações que vejo à minha frente (não estou ainda minimamente preparado, mas algo sinto, algo vejo, e isso é algo).
Fica até final de abril, às quintas e sextas.
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