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Mostrando postagens de março, 2014

E o Didio, Napão, Gidu, Little Beat e Fernão vieram para quebrar

O Marião e trupe viajaram a Curitiba e ficamos desfalcados para as apresentações de sexta, sábado e domingo. Posso falar sobre sexta e domingo. Sexta, o Didio Perini fez as vezes do Arroba, adoentado. Aos 48 do segundo tempo. Dava para sentir o nervosismo no ar. Aí ele arrasou. Fez as vezes, exagerou, arrebentou, suou para karalho, foi um barato total. E o Napão, hein? Só ele para arrebentar no papel do Batata. O pessoal mal continha as risadas. O cara é foda. E domingo, hein? Gidu como o Chefão, Little Beat no lugar do Arroba e Fernão no Gerente da primeira cena, contracenando comigo. Maravilha. Pouco antes de entrar, o Fernão comentava que nunca havia feito um papel tão pequeno tão em cima da hora. Foi um barato, um arraso. Teatro sem diversão não vale.

"Te vejo por aí" (de Jarbas Capusso Filho, direção de Marcos Loureiro)

Fui apresentado pela primeira vez aos textos do Jarbas pelo próprio Loureiro numa oficina em que ele usou "Meu cão gosta de bebop" como texto para ensaio. O Jarbas tem um texto ágil e bem-humorado, como vários de nossos colegas, mas também tem a característica de dar vazão ao aprofundamento dos personagens, em caso de o ator querer ir bem mais longe. A peça-cena de Jarbas trata do encontro na casa de um amigo de um cara com um tumor que está arrumando os livros para ir embora - quando ao final não leva nada. Foi interessante ver como os caras resolveram o desafio dos livros no palco (a cena anterior tinha dezenas deles). Um dos amigos, vestido de Batman - por causa de um emprego num supermercado -, muito animado com alguma coisa - ou porque ele é mesmo assim, tenta animar o tempo todo o outro amigo. Até surgir a deixa do tumor e tudo parece assumir ares de déja vu. Sabemos o fim. Só não sabemos como será. Eles se despedem. Duas vezes. Batman chora. Por vezes, fiquei meio

"Até o Fim" (de Ana Paula Marques, direção de Lucas Mayor)

Um casal separa os livros de cada um. Pois houve uma separação. Foi doído demais para mim assistir a peça. Pois ela recordou-me uma ferida ainda não cicatrizada - e olha que já se foram mais de dois anos, exatos dois e meio. E recordou-me a nova peça do Marião. O casal tenta descobrir o que aconteceu. São jogadas recriminações sobre sinceridade, falsidade, luta e morte. Permaneço tentando me resguardar, sem permitir que a peça me faça sucumbir de vez. Por isso acabo perdendo algo do que acontece. E não sei bem como terminou. Com tristeza, sim. Sempre. O Mau esteve muito comovente e logo depois a Toty. Um primeiro, o outro depois. Não sei se aguenttanta areia o nos meus olhos.

Estatísticas - Março/2014

Café com Lucian Freud/ Um retrato do artista, de Geordie Greig

Lucian Freud talvez seja o pintor que mais me atrai dentre os figurativos, depois é claro de Bacon. Tenho alguns livros caros sobre ele, com reproduções interessantes de suas pinturas, e o jeito estranho com que vê o mundo me atrai tanto quanto o realismo me impede de embarcar, no teatro, em navegações outras que escapem da forma genérica com que o mundo vê a si mesmo. O livro desse jornalista preenche um vácuo, dada a séria incompatibilidade deste neto do Freud, o Sigmund, com a imprensa e com a exposição de si mesmo perante a opinião pública - embora ele fosse, em caráter privado, um grande exibicionista. Confesso que o ar matreiro desse cara, que até o fim não abandonou um jeito atroz de lidar com o mundo, me surpreendeu. Pois eu não imaginava que esse cara, que aparentemente não pareceria dever nada a ninguém, fosse tão exacerbado em suas paixões e em seu amor à vida - justamente esse cara diante de cujas telas não podemos quase nunca deixar de ver a morte. O próprio Greig esclar

nadando de braçada

ontem, teve mais uma apresentação de clavículas. tudo transcorreu mais ou menos bem e tá tudo certo. mas aconteceu algo que vale a pena comentar. pela primeira vez, senti que nadava de braçada em minha apresentação. vocês sabem, tenho muita dificuldade de decorar. e como sou um ator iniciante ainda sofro muitas limitações. minhas limitações, que combato da forma que posso - com dicas, muitas vezes, de outros amigos e amigas atores e atrizes. mas desta vez foi diferente. eu me lembro. após a cena com o pablo, em que houve um contratempo com que eu soube lidar com facilidade (acho que eu errei, na verdade, pablo), entrei no bifinho com a majeca com uma confiança que me surpreendeu na hora. eu me lembro que enquanto eu dizia a fala eu sentia dominá-la, passo a passo, e com ela conduzir a plateia em minha direção. lembro que não me apressei nem um pouco e que atribuía propriedades à fala no seu decorrer. ao final da pequena entrada, já com a majeca no palco, as risadas eram variadas

Reflexões

Venho sendo bombardeado há mais de um ano com referências variadas que me dizem que filmes que assisto para me divertir possuem mensagens subliminares ou apenas sugeridas com as quais eu poderia me propor a entender o mundo de outra maneira. Isso assim acontece porque os amigos com que venho me relacionando assistem filmes que eu não assisto, lêem livros que eu nunca li, discorrem sobre assuntos sobre os quais nunca me propus a refletir e - mais importante - assumem posições que eu mesmo nunca entendi que deveria possuir para simplesmente existir. Isso não quer dizer, contudo, que minha vida seja simplesmente aceitar tudo como é dado. Mas eu geralmente reflito tanto, mas tanto, apenas para conseguir viver comigo a contento que não consigo ficar refletindo o tempo que me resta sobre assuntos que não me dão margem a dúvidas. Sobre amor. Sobre amizade. Sobre o fim. Sobre fracassos. Sobre sucessos. Sobre sei lá. Eu venho de uma geração ou de um público que, a maior parte das vezes, apena

Performances e o culto ao eu

Dei autorização a uma performer que conheci recentemente para a apresentação do meu texto Fugindo como uma performance a ser apresentada com vídeo e tal. Acompanho esse negócio de performances há algum tempo. Já vi algumas coisas bem lamentáveis por aí e, embora respeite, até porque não me aprofundei em nada a respeito, confesso não conseguir ver nada de muito legal nesses negócios à la Marina Abramovic, sobre a qual o Bob Wilson também trabalhou. Sobre performances em geral ainda navego em círculos. Mas reparei numa coisa. Venho recebendo no face algumas fotos dessa performer que está com meu texto. E reparo como, nessas fotos, ela aparece imutável, sendo o centro de poses em que algo visual se destaca - roupa, maquiagem, etc. Comprei recentemente a Das Artes, revista sobre artes plásticas, e na capa da última - digo, a de fevereiro, porque a de março não vi ainda - aparece um cavalo vermelho guiado por uma mulher com vestimenta à la esgrima japonesa - não me vem o nome agora - ta

novo ensaio - quase o primeiro

Vêm ocorrendo várias novidades em minha vida. Mas não irei comentá-las. Porque não importam. Essas que poderiam dizer que fazem as vezes de divisores de águas não o são, realmente. Ao menos para quem sabe viver. Prefiro comentar os ensaios de anteontem. Pois os de ontem me deixaram meio ressabiado. Refiro-me aos ensaios das Garotas do Contrera. Porque os ensaios com o Marião sempre são bárbaros dado todo o aprendizado. Anteontem, então. A Cris e a Rebeca estavam me esperando lá no fundo do bar. Estavam à vontade. Parecia que já haviam encarado o texto. Não sei se o haviam. Eu cheguei meio esbaforido e comentei diversas coisas - das quais mal me lembro. Mas, pelo bem ou pelo mal, começamos. Eu as interrompi diversas vezes. Disse-lhes que tudo estava metronomizado, monótono, que as personagens não apareciam. Que a personagem da Cris me passava uma antipatia que me irritava. Que diversas falas poderiam assumir propriedades mais ambíguas ou relevantes. Elas me ouviam e sempre me d

Ensaios

Terça-feira que vem, no Sarau da Terça de março, evento organizado pela Ivone FS, ocorrerá a estreia de duas cenas do grupo As garotas do Contrera, como o Marião apelidou esse grupo de amigas que aceitaram se meter a encenar textos meus e a nesses textos serem dirigidas por este que vos escreve. Serão duas cenas, uma da Cristina Freitas com a Rebeca Ribeiro, e outra da Valentine Durant também com a Rebeca. Ambas fazem parte de um projeto maior meu, apelidado A Família, que trata de assuntos relativos a minha família estendida, digo, minha família nuclear - mãe, pai, irmãos - com familiares do lado materno e paterno - estes vivendo quase todos no Chile. Quem vir, verá. Mas por enquanto gostaria de compartilhar com vocês meu enorme gosto em tocar todo o projeto, como um todo e em partes. Pois 1) soube pela primeira vez conduzir um grupo (esse grupo) de forma tal que ele não precisou ser comandado com mão de ferro, 2) soube nutrir minhas atrizes com indicações que, salvo engano, sempre

Desculpas

Ontem, publiquei aqui um texto, de título Amigo, no qual queria tentar entender a distância que um amigo aparentemente passou a nutrir a meu respeito. Mas conversando com uma amiga ela me convenceu de que estava tudo errado. Primeiro porque eu não admitia meu erro ao tentar convencer esse meu amigo a entrar ou a não entrar num projeto que eu tocava na época. Segundo porque não contente com isso, eu ainda o culpava pela distância assumida para comigo. Essa minha amiga certa vez encontrou por acaso na web um papo entre nós dois, ele e eu. E concluiu que se fosse com ela ela também se sentiria desconfiada comigo. Como ele aparentou em nosso contato pessoal - meu único ponto de acerto, quem sabe. Bom, sendo assim, preciso admitir que errei uma vez - ao colocá-lo contra a parede quando ele queria simplesmente saber mais do projeto - e ainda outra - ao não entender que, se ele aparentava desconfiança, talvez ele estivesse correto. Bom, assim ficam então as coisas. Desculpas, primeiro e

Lanterna Mágica, autobiografia de Ingmar Bergman (1)

O interessante livro do Bergman sobre ele próprio não avança de forma linear. No começo, diria, nos primeiros três pequenos capítulos, a coisa segue-se dessa forma. Mas no quarto as coisas se invertem: Bergman começa falando de quando acompanhou a peça O sonho, de Strindberg, aos 12 anos, para em seguida, de repente, sem avisar, cai direto em sua forma de entender o ofício que lhe coube na vida. E é aí que eu também abandono esse afã de, por meio dele, avançar em meus problemas para cair naquilo com que concordo em gênero, número e grau. É quando Bergman assume seu trabalho de mediação, organização, ritualização, de ter tudo sempre sob controle, da angústia diante do imprevisto, da execração do dionisíaco enquanto em meio à criação. Diz ele: "odeio tumulto, agressões, explosões de sentimentos. Meu ensaio é uma operação num local preparado para a ocasião. Ali predominam autodiscipina, limpeza, luz e tranquilidade. Um ensaio é um trabalho sério e não uma terapia particular para o

Leitura

Não me recordo bem, mas creio que desta vez fiz minha primeira leitura cênica. Precisaria me recordar, profundamente, mas não estou em condições. Então, este sábado foi a primeira vez. Preciso comentar um aspecto que me deixa confuso. Fizemos uma leitura cênica de um texto do Buk. Compreendo a necessidade, para quem lê, de tornar tudo o mais vívido possível. Daí a tentação de encenar o texto. Mas desde o começo eu permaneci, sem saber por quê, arredio a essa ideia. Não sei por quê, imaginei que uma leitura seria apenas uma leitura, com toda a formalidade possível, em que todo o trabalho estaria na correta e otimizada exposição dos personagens pelas falas. Mas minhas colegas não tinham essa visão. E pior, colocavam uma empostação ao texto que desde o começo me trouxe real insatisfação. Parecia que as coisas não combinavam. Que o off ficava numa espécie de limbo extremamente formal, com palavras ditas cadenciada e lentamente, enquanto o diálogo pedia abordagens mais, diria, selvag

O teatro absurdo de Lucas Pitella, de Lucas Pitella (Giostri)

Meus critérios ao ler textos para teatro hoje mudaram. Quem sabe por estar atuando, agora vejo mais mares revoltos por detrás dos diálogos e considero mais intrometidas as marcações de rubricas, que podem engessar a direção. Por isso ando lendo bem mais coisas por aí. Dentre essas "coisas" há o livro do Pitella. O Lucas vem trabalhando lá no Teatro Cemitério algumas destas noites e comprei o livro das mãos dele, claro. Eu já queria lê-lo faz tempo, mas não havia espaço em minha pessoa para tanto. Hoje, apesar de tudo o que venho fazendo, lendo e escrevendo, pasmem, esse espaço acontece. São quatro peças. Diria curtas, mas não necessariamente. Pois uma peça pode ser bem mais que as falas, hoje sei. Mas porra, são curtas. Falei a ele o que achei de mais relevante e digo aqui, como testemunho. As peças têm realmente algo de absurdas. Nada de teatro do absurdo. Os personagens são estranhos e quase caricatos. Os desafios a que eles se vêem sujeitos são concretos, mas algo no

Atuar e assistir

Estou nas minhas terceira e quarta peças em que atuo profissionalmente. Sempre convidado pelo Marião. Isso faz com que fique bem contente e satisfeito em poder merecer a confiança de gente que prezo muito. Acontecem algumas coisas, porém, que me fazem refletir. Compartilho com vocês algo dessas coisinhas. Primeira: por atuar não posso ver as peças em que atuo. Isso é óbvio, dirão. Sim, óbvio é, sim. Porém, para mim, que quero entender sempre tudo o que acontece no meio, e me posicionar nem que seja com os meus botões, isso é estranho. Primeiro porque ao participar estou mais por dentro da peça do que quem assiste, mas por isso mesmo estou também mais alheio, pois, envolvido nas cenas em que atuo, dispenso atenção às cenas de meus colegas mas não consigo FORMAR UMA IMPRESSÃO GERAL DO TODO. É sobremaneira curioso saber MAIS e saber MENOS - AO MESMO TEMPO. Não que isso me deixe chateado, não deixa. Mas é curioso como a gente pode se alhear ao mesmo tempo em que se afunda numa determin

"Porque dói quando você não está aqui" (texto e direção: Antoniela Canto)

Assisti à peça curta, estreia da Toty como dramaturga (direção, não sei se foi a estreia), da segunda vez que passou no Quintas em Cena, festival mensal do Cemitério de Automóveis. A Toty, para quem não sabe, é atriz da Cia. La Plongée e sócia do Marião, outros amigos/as e outros colegas da companhia no Teatro Cemitério (Frei Caneca, 384). A peça foi bem curta e focada em grande parte no texto. Este, aliás, primeiro da Toty, tem a indisfarçável influência do Lucas Mayor, dramaturgo da La Plongée e também sócio do local. O Lucas, como vários devem saber, escreve peças com estilo impecável e aguçada ironia quase sempre ligada a fatos da cultura e arte em geral. A história da peça é o convite, pela personagem da Patrícia Vilela, à amiga (vivida pela Toty), ao seu apartamento. Tudo gira em torno do por que do convite, justo à personagem da Toty que não quer mais excessos, que busca o isolamento, que quase busca a morte em vida. Ao final, a resposta fica para ser criada pelo espectador e

A Presença da Arte, de Paulo Venâncio Filho (Cosac Naify, 2013)

Como o livro também brevemente comentado de Rodrigo Naves, Paulo Venâncio Filho, também um crítico de arte de costumeira presença no meio, faz sua contribuição nesta coletânea de artigos os mais diversos com a arte moderna, conceitual e contemporânea como mote. Venâncio abre a primeira parte do livro com um artigo, "Lugar nenhum: o meio de arte no Brasil" - que ainda será esmiuçado -, no qual como que faz um panorama - deslocado em mais de três décadas (pois foi feito em 1980) - do mercado de artes plásticas neste país que é tudo menos expressionista (tema do segundo artigo dessa primeira parte). Deixo este artigo para outra ocasião, dado ser necessário decifrá-lo antes de comentá-lo (claro). Já o segundo artigo não, ele é plenamente passível de comentário. É engraçado, sei bem a que o expressionismo como movimento estético se refere. Tanto sei que percebo certa queda dos meios teatrais mais antenados por ele - como se ele não tivesse ainda sido incorporado à nossa linguag

Borrasca e A Pior das Intenções, de Mário Bortolotto: um paralelo

O próprio Mário Bortolotto confirma, ao explicar como teriam surgido ambas as peças, que elas têm origens e pontos em comum. Segundo ele 1, A Pior das Intenções surgiu de um diálogo entre homens, a que uma atriz teve acesso e que quis encenar. Borrasca, no caso, já era um diálogo entre homens. Já A Pior é - pois se tornou - um diálogo entre mulheres. Segundo o Mário, que acatou o pedido daquela atriz, ele mudou bastante coisa para que coubesse uma peça entre mulheres. Peça que se tornou a única apenas entre mulheres que ele fez, dentre suas mais de 50. Pedi a ele que me passasse os originais das peças. Eu já havia assistido Borrasca seis vezes, mas por algum motivo eu sentia que algo havia ficado de fora - ou eu não havia entendido ou alguma lógica profunda havia passado batido. A Pior acaba de estrear, mas já a assisti duas vezes (no total, a assisti agora - março de 2014 - sete vezes). Ambas, Borrasca e A Pior, ocorrem num esquema de rodízio, a depender da disponibilidade dos atores