O interessante livro do Bergman sobre ele próprio não avança de forma linear. No começo, diria, nos primeiros três pequenos capítulos, a coisa segue-se dessa forma. Mas no quarto as coisas se invertem: Bergman começa falando de quando acompanhou a peça O sonho, de Strindberg, aos 12 anos, para em seguida, de repente, sem avisar, cai direto em sua forma de entender o ofício que lhe coube na vida. E é aí que eu também abandono esse afã de, por meio dele, avançar em meus problemas para cair naquilo com que concordo em gênero, número e grau.
É quando Bergman assume seu trabalho de mediação, organização, ritualização, de ter tudo sempre sob controle, da angústia diante do imprevisto, da execração do dionisíaco enquanto em meio à criação. Diz ele: "odeio tumulto, agressões, explosões de sentimentos. Meu ensaio é uma operação num local preparado para a ocasião. Ali predominam autodiscipina, limpeza, luz e tranquilidade. Um ensaio é um trabalho sério e não uma terapia particular para o diretor ou para os atores".
É quando ele me surpreende: "sinto desprezo por", "tenho nojo de", "gostaria de torturar", "odeio", "irrito-me com": as expressões invadem o livro e quase criam buracos na medida em que exploram o dissenso na vida desse diretor tão apolíneo, mas que tão fortemente soube adensar as obras naquilo que de mais importante parece expressar o ser humano. "Quero calma, ordem, gentileza. Só assim podemos nos aproximar do ilimitado". "Nunca me exponho. Observo, registro, constato, controlo. Não sou espontâneo, impulsivo ou simpático." E é quando ele revela: "se por um momento levantasse a máscara e dissesse o que realmente sinto, meus companheiros se voltariam contra mim, me fariam em pedaços e me jogariam pela janela". Não poderia expressá-lo melhor.
Pois no meu grupo "As garotas do Contrera" é essa singeleza que eu busco. Nunca elevando nenhum tom. Nunca determinando de forma acachapante uma verdade profunda em mim. Sempre focado nelas, nas atrizes, e naquilo que é possível expressar com os instrumentos de que dispomos. Odeio o resto. Odeio a confusão. A direção é um trabalho que, longe de ser maçante, precisa de controle soberbo para funcionar e manter tudo o que funciona de pé.
Lindo.
É quando Bergman assume seu trabalho de mediação, organização, ritualização, de ter tudo sempre sob controle, da angústia diante do imprevisto, da execração do dionisíaco enquanto em meio à criação. Diz ele: "odeio tumulto, agressões, explosões de sentimentos. Meu ensaio é uma operação num local preparado para a ocasião. Ali predominam autodiscipina, limpeza, luz e tranquilidade. Um ensaio é um trabalho sério e não uma terapia particular para o diretor ou para os atores".
É quando ele me surpreende: "sinto desprezo por", "tenho nojo de", "gostaria de torturar", "odeio", "irrito-me com": as expressões invadem o livro e quase criam buracos na medida em que exploram o dissenso na vida desse diretor tão apolíneo, mas que tão fortemente soube adensar as obras naquilo que de mais importante parece expressar o ser humano. "Quero calma, ordem, gentileza. Só assim podemos nos aproximar do ilimitado". "Nunca me exponho. Observo, registro, constato, controlo. Não sou espontâneo, impulsivo ou simpático." E é quando ele revela: "se por um momento levantasse a máscara e dissesse o que realmente sinto, meus companheiros se voltariam contra mim, me fariam em pedaços e me jogariam pela janela". Não poderia expressá-lo melhor.
Pois no meu grupo "As garotas do Contrera" é essa singeleza que eu busco. Nunca elevando nenhum tom. Nunca determinando de forma acachapante uma verdade profunda em mim. Sempre focado nelas, nas atrizes, e naquilo que é possível expressar com os instrumentos de que dispomos. Odeio o resto. Odeio a confusão. A direção é um trabalho que, longe de ser maçante, precisa de controle soberbo para funcionar e manter tudo o que funciona de pé.
Lindo.
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