Não me recordo bem, mas creio que desta vez fiz minha primeira leitura cênica.
Precisaria me recordar, profundamente, mas não estou em condições.
Então, este sábado foi a primeira vez.
Preciso comentar um aspecto que me deixa confuso.
Fizemos uma leitura cênica de um texto do Buk.
Compreendo a necessidade, para quem lê, de tornar tudo o mais vívido possível. Daí a tentação de encenar o texto.
Mas desde o começo eu permaneci, sem saber por quê, arredio a essa ideia. Não sei por quê, imaginei que uma leitura seria apenas uma leitura, com toda a formalidade possível, em que todo o trabalho estaria na correta e otimizada exposição dos personagens pelas falas.
Mas minhas colegas não tinham essa visão. E pior, colocavam uma empostação ao texto que desde o começo me trouxe real insatisfação. Parecia que as coisas não combinavam. Que o off ficava numa espécie de limbo extremamente formal, com palavras ditas cadenciada e lentamente, enquanto o diálogo pedia abordagens mais, diria, selvagens do que se falava. Nesse contexto, eu procurava, aos poucos, "encontrar" o meu personagem em toda sua, diria, podridão.
Mas havia algo mais que me incomodava. Havia por parte de minhas colegas uma preocupação com a vestimenta, com o gestual, com a reprodução de movimentos que as cenas exigiam, sim, mas que a leitura não exigia. Eu permanecia arredio a cometer encenações que eram pedidas mas que para mim, sem haver me preparado, iriam descambar no ridículo. Moral da história, não fiquei nem um pouco à vontade no métier.
A leitura aconteceu e minhas colegas jogaram o que haveria de melhor dadas as condições. Eu, também. Mas não fiquei muito satisfeito com o resultado. Senti uma parca relação com o chão, com o concreto; senti também que a mensagem, se é que há, em todo o texto acabou se perdendo. Pois os personagens pareceram-me insuficientemente emburacados, e ninguém realmente conseguiu assumir o lugar que se pedia.
Mas foi uma leitura legal. Foi interessante e me despedi esbaforido, que moro muito longe e queria descansar. Eu ando muito acabado. Muito, demais.
Um detalhe:
Nesse tempo todo, nos últimos meses, desde setembro de 2013 para ser exato, acostumei-me ao sistema ao mesmo tempo tranquilo e exigente que o Marião cria e desenvolve nos ensaios das peças que dirige. Nesse sentido, o texto tem um protagonismo claro, as encenações devem seguir parâmetros da direção dos quais não devem fugir - embora se deixe um espaço bem amplo à criatividade do ator -, as marcações são claras e assumidas primeiro pela direção com base no desenrolar do texto e daquilo que se exige a partir dele, as músicas e as luzes são fundamentais no diálogo com os atores. Nesse sentido, eu ESTRANHO que numa leitura alguns dos membros queiram DIRIGIR os outros, sem que isso esteja pré-definido, ou seja, sem que as atribuições sejam dadas. Daí minha REAL relutância em aceitar algo de quem não parece assumir primeiro o seu papel - e isso acontece com todo mundo na minha vida. Colaboradores que de repente se metem a guiar o corpo dos amigos que simplesmente assistem. Algo que me deixa incomodado. Tendo a não concordar, a não me dar como mão de obra, como massa de modelar a quem não dei autoridade para tanto. Daí que acabo sendo chato e irritante. Como se não quisesse que mandem em mim. É errado pensarem isso de mim. Simplesmente quero tudo em pratos limpos. Sem gente querendo montar algo NOS SEUS MOLDES para o que não pediu a minha autorização. Afinal, hoje sei que quem dirige SABE algo mais sobre o texto e sobre o teatro a ser desenvolvido que os outros. E isso o caracteriza como tal. Claro, APARENTEMENTE QUALQUER UM pode dirigir, mas não é a qualquer um que os outros envolvidos mostram admitir obedecer.
Precisaria me recordar, profundamente, mas não estou em condições.
Então, este sábado foi a primeira vez.
Preciso comentar um aspecto que me deixa confuso.
Fizemos uma leitura cênica de um texto do Buk.
Compreendo a necessidade, para quem lê, de tornar tudo o mais vívido possível. Daí a tentação de encenar o texto.
Mas desde o começo eu permaneci, sem saber por quê, arredio a essa ideia. Não sei por quê, imaginei que uma leitura seria apenas uma leitura, com toda a formalidade possível, em que todo o trabalho estaria na correta e otimizada exposição dos personagens pelas falas.
Mas minhas colegas não tinham essa visão. E pior, colocavam uma empostação ao texto que desde o começo me trouxe real insatisfação. Parecia que as coisas não combinavam. Que o off ficava numa espécie de limbo extremamente formal, com palavras ditas cadenciada e lentamente, enquanto o diálogo pedia abordagens mais, diria, selvagens do que se falava. Nesse contexto, eu procurava, aos poucos, "encontrar" o meu personagem em toda sua, diria, podridão.
Mas havia algo mais que me incomodava. Havia por parte de minhas colegas uma preocupação com a vestimenta, com o gestual, com a reprodução de movimentos que as cenas exigiam, sim, mas que a leitura não exigia. Eu permanecia arredio a cometer encenações que eram pedidas mas que para mim, sem haver me preparado, iriam descambar no ridículo. Moral da história, não fiquei nem um pouco à vontade no métier.
A leitura aconteceu e minhas colegas jogaram o que haveria de melhor dadas as condições. Eu, também. Mas não fiquei muito satisfeito com o resultado. Senti uma parca relação com o chão, com o concreto; senti também que a mensagem, se é que há, em todo o texto acabou se perdendo. Pois os personagens pareceram-me insuficientemente emburacados, e ninguém realmente conseguiu assumir o lugar que se pedia.
Mas foi uma leitura legal. Foi interessante e me despedi esbaforido, que moro muito longe e queria descansar. Eu ando muito acabado. Muito, demais.
Um detalhe:
Nesse tempo todo, nos últimos meses, desde setembro de 2013 para ser exato, acostumei-me ao sistema ao mesmo tempo tranquilo e exigente que o Marião cria e desenvolve nos ensaios das peças que dirige. Nesse sentido, o texto tem um protagonismo claro, as encenações devem seguir parâmetros da direção dos quais não devem fugir - embora se deixe um espaço bem amplo à criatividade do ator -, as marcações são claras e assumidas primeiro pela direção com base no desenrolar do texto e daquilo que se exige a partir dele, as músicas e as luzes são fundamentais no diálogo com os atores. Nesse sentido, eu ESTRANHO que numa leitura alguns dos membros queiram DIRIGIR os outros, sem que isso esteja pré-definido, ou seja, sem que as atribuições sejam dadas. Daí minha REAL relutância em aceitar algo de quem não parece assumir primeiro o seu papel - e isso acontece com todo mundo na minha vida. Colaboradores que de repente se metem a guiar o corpo dos amigos que simplesmente assistem. Algo que me deixa incomodado. Tendo a não concordar, a não me dar como mão de obra, como massa de modelar a quem não dei autoridade para tanto. Daí que acabo sendo chato e irritante. Como se não quisesse que mandem em mim. É errado pensarem isso de mim. Simplesmente quero tudo em pratos limpos. Sem gente querendo montar algo NOS SEUS MOLDES para o que não pediu a minha autorização. Afinal, hoje sei que quem dirige SABE algo mais sobre o texto e sobre o teatro a ser desenvolvido que os outros. E isso o caracteriza como tal. Claro, APARENTEMENTE QUALQUER UM pode dirigir, mas não é a qualquer um que os outros envolvidos mostram admitir obedecer.
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