Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2012

saudades do teatro

porra, nem se passou uma semana e estou com saudades do teatro. claro, existem n formas pelas quais podemos curtir o teatro. mas eu gosto da mais óbvia, assistindo as peças - ou ao menos os ensaios. não todas as peças. ando sem paciência para frescuras. fato é que não consigo mais me convencer de que o teatro serve para prenunciar algo, qualquer coisa. como artista que já sou, tendo mais a ver o aspecto formador e de entretenimento do teatro, acima de tudo. formador porque o teatro localiza. ninguém entra ou sai do mesmo jeito ao ver teatro de qualidade. mas sem rir também não dá. ficar apenas pensando, meditando, quebrando a cabeça, não dá. um ou outro experimento formal até dá para aguentar. mas o tempo todo, não. por isso, quem sabe por isso ando meio de saco cheio desse negócio de beckett para lá e para cá. isto é um solilóquio - pois reclamo mais de mim mesmo. um livro recente, ao destrinchar algo do irlandês, me deu um tédio ao encarar novamente os experimentos do cara..

curadorias

nos últimos dias, tenho coçado bastante, pensado bastante e agora começo a retomar as atividades com a cabeça melhor acomodada. ontem, saiu uma matéria na folha sobre curadorias de teatro. apareceram o ruy filho e outros profissionais gabaritados. a questão é a necessidade de curadorias para ambientes diversos. tal como nas artes plásticas. há alguns dias, o gero camilo argumentou, para o ruy, que não haveria peças melhores mas destaques. isso, no caso do prêmio shell. eu concordei com o gero. o ruy discordou. bom, usando a mesma analogia, eu não acredito que haja peças melhores a serem apresentadas. nem grupos melhores. acredito que os destaques simplesmente aparecem. daí que discordo desse negócio de curadorias. claro que minha posição irá me criar inimizades, até mesmo iniquidades. mas tenho aprendido que cada um tem o direito de ter sua própria opinião, sem com isso ter o direito de se arvorar uma opinião mais gabaritada do que qualquer outra. aprendo isso com o marião.

passo a passo

comecei no teatro lendo um texto meu no sesc vila mariana lotado, em peça do queridíssimo gerald. daí fiz algumas outras, quase todas pequenas, quase todas monólogos ou quasi-monólogos. uma eu apresentei para amigos numa escola, outras fiz para as satyrianas, sempre fazendo tudo. até 2011, quando fiz uma peça de outro cara. agora surgiu a oportunidade de f i n a l m e n t e apresentar o monólogo encenado. se der tudo certo, serei dirigido pela queridíssima lê trebbi. pararia por aí se hoje não tivesse finalmente ficado em casa, sem varar a noite desta vez. deu-me vontade de finalmente mandar ver com uma peça longa. ontem mesmo eu vislumbrei alguns caminhos e pus-me a tocá-los. a música na peça é bem importante, influência patente do marião - não só nisso. comecei engatinhando, mas a trama começou meio que ao acaso. está assumindo uma cara legal. fico feliz. para inspirar-me, vi cenas de cães de aluguel e agora resolvi dar uma parada, para descansar e recarregar a bateria - l

a leitura com o igor

não me lembro, não guardei, o nome da leitura do sérgio mello que o igor, amigo do marião, fez com a ajuda do pablo e batata lá no estação caneca. tava lotado, cheio de amigos, conhecidos e acho que alguns desconhecidos. o texto é longo e forte. exige para caralho do igor, que se desembaraça dele aos poucos. foi uma leitura, mas encenada. há trechos em que o igor faz a cena sem ler o texto e outros em que parece deixar-se levar pela emoção, mas que nada, ele a controla. a história é a de um cara de 40 que volta a morar com os pais, desempregado, e com lembranças da filha de 4 anos e do antigo colega de classe que ele zoava e que, por alguma razão, achou que estava comendo a esposa. o cara morre e o sujeito fica com remorsos. não entende o que acontece com ele. termina numa tentativa de entrar em contato. como qualquer psicopata ou sujeito com transtorno afetivo. é um descontrole, quase uma psicopatia, algo que, acredito, é bem difícil de jogar no palco. algumas cenas ficam

os parlapa

lembro que há poucos meses eu passava em frente aos parlapatões, via toda aquela galera reunida, e me sentia um estranho. conhecia um ou outro de vista, via o marião por lá, toda uma galera diversificada e me sentia mal. me sentia, repito, um estranho. fiz várias oficinas este ano. com gente a mais variada. lá do centro, não do centro, gente alternativa, gente nem tão alternativa, participei de numerosos saraus, fui vencendo dificuldades pessoais, crescendo. acabou que metendo-me em grupos diversos, assistindo muita coisa, escrevendo bastante e - mais importante - participando, uma certa noite eu estava lá, nos parlapa, sentindo-me parte de algo que venho conhecendo toda noite mais e mais. lá se vão as noites em que eu estranhava ficar até tarde da noite por lá. agora virou rotina. ontem fiquei até umas 3. hoje até umas 2h30. isso quando não reparo que são mais de 4h50 ou mesmo 6h. muita gente conhecida, muita gente a conhecer, muita gente conhecendo por lá mesmo, oportunidade

Fire in the sky (Malmsteen)

o título é de uma música do malmsteen. não adianta. o cara é brega, totalmente estrela, deve até ser chato, mas eu amo o que ele faz. esta música, a penúltima de magnum opus - olha só o cara -, é para cima do jeito que eu gosto. pois o que me irrita um pouco no gosto que adquiri é o tom para baixo de tudo, ou quase tudo. porra, a vida não tem nada de para baixo, muito menos a minha. nem vou dizer por quê. vocês têm de acreditar. fato é que minha vida também não é o contar e recontar de tragédias. sim, me fudi várias vezes - e a peça do marião, o inferno em mim, tem me feito refletir bastante a respeito, mas no final das contas permaneço aqui presente, com boa saúde, bem instalado, com muitos livros e agora amigos e conhecidos que se reproduzem continuamente. ontem mesmo, no parlapa, criei várias novas ligações e uma puxa a outra, e assim por diante. reclamar, mas de quê? financeiramente, 2012 foi um ano complicado. estou levando uma rasteira de gente à qual prestei servi

verdade

aparece o prelúdio a abril, num dos cds do malmsteen, e desato a chorar. não sei por quê. de vez em quando me vêem imagens dela. mas não é tão frequente. agora mesmo elas não me vieram. mesmo após ler um texto do marião que lembrava de delicadezas do ser feminino. mas é difícil tocar os dias, as horas, os minutos. até mesmo os segundos. de repente tudo pára. não vem mais nada.

a piscina

a piscina do prédio - a maior - domina a paisagem. entro nela num dos cantos e meto-me a refletir - mais uma vez - na vida que acabei abraçando. grana, sempre falta, mas agora tenho todas as condições para andar para a frente, sem medo. medo - principal - de desagradar. o maior problema agora é imaginar se quero realmente que alguém entre em minha vida. pois deixei demais que o outro se intrometesse - como sempre faz, dada minha simplicidade e incapacidade de desagradar (a não ser quando realmente quero e aí me torno um bicho). agora, enquanto escrevo, diversas tarefas me esperam - até a noite, quando irei a uma leitura lá no estação caneca, da dani e do marião. a leitura do livro dele. a leitura de dois livros que consegui com o meu blog de resenhas. a tradução comentada do livro do capucho - que o tradutor espanhol dele me diz precisar. o perfil do waldomiro e do jorge. do henrique, terei de pedir mais, falar pessoalmente, só assim. enquanto isso acontece, enquanto vislumbro t

o livro do marião - acho que 5

digo ao marião que estou no fim do livro dele. ele parece se espantar. chato dizer, mas parte da razão é o tamanho da letra. preciso trocar de óculos e enquanto isso não acontece não consigo ler livros com letras miudinhas. nem fudendo. parte também é minha disposição. tô de saco cheio de seriedade, de histórias com pé e cabeça, de moralengas, de bobajadas. quero textos fortes e ágeis. e mais ainda, quero textos verdadeiros. daqueles que a gente sente por dentro. é lindo notar que não sabemos nada. é lindo notar o quanto perdemos ao não entendermos os universos de gente tão erudita quanto ele. não digo erudita enquanto a erudição entendida pela maioria. a erudição de alguns é a bobagem para outros. de minha parte, aprendi com o marião a se orgulhar de erudição daquilo de que a gente realmente gosta. não há valores maiores nisso que podemos conceituar como vida cultural. cada um na sua. saber de tudo não é saber do que a academia mais valoriza. não necessariamente. não mesmo. c

muito além do jardim ou it's a long way to the top

sem grana para renovar os tickets da 2001, tenho passado as noites vendo filmes de minha coleção. muito além do jardim, do hal ashby, baseado em o vidiota, do jarzy kozinski, do maravilhoso o pássaro pintado, é um de meus favoritos. é claro que vocês conhecem a história. peter sellers faz chauncey garden, sujeito apático que foi jardineiro numa residência de que foi despejado e que galga a confiança de um empresário poderoso e sua mulher, além da do presidente dos estados unidos, com sua inteligência limitadíssima e maravilhosos golpes de sorte e do destino. a simplicidade da história sempre me cativou. as soluções, simples, me fascinam. o jeito simplório de sellers e o constrangimento dos que o rodeiam abre espaço, em mim, para novas realidades. realmente amo o resultado. por que é preciso, para muitos, complicar a vida? desculpem-me, mas eu sou inteligente, sim, mas não consigo captar quase nada de espetáculos que variam os sujeitos enunciativos, as pessoas, destróem simpl

a casa amarela

antes de entrar, vi de soslaio o gero se preparando. pulando, dançando de forma leve, leve. nada na história do van gogh me fascina. ele virou sinônimo do gênio incompreendido e do artista próximo à loucura. assim como artaud. não tenho cultura suficiente para admirar seus quadros como se deve. estranhíssimo que ele não tenha vendido nenhum em vida. a história da casa amarela está no programa, mas eu não o li pela dificuldade da letra, imitando os caracteres cursivos. deu-me uma aflição perceber tanta dificuldade. preferi não embarcar naquela. o gero aparece fora do teatro, no parlapa, e convida todos a entrarem em sua casa. a tal. impossível evitar o deixar-se levar pelas mãos. todos entram contentes, já de chofre, e por alguma razão, talvez por eu estar bem à frente, o gero me dá uma flor, um girassol - verdadeiro -, me pede para que o carregue, e depois, bem no começo, me pega pelas mãos e me "pinta". encaro todos sem saber o que fazer. eu faço parte da peça então

quartos de hotel no parlapa - ainda

fico inquieto quando vejo isso. em dois momentos na peça, houve uma quebra da verossimilhança. a primeira foi quando o batata e a dani cantaram, ao final, hoje é um novo dia, um novo tempo, etc. a segunda, quando o carcarah de repente muda seu tom com a mulher ao celular. não digo que tenha estragado alguma coisa. não estragou. gostei como sempre. mas me deixou um mal-estar indescritível. não sei de onde vem isso. de minha insistência em ver o que me agrada? de estar esperando por algo que pode mudar? não sei. sentirei falta dos personagens. em especial dos do batata e a puta da dani.

cansado

não consigo enfrentar meus dissabores com classe. eles me atingem de madrugada e mal consigo conter a raiva que tenho de mim mesmo, o que me faria acordar, claro, os vizinhos. por prudência fico quieto mas mal me aguentando. hoje suponho que o dia vá ser beeeeeem longo. mas tenho planos para agora à tarde. a autossuficiência alheia me maltrata. tenho inveja dela. ...a gente coloca os sonhos à frente como cenouras na frente de coelhos, mas estes em geral não têm mais fome. ficamos com esse esporte triste e que não leva mesmo a mais nada. "sonhar é para os fracos", diz a manu em "o inferno em mim", do marião. tou com vontade de me jogar na piscina quando voltar para casa, mesmo nesta chuva que enche bastante o saco. sentir frio, eu não sinto mais. tenho me habituado a endurecer a pele nos últimos meses. nada que eu fizesse poderia fazer alguma diferença. é foda admitir, mais ainda aceitar. cansado.

quartos de hotel - primeira vez nos parlpapa

o batata e a ana, sua mulher, levaram-nos aos parlapa. lá conversas bem legais com gente que conheci na hora. jorge, um barrigão inconfundível. morro de rir quando ele diz: na minha época, com 21 nós estávamos em busca de grana e vida boa. hoje, os caras com essa idade estão andando de skate e empinando pipa. porra, e não é? caralho, rio tanto. conversamos a ana, o pablo e eu sobre casamentos - ou com o fim deles. o pablo saiu de um agora há pouco. eu, ainda vou saindo. muito legal, tudo, na boa. arranjo amizade na fila. conversamos depois. trocamos contatos. a peça abre uma distância maior em relação à plateia. rola bem. em dois momentos, fico meio decepcionado. mas foda-se. e daí? rio para caralho. ao final, a conversa. depois o show no noir. vou embora às 5h.

o inferno em mim - o que eu digo, agora

ontem, cheguei cedo ao estação caneca. tão cedo que estava fechado. lá dentro, vim saber depois, estava o batata com o igor - que conheci na hora - ensaiando uma peça do sérgio melllo - que náo conheço. terça haverá leitura - a que irei, claro. peguei meu note e ensaiei assistir um filme - tirar saudade do coração satânico de outrora. mas a certo momento chegaram um cara que falava espanhol com sotaque argentino inconfundível e um outro com olhar triste ou macambúzio que me deixaram irritado. estavam chapados - logo àquela hora. é claro que iriam arrumar confusão - ou tentar, aliás várias vezes. o primeiro tentou se aproximar da manu - que, claro, zangada como é, chamou à chincha e o cara arregou. e não é que o cara me encheu por causa do anel na minha mão esquerda? importa que não consegui assistir nada. foram horas passadas à base de café e breve mas gostosa conversa com a manu. chega o marião e quase senti surpresa. colocou um jazz fudido no som, e tudo foi melhorando a

férias

estou de férias e, como não tenho internet em casa, isso significa que deverei postar bem menos, a partir de agora. mas isso não importa muito. importa que participei do amigo secreto da firma e que me deparei face algumas coisas. ganhei um livro que eu mesmo pedi, do faulkner. eu mesmo jamais havia lido algo dele. nada. peguei o livro (a cidade) e li o começo. boiei. é difícil. exige para caralho. mas isso não importa tanto. importa que lendo a orelha deparei-me face a que ele pensava determinadas coisas. tinha umas certas preocupações. no caso, sobre a sociedade sulista da qual ele sempre fez parte. eu me meti a pensar. legal, mas e eu, algo me afeta, algo diz mais fundo a minhas preocupações? idiota pensar assim, desse jeito. não sou escritor ainda, nem vale a pena pensar nisso. mas o fato é que a mera leitura de algumas frases me pegou. sim, sou escritor, quero sê-lo. e busco meu caminho. tudo ficou claro como água. claro, mesmo. clara, digo, a questão. fique

sem conexões

não consigo parar de refletir. tenho desencavado referências que fizeram alguns de meus momentos passados. mas estes não voltam. nem consigo perceber exatamente o que essas referências geravam outrora e geram atualmente. ficam soltas, essas referências, como se fossem apenas músicas, imagens, percepções, etc. aí entendo. de nada adiantam referências se não conseguirmos criar algo a partir delas. na época, essas referências me atraíam por si sós. não queriam dizer nada. ou, se queriam, eu não entendia. não me metia a refletir ou a vivenciar a partir delas. o blues era apenas um jeito de tocar. o leonard cohen apenas um jeito de cantar. o wolverine pelo frank miller apenas um tipo de personagem. sempre havia e há algo mais, é certo. mas no fundo tudo radicava numa superficialidade atroz. eu não trabalhara ou criara a partir de tais universos. o mesmo aconteceu com o jornalismo, a filosofia, a ciência política, a tradução, o escambau. eu ficara na superfície. interessante - eu

um breve encontro

ontem falamos com mais um diretor, que expôs sua visão e sua proposta. gosto do cara. gostei bastante de um dos espetáculos que ele dirigiu. assisti várias vezes. fico meio acabrunhado contudo, porque vislumbro que eu tenha muitos limites, alguns constrangedores, e que não consiga superá-los. daí minhas apresentações terminarem por ser rasteiras. pergunto se irá dar aula de corpo. não. e de voz. não. quanto mais avanço, mais percebo o quanto acabo ficando para trás. o pessoal brinca com minha ansiedade. sério, sou ansioso demais. mas o que fazer, se sinto a realidade escapando pelos dedos, e nada sendo colocado no lugar? com o teatro, algo acontece. o espetáculo desaparece, é certo, mas permanece sua memória. essa memória é quase sempre inesquecível. ao menos isso levamos da vida. estou realmente cansado de tanta mediocridade neste poste em que amarrei meu burro. e não tenho mais perspectivas. o teatro é quase sempre uma lufada de ar fresco nesse ambiente apalermado, entendem

o guru

o ravi shankar diz que ter um guru é fundamental. ou vários. ele diz que é como ter um anjo da guarda. similitudes. devo ter tido vários gurus na vida. alguns foram pessoas vivas. mas não sei se devo tanto a eles. aparentemente, todo mundo necessita de referências externas. eu não sou exceção. mas até chamar isso de guru ou ter significado similar, vai uma vida. costuma acontecer que eu me negue em busca de ensinamentos. jogo fora aquilo que poderia me indispor com quem está ao meu lado. há um momento porém em que o bicho pega. não sei por que isso acontece. talvez porque cada um tenha que seguir seu caminho. talvez seja por isso. sei lá, acho que acreditar em gurus ou em anjos é acreditar que haja quem tem mais mérito que outros. quando todos somos humanos e, vá lá, experiências à parte, todo mundo passa pelo mesmo - mesmo que não pareça. alguém me disse que meu espírito é jovem. acabou de nascer. precisa aprender. não sei. só sei que, aos 45, me sinto com densidade de 25

são apenas palavras

sairei hoje daqui do trampo direto para uma reunião com outro diretor. não digo quem é. eu já vi peça dele e gostei bastante. e ele é bem simpático. o grupo busca um novo desafio. mas eu não sei o que busco. sei que a grana faz cada vez mais falta. sei também que se eu ficar me subdividindo a rodo não devo chegar a lugar algum. ou seja, preciso de foco. só não sei ainda qual deverá ele ser. ainda não refleti o quanto deveria sobre o aprendizado com a oficina passada - digo, com a do grupo. sei que aprendi muito. sei também que só assim percebi o quanto ainda falta para navegar. mas sei também que não é também tão necessário levar tudo tão a sério. pode-se navegar pelas margens sem com isso deixar de chegar a algum lugar. sinto que os universos - os antigos, esses que deixaram marcas, e os novos, esses que me pegam pelo pé - precisam ser abraçados com ênfase. são os meus universos. são o local onde posso me espraiar. o lugar na praia onde posso colocar a perna na areia. perma

o livro do marião - 4

escrevo o mesmo título só porque reflito sobre o mesmo que o texto anterior. não irei me repetir. mas digo que reflito sobre influências. memórias. imagens. músicas. momentos. momentos que nos constróem, que lá no fundo fazem a trilha sonora de nossa existência. agora mesmo ouço o poema de chausson. eu o descobrira ouvindo rádio. ele tornou-se a trilha sonora do meu amor por um pai descontrolado e em queda livre que parecia não perceber mais o amor que os outros lhe dedicavam - surdamente, mas que apesar de tudo ainda dedicavam. mas minha reflexão não se ateve a isso, mas a questionar, afinal, o que sobrara, em memórias, imagens e músicas, disso que constrói minha singularidade? ou sou simplesmente o repositório de imagens e melodias oferecidas por uma indústria cultural (odeio esta definição, mas é a única que funciona) que me molda à sua imagem e semelhança? posso afinal algo retirar de tudo isso? algo singular que sirva de referência à minha singularidade a que quero faze

o inferno em mim (texto: mário bortolotto) - a enésima vez

à tarde deu-me uma imensa vontade de assistir novamente a última peça do marião. vieram-me à mente cenas, imagens, diálogos, entonações, tudo de que já tanto curti que nem me lembro mais. foi a enésima vez que a assisto. sim, claro, contribui que a cada vez me sinto mais à vontade entre o pessoal. mas realmente eu sentira saudade dos personagens. pena que daqui a pouco eles voltarão a ser o que são - ficção a ser encenada. nem vou falar do que trata a peça porque eu já disse, não tenho a menor vontade de repetir, e nem faço questão de motivar quem quer que seja a vê-la - claro que tendo sempre mais gente fica mais legal, claro. escrevo simplesmente pela curtição de rememorar os personagens. os diálogos. as cenas que me fazem rir, sorrir, sempre, e ampliar, sempre um pouco mais, o entendimento de nosso mundo. sem pretensões. é teatro. sabe, teatro? mas algo mais ficou - de que não fazia conta. em minha vida de 45 anos, houve ao menos três momentos em que tudo, o barco tod

o livro do marião - 3

o livro do marião me coloca umas questões. em certo momento, ele diz que não tem nada a ver com certos filmes, livros, o escambau. que tirou seu universo de outros lugares. tipo - claro - buk, kerouac, cassavetes, etc. uma penca. isso fez-me pensar não em meu teatro - que praticamente não existe, na verdade. fez-me pensar naquilo que realmente aprecio. ou naquilo que me marcou - ou que marca. e não sei. venho postando links do youtube no face para me lembrar de alguma coisa. mas o que sobra é tão parco. não tem densidade, sabem. porra, qual o acréscimo que teria alguém que só ouvia iron maiden? nada contra quem ouvia ou mesmo ouve. não é um universo, realmente. ou é? caralho, quando criança eu dançava cueca, a dança nacional chilena. isso me marcou, realmente? ouço los huasos quincheros e realmente não estranho. são vozes de outrora que fazem com que me sinta bem - embora nem goste tanto da música. como canções de ninar. quando eu era moleque, nossa babá era - até certo ponto - ma

o livro do marião - 2

leio o livro do marião e meto-me a pensar. no começo, por uma opção pessoal, ele passou fome e dificuldades. mas não arregou. era uma questão de opção. uma questão de arte, talvez. tinha amigos. gente na mesma vibe. lia o que podia onde podia e aceitava ajuda. foi montando seu cipoal de referências. diria que nesse cipoal estava também a vida. as experiências com seus comparsas. comparsas é bem colocado. passaram-se 30 anos num átimo e foi chegando o reconhecimento. digo, este veio antes, mas ao que parece sem muita repercussão no íntimo do marião. devia já estar calejado - com as dificuldades e o fracasso (plateias vazias) e o sucesso (plateias cheias). hoje, ele elenca batalhões de amigos e referências. construídas estas últimas na base do desconfiômetro quanto a o quê deve ser a vida. casou-se, no entretempo. 3 vezes. duas de 9 anos. todas malogradas. malogradas? não sei. o livro comenta os anos do furacão, quando se separou mais uma vez e ficava de bar em bar, se esbaldando

a oficina - nonas influências

entrei convidado pela Lê, que conheci na oficina da Fê. ela precisava urgente de mais interessados. estava na merda ($) - como ainda estou. mas ela insistiu e fui lá ver. a primeira cena foi de um estupro. fiquei absorto. adorei. entrei. era o único com experiência - diria - nula. me sentia agitado. era a chance de sair da toca. a primeira cena seria com a lari. problemas de nos encontrarmos. conversamos várias vezes, em vários locais. chegamos em cenas com mais de 2 personagens. deveriam ser 2. me fudi. estava usando a lari de escada. percebi tarde demais. a cena foi fraca. claríssimas minhas limitações. teríamos de tentar novamente. indicação de marcações. não entendia. meu corpo não respondia. quase me fudi. pela primeira vez. primeira de várias. notara que iria ser difícil. só porrada. não desisto.

Uma Mulher Sob Influência (dir. John Cassavetes) - final, afinal

finalmente consegui terminar o filme. foi um sofrimento interminável. cada cena, cada lembrança, uma tristeza enorme a dominar os minutos em que as imagens transcorriam lentas, sofridas, densas, impossíveis. mas o filme termina bem. tanto drama vira nada ao final, embora saibamos que tudo irá continuar como antes. o peter falk não consegue dizer que a ama. ela não consegue realmente se sentir bem. SE sentir bem. mas ao final há as pazes. a realidade pode ser outra. como no caso do meu pai. ou no caso de muitos outros que, diagnosticados, se espalham pelo mundo e andam mal e mal se aguentando. talvez a depressão não seja a doença do milênio. talvez não. mas há algo de errado conosco. há algo de errado em não conseguirmos sentir - como os familiares de mabel mostram - que o mundo alheio é realmente alheio e pode ser incompreensível para nós. sem com isso ser pior do que se fosse maneiro.

teatro

mentiria se dissesse que vejo no teatro toda minha vida. não. eu vejo no teatro a possibilidade de uma nova vida. lembro-me como se fosse hoje das noites que eu passava na coxia de algumas peças do gerald. ele me deixou ficar por lá, eu fiquei calado o tempo todo. lembro-me de quando ele me ordenou a dizer um texto no palco, sesc vila mariana lotado. foi um fiasco, mas um fiasco inesquecível. lembro-me da primeira peça que eu escrevi e dirigi, naquela escola chamada ECAL, na indianópolis. das lágrimas dos presentes, da sensação de desaparecimento, do mando na realidade. claro que ninguém entendeu nada. não tinha o que entender. e das tantas ocasiões que o pessoal dos satyros me deu para apresentar textos próprios. e da oficina da lulu, e da apresentação de bestas mortes. de todo o sofrimento. o marião diz numa entrevista ao abujamra que no teatro é possível dizer tudo. e é verdade. essa possibilidade me atiça e amedronta. pois não quero mais chorar. gostaria de rir, é ce

o livro do marião - 1

eu estava encucado. queria porque queria comprar o livro do marião mas ao mesmo tempo sentia um certo desconforto. caralho, se todos os textos estão no blog. caralho, se estou tão curto de grana. caralho, porra, eu queria mesmo ter a porra do livro. caralho, o que fazer. o marião iria achar engraçado. fui eu lá pagar meu analista. e claro, jogar o meu pôquer com o inferno dentro de mim mesmo. não vou ficar enchendo o saco contando porra nenhuma. só digo que, sério, sério mesmo, tá foda. tava todo mundo lá. o livro lá, com cara da jack daniel's. caralho, que capa. e eu, dividido. porra, e a grana, caralho. tava com sessentinha no bolso e preciso ainda pedir para conectar minha lavadora, porra. mas tava lá a maquininha. o que não fazem esses porras com o dinheiro de plástico. fui lá. e não me arrependi. lá veio o marião e eu, com o livro na mão. lá foi ele autografar. caralho, fiquei feliz. depois li a dedicatória e ainda mais. mas então, fiquei mais um pouco. pois como sempre

breu (áreas coletivo de arte) - 2a vez

não assisto duas vezes peça que não me agrada. então digo que esta me agradou. mas deram-me nos nervos os ofegares (nem sei se esta palavra realmente existe) das interpretações do começo ao fim do espetáculo. e também a relativa artificialidade das soluções encontradas, nos diálogos, para os embates. tipo (alguma coisa)? não. ou sim. (repetição)? não. ou sim. e aí o silêncio. não é esse um silêncio rico, pelo que vejo. pois não dá margem a ambiguidades ou a sentidos que inculcam novos diálogos onde eles não existem. como em outros autores, em beckett, por exemplo. agora reparei na marcação dos movimentos. na relativa artificialidade das idas e vindas. sei lá, algo me pareceu óbvio demais, ou na verdade este espetáculo não deveria ser visto duas vezes ou mais, pois suas soluções perderiam a graça. talvez seja isso. mas, apesar de tudo isso, ele continua agradando. as intromissões dos poemas, da carta de hannah arendt a heidegger, de o mar, simplesmente, criam novas camadas de com

breu (áreas coletivo de arte)

eu havia sido avisado do breu. por isso não foi nenhuma surpresa ser invadido pela dúvida com os movimentos e falas em completa escuridão. mas havia um quê de inusitado nas falas. elas motivavam múltiplas leituras, deixavam muito em aberto. o contato entre as duas personagens se deu num misto de incredulidade e ausência de surpresa. mas o contínuo contato entre elas e suas realidades fazia tudo mudar continuamente de figura. ora elas estavam em contato tentando aproximar-se uma da outra, ora havia uma desconfiança primeva a dominar tudo, e tudo ficava em suspenso, ora essas desconfianças eram superadas pelo novo contato e assim por diante. tomei dois putas sustos que me deixaram com medo. eu não sabia mais o que iria acontecer. havia um medo latente - quem sabe na possível presença de um cão, havia uma quase vontade de sair para não mais sofrer. o susto dominava o medo. o enlace entre as duas personagens, nunca sabendo o que iria acontecer ou mesmo o que estava acontecendo

Uma mulher sob influência (dir. John Cassavetes)

quem já conviveu com uma pessoa psicótica sabe muito bem como é difícil, depois ou durante, sacar o que continua a ser considerado por nós como normal, depois de tantas peripécias que essas pessoas provocam. o filme do cassavetes mostra de forma sutil e muito sensível algo, meramente algo, de tudo o que esses seres provocam. há no filme, nas cenas, e a todo momento, uma tensão subjacente que faz com que notemos que, embora pareça haver algo errado com ela, a personagem, não sabemos o que é, e, mais importante, não sabemos em que direção ela se conduz. é preciso dar um basta nisso, nessa confusão toda que coloca nossos valores sob questão, e para isso é preciso forçar a barra, às vezes. resta um constrangimento geral, mas que é o preço a pagar, sempre. claro que isso ainda pode acontecer apenas com os psicóticos mais, digamos, leves. com os mais pesados, a barra é diferente. o meu pai, no caso, era um caso intermediário - acho. é difícil, para pessoas que passaram pelo que passei

bergman sobre o ator e algo sobre o diretor

bergman sobre o ator: "a partir do momento em que ele se exibe, ele sente uma necessidade intensa de ter a seu lado a presença de uma orelha e de um olho 'corretor' e controlador que o segue constantemente". bergman sobre o diretor (tendo a ver com a frase acima): "aquele que aproveita isso para inculcar certas ideias a um ator, para orientá-lo em qualquer sentido, é um traidor, se vocês me entendem". bergman sobre o ator em relação ao seu momento histórico: "acredito que a falta de interesse dos atores pelas questões políticas e sociais vem, em grande parte, do fato de eles estarem fechados no seu próprio mundo". achei mais isso: bergman sobre gente que escreve "você sabe, existem pessoas que escrevem unicamente para mostrar que elas têm uma opinião sobre tal ou tal assunto".

algumas reações, infelizmente

recebo mensagens de um amigo dizendo que um amigo dele e ele mesmo ficaram chateados com minhas observações sobre um espetáculo deles. confesso que reluto muito sempre que tenho que opinar negativamente de forma mesmo que tênue. o mercado já tá difícil, por que piorar dividindo? viemos para somar, não é? é verdade. todo mundo se dedica para caralho, e só o fato de a pessoa dedicar esforços à arte neste país injusto (para dizer pouco) é lisonjeiro (para dizer o mínimo). é preciso coragem. mas que porra, tem coisa que não dá. EU NÃO COMENTO SOBRE ESPETÁCULOS QUE REALMENTE ME DESAGRADAM - mesmo que saia no meio (aliás, especialmente nestes casos, dado que não vi tudo e não aguentei mesmo). se comento algo que por algum motivo me afetou negativamente é porque acredito que isso possa contribuir de alguma forma. poxa, eu tb me dedico. não posso aceitar abaixar a cabeça quando vejo coisas horrorosas demais. EU JÁ DISSE, QUANDO É RUIM DEMAIS EU NÃO COMENTO. cara, eu sei pouco de teatro e

O Butô - oitavas influências

a lulu pediu para a ana nos dar umas aulas de butô. nem sabia o que era. ela passou um vídeo com imagens estranhas. lentas, pareciam fantasmas. outras com os caras e garotas de olhos virados, sei lá, dava uma aparência de transe. falou de kazuo ono e o caralho. confesso que achei estranho. não imaginava o que estava por vir. fizemos alongamentos específicos. fizemos movimentos específicos. sozinhos e depois em dupla e em trio. de repente, ela coloca a questão de passar energias para. um doador, outro receptor. abrir-se. houve uma ordem específica a que eu dei demais importância. chorava sem parar. era para pensar num ente querido que. bicho, quase desabo. não conseguia praticamente respirar. a ana ficou enviando energia e notei que ela ficou nervosa ao me ver desse jeito. ela fazia o que podia para continuar o exercício, mas o fato é que eu quase me descontrolo. passaram-se algumas aulas e a gente ia se soltando. num determinado momento, a gente devia colocar os movimentos em n

ilha, eu?

legal como gente a mais diversa tem feito com que eu me reaproxime de minhas paixões. a mais recente foi a martha nowill com seu primeiro livro de poemas. outra foi a márcia denser para a literatura nacional em geral e curta, em particular. a dani cabral apresentou-me ao figurino e ainda peno para sacar o visual. a alana lial, pelos convites a saraus e companhia. o bartolomeu, aos sons que embalavam minha adolescência, motown, e todo o ambiente de quem curte o que se escreve e que se fala. ao pessoal do cemitério de automóveis, ao marião em particular, pela paixão pelo teatro simples mas bem feito. a eles também, e em especial a ele, por tudo o que diz respeito a curtir uma boa night bebendo um pouco com gente pra lá de legal. ao roberto alvim, pela história do teatro, e por sempre tentar ir além. à galdino, claro, também. ao diogo granato, pela dança artesanal que ele tão bem defende e que deve virar meio de expressão entre nós, digo, no grupo que já montamos. ao pessoal do r

sétimas influências

oficina literária. não sabia quem era a márcia denser. mas ela foi elogiada pelo francis, o paulo, de boa memória, e com isso e seu talento navegou em águas profundas. entrei sem esperar muito. ela se mostrou de uma gentileza ímpar. entendendo meus atrasos, minha necessidade de cair fora - estava com outros compromissos. ela nos apresentou autores (para mim) desconhecidos ou dos quais não tinha maiores referências. ela me fez ver o panorama de outro ângulo. um ângulo mais amplo. entrou em detalhes de política na literatura. mostrou como é que gente talentosa é (quase) sempre jogada a um canto. mas não choramingou. simplesmente afirmou. e com insistência. e com ênfase. não porque fossem seus amigos. porque sabiam escrever. explicou os diversos gêneros. mostrou atalhos. mostrou tampas de bueiro em que podemos facilmente cair. orientou algo que em váriosas de nós (a turma era quase toda de mulheres) está latente, um certo talento, mas que não trabalhamos (ou dificilmente tr

América, de Andy Warhol

andy warhol andava com a máquina fotográfica para lá e para cá. dele resultaram milhares de fotos. andy warhol era um fanático pela américa. descendente de imigrantes rutenos, ele aprendeu a ver a américa com seus próprios olhos, que eram especiais por abordarem o objeto sem qualquer necessidade de complacência com qualquer crítica. crescendo meio isolado por diversas doenças, warhol acostumou-se a ver o mundo de soslaio, distante, frio até. mas por trás de tanta frieza havia um ser humano compassivo. um ser humano que via a superficialidade, sua matéria-prima, como uma festa do óbvio. américa, seu livro, é composto por textos relativamente breves e pode ser lido em poucas horas. não é um tratado de nada, e os textos simplesmente acompanham as fotos - algumas descritas, mas pode ser algo mais. os textos não versam por temas especiais, nem se propõem definitivos em porra nenhuma. são simplesmente textos que acompanham fotos ou são por elas acompanhados. o livro é isso. lá, warh

A morte de um bookmaker chinês (dir. John Cassavetes, com Ben Gazzara)

john cassavetes era para mim, até agora, mais um nome dessa lista enorme de referências norte-americanas que a gente vê em todo lugar. com uma ressalva, o cassavetes está nos filmes de arte. achei estranho. cosmo vitelli é dono de uma boate lá pelos 70. época romântica em que os nus ainda surtiam algum efeito. a história é simples. ele deve no jogo e precisa matar o chinês do título. pronto. mas a história é bem mais que isso. vitelli, gazzara, é um sujeito atípico. olhar sempre enviesado, parece não se encaixar muito bem no mundo em que vive. precisa da boate como nós precisamos de ar. lá ele é o rei, e um puta rei. as garotas gravitam ao seu redor, e ele, carismático, cai nas graças de uma ou de outra sem que isso interfira em nada do que faz. elas fazem parte de sua família, da família de seu público, de uma família mais ampla, repleta de perdidos, gente estranha, que se junta sei lá por quê. a direção, segura, trabalha esse universo como a gente o vive, quase como estr

O que ela quer (de Martha Nowill)

não gosto da poesia que vejo por aí. não adianta me indicarem um ou outro. acho tudo muito fraco e não me fascina. além do que acho um porre esse negócio de ter algo a dizer. diz logo e não enche o saco, dá vontade de dizer. ah, tem uma experiência interna insuspeitada, legal. guarda para você que tenho mais o que fazer. fui ao lançamento do livro em questão indicado pela marcela lordy, assistente de direção que nos deu uma oficina de cinema. qual a minha surpresa de descobrir que a autora era aquela garota que já vi vezes sem conta em lugares os mais diversos e que eu não soube aquilatar. queria ler algo antes de me dispor a comprar. li e gostei. comprei. ela pôs uma dedicatória adequada: espero que estes poemas cheguem em você! (com ! e tudo) o livro é pequenininho. na capa, como que fotogramas da própria. dá para ver que é ela mesma. com os peitos como diz nos poemas. e os cavalos. e as flores. o telefone e o escambau. o livro tá meio que cheio de erros de rev

Cinema: Ivan, o Terrível - parte 2 (dir. Eisenstein)

a parte 1 terminou com ivan buscando ser reconduzido ao poder pelas mãos do povo que abandonou numa moscou dominada pelos privilegiados. na parte 2, ivan consegue seu intento. volta e assume todo o poder. mas pena a ausência de amigos com quem compartilhar sua vida, seu poder. numa sequência difícil, em que ivan se submete a antigo amigo que virou religioso mas que continua obedecendo os privilegiados, nota-se como o poder está sempre por um triz. mal contam os amigos - normalmente do povo - que rodeiam ivan, pois estes são continuadamente desautorizados quando passam a opinar demais - para ivan. há nesta continuação - que teria ficado inacabada (não noto isso) - três sequências ímpares. primeira, quando vemos ivan jovem sendo defrontado face os representantes das classes abastadas e dos países que bebem da rússia. ivan aparece moço, parecendo uma mulher, sendo manipulado para lá e para cá - as caracterizações dos representantes abastados é completamente maniqueizante - um deles,

sextas influências

fiquei sabendo de uma oficina do diogo (granato) gratuita no sesc pinheiros. a turma era grande, gente ficou de fora. a maioria mulheres. o diogo incorpora qualquer movimento a uma sincronização de regras e improviso, seja individual seja grupalmente. não existe "a" dança. dança PODE SER o SEU movimento. mas para que isso possa acontecer, é preciso o domínio do espaço. ele ensinou como ENTRAR. como romper a quarta parede, olhando para todos e aguentando. como EXISTIR, em suma. com ele encontrei a via da exposição. foi nele que vi o que precisava fazer para entender a entrada no palco. para suportá-la. para dominar a si mesmo e - por que não - os outros. dominar não no sentido de poder, dominar no sentido de fazer-se acompanhar. foram quatro sessões, sempre aos sábados. conheci uma penca de colegas. alguns já dançarinos. outros, como eu, sem o menor - ou quase nenhum - conhecimento. com o transcorrer das aulas, foi-se percebendo onde é que poderíamos chegar. a disciplina

quintas influências

eu nunca dei valor ao figurino. a dani mostra como isso pode ser hostil a um teatro bem feito. após conversas esclarecedoras, pede que se escolha peças para as quais deveríamos desenvolver propostas de figurino. para facilitar, cede textos os mais diversos, de dramaturgos brasileiros ou não, todos nós escolhemos e nos colocamos a pensar. sou defrontado face a sarah kane, que escolho. o assunto dá pano para manga. há desde preocupações estéticas em si, de palhetas de cores etc. e tal, até embarcar no texto em si, localizando-o e estabelecendo paralelos entre os personagens, suas roupas, características outras, etc. torna-se um trabalho profundo, sincero. bolo uma proposta estranha, com palheta sim, mas sem ter como apresentar graficamente fico no texto. estabeleço uma proposta estranhíssima que é refutada. de onde teria eu tirado isso (uma batina com suásticas)? não sei. me envergonho, quase. mas tudo bem. percebo que tenho muito a anotar do meu inconsciente. fico com a vonta

Strindbergman (dir. Marie Dupleix)

a ocasião de comemorar acho que cem anos do strindberg (ou da sua morte, sei lá) e a influência exercida por ele na obra do bergman leva-me a desconsiderar assistir esta peça pelo simples fato de estar tão bem localizada na mente de quem quer algo "profundo". canso desse tipo de postura no teatro "sério". é como se quiséssemos beber da fonte sabendo-nos subservientes não revivendo as experiências nós mesmos mas pegando-as emprestadas de quem já está mais do que estabelecido. após a peça, as atrizes contam como tudo surgiu. mestrado de uma, vivendo as duas em paris. decidem realizar um encontro entre as obras dos dois "juntando" persona de bergman com a mais forte de strindberg. a encenação não é nova, veio de 2009 e já passou por paris e pelo brasil. um estrado móvel (sobe-desce) fazendo as vezes de leito de hospital, lugar de descanso, penhasco. a mais velha, atriz que decide deixar de falar. a mais nova, enfermeira. primeiro no hospital. depois no

Quarenta Peças (de Victor Nóvoa) (leitura encenada)

três peças encenadas pelo pessoal do bartolomeu na série dramaturgias urgentes. ccbb. chego a tempo apenas da última. três personagens costurando. em fila. pequenas encenações de encontros entre estrangeiros (bolivianos, argentinos, que seja) e brasileiros (em geral, brasileiras). encenação da condição de estrangeiro, da falta de confiança dos brasileiros, da situação calamitosa do estrangeiro costurando roupas em condições degradantes para o mercado local. não consigo "entrar" na encenação. algo de cômico-irônico-cínico perpassa a posta no palco. a cantoria de música estrangeira emociona-me por um lado, mas por outro me irrita, pois tendo nascido fora não me considero de fora mas SOU de fora. num certo momento, interrupção e questionamento se, em determinada condição de estrangeiro pedindo para estabelecer contato, o espectador emprestaria seu celular para ele. em geral, a resposta é não. eu respondo sim, até porque já passei por situações similares - não com es

Outubro (dir. Eisenstein)

eisenstein queria reproduzir e por que não eternizar a revolução de 25 de outubro de 1917. há uma ênfase na reprodução do que aconteceu. dos mesmos locais, de mesmas pessoas, de mesmas histórias. tudo aparece e é legendado. vemos os mencheviques em ação, vemos os atentados contra o povo, vemos também a ironia por trás de quem percebe o que acontece. o diretor é abertamente partidário e partidário o resultado. viajo em referências que se perdem no correr da história. não consigo usufruir seja por desconhecimento, seja por incapacidade de decifrar as imagens. o resultado parece irregular, e o triunfalismo final não dá margem a dúvidas: o relato deixa detalhes para fora e inclui detalhes que não conseguem decifrar o que acontece lá dentro. esperava mais.

Ivan, o Terrível - parte 1 (dir. Eisenstein) ou O Olho

os clássicos têm esse poder incrível de fazer-nos ver o mundo sob outros olhos. neste caso em especial, é o Olho que está em questão. a história de ivan, o terrível, vocês podem pegar no wikipedia. importa aqui que deveria ser a obra máxima de eisenstein. a história tem duas partes. a primeira narra a constituição da figura pública e, por que não dizer, do mito. eisenstein queria mostrar o papel fundamental do mito para a constituição da rússia unida. chama a atenção a quase absoluta ausência de interpretação nos moldes que entendemos. o ator que faz o ivan olha fixamente, indiferente ao mundo, altaneiro, como se estivesse morto ou mais vivo do que todos. não me lembro do nome do grupo de privilegiados contra o qual ele se opõe o tempo todo (até a segunda parte). mas nota-se tudo no olhar de quem é filmado. a oposição é definida no olhar vigoroso de quem olha como ameaça. a tia de ivan olha o tempo todo com traição envolta em mistério. ivan vence e é derrotado no olhar.

quartas influências

a fernanda (d'umbra) desenvolveu sua oficina para mostrar de que forma o preparo de corpo e o bem fazer movimentos específicos podem ajudar a promover o trabalho no palco. todos os oficineiros tinham um ou outro problema de coordenação e de desenvoltura no piso de linóleo. a fê explicou como não era necessário mostrar serviço, como o que mais interessava era perceber o efeito da preparação corporal nesses que já eram atores/atrizes ou queriam chegar a tanto. tive bastante dificuldade com algumas das sequências que - vim saber depois - são realmente básicas. mas tudo foi conduzido de forma exemplar. sem cobrança, mas com rigor. ao final, na última aula, pudemos ver, in loco, com iluminação e som, de que forma o bom conhecimento corporal permite atingir níveis expressivos inusitados. algumas pessoas se destacaram, mas qualquer um pôde ver o progresso. guardaria a lição para depois.

Entre (Mímulus Cia. de Dança)

Eu já estava no sesc pinheiros, esperando como fiquei as garotas para montar aquele grupo. Ele foi montado. Irritei-me ao notar que era um espetáculo de dança de salão. Irritei-me com tudo. Em especial com esse jeito “viu como a gente é bom?” e os sorrisos dos caras. E a montagem amadora de “cenas”. Tudo era uma curtição para eles, e a plateia ficou admirando. Menos eu, menos apenas eu, acho. Eu sempre digo “mas a eles não faltava voar”. Eles voavam. O uso e abuso de músicas dos 50, tipo da Etta James, não levava a nenhum passado, não me conduzia a lugar algum. Foram minutos e minutos de irritação rasteira. Mas eis que ao final um dos caras, aparentemente o líder, agradece e comenta que lá fora havia material do grupo. E havia. Os caras dão cursos, oficinas, etc. e tal. Eu, hein. Mas caiu a ficha. Caraio, são artistas. O que posso eu contra artistas – como eu? Seria mais uma bobagem tamanha presunção. Lembro de quando EU fazia dança de salão. Lembro do que é que eu p

não preciso mais de.

terei de admitir uma queda de cavalo. que quebrou minhas pernas (embora eu não seja nenhum cole porter). ontem, teve zapslam lá no sesc pompeia. eu havia me preparado para apresentar uma performance. precisava de um leitor de cd. não havia leitor de cd. fiquei lá em cima sem ter o que falar. falei o que achava que podia. foi uma bobagem. o problema não foi não haver o de que eu precisava. o problema foi minha presunção. afinal, eu podia ter recitado um poema, ou mesmo inventado na hora. mas eu queria mais é aparecer, apenas. saí correndo, precisando tocar o barco. mas aprendi. não preciso mais disso.

Taynakan o que Conta Histórias Indígenas

Os 10 anos do Fomento renderam um festival de atrações dispersas por toda a cidade. A problemática indígena sempre me atraiu. O título da peça dava-me vontade de embarcar em viagens inusitadas. O palco, ambientado no espaço inferior da sede do Redimunho, dividia-se em três. Num primeiro momento, via-se uma figura redonda no centro. Não se sabia o que significava. Ao seu redor, um espaço circular em que os personagens passaram a circular. Atrás um ambiente que separava o que acontecia às vistas de todos de um fundo opaco, em que as personagens passaram a sumir. Taynakan deve ter sido o pajé, que começou com a história do nascimento do mundo. A figura redonda mostrou ser um ser humano sugerindo o começo do mundo na figura de um homem. A figura espalhou-se pelo espaço circular até assumir a figura de um homem de carne e osso. Taynakan continuava contando histórias, relacionando os diversos povos indígenas a povoar a amazônia. Num determinado momento, entra uma figura feminina que

terceiras influências

embarquei na oficina do redimunho desavisado. cheguei tarde no primeiro dia e fui convidado a formar uma roda de gente fazendo movimentos de exercício físico. boiei. alguns movimentos tinham algo a ver com tradição de roda, de enxugar pano, de limpar, etc. pelo que me lembro, fiquei surpreso. fato é que não havia assistido a nenhuma peça do grupo. não sabia em que me metia. com o tempo fui percebendo. e, arisco, negando a influência que se avizinhava. mas os dias e a simpatia do pessoal fizeram efeito. entrei na deles. entendi a delicadeza de lavar o local em que viermos a trabalhar. entendi a relevância de desenharmos o que sentimos. aprendi a curtir o trabalho coletivo. aprendi a sentir o local, suas energias, suas idiossincrasias. com o tempo, fomos criando breves cenas. lembro-me de duas. de uma intermediária, de uma colega comigo, e da final, em que participaram duas colegas e eu. eu fui suficientemente irritante com uma a ponto de ter de pedir desculpas depois. eu me defendi