Pular para o conteúdo principal

o guru

o ravi shankar diz que ter um guru é fundamental. ou vários.
ele diz que é como ter um anjo da guarda. similitudes.
devo ter tido vários gurus na vida. alguns foram pessoas vivas.
mas não sei se devo tanto a eles.
aparentemente, todo mundo necessita de referências externas.
eu não sou exceção.
mas até chamar isso de guru ou ter significado similar, vai uma vida.
costuma acontecer que eu me negue em busca de ensinamentos.
jogo fora aquilo que poderia me indispor com quem está ao meu lado.
há um momento porém em que o bicho pega.
não sei por que isso acontece. talvez porque cada um tenha que seguir seu caminho. talvez seja por isso.
sei lá, acho que acreditar em gurus ou em anjos é acreditar que haja quem tem mais mérito que outros. quando todos somos humanos e, vá lá, experiências à parte, todo mundo passa pelo mesmo - mesmo que não pareça.
alguém me disse que meu espírito é jovem. acabou de nascer. precisa aprender.
não sei. só sei que, aos 45, me sinto com densidade de 25, quanto muito. densidade, é isso aí.
a necessidade de gurus no teatro meio que cansa.
todo mundo quer fazer antunes.
todo mundo gostaria de ter feito zé renato.
todo mundo aprecia o zé celso. tá bom, nem todo mundo.
sei lá.
o marião - ó lá, será que é guru - dá a dica de que seguir o próprio caminho não é necessariamente desconsiderar os outros. é seguir o próprio caminho, e só.
ele acaba de escrever um texto sobre o seminário de que foi expulso e alguns espetáculos oriundos da experiência. oriundo é foda, mas é a palavra.
o texto me acendeu uma luz. a luz de começar a enxergar meu próprio caminho.
pois sim, nessa questão do sagrado realmente trilhei um caminho próprio. talvez meio inapropriado, claro. mas próprio. caminho que eu achava compreensível - ao menos por mim. mas que não o é.
não creio ter sido à toa que minhas andanças pelo blues tenham coincidido, em sua maior parte, pela desconfiança em relação àquilo que via.
não pude ir a evento (leitura). me fudi como já tenho me acostumado.
em vez disso, fui defrontado face a dilemas que venho aos poucos ultrapassando.
não sei o que advirá de tudo isso. quem sabe uma decepção. ou duas.
ou simplesmente a percepção de que seguir o próprio caminho não é fácil.
quem sabe tudo esteja mesmo nisso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c...