Pular para o conteúdo principal

o livro do marião - 3

o livro do marião me coloca umas questões.
em certo momento, ele diz que não tem nada a ver com certos filmes, livros, o escambau. que tirou seu universo de outros lugares. tipo - claro - buk, kerouac, cassavetes, etc. uma penca.
isso fez-me pensar não em meu teatro - que praticamente não existe, na verdade. fez-me pensar naquilo que realmente aprecio. ou naquilo que me marcou - ou que marca. e não sei.
venho postando links do youtube no face para me lembrar de alguma coisa. mas o que sobra é tão parco. não tem densidade, sabem. porra, qual o acréscimo que teria alguém que só ouvia iron maiden? nada contra quem ouvia ou mesmo ouve. não é um universo, realmente. ou é?
caralho, quando criança eu dançava cueca, a dança nacional chilena. isso me marcou, realmente? ouço los huasos quincheros e realmente não estranho. são vozes de outrora que fazem com que me sinta bem - embora nem goste tanto da música. como canções de ninar.
quando eu era moleque, nossa babá era - até certo ponto - mais importante que minha mãe. justi - justina paidil - quase vem ao brasil. mas ficou por lá - não sei por quê. morreu na miséria - eu a visitei pouco antes e tirei uma foto que NÃO CONSIGO ACHAR. houve época em que refleti a respeito. mas a dor é tanta que geralmente prefiro esquecer. ou fingir que esqueço.
o marião não tá nem aí. ele conta a vida como quem pisa o asfalto. não se preocupa com nada, aparentemente. quer aproveitar a vida naquilo que ela - quase sem querer às vezes - lhe oferece. como seus heróis. sim, tenho algo a ver com alguns de seus heróis. heróis? sei lá.
é gostoso para caralho ler as microhistórias que ele transcreve sobre seus amigos, com seus amigos, com alguns inimigos, com gente escrota, com gente legal, gente que se foi. há tempos eu não lia de forma tão prazerosa - e olha que sou chato para caralho. bom, isso vocês já sabem.
vez ou outra o marião fala lá no face algo sobre atitudes que lhe desagradam.
é triste admitir, mas às vezes eu me sinto na pele dos babacas que ele prestidigita. "prestidigita" estará certo? procurei e aparentemente não tem nada a ver (ilusionista). mas lá no fundo pode ter.
então, é chato, mas é claro que por algum motivo eu pareço não saber viver - como muitos babacas que vejo por aí e com os quais (creio) não me identificar.
então entro numa microcrise. no fundo, foda-se. preciso aceitar a vida como ela aparece. mas também não podemos nos render. se fazemos algo insuportável, temos de nos corrigir. ao menos penso que viver também é isso.
sei lá.
sinto na verdade que as andanças do marião me trazem à mente, e cada vez mais, as jornadas de um homem comum rumo à aceitação do destino ou da santidade.
mas como eu devo ser tão inapto como o cioran nessa busca, acho que páro por aqui.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c