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O que ela quer (de Martha Nowill)

não gosto da poesia que vejo por aí.


não adianta me indicarem um ou outro.

acho tudo muito fraco e não me fascina.

além do que acho um porre esse negócio de ter algo a dizer.

diz logo e não enche o saco, dá vontade de dizer.

ah, tem uma experiência interna insuspeitada, legal. guarda para você que tenho mais o que fazer.

fui ao lançamento do livro em questão indicado pela marcela lordy, assistente de direção que nos deu uma oficina de cinema.

qual a minha surpresa de descobrir que a autora era aquela garota que já vi vezes sem conta em lugares os mais diversos e que eu não soube aquilatar.

queria ler algo antes de me dispor a comprar. li e gostei. comprei. ela pôs uma dedicatória adequada: espero que estes poemas cheguem em você! (com ! e tudo)

o livro é pequenininho.

na capa, como que fotogramas da própria. dá para ver que é ela mesma. com os peitos como diz nos poemas. e os cavalos. e as flores. o telefone e o escambau.

o livro tá meio que cheio de erros de revisão. mas vamos ao que importa.

a martha devolveu-me o gosto pelo inusitado.

seus poemas, não todos, quebram as pernas. vão aonde não esperamos. parece haver sempre uma surpresa à frente.

ou são diretos. curtíssimos. definitivos.

dá para notar que ela se apresenta. ela diz o que ela quer.

deixo a citação de trechos para a ivana arruda leite, que faz uma orelha.

meto-me a lembrar o que senti ao lê-los, aos poemas.

tudo começa com o nascimento, não é mesmo? ela nos conduz ao bosque em que cresceu. em quatro breves estrofes. só.

em seguida se mete a contar produtos químicos. sim, mas é por meio deles que ela nos apresenta a si mesma e às suas particularidades. o aspirar gasolina - que me leva à mesma sensação. o ardor do primeiro desodorante. e por aí vai.

há reminiscências à mãe, aos homens que rondeiam, às inseguranças e inadequações - ou busca de adequações - no inadequado, olha só.

há o correr de estrofes que guardam segredos e que nos fazem sentir, não lendo algumas frases rasteiras, mas entrando em intimidades restritas. sentimos a pessoa atrás delas. guardamo-la conosco.

há poemas dispensáveis. especialmente os facilmente decifráveis. ou aqueles que fazem uso claro de livres associações - que porre, isto. mas em geral são estrofes expressivas. que começam no meio de situações. que concentram aspirações inalcançáveis. veja-se por exemplo (não resisto e me desdigo) "até então/ eu não tinha sofrido de amor". não é lindo? só isso. (e tudo a ver comigo, hoje).

o poema que dá nome ao livrinho é quem sabe o melhor de todos. longo, mas não muito, o suficiente para manter a surpresa. para reter a saciedade inalcançável do sentido decifrado.

pela surpresa de alguns recursos, supro-me de um gosto há bastante tempo perdido.

e pela referência a situações comuns a todo homem/mulher adulto meio perdido (quem não está?), em companhia.

não costumo elogiar livrinhos de poucas palavras. mas é bom. é, sim.

a editora é a edith.

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