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Mostrando postagens de março, 2013

Emoção

Adianto a vocês que li brevíssima peça de autor aqui por enquanto relativamente desconhecido e fiquei emocionadíssimo. Quase chorei quatro vezes hoje. A emoção de encená-lo?

Estatísticas - Março de 2013

Uma conexão: A Máquina de Dar Certo e Jan Fabre

Estou numa sinuca de bico. Vi, no sábado, "A Máquina de Dar Certo", da Cia. Bruta de Arte, no Teatro Martins Penna, na Penha. Eu já deveria ter escrito a respeito mas a encenação levantou uma bola que não tive tempo ainda de aferir com precisão. A bola é uma conexão entre essa peça e The Power of  Theatrical Madness, de Jan Fabre, que vi há alguns meses no Sesc Pinheiros. Uma bola que pende para o nosso lado. Eu me lembro - li o que escrevi - que saí da peça do Fabre dividido quanto a se aquilo era teatro ou mesmo quanto àquilo que eles passaram, ou tentaram passar. Naquela peça, atores, todos muito belos, repetiam datas, relacionavam-se a respeito delas, matavam rãs, faziam de cachorro, encenavam um corte de cabeça, corriam até não mais poder, etc. Nesta peça, ou seja, em A Máquina, personagens com números são condicionados a agradar um poder que os mantêm presos ao palco, que não dá as caras e que não os deixa em paz. Só isso. Os atores têm perfis diferenciados. Andam

Sobre peças e peças

Hoje à noite tem uma peça do grupo Lume lá no Memorial da América Latina. De graça, a peça já foi muito elogiada em todo canto. Mas não estou muito motivado a ver peças por aí. E olha que amanhã vou à Penha ver uma outra. Estou com falta de introspecção. De embarcar em viagens internas. Talvez por isso mesmo eu esteja também reacionário a relações de amizade ou de amor. Creio querer avançar nesses campos, mas me sinto pouco à vontade. Preciso dialogar com meu íntimo, primeiro. Noite dessas fui me aproximando de alguém mas algo em meu íntimo me questionava, por quê? o que você quer MESMO? As peças escritas e os livros em geral fazem-me girar em meu próprio eixo. Ontem peguei as memórias do Isaac Bashevis Singer numa banca e me senti avançando nessa direção. Não comprei o livro porque posso encontrá-lo MUITO mais barato em sites por aí. Logo devo comprá-lo em um desses sites. É a tecnologia. Estou sumamente cansado de estar do lado de cá, na platéia. Quero entrar no palco,

Eleição para a Cooperativa Paulista de Teatro - 2013 / Propostas das chapas Acordes e Berro

Para contribuir na eleição para a direção da Cooperativa Paulista de Teatro, na gestão que se inicia em 2013, faço a seguir um resumo das propostas das duas chapas concorrentes, Acordes e Berro, a partir de documentos oficiais delas. No caso da chapa Acordes, utilizo o documento impresso "Propostas para uma Cooperativa Paulista de Teatro que represente a diversidade de pensamento dentro das Artes Cênicas", conseguido na sede do grupo Redimunho, e para a chapa Berro utilizo o conteúdo do link Propostas, do site www.chapaberro.com, coletado no dia 21 de março de 2013. Os critérios para os resumos são os seguintes: - Coloquei as chapas em ordem alfabética. - Não modifiquei a ordem dos itens, nos documentos; só resumi o conteúdo. Em alguns casos, transformei um parágrafo dos documentos em vários itens, na intenção de não jogar fora conteúdo relevante. Tentei não colocar justificativas, só os itens respectivos. - Não coloquei títulos nos itens. - Tentei dispor as propos

Hamlet, ser ou não ser

A primeira vez que assisti a Hamlet foi quando eu estava no então colegial. A presença do espectro me surpreendeu. Nunca iria imaginar que o teatro viesse a ser tão importante em minha vida. Hoje tenho um exercício a fazer com o Ser ou não ser de Hamlet. Percebo que ele é repleto de reentrâncias, buracos a preencher com acepções de fala, dúvidas quanto àquilo que efetivamente o bardo queria dizer - e disse. Não estou dizendo que o (breve) monólogo tem "buracos". Digo que eu, como ator, preciso preenchê-lo para conseguir dizê-lo de forma a que consiga me convencer - e aos outros. Esse exercício mobiliza, em mim, energias que preciso retirar lá do fundo de minha psiquê. Recursos que, diria com certa convicção, quase nunca utilizei. O monólogo está aqui em minha mesa, e me provoca. O teatro leva a direções insuspeitáveis.

Hotel Lancaster (de Mário Bortolotto, direção Marcos Loureiro) (4a vez - acho)

Eu estava ontem conversando com o Loureiro, nos intervalos da oficina, e ele me contou algo das opções a que a peça fica sujeita a depender de onde é encenada. Neste caso, foi na sala 2 do CIT-Ecum (acho que fala Écum), lá na Consolação, em frente ao Cemitério. Ele diz que a peça surgiu pela primeira vez numa sala tão ampla como a desta vez. Por que isso é tão importante? Porque aconteceu que eu acabei me perdendo, desta vez. Mexia meu olhar para aqui e acolá e não conseguia uma visão geral que me fizesse entrar na peça sem dificuldade. Moral da história, acabei permanecendo de fora. Essa sensação atrapalhou a curtição de ver os atores se esbaldando com, de certa forma, as caricaturas que vi novamente em cena. Não importa muito. Aconteceu porém que meu queixo caiu ao ver a Tereza Piffer fazendo a Lola. Inacreditável. O personagem bateu de tal forma que não consegui deixar de olhar para detalhes dele, quase a todo momento. Aconteceu também que, ainda mais uma vez, fui arrebatado

Mulheres, de Charles Bukowski (adaptação de Mário Bortolotto, direção Fernanda D'Umbra) (7a vez)

Muito bem, assisti então pela 7a vez a peça do Grupo Cemitério. Com duas mudanças de elenco. Mas com tudo praticamente do mesmo jeito. O que dizer, agora? Eu me convencia que queria ver novamente a peça para conferir as mudanças. Não era bem verdade. Algo no jeito que o pessoal do Cemitério tem de encenar os universos próprios e alheios me encanta. É um certo realismo, sim, mas é também um espaço à loucura. Explico. Os personagens de Hotel Lancaster, do Marião, são tudo menos "normais". Todos em busca de pico ou de grana ou de poder. A exacerbação vem de parte do Odusvaldo, feito pelo Napão, drogado em completa assintonia com o ambiente. Ou sintonia, quem sabe. Algo no Odusvaldo me fascina. Não consigo conceber mais o ser humano em sua normalidade. Talvez seja isso inclusive o que me afasta de encenações realistas com base em dilemas comuns - mesmo que muito importantes. Na peça do Bukowski, a assintonia está com a Tammy, interpretada pela Samya Enes. A Tammy, como e

Senhorita Júlia (dir. Eduardo Toletino de Araújo, Grupo Tapa)

Li esta peça há alguns anos, no início dessa que iria ser uma profunda imersão em peças e livros de e sobre teatro. A história causou-me uma impressão indelével, mas a li sob um ponto de vista de classe. Jean, o criado, seria um sujeito que utilizaria sua postura histórico-social com respeito ao outro sexo para galgar degraus de classe, ou seja, para sair de seu lugar subserviente. Júlia, a senhorita do título, seria a bola da vez. Cristina, sua noiva, a trajetória natural para gente de sua classe. Mas como não poderia deixar de ser Strindberg é algo mais que isso. Como a Gabriela Mellão disse na Folha esta quinta, Strindberg foi fruto de uma relação malfadada entre classes (no caso, a mãe, uma criada, e o pai, um aristocrata) e sua relação com o outro sexo nunca foi de certa forma bem resolvida. A peça retrata esses embates, entre classes e entre sexos. A Gabriela destaca, na Folha, que o Edu diretor do Tapa usou a criada Cristina de forma inusitada, como um outro relevante em to

Canção Inacabada/ A vida e a obra de Victor Jara, de Joan Jara (Record)

Victor Jara desde sempre constituiu em minha vida uma presença estranha. Eu sempre soube que ele fora importante. Sempre soube que ele morrera torturado pelos pinochetistas. Sempre soube que suas origens populares traíam a sua postura política - muitas vezes contrária à maior parte de minha família, classe média remediada morando em bairro de classe militar - e rica (sem contar o ramo paterno de minha família, de ascendência escocesa e morando no bairro de classe média alta de Ñuñoa, em Santiago). Mas nunca me dera o trabalho de ir atrás de informações sobre ele. Comprei o livro num sebo e digeri ele de uma vez só. Por enquanto faltam algumas poucas páginas, sendo que não sei bem por que não o concluí. Deve ter havido uma razão especial para isso. Victor Jara foi um compositor/cantor/ator/homem de teatro/artista chileno nascido em bairro pobre que pelo próprio talento e postura ética/política galgou degraus importantes na arte do seu país e até no exterior, o que o levou a espalha

A Máfia no Divã (dir. Harold Ramis)

Fazia anos que não assistia esta comédia, responsável por retomar minha terapia - algo que agora quero abandonar. Vitti (De Niro) é um chefe de máfia novaiorquina que passa a sofrer de ataques de pânico e de choro e que consulta um psiquiatra/psicoterapeuta (Crystal). De Niro e Crystal no melhor da forma fazem desta comédia despretenciosa um prato cheio para aqueles acostumados a filmes de gângsteres que querem rir um pouco. Vitti, no caso, é claramente inspirado em John Gotti, que morreu doente na prisão (aliás, poucos sabem, mas Capone morreu também doente - no caso, louco - na prisão). A direção é leve, bem conduzida, e os diálogos, impagáveis. Ficaram em meu folclore pessoal. Poderia descrever-lhes em detalhes todas as gags, os cortes mal-feitos, os diálogos insuficientemente traduzidos, as expressões mais livres, tudo. Muito mais, comparando, do que no "Donnie Brasco", que eu já comentei por aqui. Não é segredo que permaneço comentando filmes antigos e mais do q

Teatro ou morte

Entrei na lide do teatro por email. Foi por email que conheci o Gerald (Thomas) e que ele se comoveu. Depois conheci ele pessoalmente e ele me deixou assistir aos ensaios de suas peças. O resto é história - não vou ficar me estendendo, que é muito chato. Lembro-me de quando ele me jogou aos leões - no palco do Sesc Vila Mariana, lotado. Foi um fiasco, pela avaliação comum. Para ele, foi lindo. Para mim, foi tudo. Lembro-me como se fosse hoje. Vi o palco todo vazio. Entrei e vi vultos de cabeças. Não consegui enxergar ninguém. Na verdade, olhando mais de perto, vi. Quebrei a quarta parede. Pela primeira vez no palco, fiz o que não deveria ter feito. Hoje o lugar no mundo em que me sinto mais à vontade é no palco. Mais que em casa - e tenho casa. A última vez que pisei o palco - num teatro - foi no Parlapatões. Na Bestas Mortes, da Lulu Pavarin. O tempo, lá, pára. A gente faz o que tem de fazer - mas o mundo poderia acabar que não faria a menor diferença. Estamos numa cápsula, e a

A última (até agora) temporada do velho Lanca

"Hotel Lancaster", clássico cult de Mário Bortolotto, faz vinte e um anos em cartaz. Não direto, nos mesmos lugares, é claro. O velho Lanca, como é chamado pelos íntimos, está há exatos vinte e um anos circulando por teatros de perfis os mais diversos localizados, a maioria deles, no centro da capital paulista. Agora encerra a temporada no recente CIT-Ecum, complexo com 3 teatros localizado bem no meio da Avenida da Consolação, resultado do investimento de atores e empresários do setor. A penúltima temporada do velho Lanca passou-se naquilo que iria se tornar o recente Teatro Cemitério de Automóveis, na rua Frei Caneca, próximo ao CIT-Ecum. O teatro Cemitério é o resultado de uma parceria entre Bortolotto e a atriz e empresária Danielle Cabral, que compraram o ponto super bem-localizado e no qual desenvolvem uma agitada maratona de peças, shows, oficinas, etc. (eu mesmo fiz várias destas últimas e assisti n vezes todas as peças em cartaz). A trajetória do velho Lanca con

aqui e em outros lugares

eu escrevo continuadamente aqui e em mais dois blogs meus: o blogderesenhas e o comentariosdocontrera, ambos do blogspot.com. tem também um sobre cinema e mais 70 deles, mas deixa pra lá. o ruy filho também costuma me convidar para colaborar na revista virtual antropositivo.blogspot.com, e lá também boto minha pegada. mas agora achei outro lugar, a revista virtual - e, a partir de abril, física - da viciosa trupe, lá em minas. a iniciativa tem uma comunidade no face, terá um site, um fanzine e a revista em si. pretendo me meter em tudo o que for possível. tenho uma "audiência" razoável. todo dia anterior ao primeiro do outro mês eu coloco um gráfico do blogspot com as estatísticas, e vocês podem ver que a coisa tá andando. mas preciso porque preciso espalhar tudo o que faço, e não sei bem por quê. além do teatro, tenho outras paixões que não têm nada a ver com ele, e quero me espalhar nelas para um dia, quem sabe, escrever em tudo que é canto sobre aquilo que amo.

Sobre opiniões

Vou me meter agora a falar uns negócios sobre opiniões sobre peças de teatro. Na oficina que começou, de repente o pessoal começou a falar sobre as peças do Marião, gosto mais daquela, esta sei lá não me pegou, ah, mas essa é bem legal, ah, mas essa dura muito, sei lá. Tudo bem. Cada um tem a sua opinião. Ocorre que na hora eu sentia que o pessoal queria fazer sua opinião valer mais do que vale, ou seja, apenas uma opinião. Peguei a palavra e disse que vi 4 vezes aquela, 4 esta, 7 esta outra e 6 esta última, que vou ver mais uma vez. Daí eu disse, sei lá, caras, sempre vejo algo novo, eu aprendo. O Alvim disse uma vez no curso que ele dá no começo do ano, gratuito, que vez ou outra encontra alguém que, do alto de sua sabedoria, se mete a dizer, com todas as letras, ah, mas essa peça não é boa, ah, essa sim, é boa. Ele diz que em engenharia ninguém assume essa postura, por exemplo. Porra, ele diz, em teatro é preciso estudar, saca, é preciso aprender muita coisa, como é que o c

de volta à labuta

ontem retomamos, o grupo todo, as atividades da oficina que ano passado rendeu bestas mortes, de lulu pavarin. quase metade do pessoal é o mesmo. há alguns novos, mas conhecidos de uns e de outros. sinto o cheiro do local e tudo vem à minha mente novamente. muita saudade. agora o responsável é outro. diretor cujo trabalho eu aprecio bastante e que se mostra, sempre mais, uma pessoal extremamente gentil e perspicaz. rola uma certa bagunça durante a primeira aula e isso me irrita um pouco. não quero o clima de colegial, aqui comigo, não. nem de faculdade de má qualidade. eu busco orientação e disciplina. ferramentas para que eu consiga retirar o máximo de mim, sempre percebendo que sem trabalho conjunto nada funciona. fizemos umas brincadeiras para passar uns recados e a montagem de uma microcena. muito legal. quem tem jeito já mostra a que vem. eu levo, como sempre, algo a mais para me expor. vamos jantar no planeta e metade da turma, super à vontade, curte os momentos qu

Donnie Brasco (dir. Mike Newell), baseado em Donnie Brasco/ Minha vida secreta na Máfia, de Joseph Pistone

Lembro-me de que certa noite deparei-me com o livro do ex-agente do FBI numa livraria na Brigadeiro Luís Antônio e que comecei a lê-lo em pé, lá mesmo. Quando o concluí, o comprei. Foi um dos livros que eu li com maior atenção na época. Depois saiu o filme e lá fui eu ver a adaptação. O livro tem um negócio que não sai de mim que é a ligação por amizade entre Sonny Black e o agente. Ao final, o agente sai, o FBI comunica a máfia, os caras se conformam mas, como de praxe, matam quem de direito - e os outros que não matam acabam virando ratos, ou informantes em outras palavras. Sonny Black, que era capitão, foi morto poucos meses depois de forma bem cruel. O filme dá todo um realce a Lefty Ruggiero, que foi o responsável pela entrada do agente na família - e que virou rato, mas que não foi um grande amigo do agente. Lefty é encarnado por Al Pacino. Ao final, Lefty é morto. A questão da amizade permaneceu no filme, mas deturpada. Nunca mais vi filme ou livro algum que aprofunda

Sensações (A propósito de alguns filmes de Michael Mann)

Há cineastas que me enchem os olhos. Há outros que me convencem pela proposta. Mas há um, em especial, que sempre é lembrado pelo artesanato de seus blockbusters mas que me convence por outro motivo. Esse cara é o Michael Mann. Não tenho tudo dele. Em especial, atrai-me Heat, que assisto sem parar. Mas agora assisto Colateral e me veio uma reflexão em especial que gostaria de compartilhar com vocês. Todo mundo sabe como é a sensação de se ferrar. De saber que não adianta reclamar. Não adianta reagir. Não adianta fazer nada. Simplesmente se está ferrado e dá aquele friozinho na barriga pelas consequências. Ou uma sensação física de preocupação - um friozinho expresso em leve suar no pescoço. Bom, essa sensação está em Heat. O momento é quando Van Zant recebe a mensagem de Neil dizendo que este fala com um telefone mudo porque quem está do outro lado está morto. A câmera então capta o rosto do ator, do lado esquerdo da tela, olhando para um interlocutor suposto - o Benny, guarda-c

A busca pelo próprio caminho

Todos nós nascemos sozinhos e morreremos sozinhos. Há anos, quando vi uma foto de um casal se jogando de uma das torres do WTC, achei que era a via que eu devia mostrar, não ao mundo, mas a mim mesmo. Daí o título de minha primeira peça, Somente uma pequena prova de amor. Na época, eu vivia uma crise em meu casamento que iria levar, sem que eu percebesse muito bem, ao seu fim. Ainda hoje não entendo muito bem em que rumo me guiaram os meus passos. Só sei que escapei. É como eu me sinto. Tendo escapado. Preciso encontrar a mim mesmo, pois sinto que não tenho substância suficiente sequer para morrer sozinho. Preciso me bastar. Não posso continuar me dizendo que não sei o que faço. O teatro é a via que encontrei para procurar a mim mesmo. Pois é isso o que busco. Não me interessam conquistas, mensagens, obras. Quando falo que quero deixar obra me dá uma certa sensação de falsidade tão logo o digo. O que quero mesmo é poder dizer para mim mesmo: "É isso!" Se algo ficar,

Sobre peças, artigos e teses

Eu não desmereço, no entendimento das milhares de peças que nos rondam, clássicas ou contemporâneas, do esforço dos acadêmicos. Vá lá que muitos deles são muito chatos. Isso é certo. Mas a argumentação racional, mesmo com os encômios que ajudam a esconder muitas questões, tem também sua guarida em tudo o que acontece no teatro. Tenho encontrado diversas teses na web sobre peças contemporâneas. Às vezes eu nem tenho estas últimas e tenho em mãos as teses. Artigos também ocorrem às centenas. Pois bem. Em que medida eles contribuem para a leitura? Ainda não sei. Sei apenas que eles ampliam as questões, que às vezes nem se dão por solucionar. Ou seja, complicam. Isso poderia falar contra eles mesmos. Mas não é o que eu vejo. É interessante reparar em que medida aquilo que parece superficial numa primeira leitura envolve em seu entorno questões complexas que têm a ver com universos em que podemos entrar somente com certa iniciação. Não busco simplicidade. Busco profundidade. Mas ta

César Deve Morrer (dir. Irmãos Taviani)

Estava perto da Augusta. Parei no Espaço Itaú e vi o cartaz com os atores. Gostei, achei que fosse algo tipo Gladiador e entrei. O começo causou-me uma estranheza, ao assistir homens mal-encarados recitando um texto como no teatro. Bruto morto, o espetáculo acabou, ele resssuscita e os atores agradecem os aplausos. Um grito de triunfo. Sou encaminhado ao quê da peça. Eles são detentos. Alguns ligados à máfia. Outros em perpétua por outros motivos. Fazem testes para atuarem em Julio César, do bardo. Os testes são engraçados. Os tipos, inesquecíveis. Estamos face a homens condenados. Que tentam papéis de destaque na produção. Os papéis são atribuídos, eles começam o trabalho. Reunião de direção, ensaios das primeiras cenas, tudo vai se encaminhando. O final não importa, até porque fora dado de antemão. Importa é a intromissão da ficção na realidade e curtir a acepção dada pelo bardo aos personagens. Entendemos por que César acaba se tornando um personagem menor face o inquieto e

Próximos posts

Sobre: "César Deve Morrer", filme dos Irmãos Taviani. Quem quiser ler já algo a respeito, procure a coluna do Eduardo Escorel, acho que no Estado. "Suite 1", peça de Philippe Minyana. Demoro com este texto porque leio teses a seu respeito.

A Moratória (de: Jorge Andrade, pelo Grupo Tapa, direção Eduardo Tolentino de Araújo)

Fiquei sabendo da montagem do clássico de Jorge Andrade pelo Estadão. Quase fui à prévia que eles deram no Itaú Cultural, mas iria ficar para a última apresentação. Aconteceu no Viga. Lembro-me de haver lido o texto há vários anos. Na época, ele me deixou uma forte impressão. Não é fácil lidar com a gravidade da situação dessa família, envolvida face à decadência das fazendas de café, e, ainda mais forte, a um correspondente imaginário em absoluta derrisão. É patente para nós esse sentimento de inutilidade e completo desmembramento por parte de quem foi pego por um passado fortemente arraigado e que não conseguiu acompanhar o tempo, a história, a vida enfim. A trama é relativamente simples: o pai (cujo nome me escapa, que coisa) foi fazendeiro de café e espera a decisão judicial quanto àquilo que deverá ser feito de sua antiga fazenda, imersa em dívidas. Ele é ladeado pela mulher submissa, pela filha realista (a única que trabalha para ganhar algum dinheiro de forma constante), pe

A Nossa Gata Preta e Branca (dir. de Tiago Leal, de e com Cléo de Páris e Maria Casadevall)

Fui convidado pela Cléo há várias semanas para ver a peça que ela bolou com a Maria, que tanto arrasou em Roberto Zucco - eu comentei isso naquela época. Eu tava meio sem grana e não pude confirmar. Esta semana ela mandou mensagem sugerindo esta sexta, mas ia haver reunião de condomínio - eu sou conselheiro - e têm acontecido muitas coisas horrendas aqui nestes prédios - eu precisava dar uma força. Mas a reunião foi bem conduzida pela síndica estreante, as coisas acabaram cedo, saí correndo e pude assistir - com ingresso amigo, pelo menos. Confesso que ando um pouco cansado com experimentos teatrais que misturam vida e arte. Isso apesar de haver assistido e gostado ao último deles, o O Inferno na Paisagem Belga, também de Os Satyros. Eu mesmo fui e ainda sou muito afeito a misturar alhos com bugalhos, mas sinto admitir que muitas vezes os autores optam por essa saída por comodismo. Ao invés de enfrentarem a ourivesaria de se fazer uma peça com perfeição, optam por abrirem as própr

Os Desvãos Cioran ou Mansarda em Paris com vista para a Morte, de Matéi Visniec (É Realizações Editora)

Deparei-me com este livrinho ao passar despreocupado na Cultura do Conjunto Nacional. Ele faz parte das obras completas do autor, lançadas pela mesma editora. São 19 (ou 14, não me lembro bem) livros no total. Todos pequenos e finos (este tem 101 páginas). Visniec é romeno e vive na França. Diz ter cruzado com Cioran duas vezes. Em uma delas, apertou sua mão. Afirma que o filósofo é, para ele, uma pessoa desconhecida, o que não o impediu de criar a peça e de ambientá-lo (ao filósofo) em meio a situações estranhas. São 15 cenas. Todas curtas e em geral ambientadas num palco em que lá atrás passam imagens que se esfumam no ar. Cioran aparece em todas elas. Um Cioran velho com Alzheimer, na maioria das ocasiões. Mas também um Cioran jovem, com 22 anos, absolutamente desprovido de bom senso - característica que iria constituir boa parte de sua vida. A peça não se propõe colocar Cioran a falar de si mesmo. Nem muito menos de seus escritos. O que Visniec faz é, por meio de situações (