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Hamlet, ser ou não ser

A primeira vez que assisti a Hamlet foi quando eu estava no então colegial. A presença do espectro me surpreendeu.


Nunca iria imaginar que o teatro viesse a ser tão importante em minha vida.

Hoje tenho um exercício a fazer com o Ser ou não ser de Hamlet.

Percebo que ele é repleto de reentrâncias, buracos a preencher com acepções de fala, dúvidas quanto àquilo que efetivamente o bardo queria dizer - e disse.

Não estou dizendo que o (breve) monólogo tem "buracos". Digo que eu, como ator, preciso preenchê-lo para conseguir dizê-lo de forma a que consiga me convencer - e aos outros.

Esse exercício mobiliza, em mim, energias que preciso retirar lá do fundo de minha psiquê. Recursos que, diria com certa convicção, quase nunca utilizei.

O monólogo está aqui em minha mesa, e me provoca. O teatro leva a direções insuspeitáveis.

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