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Mostrando postagens de agosto, 2012

Stardust (Silenciosas + G t’aime, direção Diogo Granato, Sesc Belenzinho, 25/08/2012)

Sou suspeito também para falar sobre o trabalho do dançarino Diogo Granato e trupe, que acompanho há vários anos. Recentemente fiz oficina de Dança Artesanal, que é como ele batizou seu método, e adorei tanto que não vejo formas de treiná-la e encená-la (algo que fiz, com todas as limitações, em Guarulhos recentemente, com a participação de Felipe Cirilo, Brenda e Natália). Stardust é um espetáculo que diz claramente a que veio:a homenagear o camaleão David Bowie, que anda sumido mas que nem por isso desaparece de nosso imaginário (um parênteses de ordem pessoal: acostumado a odiar o trabalho de Bowie por causa de minha irmã, que não parava de tocá-lo nos anos 80 e 90, agora resolvi enfrentá-lo sem saber sinceramente aonde isso poderia me levar). O espetáculo é singelo: tomados por glitter, os dançarinos de Silenciosas e G t’aime desenvolvem um trabalho de reminiscências retiradas dos principais hits de Bowie usando uma enorme projeção e o acompanhamento solar de Ramiro Murillo.

Serpente Verde, Sabor Maçã (Parlapatões, até final de agosto) (Reassistida)

Reassisti Serpente Verde com minha mãe. Nós nunca havíamos assistido teatro juntos. Só por isso já é um acontecimento. Meu anterior comentário sobre a peça salientava um ou outro detalhe, um ou outro desempenho. Agora tive mais condições de avaliar o todo. E outros detalhes. A peça é uma comédia, e - como toda comédia – despretenciosa (claro que há comédias que não se encaixam nisso que acabo de dizer, mas passa). A história, simples – inquilina envenena com um chá maravilhoso todos os que se interpõem no seu caminho de continuar vivendo nessa casa também maravilhosa –, esconde uma riqueza de sensações e emoções que a gente vê palpavelmente na platéia. Torcemos pelo personagem de Lulu – a sra. G –, e deliramos ao vê-la aprofundar o personagem, em todos seus interstícios, em toda sua complexidade, em todas suas idiossincrasias, que escondem sua profunda inadequação diante de um mundo sem escrúpulos, sem educação e sem estilo. Torcemos por ela porque entendemos contra o quê ela se

O Jardim (Cia. Hiato, TUSP)

Produção da Companhia Hiato e vencedor do Prêmio Shell de melhor autor (Leonardo Moreira) e melhor cenário (Marisa Bentivegna), O Jardim é um espetáculo que trata, em linhas gerais, da memória. Quem quiser que o suspense do cenário e da trama se mantenha a quem ainda não viu o espetáculo, não leia a partir daqui. O cenário é dividido em quatro triângulos. Um desses triângulos, ao fundo, não é usado, ou melhor é usado apenas como passagem. Os outros três triângulos são habitados pelos atores, que repetem três vezes a mesma cena, em triângulos diversos, para uma plateia dividida também em três. A solução divide o tempo em três momentos. O único personagem que habita mais de um triângulo (dois, no caso) é Tiago, o protagonista. A trama é simples: 1) Tiago se separa da esposa; 2) a nova mulher e a filha comemoram o aniversário de Tiago, já idoso, cujo único prazer é se lembrar dos momentos com a antiga mulher e 3) netas de Tiago narram a venda da casa, e do jardim do título. Do meu

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto) (novamente)

Assisti a estreia de (Em) Branco na terça e voltei na quinta. Haviam ficado muitas linhas de força a explorar, muito havia ficado em suspenso. Sendo que nem havia adiantado ler a peça antes da encenação. As referências à pop art agora estavam mais patentes – eu não sou muito chegado àquele movimento. O caráter atomizado dos sons agora dizia mais à minha mente e ao meu corpo. Com o decorrer do texto, foi-se tornando mais e mais familiar “o quê” da peça. Tudo foi, não diria encaixando, mas aparentando conexões aqui e acolá. A multiplicidade de sujeitos tornou-se agora patente, assim como as acepções do que estava sendo dito. Isso sem contar que eu achava mais engraçado o desenlace de esboços de tramas e subtramas. Ao meu lado, ator bem conhecido parecia atordoado. Terminada a peça, os aplausos foram puxados mais pelo pessoal lá do fundo. Tendo a concordar com o fato de que a aplausos, na atual conjuntura das coisas, não dá mais para dar tanta importância. Pois pouco importam para

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c

Sete contra Tebas (Ésquilo, dir. Roberto Alvim, Club Noir) (novamente)

Venho revendo de forma quase sistemática as peças de Ésquilo encenadas no Club Noir e dirigidas por Roberto Alvim. Por quê será? Tendo a crer que é pela gravidade do que é dito, pela relevância do que permanece em mim após a encenação ou pela forma pela qual o Alvim impõe sua forma de interpretar essas obras eternas. Sei apenas que, se fosse apenas por sentir o que sinto quando gritos são lançados ao ar ou pela impressão que me atinge quando a palavra é momentaneamente cortada por algum artifício cênico ou pelos tênues movimentos dos intérpretes que tanto mostram dizer, eu realmente voltaria vezes e mais vezes. Não nego que em Os Persas a dor de Xerxes me comoveu profundamente, e que neste Sete contra Tebas algo similar se dá no momento do grito de uma das duas mulheres em cena ou quando, agora sendo mais sutil, a batalha mostra se dar sem nada acontecer – ou quase nada. Recursos que me fazem perder a respiração. Gostaria de poder contar com tempo e recursos para passar o dia to

A Volta ao Lar (de Harold Pinter, dir. Bruce Gomlevsky)

As palestras e bate-papos de que tenho feito parte ultimamente me convenceram de que determinados autores possuem uma forma bem específica e interessante de encarar o mundo. Harold Pinter é um deles. Deixando meio de lado as picuinhas ditas a respeito de sua pessoa, foi ao ler O Quarto, sua primeira peça, que realmente percebi que algo havia lá. Assim como, aos poucos, vou percebendo o mesmo diante de obras de arte (artes plásticas, em sua maioria) que já me atraíam mas cujo sentido vou percebendo guiado pelas mãos ágeis de amigos. A Volta ao Lar parece ser a peça de Pinter mais conhecida – pelo menos é o que dizem por aí. Deve ter sido encenada dezenas de vezes aqui mesmo, e devem ter ocorrido acertos e erros aos borbotões – sendo que os erros muitas vezes podem ter passado despercebidos à maioria. Assistindo a encenação dirigida por Bruce Gomlevsky – que também atua – no Sesc Consolação, veio-me à mente a dificuldade percebida em aprofundar a percepção do personagem. Parecendo c

Serpente Verde, Sabor Maçã (nos Parlapatões, quintas e sextas, somente agosto)

Tenho uma certa dificuldade com o teatro que funciona para entretenimento. Isso deve acontecer por causa do meu jeito macambúzio de ser ou algo do tipo. “Serpente Verde, Sabor Maçã”, comédia que fica somente agosto nos Parlapatões, às quintas e sextas, é um espetáculo para fazer rir. A trama é simples: inquilina mata com chás todos aqueles que se interpõem no seu caminho ao quererem comprar o apartamento em que ela mora. Só isso pode parecer pouco, mas não é. Dá margem a tanto pano para manga...   Mas o fato é que peça é leve como uma pluma. Não vou, claro, contar-lhes detalhes – isso pode tirar toda a graça. Interpretada por Lulu Pavarin, a inquilina faz o mundo girar ao seu redor. Todos os convidados a que ela abre as portas, às vezes de forma tão indecisa, parecem entrar no covil de uma aranha, pronta a dar o bote. Tudo torna-se um teste do qual o público é cúmplice. Torcemos que ela dê o chá envenenado a este ou àquele, e enquanto isso a trama vai sendo costurada. Em certo m

Minha relação com a pintura de Francis Bacon

A Fê (Fernanda Valencio, do Club Noir) me disse que gostaria de ler aqui neste blog a história de meu relacionamento com a obra do pintor Francis Bacon. Então aqui vai. Não tem nada demais, claro. Tudo começou um belo sábado quando comprei o Jornal do Brasil, de alegre memória. De repente, no Caderno B vejo a reprodução em branco e preto de uma tela do Bacon. Era uma das telas inspiradas nos papas do Velázquez. Fiquei estupefato. Não acreditava no que via. Parei no café do Conjunto Nacional e admirei por minutos a fio isso que era – e ainda é – uma incógnita. Eu me lembro como fiquei apavorado com a boca do papa. Aquela boca aberta revelando um negrume profundo, que parecia tragar toda minha existência. Não exagero. É assim que eu me senti. Passei a ler e comprar tudo o que pudesse me aproximar da obra dele, do Bacon. Comprei n livros, alguns deles caros, com reproduções de telas, outros biografias, outros simplesmente visuais. Mas, estranho, não me motivava a ler as biografias.

ZAP Agosto de 2012 (Núcleo Bartolomeu)

Cheguei ao ZAP (Zona Autônoma da Palavra, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, da Pompéia) e encontrei a Claudia Schapira orientando aqueles que iriam se mostrar os assistentes mais interessados do evento. Parei, fiquei um pouco e fui entrando. O Eugênio (Eugênio Lima) já sabia que eu vinha aprontar. Mas ele não imaginou que eu iria lhe dizer que ia cantar uma ária de ópera. Ele fez uma cara... Mas aceitou. As pessoas se chegando, tudo começou. Fui o primeiro na rodada Microfone Aberto. Mas deixaram-me para mais tarde, pela necessidade do acompanhamento musical (o cd). Veio minha vez. Entrei no espaço considerado como palco pisando macio. Passo após passo, aproximei-me do microfone. Peguei o microfone. Me afastei. O Eugênio já ia colocando a música. Pedi para ele parar. Eu sabia que sem encarar a plateia iria sair uma bosta. Parou. Encarei a plateia. Uma pessoa por vez. Olhando nos olhos. Todos à espera. Justifiquei dizendo que eu sou tímido, o que é uma verdade. Mas no fundo nã

Solos de Duos (Silenciosas + GT’Aime, Sala Crisantempo)

O grupo Silenciosas + GT’Aime segue a metodologia desenvolvida por Diogo Granato em suas pesquisas de dança artesanal. Granato propõe investigar o desenvolvimento da dança a partir dos movimentos próprios aos dançarinos envolvidos e o desenvolvimento de partituras expressivas também a partir das próprias experiências dos mesmos dançarinos. O Solos de Duos mostra o resultado dessas pesquisas em partituras sugeridas pelos dançarinos a partir de argumentos com o mote relacionamentos amorosos. O espetáculo consiste de dez momentos em que cada dançarino em especial (dois momentos para cada dançarino) desenvolve sua partitura, sendo acompanhado ao longe, em movimentos mais contidos, pelos outros elementos do grupo. Todos os argumentos, que têm algo de clichê, algo que o próprio Diogo ressalta como proposital, envolvem movimentos próprios a cada dançarino e são acompanhados por partituras coletivas. Ora um dançarino desenvolve seus movimentos e os outros descansam em bancos ou deitados apoia

Sete contra Tebas (Ésquilo, dir. Roberto Alvim, Club Noir)

Já me acostumei (o que pode ser algo negativo) à recente forma de exposição das peças de Ésquilo pelo diretor Roberto Alvim. As Suplicantes e Os Persas já haviam adotado a forma minimalista de um cenário estático (em todos os sentidos), o que se repete em Sete Contra Tebas. Só isso poderia dar a impressão de um déja vu. Isso é em parte verdadeiro. Mas apenas em parte, porque sem conhecer o texto (não havia também lido As Suplicantes), cuja tradução não tenho encontrado por aí, parti de um ponto inseguro: a travessia sem carta de navegação. Eu achava que era necessária, até assistir o espetáculo. Confesso que por causa disso entrei no recinto com certa relutância, com grande medo de ficar a ver navios (como aconteceu com As Suplicantes). Sempre sentado na primeira fileira, porém, fui aos poucos conduzido pelos relatos numa trama desconhecida cujo final acabou por me soar enigmático. Com um ator de frente, bem rente à plateia, uma atriz do lado direito, voltada para o centro do quadrado

Hieronymus nas Masmorras (Luiz Felipe Leprevost, dir. Roberto Alvim, Club Noir)

A peça escrita por Leprevost foi a primeira de uma série de peças selecionadas num concurso no Sul do país e que Alvim decidiu apresentar de graça nos dias de semana no Club Noir. A peça já foi aqui resenhada, mas cabe ainda falar do texto, cujas características chamam a atenção. Primeiro pela ausência quase absoluta de trama, pela ausência também quase absoluta de personagens, e pelo caráter fragmentado do texto como um todo, separado por “silêncios” (escritos), e por capítulos, cada qual um enigma por si só. A peça foi lida por Alvim de uma forma em especial, podendo contudo ser lida de outras formas, a depender do diretor e de outras determinações, tanto em figurino, personagens ou mesmo adaptação da trama. A peça transcorre em 40 minutos e chama a atenção pelo inusitado dos personagens, pela empatia do personagem principal, Hieronymus, quiçá baseado no pintor Hieronymus Bosch, e pela encenação bem eficiente.

Vagabundos Ilimitados (Centro Cultural Monte Azul)

A banda Vagabundos Ilimitados foi convidada pelo Centro Cultural Monte Azul para encerrar a 20ª mostra de teatro Monte Azul, que ocorreu no final de julho. A apresentação se deu no teatro do centro cultural, com a presença de um grande número de crianças. Começando com músicas conhecidas mais pelo público adolescente, o show continuou com músicas dos Mamonas Assassinas e outras bandas ou cantores bem conhecidos. Saí bem no começo e não posso falar mais, a não ser que o show foi bem animado.

Treme Terra (Fábricas de Cultura, Jardim São Luís)

O Treme Terra é um grupo sediado no Butantã que recupera há vários anos a tradição africana e afrobrasileira, resgatando músicas, ritmos, melodias e coreografias que lidam com esse universo, em especial sua relação com os orixás e manifestações de caráter religioso espalhadas por todo o país, sem contudo se prender a elas ou ao conteúdo dessas manifestações. O grupo dialoga com o trabalho de outros grupos como o Quinteto Abanã para desenvolver o espetáculo Terreiro Urbano, que foi apresentado nas Fábricas de Cultura do Jardim São Luís, próximo ao bairro do Campo Limpo. Interessa destacar, além do trabalho percussivo do grupo, as melodias que remetem a universos embalados por outras culturas elínguas, as coreografias grupais ou individuais que reproduzem momentos importantes vividos por comunidades dessas culturas e, em especial, o caráter festivo do espetáculo, que termina com danças em que até mesmo crianças que não fazem parte do grupo acabam desenvolvendo no palco. Não me estendo m

The Power of Theatrical Madness (O Poder da Loucura Teatral) (Jan Fabre)

Platéia seleta, primeira de apenas duas apresentações, a peça de Jan Fabre, prevista para durar 4h20, sem intervalo (não adiantou eu perguntar, falaram o que não sabiam), parece ter sido, para quem já a viu, interações relativas a uma espécie de catálogo da arte moderna e contemporânea em que os atores-performers simplesmente citam datas e eventos relativos à arte teatral enquanto se despem ou fazem performances como imitar animais, etc. Mas isso, ao que parece, apenas à primeira vista. Tudo parece ser simbólico nessa obra de arte total. Começa com os atores enfileirados ao fundo do palco (em que está uma tela de projeção gigantesca) e luzes que remetem a uma fuga da realidade (como que reproduzem, pelo jogo de distanciamento e de gradação de luzes, uma espécie de universo). Cito aquilo de que me lembro. Num primeiro momento, os atores-performers saem lá do fundo aos poucos e formam, também aos poucos, uma fileira de homens e mulheres de costas que efetuam movimentos de comodismo (bra