Reassisti Serpente Verde com minha mãe. Nós nunca havíamos assistido teatro juntos. Só por isso já é um acontecimento.
Meu anterior comentário sobre a peça salientava um ou outro detalhe, um ou outro desempenho. Agora tive mais condições de avaliar o todo. E outros detalhes.
A peça é uma comédia, e - como toda comédia – despretenciosa (claro que há comédias que não se encaixam nisso que acabo de dizer, mas passa). A história, simples – inquilina envenena com um chá maravilhoso todos os que se interpõem no seu caminho de continuar vivendo nessa casa também maravilhosa –, esconde uma riqueza de sensações e emoções que a gente vê palpavelmente na platéia.
Torcemos pelo personagem de Lulu – a sra. G –, e deliramos ao vê-la aprofundar o personagem, em todos seus interstícios, em toda sua complexidade, em todas suas idiossincrasias, que escondem sua profunda inadequação diante de um mundo sem escrúpulos, sem educação e sem estilo. Torcemos por ela porque entendemos contra o quê ela se revolta. Os personagens mesquinhos que a cercam não merecem seu chá benfazejo, e por isso nos comovemos com o desenlace final. Lulu, agora maravilhosa, mostra em seu semblante a loucura transvestida em fantasia que faz as vezes de amor para a sra. G. E por isso, após rirmos sem parar, ainda torcemos por ela. Mas o fim não quer dizer muito. O divertimento é que faz a diferença. Nada paga a sensação de leveza que levamos para casa, ou para as cervejas que nos esperam no saguão do teatro.
Não percam a oportunidade de rir e se deliciar com um espetáculo que brilha em todos seus aspectos. Aproveito também para destacar o desenho de iluminação de Aline Santini, criativa de várias formas ao dar profundidade àquilo que poderia passar por raso. A cena deve também muito a ela.
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