Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu.
A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos.
O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento.
Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem conseguirmos ter a certeza de entendermos a trama – que existe, parcamente, mas existe. É preciso assistir para sentir.
A encenação poderia recair na monotonia se se restringisse a seguir o texto, mas ocorrem pausas ditadas pela luz e ressaltadas por focos determinados. O forte figurino, aparentemente inspirado em Roy Lichtenstein (conforme o debate posterior), capta nossa atenção por sua própria fugacidade e os sons entrecortados e entremeados pela peça como que irrompem numa profusão desconexa mas expressiva – estamos no mundo real. Uma barafunda de um mundo dado mas a ser decifrado.
Fiquei incomodado com o quase lacrimejar de um dos atores (o central), compartilhando sua agonia e com isso acabei me perdendo um pouco. Mas – como sempre – aproximei minha sensibilidade à expressividade retirada em cada uma das frases aparentemente desconexas e saí não com um enigma a ser decifrado mas com o testemunho de haver presenciado uma leitura de mundo incômoda mas de grande interesse.
Sugiro que vão. Mas que não se prendam às suas expectativas. Ao contrário, gostaria que com essa peça tenham a ousadia de se jogarem na lama de uma de muitas contemporaneidades.
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