Tenho uma certa dificuldade com o teatro que funciona para entretenimento. Isso deve acontecer por causa do meu jeito macambúzio de ser ou algo do tipo.
“Serpente Verde, Sabor Maçã”, comédia que fica somente agosto nos Parlapatões, às quintas e sextas, é um espetáculo para fazer rir. A trama é simples: inquilina mata com chás todos aqueles que se interpõem no seu caminho ao quererem comprar o apartamento em que ela mora.
Só isso pode parecer pouco, mas não é. Dá margem a tanto pano para manga... Mas o fato é que peça é leve como uma pluma. Não vou, claro, contar-lhes detalhes – isso pode tirar toda a graça.
Interpretada por Lulu Pavarin, a inquilina faz o mundo girar ao seu redor. Todos os convidados a que ela abre as portas, às vezes de forma tão indecisa, parecem entrar no covil de uma aranha, pronta a dar o bote. Tudo torna-se um teste do qual o público é cúmplice. Torcemos que ela dê o chá envenenado a este ou àquele, e enquanto isso a trama vai sendo costurada. Em certo momento, vemos que tudo virou uma maçaroca geral em que o brilho é compartilhado pelos atores, que são o centro nevrálgico do espetáculo. Fernando Fecchio, que faz diversos papéis, destaca-se entre os coadjuvantes da inquilina em papéis rasos mas tremendamente marcantes. Tudo funcionando de acordo com o figurino. Saídas engraçadíssimas encontradas pelos atores ajudam também a dar sabor ao espetáculo, que passa, passa e o espectador nem sente o tempo passar.
Importa é que com o passar dos minutos o espectador vê-se envolvido na trama, torcendo por um ou por outro, e deixa passar a necessidade de uma conclusão – que acontece, claro. É um trabalho magnífico focado nas interpretações do elenco. Mas eu preciso ver de novo, até para prestar mais atenção a detalhes que a correria que se passa no palco acaba sem querer escondendo.
Superágil, o espetáculo consegue facilmente fazer rir e tornar o ambiente leve, leve. Tão leve que chega até a merecer um chá verde sabor maçã real (aliás, fica a curiosidade quanto ao sabor do chá. Será tão bom mesmo?). Vão enquanto é tempo. ,,
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