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Mostrando postagens de junho, 2013

Estatísticas - Junho 2013 (até 28 de junho)

Os Adultos estão na Sala (texto e direção: Michelle Ferreira)

Existem formas de o ser humano se expressar que impõem em mim mais respeito que o realismo. Neste caso, nesta peça da Michelle Ferreira, dramaturga e artista de influências diversas e amiga do Marião, o que mais me chamou a atenção já desde os primeiros minutos desta simpática peça foi o jeito estabanado das três personagens principais. Um quê de exagero distante de um realismo chato que poderia dar à trama algo de ultrapassado. Afinal, o que poderia tanto nos atrair nas impressões de um garoto face três mulheres adultas - que é, em última medida, a trama principal de toda a bagaça? O fato é que meu olhar ficou assoberbado. Com a incansável leveza das três protagonistas, que seguindo uma linha de quadrinhos, personagens caricatos sem serem caricaturas, não conseguiam deixar meu olhar se afastar, em especial no caso da personagem da excelente Michelle Boesche. Dizem que o feio atrai até mais que o bonito. Certo, a Michelle não é bonita, e as muecas de sua personagem são estupidificant

Um ensaio limitado mas que me acrescentou bastante

Na ausência do Loureiro, no Rio, as garotas e um amigo, quem sabe colega, aparecem no local de sempre e embarcamos em analisar cenas criadas aqui e acolá, por ela, ela e eu mesmo, sem muita convicção do que fazemos. Eu confesso que fiz as cenas - digo, as escrevi - muito apressadamente, só para ter algo a mostrar, mas me arrependi depois, pelo resultado e pelo patetismo daquilo que resultou. Não gostei do resultado, nem elas. Ficamos então a analisar a cena que a Rê e o Luís irão apresentar no Wolf Maya como conclusão de módulo (terceiro, acho). Uma cena de desmascaramento de traição e de perda de controle no sentido de uma violência real (facadas). Como sempre, a Rê meteu-se com todas as energias no papel e o companheiro pareceu-me, comparativamente, fraco, enfraquecido - fazia parte do papel, também. Ficamos todos divididos quanto a como fazer com que a ênfase no papel da Rê redundasse num verdadeiro estourar de emoções, algo que nos fizesse acreditar em que ela perdeu realmente a

O subtexto

A primeira menção minha ao conceito de subtexto deveu-se anteriormente ao fato de saber o que ele realmente significa. Foi quando disse que o Luís Capucho não tem subtexto. Eu não sabia o que era subtexto, eu mesmo criei o conceito. Mas ele já existia. No caso do teatro, é aquilo que está atrás (quando o Loureiro me diz entrar através do texto), lá atrás do texto. É aquilo que realmente passa ao espectador. O mais importante. O que faz chorar. Eu já usei subtextos de diversas formas, em meus textos para teatro. Mas não sabia que eram eles que "batiam". Eu achava que era o texto. Não à toa não consegui encenar o texto que o Loureiro cedeu à Lê e eu semana passada. Só na hora eu "vi" o que "havia lá". Eu disse isso ao Loureiro, que riu muito. Agora eu embarco em tentar decorar o texto com outra intenção. Com a do subtexto. Estarei eu fingindo, nesse caso? E não apenas atuando? Por que isso é tão importante para mim? Porque para mim atuar não é fingir.

Anatomia Woyzeck (texto base: Woyzeck, de Büchner; dir. Márcio Aurélio)

Saiu na Folha destes dias que, por um motivo qualquer que perco de vista, estão sendo encenados diversos textos de Buchner na cidade. Um deles é este, ou o motivo para esta peça, chamada Anatomia. Eu havia ouvido falar de Anatomia Frozen, acho, dessa mesma companhia (Razões Inversas), e do diretor, Márcio Aurélio. Eu nunca vira nada dele, nem deles. Tenho Woyzeck em casa, que peguei ontem para ler um pouco. Reparei, ao ler o livro, que esta encenação foi feita baseando-se quase ipsis litteris nos diversos capítulos (na peça, cenas) de que é composta a obra. Não sei, não, mas eu já acho complexo o texto do alemão, quanto mais vê-lo encenado sem tê-lo lido com certa antecedência. Na boa, o espetáculo acontece num tablado com grama sintética e por três atores que encarnam os diversos papéis da peça, fazendo uso de três microfones presos aos suportes, roupas formais e pouquíssimos recursos de luz. No mais, apenas três focos nos microfones parecem compor a luz do palco. Não posso - aind

Estatísticas de maio de 2013

Sobre Prometeu Acorrentado, em português e espanhol, e por que ele não consegue entrar em mim (contrariamente a As Troianas, quem diria)

Venho arranjando tempo para ler os clássicos. Os mais clássicos. Um deles é Prometeu Acorrentado, de Ésquilo. Comprei-o há anos em português e o li há alguns meses. Não guardei impressão especial. Não sei se foi a tradução - do Mário da Gama Kury, que o Alvim (Roberto) detesta. Mas peguei o texto também em espanhol. Este me deixou curioso. Quis ler mais a respeito. Atiçou-me a curiosidade. Por quê? Não sei. A trama, a meu ver, é quase uma antitrama. Prometeu está acorrentado e os que o visitam lamentam e ele, não. Diz-se que vê por todo o tempo. Que entende o drama dos homens e que no final será vingado - contra Zeus, logo ele. Mas nada acontece. Irei lê-lo de novo. Preciso resolver esse vazio que fica em uma tradução e em outra, não.

A questão do provincianismo e da necessidade de fugir da necessidade de satisfazer influências externas

O longo título deste pequeno texto diz respeito, em poucas linhas, ao caráter colonizado que todo latinoamericano assume com respeito àquilo que produz em relação às influências advindas da metrópoles (ou metrópoles, porque um colonizado o é com respeito a muitos outros que se fazem passar de superiores). Tudo surgiu imediatamente antes e após (embora se origine de muitos antes) assistir A Dama do Mar, de Bob Wilson, no Sesc Pinheiros. Eu já havia tido a oportunidade de assistir o encenador em outras ocasiões. Mas relutava por vários motivos. Primeiro, a admiração face sua trajetória. Segundo, a relutância em me sentir admirando aquilo que ele faz, como se eu me sentisse bem em ser colonizado. Terceiro, a tentação de imitá-lo, de alguma forma - já que quero seguir trajetória própria. Eu não sabia mais se queria ver alguma de suas produções, mesmo alguma menor. Prestes a comprar ingresso para outra peça, no Sesc Consolação, o sujeito logo à frente na fila estava vislumbrando assistir

A Dama do Mar (texto: Susan Sontag, dir. Robert Wilson)

Acabando de comprar o ingresso para ver pela segunda vez A Dama do Mar, de Bob Wilson, creio conseguir, aos trancos e barrancos, entender o choque que sofri com ele, a crise em que fui metido e a forma pela qual vislumbro uma saída. Admito, um pouco contra a minha vontade, que ele me deixou realmente chapado. Contei isso ao Loureiro e à turma da oficina. Mau de grana, mesmo assim comprei um novo ingresso. Preciso conferir pela segunda vez. Preciso. Vejo aqui em meu apartamento, folheando Lehmann, que Wilson é o encenador escolhido para a capa desse livro tão influente, sobre o teatro pós-dramático. E isso não parece ser à toa, até porque ele mesmo, o Lehmann, considera Wilson "o" exemplo desse tipo de teatro, presente entre nós a partir dos experimentos mundiais dos anos 70 e 80. Mas não é isso o que me faz dar tanta importância a ele, mas o fato de eu haver lido, já há vários meses, o livro do Galizia sobre o tal, Os Processos Criativos... etc., e haver-me convencido, pela

Fluxo (texto e direção: Thiago Ciccarino)

Com vistas a ver o Gui (Guilherme Gorski) representando, algo que não acompanhava há tempos, fui assistir à peça com ele nos Parlapas. Não tinha informação prévia, nenhuma, e nem me deixei levar pelo flyer à entrada da sala. Fui absolutamente ignorante de quê se tratava, e sem qualquer informação sobre o parceiro (Lino Camilo) em cena. A peça apoia-se em texto, praticamente só em texto. À entrada, encontramos um sujeito (o ator Renato Jaques) que faz as vezes de equilibrista de sinal de trânsito. Tenta equilibrar algumas bolas, não consegue. Desiste, após algumas tentativas, e faz as vezes de equilibrar bolas inexistentes. Despede-se. Entram dois homens de paletó e gravata que dialogam com parceiros imaginários, em diálogos entremeados. O Gui faz as vezes de pretendente a cargo. O Lino, ao relembrar evento em que teria atropelado alguém e não socorrido. Encontram-se posteriormente num bar, o Gui em cadeira de rodas, o Lino como executivo bem-sucedido. O Lino tenta entabular conversa

Las Perras (texto: Anderson Vitorino, dir. Fábio Ock)

Vou à peça do Ock convidado pela Paloma, que trabalhou como contra-regra e que arrumou ingressos para a Lê, a Valentine, que apareceu enquanto preparava-me para assistir White Rabbit (veja neste blog) e que me acompanhou no ensaio que fizemos a Lê e eu, e a própria Lê. A peça prometia, dizendo-se envolvida no universo tarantinesco. No palco, só mulheres, algumas com mais experiência, outras praticamente novatas. A história, aqui resumo, é a retomada de um salão masculino de barba e cabelo pela viúva do dono-defunto que descobre que o negócio era apenas fachada para um negócio de prostituição e pretensões de putaria pela internet. A peça faz uso do recurso de vídeo exposto por cima de objetos reais, em que aparecem momentos do passado, como flash back, ou em que as atrizes reais dialogam com cenas filmadas. O recurso chama a atenção e promete, sendo usado em momentos-chave da peça. (Ainda) não consigo determinar o que seja (ou não) uma boa atuação, mas pego-me olhando minhas colegas

White Rabbit, Red Rabbit (de Nassim Soleimanpour, com Danilo Grangheia)

Eu havia lido nos jornais sobre essa peça de um iraniano que iria ser interpretada por diversos atores, mais ou menos conhecidos. Uma peça em que tudo iria transcorrer lá, no palco, sem o ator ser comunicado de nada com antecedência. Fui para ver o Danilo tocar a batuta da peça. Eu acabava de tê-lo visto na Virada e queria ver como é que ele se sairia. Como praticamente todos já fizeram sua parte, vou contar o que aconteceu a quem não esteve lá. A peça começa com a apresentação do ator e do autor. O ator lê o que está escrito e segue as ordens ipsis litteris. Há no palco uma pequena mesa com dois copos. Após as apresentações, o ator numera os espectadores. Cada um fala o seu número, em sequência comandada pelo ator. Em seguida, o autor manda o ator chamar um espectador com um número. Esse espectador coloca uma substância branca, um pó, em um dos copos. Em seguida, o ator pede ao espectador que feche os olhos. O ator mexe os copos. Pede em seguida que ele imagine que é um determinad

Palhaços (por: Dagoberto Feliz e Danilo Grangheia)

Eu já tinha tido vontade de assistir ao espetáculo do Dagoberto e Danilo várias vezes, mas por distância (Barra Funda) e tempo desistira também diversas vezes. Não havia, porém, deixado de lado essa vontade. A apresentação da peça na Virada Cultural serviu como oportunidade única para isso. A plateia lotou para ver o espetáculo. Tive que pegar uma cadeira de plástico lá ao fundo e me dispor a encher um espaçozinho vago lá na frente para assisti-lo. Eu estava especialmente interessado em ver o Danilo, ator que acompanho há vários anos e que conheci por meio do espetáculo As Três Velhas, do Alejandro Jodorovski, que vi no Centro Cultural São Paulo há alguns anos e por meio do qual conheci o pessoal do Bartolomeu e todos os outros. Eu não imaginava que o espetáculo iria começar dessa forma nem que iria transcorrer como transcorreu. Começou ele com o Dagoberto, sobre o qual já tinha ouvido falar muito, cantando fora do palco e motivando as pessoas a "entrarem" em cena. A trama

Rabbit (texto: Nina Raine; encenação: Cia. Delas)

Após ver uma peça no Viga, aquela do Tennessee pelo Tapa, vou à Virada Cultural, sem muita expectativa, contudo. O Marcos, do Viga, incentiva-me a ir ao evento. Consigo vaga bem em frente ao Parlapatões e encaminho-me ao palco montado na Praça Roosevelt. Lá chegando, vejo plateia esparsa à espera da próxima atração - que é esta peça que eu comento agora. Não conheço a autora nem a companhia nem os atores e atrizes. Chego realmente desavisado e acompanho a montagem do palco, que envolve uma estrutura em que, no seu interior, são colocadas muitas bolinhas de plástico e em que ao centro existe uma mesa de bar com alguns copos e garrafas de bebida. Envolvem a cena aquelas bolsas plásticas com conectores que existem em consultórios, hospitais e pronto-socorros, iluminados em pequenas bolinhas vermelhas. Estamos em dois ambientes, num bar ou casa de shows e num hospital, simultaneamente. A protagonista (não sou bom de lembrar nomes de pessoas reais, quanto mais de personagens), muito parec

Um Longo Adeus (texto: Tennessee Williams, encenação: Grupo Tapa; dir. Flávio Tolezani)

Comunico-me com o Conrado Sardinha, do Tapa, neste espetáculo em que ele faz o personagem principal. Comento que gostaria de um ingresso, ele comenta que somente "amigo", tudo bem, vou, mas ele me dá um ingresso de graça. Melhor. O universo bas-fond de um Tennessee Williams é hoje considerado por muitos como démodé, fora de moda, sem interesse para o que realmente acontece na sociedade, mas eu não sinto isso, realmente. Percebo que diversos temas abordados pelo norte-americano ainda nos acometem, temas esses que não necessariamente são abordados em Um Bonde Chamado Desejo, sua obra mais conhecida e amada especialmente pelas atrizes que querem fazer a Blanche. Na peça em questão, o protagonista é um escritor mal-sucedido que acompanha a retirada dos móveis de sua residência, dado que ele está se mudando. Nesse entretempo, ele é invadido pelas lembranças de amigos, da mãe, da irmã, de um possível pretendente a ela, e por aí vai. Os homens da mudança invadem o recinto a todo t

Eu sou América (texto: Jerzy Grotowski, Grupo Fondazione Pontedera Teatro e diretores Thomas Richards e Mario Biagini)

Saindo de uma peça no Sesc Consolação, o Loureiro (Marcos, diretor) me viu e chamou. Ele disse que tinha dois ingressos para a peça em questão, e que um estava sobrando. Me deu. Entramos. Encontrei a sempre lindíssima Valentine, e vimos todos juntos. Não conheço muito Grotowski. Já pensei diversas vezes em ler livros sobre ele, mas por algum motivo não me animo. Sei desse negócio de teatro pobre, mas só de ouvir falar. Mas sinto que ele participa da evolução do teatro em direções que aparentemente e não necessariamente me agradam, e por isso permaneço na ignorância. Um dia decido enfrentar o desafio. Os atores e atrizes do grupo italiano nos recepcionam nos corredores do teatro. Inclusive o diretor, que surpreende pela amabilidade. Mas há neles algo de encenado, como não poderia deixar de ser, aliás. O grupo é formado por membros de físicos bem variados, homens e mulheres, vestidos como na própria peça que irá vir a seguir. Fazem como que uma amostragem da América à qual eles se refe

A Rainha Diaba (dir. Antonio Carlos de Fontoura)

A indicação de Rainha Diaba foi do Loureiro. A intenção foi fornecer uma referência a um papel que eu iria assumir de homossexual cafetão aidético. O Loureiro pediu para prestar atenção especial no Milton Gonçalves, no papel título. Sem tempo nem grana, assisti o filme no Youtube mesmo. A personagem título só não tem o aidético de meu personagem - até porque na época a doença não existia. O Milton assume uma rainha que varia dois registros a depender da gravidade do momento. Um primeiro, como homossexual especialmente sensível, atenta a qualquer mudança de clima no ar. Um homossexual aparentemente gentil, mas uma cobra lá no fundo. Mas esse registro era mantido. O outro registro, com voz masculina e atitude viril, para dizer o mínimo, era assumido pelo personagem quando em ação na pura selvageria. Aqui qualquer um poderia estar-se tratando de um homem, e só não o sendo pela aparência. Mas o Milton não exagera no tom. Eu nenhum momento o personagem aparece caricato. É uma bicha forte,