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A Rainha Diaba (dir. Antonio Carlos de Fontoura)

A indicação de Rainha Diaba foi do Loureiro. A intenção foi fornecer uma referência a um papel que eu iria assumir de homossexual cafetão aidético. O Loureiro pediu para prestar atenção especial no Milton Gonçalves, no papel título. Sem tempo nem grana, assisti o filme no Youtube mesmo.
A personagem título só não tem o aidético de meu personagem - até porque na época a doença não existia. O Milton assume uma rainha que varia dois registros a depender da gravidade do momento. Um primeiro, como homossexual especialmente sensível, atenta a qualquer mudança de clima no ar. Um homossexual aparentemente gentil, mas uma cobra lá no fundo. Mas esse registro era mantido. O outro registro, com voz masculina e atitude viril, para dizer o mínimo, era assumido pelo personagem quando em ação na pura selvageria. Aqui qualquer um poderia estar-se tratando de um homem, e só não o sendo pela aparência. Mas o Milton não exagera no tom. Eu nenhum momento o personagem aparece caricato. É uma bicha forte, no auge de suas forças.
A trama envolve disputa de poder no morro dominado pela rainha. Ao final, mortes como em qualquer western spaghetti. Só não aparenta ser um filme de referência pelo caráter da época, ditadura, pelo que vocês se lembram. Não deveria haver clima para filmes como esse fazerem algum sucesso nos cinemas. Mas é interessante, especialmente por ver esse mito chamado Odete Lara atuando fazendo-se de ingênua.

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