Eu havia lido nos jornais sobre essa peça de um iraniano que iria ser interpretada por diversos atores, mais ou menos conhecidos. Uma peça em que tudo iria transcorrer lá, no palco, sem o ator ser comunicado de nada com antecedência.
Fui para ver o Danilo tocar a batuta da peça. Eu acabava de tê-lo visto na Virada e queria ver como é que ele se sairia.
Como praticamente todos já fizeram sua parte, vou contar o que aconteceu a quem não esteve lá.
A peça começa com a apresentação do ator e do autor. O ator lê o que está escrito e segue as ordens ipsis litteris. Há no palco uma pequena mesa com dois copos.
Após as apresentações, o ator numera os espectadores. Cada um fala o seu número, em sequência comandada pelo ator. Em seguida, o autor manda o ator chamar um espectador com um número. Esse espectador coloca uma substância branca, um pó, em um dos copos. Em seguida, o ator pede ao espectador que feche os olhos. O ator mexe os copos. Pede em seguida que ele imagine que é um determinado animal e que se comporte como tal. Faz com que o ator se relacione com esse espectador (fazendo um coelho), impedindo, como urso, que ele entre num imaginário circo. Em seguida, chama espectadores da última fileira da plateia para representarem onças fazendo papel de avestruzes que lutam com o coelho impedindo-o de sair. Ocorreu, em minha vez, que o coelho foi representado por uma espectadora alta e elegante, e que as onças-avestruzes fossem defendidas por três sujeitos fortes que fizeram o coelho sofrer barbaridade (não sei como é que eu me sairia, realmente).
Em seguida, o ator explica quem é o autor, onde ele está, o que ele faz, como ele é, fisicamente falando, e como chegarmos até ele (por email nassim.sn@gmail.com, se não me engano, ou ns ao invés de sn). Nassim, por meio do ator, narra sua condição de virtual prisioneiro do país em que ele está por não ter feito serviço militar - por isso, ele não pode viajar ao exterior). Nassim, então, narra em que consistiu um experimento feito por um tio com coelhos. Esse experimento é mais ou menos o seguinte. Coelhos brancos são colocados numa gaiola. Passam fome. Em seguida, é colocada uma cenoura num determinado local. Um dos coelhos chega até ela. Os outros são encharcados com água fria. O coelho que pegou a cenoura é pintado de vermelho. A sequência é repetida várias vezes. Acontece que os coelhos brancos passam a machucar o vermelho. A cenoura é retirada. Mesmo sem o coelho vermelho pegar a cenoura, e sem os coelhos brancos serem molhados, ele continua sendo machucado por estes últimos. O coelho vermelho é retirado. Coloca-se outro coelho branco. Daí o procedimento é repetido. É pintado de vermelho outro coelho que alcança a cenoura. Ele continua sendo machucado pelos companheiros brancos. É retirada a cenoura. O coelho continua sendo machucado pelos companheiros. São tirados todos os coelhos, sendo substituídos por outros. Contrariamente à expectativa, o comportamento dos coelhos se repete.
Em seguida, Nassim explica que no copo com aquela substância branca pode haver veneno de rato - ou não. E pede, após diversas mudanças de plano, que o ator beba do copo com a substância branca. Se for veneno de rato, o ator morreria - se suicidaria, então. Aí algo acontece. O autor pede que quem quer que o ator não beba do copo se manifeste. Mas parte do pressuposto que o ator venha a beber do copo. Danilo não bebe. Mas mesmo assim - ludibriado, portanto - o autor pede que o ator se deite no palco e todo mundo saia, conduzido por um espectador. Daí todo mundo sai e acaba.
Não gostei do resultado. Tudo é um jogo de espelhos, comandado pelo autor. Claro, tem a sua graça, todo mundo obedecendo quem escreveu a peça. Mas o final é decepcionante - pois o ator não bebe do copo (quem beberia, cara pálida?). Daí que saio com a impressão de que o iraniano tenta nos convencer do seu sofrimento fazendo-nos "sofrer". Não consegue. Tudo parece uma ópera bufa.
Sei lá como os outros atores saíram. Eu não gostei do resultado. Talvez fale isso ao autor, por email, e em inglês. A peça foi premiada? Tá, sei lá por quê. Um experimento, claro, mas apenas isso.
Fui para ver o Danilo tocar a batuta da peça. Eu acabava de tê-lo visto na Virada e queria ver como é que ele se sairia.
Como praticamente todos já fizeram sua parte, vou contar o que aconteceu a quem não esteve lá.
A peça começa com a apresentação do ator e do autor. O ator lê o que está escrito e segue as ordens ipsis litteris. Há no palco uma pequena mesa com dois copos.
Após as apresentações, o ator numera os espectadores. Cada um fala o seu número, em sequência comandada pelo ator. Em seguida, o autor manda o ator chamar um espectador com um número. Esse espectador coloca uma substância branca, um pó, em um dos copos. Em seguida, o ator pede ao espectador que feche os olhos. O ator mexe os copos. Pede em seguida que ele imagine que é um determinado animal e que se comporte como tal. Faz com que o ator se relacione com esse espectador (fazendo um coelho), impedindo, como urso, que ele entre num imaginário circo. Em seguida, chama espectadores da última fileira da plateia para representarem onças fazendo papel de avestruzes que lutam com o coelho impedindo-o de sair. Ocorreu, em minha vez, que o coelho foi representado por uma espectadora alta e elegante, e que as onças-avestruzes fossem defendidas por três sujeitos fortes que fizeram o coelho sofrer barbaridade (não sei como é que eu me sairia, realmente).
Em seguida, o ator explica quem é o autor, onde ele está, o que ele faz, como ele é, fisicamente falando, e como chegarmos até ele (por email nassim.sn@gmail.com, se não me engano, ou ns ao invés de sn). Nassim, por meio do ator, narra sua condição de virtual prisioneiro do país em que ele está por não ter feito serviço militar - por isso, ele não pode viajar ao exterior). Nassim, então, narra em que consistiu um experimento feito por um tio com coelhos. Esse experimento é mais ou menos o seguinte. Coelhos brancos são colocados numa gaiola. Passam fome. Em seguida, é colocada uma cenoura num determinado local. Um dos coelhos chega até ela. Os outros são encharcados com água fria. O coelho que pegou a cenoura é pintado de vermelho. A sequência é repetida várias vezes. Acontece que os coelhos brancos passam a machucar o vermelho. A cenoura é retirada. Mesmo sem o coelho vermelho pegar a cenoura, e sem os coelhos brancos serem molhados, ele continua sendo machucado por estes últimos. O coelho vermelho é retirado. Coloca-se outro coelho branco. Daí o procedimento é repetido. É pintado de vermelho outro coelho que alcança a cenoura. Ele continua sendo machucado pelos companheiros brancos. É retirada a cenoura. O coelho continua sendo machucado pelos companheiros. São tirados todos os coelhos, sendo substituídos por outros. Contrariamente à expectativa, o comportamento dos coelhos se repete.
Em seguida, Nassim explica que no copo com aquela substância branca pode haver veneno de rato - ou não. E pede, após diversas mudanças de plano, que o ator beba do copo com a substância branca. Se for veneno de rato, o ator morreria - se suicidaria, então. Aí algo acontece. O autor pede que quem quer que o ator não beba do copo se manifeste. Mas parte do pressuposto que o ator venha a beber do copo. Danilo não bebe. Mas mesmo assim - ludibriado, portanto - o autor pede que o ator se deite no palco e todo mundo saia, conduzido por um espectador. Daí todo mundo sai e acaba.
Não gostei do resultado. Tudo é um jogo de espelhos, comandado pelo autor. Claro, tem a sua graça, todo mundo obedecendo quem escreveu a peça. Mas o final é decepcionante - pois o ator não bebe do copo (quem beberia, cara pálida?). Daí que saio com a impressão de que o iraniano tenta nos convencer do seu sofrimento fazendo-nos "sofrer". Não consegue. Tudo parece uma ópera bufa.
Sei lá como os outros atores saíram. Eu não gostei do resultado. Talvez fale isso ao autor, por email, e em inglês. A peça foi premiada? Tá, sei lá por quê. Um experimento, claro, mas apenas isso.
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