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Mostrando postagens de junho, 2012

Arsenale della Danza - Biblioteca del corpo (Sesc Pinheiros, 28/6/2012, Sala Paulo Autran)

minha amiga sonia soares, do viga, foi quem me aproximou da dança - e da dança contemporânea. ela fica andando de nova iorque para cá com frequência e mal deve saber como seus ensinamentos e exemplo mexeram comigo. embora eu me dedique relativamente pouco. pouco mesmo. fiquei sabendo por minha amiga lulu tomie do espetáculo do ismael ivo. saí correndo na hora e consegui. tudo isso só para dizer já de cara a quem eu agradeço. o espetáculo já se foi, então este texto entra mais como testemunho. não consegui desgrudar os olhos dos dançarinos, do cenário grandioso, das luzes, da música (sim, os olhos da música). guardei tudo com tamanha devoção que dificilmente será superada - com ele somente concorre meu show com o pianista de free jazz cecil taylor, há anos. acima de tudo gosto de exuberância. e de, por meio da exuberância, conduzir ou ser conduzido rumo a mundos outros, esses que o roberto alvim não se cansa de procurar (obrigado, cara). a imagem inicial, de uma dançarina

afagando as feridas

ontem a oficina foi um horror para mim. ou um horror por mim, a depender do ponto de vista. fizemos de novo a cena da santa, em que nos saímos tão bem, a lari e eu, mas errei no tempo, no local em que poderia me sentar, no tempo novamente e tudo foi para o beleléu. um desastre. fizemos depois a cena do serial killer, mas o diálogo sem muito sentido cênico descambou na chatice. parou na metade. um desastre menor, mas ainda um desastre. depois da merda feita não interessam as responsabilidades, tudo deu errado, e só. essa merda de achar a deixa. não tem deixa, diz a profe. pois é. mais um aprendizado. sim, estamos aqui para errar, mas nem tanto. o negócio é acertar. confesso que fiquei sem saber o que pensar de mim e irritado com tudo. ainda estou chateado. preciso pensar melhor como fazer. não consigo me dedicar mais ou não encontrei ainda a forma de me dedicar? tenho de admitir: tenho feito pouco trabalho de corpo e não tenho conseguido ler o livro SOBRE o strassberg. tente

Plano Inclinado, com Vitrola Quântica

fui ao sesc pinheiros comprar um ingresso para quinta. eu tinha algum tempo. reparei que o saguão da entrada estava iluminado e pronto para alguma coisa. perguntei e um estrangeiro me disse que iria acontecer uma performance. legal. fiquei. apareceram cinco garotas, três pequenas, uma alta e uma mais cheinha deslizando como se fossem uma só massa pela entrada do prédio. entendi a sacada e eu achava que iria ser isso mesmo. não curti muito. depois elas passaram a se provocar e a jogar com movimentos primeiro e bolinhas algumas. outras enredaram-se num elástico, a cheinha carregava pesos enormes, outra ainda fazia rasantes com patins, outra finalmente trabalhava com um bastão de aço. não conseguiria descrever em detalhes o que aconteceu. só sei que sorri e ri também. sorrir e rir para mim são os sinais de que estou gostando, de que há algo aí para se reparar. o coletivo é recente, de 2004, e tem feito apresentações em diversos lugares, o centro cultural por exemplo. acho lega

Allégresse - la chanson française au Brésil (Tatiana Pereira no Madeleine Bar)

fui convidado pela tati, minha amiga, a assistir seu show. ela me pediu para escrever sobre ele. meio provinciano, e apesar de praticamente só gostar de músicas em inglês, eu sempre desconsiderei shows que se propõem captar a tradição de um país ou região e em que só se canta na língua desses povos. eu pensava, porra, vocês estão aqui, carai. até ontem. eu fiz francês um tempo. sei ler mais ou menos - coisas mais avançadas eu peno. mas sei como é o gosto de ouvi-lo, ouvir sua sonoridade, seu desenrolar no ar e no tempo. mas sempre tive dificuldade em falar em francês. a tati viveu alguns anos por lá e, eu fico pasmo, também passou por esse desconhecimento vergonhoso. hoje ela é craque. ela contou um episódio de sua chegada em paris (ou outra cidade?). no começo, a estranheza. mas aos poucos o ouvido se acostumou e a beleza de músicas que - algumas eu não reconhecia - fazem parte da tradição francesa encheu o recinto - que estava lotado (madeleine bar, na vila madalena). conti

Nóis Otário(s)

Assisti ao novo espetáculo dos Parlapatões no festival Cena Brasil Internacional 2012. O palco italiano de amplas dimensões do Teatro Sérgio Cardoso é aproveitado com telões ao fundo que recebem ora projeções de fundos, ora servem de marco para ilustrações bem-humoradas daquilo que surge por meio do texto. A trama é simples, mas não cabe aqui reproduzi-la. Diria que ela dá margem ao uso de personagens ingênuos (assessor pau-mandado de senador), realistas (pequeno empresário em busca de uma saída), caricatos (policial araponga) e que fazem uso sempre bem-humorado de suas características especiais (o anão). Isso sem contar o senador que quer negar a qualquer custo a possibilidade de ser pego. O texto, ágil, utiliza a construção de perfis, de pequenas tramas, de esquetes isoladas, de play-backs (reconstituição de crime), e de muitas saídas humorísticas à construção dos perfis. Tudo bem simples, fácil de pescar e que não leva a pensar muito. Entra-se na trama, que é o que importa.

Ato de Comunhão

Assisti essa peça no festival Cena Brasil Internacional 2012. Tudo é demarcado no palco. Nota-se de antemão que tudo que está no palco tem uma função bem específica. Gilberto Gawronski surge do fim do palco destruindo a ilusão do espetáculo. Embarca-se no espetáculo por meio de uma confissão, em primeira pessoa, em que a vida é o que está sendo ressaltado. A vida de um menino de 8 anos, seu aniversário, seu sentido de solidão em meio a corridas de videogame. O tom torna-se mortiço ao entrarmos no universo do enterro da mãe do menino. Tudo torna-se mais cru, menos comedido, as ironias vicejam aqui e acolá, somos defrontados face um homem. Inseguro, ao que parece, mas um homem. Não mais um menino, embora deste restem traços. Quando invade o espetáculo, sem pedir licença, o universo da internet. Os encontros, a crueza do sexo, a necessidade de catalogação, o impulso ao excesso. Quando começa a trama real. O homem que quer ser comido pelo outro. Tudo acontece sem muito aviso. A rotina

a linha fina

a convite do ruy filho, a tetê (maria teresa cruz) fez comigo uma crítica/entrevista/discussão sobre uma peça que ainda tá rolando por aí ou que vai voltar logo. não posso citar onde a crítica vai sair nem que peça é. mas não é sobre isso que eu quero falar, mesmo. quero comentar esse negócio de comentar teatro. algo que não faço há algum tempo, não por falta de peças assistidas nem por falta de tempo - quem não tem, arranja -, mas por certa falta de disposição. há em mim - agora - algo que quer escapar da razão e que quer o quanto antes e o máximo possível entrar na cena. não à toa estou fazendo a oficina com a XXX. quero sentir o teatro por dentro, tanto quanto possível - ou impossível. pois então. a crítica ou conversa sobre a crítica tende a forçar o entendimento do que ocorreu pela via da razão - mesmo quando o que contava era apreensão até sensorial do que acontecera. daí que passo por um processo curioso: se por um lado quero comentar o que vi, por outro gostaria que esse c

Cena Nilcia

Matador (M) Advogada (A) A - De que forma você a matou? M - Com uma faca. A - Como foi, conte detalhes. M - Peguei uma faca na cozinha e quando ela se distraiu enfiei a faca na nuca. Morreu na hora. A - Imagino que vocês tenham discutido. M - Nada. A - Como assim? Não houve luta? M - Não sou de brigar. Eu já tinha confirmado. Ela deu para outro cara e pronto. Tinha que morrer. Afinal ela era minha. A - Imagino que você tenha ficado um pouco nervoso. M - Nada. Matei e pronto. A - Você vai ter que mudar isso. M - Como assim? A - Vai ter que dizer que brigaram e perdeu a razão. M - Fiquei meio louco, é isso? A - Isso. M - Mas não ficaram marcas de luta. A - Isso é de menos. M - Tive uma ideia. Eu posso dizer que a dominei facilmente. A - Isso não. M - Lutamos, então? A - Lutaram. M - Mas ela não ficou com nenhuma marca. A - Você diz que não lutaram muito fortemente. M - Tudo bem. A - E e