Pular para o conteúdo principal

a linha fina

a convite do ruy filho, a tetê (maria teresa cruz) fez comigo uma crítica/entrevista/discussão sobre uma peça que ainda tá rolando por aí ou que vai voltar logo. não posso citar onde a crítica vai sair nem que peça é. mas não é sobre isso que eu quero falar, mesmo.


quero comentar esse negócio de comentar teatro. algo que não faço há algum tempo, não por falta de peças assistidas nem por falta de tempo - quem não tem, arranja -, mas por certa falta de disposição. há em mim - agora - algo que quer escapar da razão e que quer o quanto antes e o máximo possível entrar na cena. não à toa estou fazendo a oficina com a XXX. quero sentir o teatro por dentro, tanto quanto possível - ou impossível.

pois então. a crítica ou conversa sobre a crítica tende a forçar o entendimento do que ocorreu pela via da razão - mesmo quando o que contava era apreensão até sensorial do que acontecera. daí que passo por um processo curioso: se por um lado quero comentar o que vi, por outro gostaria que esse comentário não fosse expresso. pois a gente sabe: basta dizer que permanecemos presos àquilo que dizemos. não podemos nos contradizer, é o fato. claro que enquanto seres humanos podemos, sim, nos contradizer. mas isso não deve ocorrer na apreensão pública de um fenômeno. pois ou uma coisa é uma coisa ou é outra coisa. não podemos dizer ambas as coisas. ocorre que em muitos casos é extremamente difícil expressar EXATAMENTE o que apreendemos. ficamos quase sempre nas aproximações. muito bem intencionadas, claro, mas aproximações. é estranho.

é em parte por isso que eu tenho me negado a escrever resenhas ou comentários sobre as peças que venho assistindo. porque não quero prendê-las EM MIM em uma caixinha conveniente para aceitá-las ou não. não quero ver a arte presa à razão, em suma. preciso que ela fique livre para eu poder me sentir mais livre para avaliá-la EM MIM. pois o tempo todo o que está em questão é o teatro em mim. não tenho muita vontade de salientar um ou outro indicador com o intuito de mostrar o que aconteceu seja lá para quem for. se gosto, se adoto, se recuso, quero que isso fique restrito à sensação e inteiramente sob a batuta do - em última instância - irracional.

voltando à conversa/crítica. a tetê foi extremamente gentil comigo. mas, na bateria de provocações feitas por ela, tive certa dificuldade de encontrar um caminho. ora ia para um lado, ora ia para outro. no final, eu mal sabia onde estava. o que eu falei MESMO? algumas provocações eu fiz, é certo; e muito ficou do lado de fora - pensei nisso após a conversa. terei dito o mais importante, o básico, em minha apreensão do fenômeno e apreensão do espetáculo em relação ao seu contexto e ao tempo de hoje? sinceramente não sei. foram muitos fios jogados ao longe. espero depois pegá-los e quem sabe esmiuçá-los. a conversa acendeu minha vontade de aprofundamento. mas e tempo para isso? e tempo?

terei também vontade para isso? não será isso no fundo apenas uma forma disfarçada de me achar alguém importante?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c