minha amiga sonia soares, do viga, foi quem me aproximou da dança - e da dança contemporânea. ela fica andando de nova iorque para cá com frequência e mal deve saber como seus ensinamentos e exemplo mexeram comigo.
embora eu me dedique relativamente pouco. pouco mesmo.
fiquei sabendo por minha amiga lulu tomie do espetáculo do ismael ivo. saí correndo na hora e consegui.
tudo isso só para dizer já de cara a quem eu agradeço.
o espetáculo já se foi, então este texto entra mais como testemunho.
não consegui desgrudar os olhos dos dançarinos, do cenário grandioso, das luzes, da música (sim, os olhos da música). guardei tudo com tamanha devoção que dificilmente será superada - com ele somente concorre meu show com o pianista de free jazz cecil taylor, há anos.
acima de tudo gosto de exuberância. e de, por meio da exuberância, conduzir ou ser conduzido rumo a mundos outros, esses que o roberto alvim não se cansa de procurar (obrigado, cara).
a imagem inicial, de uma dançarina, nua, com um esqueleto por cima, remeteu-me àquela minha primeira peça em que um homem nasce para o movimento. a suavidade e singeleza do gesto só concorre com a nobreza da mensagem.
ela sai, entra um cenário grandioso como poucas vezes vi em que os dançarinos descansam, como bonecos, em quadrados vazios no fundo do palco. todos juntos são uma metáfora do homem enquanto criatura que nasce e morre.
saem os dançarinos. aos poucos. não vão direto ao ponto, vão em movimentos limitados que expressam a libertação pelo corpo. tudo o que é limitado me faz viajar como poucas outras coisas. os seres simplesmente nascem, é isso. e que maravilha de movimentos sincronizados das pernas. e o entremear de braços e corpos como se fossem um só organismo. tudo lindo e ao mesmo tempo engraçado. a graça é sempre o que me faz rir. apenas a graça.
pequenos solos aparecem e o movimento do mundo é anunciado. os dançarinos correm de maneira crescente e simultânea e passam a ter nova relação com o planeta e com seus corpos.
surgem então parcerias ainda com movimentos levemente limitados mas já com muita energia, e elas abrem espaço à relação entre corpos e personalidades. cada um se anuncia, mesmo que seu movimento seja padrão. as características próprias a cada um são ressaltadas.
muitas mais soluções pontuaram esse que foi um dos mais belos espetáculos a que já assisti. com um porém, na medida em que próximo ao fim a exuberância dos movimentos deixasse um sabor de excesso e a mensagem acabasse ficando esmaecida pelo muito a ser mostrado.
não consigo expressar muito mais, na medida em que os movimentos ficaram em minha retina mais do que em minha memória.
os aplausos ao final foram inesgotáveis, eles agradecendo uma penca de vezes. o ismael surgiu de preto e branco, fagueiro, e também agradeceu muito, sorrindo sem parar. ficou até chato ver tanto aplauso sendo expresso e tantos agradecimentos dessa trupe de nível aparentemente inesgotável.
estranha, a sensação ao final. gratidão e, ao mesmo tempo, sentimento de não conseguir corresponder, por maior que seja o esforço, àquilo que apareceu. pois se a arte é troca há que crescer bem mais para poder alcançar os inalcançáveis.
ou seja, tentarei corresponder com um certo nível de reciprocidade um pouco mais tarde.
embora eu me dedique relativamente pouco. pouco mesmo.
fiquei sabendo por minha amiga lulu tomie do espetáculo do ismael ivo. saí correndo na hora e consegui.
tudo isso só para dizer já de cara a quem eu agradeço.
o espetáculo já se foi, então este texto entra mais como testemunho.
não consegui desgrudar os olhos dos dançarinos, do cenário grandioso, das luzes, da música (sim, os olhos da música). guardei tudo com tamanha devoção que dificilmente será superada - com ele somente concorre meu show com o pianista de free jazz cecil taylor, há anos.
acima de tudo gosto de exuberância. e de, por meio da exuberância, conduzir ou ser conduzido rumo a mundos outros, esses que o roberto alvim não se cansa de procurar (obrigado, cara).
a imagem inicial, de uma dançarina, nua, com um esqueleto por cima, remeteu-me àquela minha primeira peça em que um homem nasce para o movimento. a suavidade e singeleza do gesto só concorre com a nobreza da mensagem.
ela sai, entra um cenário grandioso como poucas vezes vi em que os dançarinos descansam, como bonecos, em quadrados vazios no fundo do palco. todos juntos são uma metáfora do homem enquanto criatura que nasce e morre.
saem os dançarinos. aos poucos. não vão direto ao ponto, vão em movimentos limitados que expressam a libertação pelo corpo. tudo o que é limitado me faz viajar como poucas outras coisas. os seres simplesmente nascem, é isso. e que maravilha de movimentos sincronizados das pernas. e o entremear de braços e corpos como se fossem um só organismo. tudo lindo e ao mesmo tempo engraçado. a graça é sempre o que me faz rir. apenas a graça.
pequenos solos aparecem e o movimento do mundo é anunciado. os dançarinos correm de maneira crescente e simultânea e passam a ter nova relação com o planeta e com seus corpos.
surgem então parcerias ainda com movimentos levemente limitados mas já com muita energia, e elas abrem espaço à relação entre corpos e personalidades. cada um se anuncia, mesmo que seu movimento seja padrão. as características próprias a cada um são ressaltadas.
muitas mais soluções pontuaram esse que foi um dos mais belos espetáculos a que já assisti. com um porém, na medida em que próximo ao fim a exuberância dos movimentos deixasse um sabor de excesso e a mensagem acabasse ficando esmaecida pelo muito a ser mostrado.
não consigo expressar muito mais, na medida em que os movimentos ficaram em minha retina mais do que em minha memória.
os aplausos ao final foram inesgotáveis, eles agradecendo uma penca de vezes. o ismael surgiu de preto e branco, fagueiro, e também agradeceu muito, sorrindo sem parar. ficou até chato ver tanto aplauso sendo expresso e tantos agradecimentos dessa trupe de nível aparentemente inesgotável.
estranha, a sensação ao final. gratidão e, ao mesmo tempo, sentimento de não conseguir corresponder, por maior que seja o esforço, àquilo que apareceu. pois se a arte é troca há que crescer bem mais para poder alcançar os inalcançáveis.
ou seja, tentarei corresponder com um certo nível de reciprocidade um pouco mais tarde.
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