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Mostrando postagens de novembro, 2012

superfície

ontem assisti duas leituras para teatro. "nem aqui, nem lá", do cássio pires, com o pessoal do Faroeste, lá na rua do triunfo. "quarenta peças", de victor nóvoa, no ccbb. (este, cheguei tarde, só peguei uma das três) logo devo escrever minhas breves impressões, mas preciso compartilhar algumas coisas que me deixaram estranhado. recebido com efusão pelo paulo faria, do Faroeste, e após trocar breves ideias com o cássio, embarquei na trama da peça. como já disse, comentarei a leitura depois, mas aqui compartilho o seguinte. em certos momentos, um dos personagens conta histórias curtas. cara, vcs não imaginam, a tal ponto me deixei levar por elas que quase fugi realmente do todo. fiquei imerso por algo que não sei o que foi. a tal ponto que depois da leitura eu não sabia, realmente não sabia, o que pensar. lá no ccbb, a peça do nóvoa foi apresentada pelo pessoal do bartolomeu, schapira, eugenio, roberta, luáa e outros com quem tanto compartilhei momentos no começo

ele sabe

deus sabe como sou invejoso. mas ele também em ensinou, diria que nos últimos quinze anos, a ficar feliz, realmente feliz, com os sonhos alheios tornados realidade. a primeira vez recente em que fiquei super feliz foi quando o diego (torraca) me disse que havia sido aprovado na sorbonne. eu fiz filosofia e deus sabe o quanto eu queria ter estudado por lá. mas não deu, a vida deu outras voltas, e é isso aí. ...mas quando sobre do diego fiquei eufórico - até ele estranhou. o diego é um cara admirável e deve estar se divertindo bastante na terra adotado pelo meu cioran e pelo também meu beckett. agora soube que o marião e a dani compraram o estação caneca. cara, só deus sabe como fiquei feliz. tenho aprendido tanto - como profissional e mais ainda como pessoa - com eles que nem deus imagina. fiquei novamente euforico. talvez hoje mesmo eu passe lá para dar o meu parabéns, mas sei lá, o mundo dá voltas. mas amanhã estarei lá. agora, vocês notam o quanto falei de deus. po

renatinha

a renatinha (gouveia) é ótima. todo mundo percebe isso facilmente. ela estoura no palco. ela tem punch, eu diria. na bestas mortes, a rê fez um papel em que precisava gargalhar sem parar por muitos minutos. e todo mundo sabe o quanto duram os minutos em ocasiões desse tipo. horas. mas ela aguentou, sempre aguentou. uma noite ela me contou alguns de seus problemas para manter o riso. mas nunca deu para notar. a gente passou a achar que as risadas eram reais, não gargalhadas criadas para uso em cena. por isso todo mundo caía na risada durante os ensaios. a gente entrava na situação. mas seria injustiça dizer que a rê só sabe ou soube fazer isso durante a oficina. mentira. seria mentira dizer isso porque, pelo que me lembro, nenhuma de suas cenas não foi aprovada pela direção. acredito que tenha sido a única pessoa com que isso aconteceu. a rê é de goiás. ela trabalha com produção e faz wolf maia. ela se dedica para caralho e sempre dá para notar seu profissionalismo. ao contrário d

lari

a lari (larissa máximo mendes) sempre teve problemas com o horário. produtora de uma dupla sertaneja, ela faz gato e sapato para poder comparecer no horário, e às vezes simplesmente para comparecer. isso fez com que ela passasse por situações bem delicadas no grupo, dado que todo mundo dependia de todo mundo. e principalmente no final, em que todos em geral dependiam de todos em particular. mas nunca vi a lari se abater. lembro-me de quando começamos fazendo uma cena que eu acabei jogando no lixo (eu simplesmente não entendia o que era necessário fazer, meu corpo não acompanhava o raciocínio). no meu egoísmo atroz, eu estava fazendo dela uma escada para mim (quem atua sabe do que estou falando), e não estava nem aí para isso. ela deve ter notado, mas não disse nada. a cena foi descontinuada. ela teve dificuldades para emplacar uma nova cena. houve problemas de horário, sim, mas o problema agora estava em outro local. el

A Flauta Mágica (teatro filmado) (dir. Bergman)

O filme era um dos últimos a ver do Bergman. Peguei meio relutante por ser a cores (tento me educar aos poucos com o aspecto plástico dos filmes, e as cores em excesso me irritam um pouco). É uma ópera. E como toda ópera, um espetáculo total. História, música, canto, estórias. A trama começa de um jeito, com cada personagem assumindo um lugar determinado, pelo lado do bem ou do mal. Aos poucos, os lugares mudam e a beleza da trama abre espaços cada vez maiores. Tamino é um herói salvo do dragão por 3 deusas. Ele é instado por uma rainha a salvar Pamina das garras de Sarastro. Tamino assume seu lugar mas descobre que Sarastro é o pai de Pamina, que a preserva para o escolhido. Tamino mostra-se o escolhido e passa por provações. Supera-as, vence a Rainha e se casa com Pamina. O casal assume o lugar de Sarastro como chefe da seita do local. Enquanto isso, Tamino é ajudado por Papageno, um caçador desastrado, que encontra sua Papagena, após muito penar. A história não tem muita ação

Procurado (texto: Diego Fortes; direção: Juliana Galdino)

Quem me lê sabe o quanto aprecio as leituras que o Alvim e a Galdino fazem do teatro em geral, e dos clássicos em particular. Estou inclusive pleiteando fazer um curso com eles, de interpretação. Tudo bem. Isso poderia me tornar cego a episódios não tão abonadores em autoria e/ou direção. Mas não é assim. Tenho comprado e assistido todas as peças do ciclo Dramáticas do Transumano. Todas mais de uma vez. Mas Procurados é exceção. Não sei se é por causa do estilo dos últimos textos da mostra do Club Noir, ou se de um certo cansaço das soluções encontradas pela companhia para encenar os trabalhos da mostra. Ocorre porém que desta vez não gostei. O Alvim dirá e daí? Daí nada. Simplesmente aqui eu parei. Por duas principais razões. Primeira. O texto. Ando cansado de ver espetáculos experimentais em que o texto é povoado de livres associações. É aquele negócio: ou as jogadas textuais nos levam longe (e quando acontece é bem legal) ou simplesmente parecem pretensão. Neste caso, no

Cigarro Frio em Noites Mornas (texto e direção: César Ribeiro)

Chego no Satyros 1 esperando encontrar uma peça do festival do Fomento, 10 anos. Não encontro. Tenho compromisso para quase meia-noite e entro na peça que se me apresenta. Não tenho qualquer referência. Não consigo ler o programa e entro pronto para tudo. A música remete a um tempo futurista. O manequim com máscara na cama de consultório conduz a um ambiente onírico. Ao fundo, manequins femininos enforcados e pendurados. Os personagens remetem a cientista (legista) louco e a bicha barbada carregando filha que parece não existir realmente. Relacionam-se o primeiro mandando na segunda. Ele permite, ela quer alguma coisa. Parece haver um certo abuso do protagonismo, algo óbvio demais, que conduz a um certo desinteresse. Vez ou outra meto-me pensando em outra coisa, saindo do texto que é dito e gritado. Num momento chave, o legista se aproxima e narra a explosão de 700 almas num culto da universal. 4 ou 5 sendo travestis que foram jogados ao alto. Uma que caiu na estátua do Borba

Um dia você vai entender (texto: Kiury)

Fui assistir esta peça convidado por um amigo que nela atua. Tão logo vi o ator estirado na cama vislumbrei um sentido. Ele é gay e não sabe. Os gestos remetem a isso, sua delicadeza também, a relação com a mãe e o trato com os colegas, idem. Acredito ter avançado demais. Não poderá ser somente isso. Mas é. A peça se passa em três planos. O quarto do rapaz. Um local público em que ele encontra a namorada e os amigos nem tão amigos. Um local bem próximo do público: o local (virtual) da descoberta. Os atores interpretam. A garota mostra nervosismo - está nervosa. O sujeito banca o preconceituoso e irritante - só falta tirar a língua para fora. A amiga banca a intrometida. As saídas para mostrar isso são óbvias. Irrita-me tanta obviedade. Quero ver mais. Não é possível que seja só isso. Num dado momento, entra um sujeito travestido, rompe a quarta parede, passa a declamar um texto decorado ou improvisado e a cantar. Dá o telefone a um espectador, dizendo como ele é lindo. Num

de novo

ontem aconteceu novamente. assisti peça apenas regular mas não saí insatisfeito. pensei que talvez se devesse a que, durante a peça, certas imagens terem criado impressão. fato é que venho encontrando pontos fracos especialmente nos textos. existe uma mania rolando por aí de abusar em livres associações do pensamento. é como se os autores, sem terem algo consistente a dizer, preferissem elencar referências falsamente surpreendentes para "complicarem" o texto e darem uma aparência de profundidade. ao menos ontem essas referências, várias delas, foram simplesmente irônicas. acompanhadas pelos consequentes risos. algumas imagens também ficaram. não saí satisfeito o suficiente para me levantar para aplaudir. mas também não fiquei ensimesmado, irritado (embora tenha notado que houvesse quem ficou).

rebeca

a rebeca (paola) é muito bonita. isso dá para reparar de chofre (é a primeira na foto de abertura do blog, aqui em cima - eu estou no fim). lembro-me de quando nossa diretora dizia que ela estava para entrar no grupo. dizia, é loira e linda. bom, lembro-me também de quando, uma noite nos parlapa, ela me contava de onde vinha e o que queria. ela vem de longe, de lugares em que o teatro, bom, o teatro não existe. sequer pensa existir. ela contou-me também algo de seus sonhos. são sonhos altos. poderia tudo parecer história para boi dormir se eu não tivesse visto sua dedicação. eu me lembro. deitado nas coxias, eu via todo mundo ir e vir. a rebeca, não. ela se postava bem no lugar em que ela ia entrar. ora se aquecia. ora se concentrava. ora preparava a voz. ora descansava. diria que até quando descansava ela se concentrava. a cena dela exigia bastante. era uma das únicas em que o butô existia em sua expressão máxima. no começo, ela penava. nela, eu não via o butô que tanto a

últimas peças

não quero arrumar inimigos, mas o fato é que tenho visto umas coisas aqui e acolá que, bem, vejamos... saio irritado muito especialmente com espetáculos pretenciosos. por exemplo. vi um de dança, sugerido por uma amiga-colega, em que só faltava os caras e garotas voarem. mas no qual nada ficava, e muito menos do pretendido. uma pretensão desmedida. se não fosse uma senhora que estava lá fora, com a qual conversei, e o gui, que chegou em seguida, e com o qual papeei... saio irritado e pouco consegue me fazer voltar ao normal. o que normalmente eu faço é entrar em um café e tomar um, esperando a raiva passar. o último "espetáculo" que assisti foi ainda pior. texto repleto de livres associações, "personagens" rasteiros, falsa seriedade, irritante "comicidade" (fraca, fraca...), uma bobagem, em suma. há muito que eu não fechava os braços e me metia a pensar, caraio, quanta pretensão. a peça está ainda por aí. não digo de quem é. meto-me a pensar, o que

uma péssima impressão, uma ótima impressão

é curioso o que experimento de vez em quando. fui assistir uma peça de um amigo. um verdadeiro amigo. tecnicamente, a peça funciona. as coisas acontecem, os atores atuam, os desenlaces ocorrem. mas é tudo péssimo. desculpe, querido, mas é assim que eu vi. tudo, por quê? porque, agora que aprendi alguma coisa, as emoções são caricatamente mostradas. há um esgar de sofrimento constante no protagon...ista, como se ele já nos dissesse tudo. tudo ocorreu há muito em nossa mente. não há o menor espaço para a surpresa. a primeira cena já diz tudo, tudo mesmo. não entrarei em detalhes quanto a um ou outro ator ou atriz, não quero ser insensível. não é culpa deles. eles simplesmente fazem teatro-escola, não pesquisam, não percebem o quão primitivo é isso que fazem. talvez seja a cultura televisiva. talvez seja a impressão equivocada de que a emoção precisa ser expressa. ou seja, de que acima de tudo é necessário atuar. chorar para mostrar tristeza. franzir as sobrancelhas para mostra

el bonaerense (do outro lado da lei)

ontem poderia ter ido assistir uma peça, até havia uma estreia, mas sendo meu rodízio preferi ficar em casa. não me é fácil enfrentar o tempo a ser transcorrido em silêncio nas várias mesas de trabalho de casa. entendi a oportunidade e aproveitei para escrever algo para teatro, não sobre ele. havia dois filmes dando sopa e aproveitei para escolher um. foi el bonaerense, argentino, sobre a polícia de buenos aires. um relato tosco das coisas como devem ser. devem no caso de assunção de fato, não de imperativo. ainda me irrita essa ausência de cores do cinema realidade.

bia

é bom não se deixar enganar pela aparência singela da bia (paganini). pequena, bonita e apenas aparentemente frágil, a bia demonstra quem é sempre nos momentos-chave, e neles ela deixa clara sua inteligência, perspicácia e consequente sabedoria. nesses momentos, ela prefere sempre se manter à margem, mas, se chamada a se manifestar, traz à tona aquilo que a muitos escapa, a futilidade por detrás daquilo que aparenta ser algo verdadeiro (e não é). lembro-me bem quando fiquei numa posição sensível, em que poderia trair uma colega, em comportamento que a diretora condenaria veementemente. apelei a conselho da bia. ela me disse o que qualquer um poderia dizer (mas não disse): fale com ela, primeiro. falei. a situação não se saiu necessariamente a contento, mas a verdade, quando veio à tona, veio sem o desgaste de uma traição que eu quase cometo. trair, trai quem é inconsequente primeiro consigo mesmo. ela me ensinou como superar uma situação que eu imaginava insuperável na minha estreite

quejandos ao sentir

é fácil a gente se superestimar. basta pensar no quanto a gente QUER fazer - ou ter. como se querer fosse fazer. como se ter fosse possuir. um dos meus bloqueios consiste em não sentir. não que eu não sinto nada. ocorre que eu sinto TANTO que me acostumei a não sentir. não sinto o menor sentimento quando ouço can't help fall in you. mas num ponto determinado da canção ela ME INVADE e ME OBRIGA a sentir. aí, choro. ontem, devo ter cantado dezenas de vezes a canção. aí houve um momento em que, cantarolando mais alto, NÃO SENTI MAIS. aí, não choraminguei. tudo isso que acontece comigo é rasteiro, todo mundo passa por isso diuturnamente. só que eu resolvi expressar. na cena que bolei ontem, um personagem vai e vem guiado pela música que o homem do som escolhe. como em words and music do beckett, que somente agora curto por dentro. acontece que o personagem sente-se tão dominado pela música porque não se dá a liberdade de sentir. como eu, quando chego em casa, e canto, convenc

escrevendo

ontem preferi ficar à noite em casa e aproveitei para retomar o hábito de escrever para teatro. a oficina, concluída, me ensinou que há muito mais no palco que parecem nos dizer os textos que lemos por aí. tenho grande dificuldade em criar ambientações realistas. quase tudo o que crio ocorre num tempo fictício, com personagens levemente reais, em tempos simultâneos mas diferenciados. não tenho a menor empatia em criar situações calcadas no real. o problema é a abstração. no fundo quero personagens concretos, mas como fazê-lo se a realidade me cansa tanto? aprendi que a música não deve servir de muleta ou efeito especial. mas como evitar isso se meus personagens no fundo se guiam por ela? escrever para teatro é abrir as comportas para um inconsciente (ou subconsciente) a maior parte do tempo adormecido. isso dá uma sensação de liberdade incomparável. mas cria espaço também a inseguranças onde a gente menos espera. ontem, por exemplo, ao colocar can't help fall in love, do elv

um ponto doentio

hoje após almoçar fiquei morgando em frente ao boteco. não vi nada que se destacasse da paisagem urbana de sempre. mas por algum motivo gostei de me ver e sentir lá. estou em busca de um ambiente em que colocar meus personagens. creio que seja o ambiente que determina tudo. ontem, em a pele que habito, o personagem do estuprador maloqueiro cresceu no brasil. foi uma cena breve de um garoto descendo uma ladeira que explicou tudo. meu personagem, sinto, sempre tem algo de palhaço e bufão. mas é um cara sério. que leva a vida com vagar e cuidado. não sei. claro que não existe apenas um personagem. devem haver muitos para algo acontecer. mas sei lá teimo em permanecer fixo numa versão piorada do beckett, algo como a última gravação de krapp. sempre vou ao estação caneca, lá na frei caneca, que é onde o pessoal do marião se reúne. ver as peças e encontrar o pessoal, sim. mas o fato é que a paim é a única rua das redondezas onde você SEMPRE encontra vaga para estacionar. à

matheus

o matheus (prestes) é um sujeito gente fina. lembro-me de quando eu enfrentava provações bem no começo da oficina e dos conselhos que ele, sem o pedir, me deu. conselhos de quem, a confirmar, já vira ou passara por situações similares e que se mostraram mais que oportunos. durante a oficina, ele e a letícia dominaram a cena. ele chegou tarde, após algumas reuniões, mas seu carisma e talento fizeram com que galgasse facilmente as preferências da direção e, por que não dizer, também do grupo. fez algumas cenas com certo grau de violência e outras nem tanto. numa cena que teria tudo para deixar os atores encabulados - um beijo gay, tomou a dianteira e partiu para o que era necessário. falta de coragem e disposição nunca faltaram e ele, embora ao final da oficina estivesse meio alquebrado e não conseguisse render tanto quanto se pedia. era o primeiro a se questionar quando a diretora dizia que algo não funcionava. era o mais pronto a se corrigir. às vezes se justificava, mas logo ass

Charlotty (leitura dramática, texto Zen Salles)

demorei para encontrar a sala da leitura, e ela estava logo ali. achei o zen, que ficou feliz da presença, e eis que a bia e o matheus aparecem (ele, lá no palco) o texto é agil e é narrado em diversos tempos. a curiosidade quanto ao flash back torna-se menor diante do dramatismo que só cresce charlotty é charles, transexual. formada em direito (lembro-me de foto que vi no face de um cara com vestido se formando, sei lá onde) não vive da noite (como poderíamos imaginar, repletos de preconceitos) não vive na promiscuidade (como também poderíamos imaginar) apaixona-se por homens e mulheres, numa liberdade que dá medo vemos o desenlace violento o bate-papo descansa na denúncia e na recusa à intolerância eu quase digo o quão próximos estamos da barbárie por conhecer gente que ARGUMENTA em favor de racismos. prefiro ficar calado. conheço a nomacce, a canton, e abro-me a pensar o teatro numa perspectiva de que me havia esquecido a lei do desejo, do almodóvar, abre também es

Hotel Lancaster (texto: Mário Bortolotto, direção Marcos Loureiro)

Há algum tempo que eu reflito quanto a isso de o Marião ser o herdeiro do Plínio Marcos. Não estava convencido disso. As tramas eram suburbanas, mas deixavam a dever em tosquidade (ou tosquidão, se é que a palavra existe). Hotel Lancaster é um texto mais antigo do Marião. E é tosco. Do jeito que eu gosto. Nem vou contar a trama, que tirará toda a graça a quem for ver. Mas digo apenas que ela é tramada por gente à margem, bem à margem. E que algo em seus caracteres deixa passar algo mais do que a gente pode ver. Em suma, algo que também vemos no Plínio, ou do que conheço dele. O Marião irá, creio, reclamar, afinal, cada um é cada um. Até concordo. Só disse o que disse para comentar aquela minha primeira frase. Os atores, pelo que me disseram, são diferentes nas quintas e sextas dos sábados e domingos, ou das quartas e quintas das sextas aos domingos. Não sei. Mas gosto do que vejo (e vi TRÊS vezes). O Loureiro faz tudo andar rápido sem ser estabanado e isso me agrada. Os m

Oresteia 2 (de Ésquilo, direção Roberto Alvim)

Clitemnestra já matara Agememnon e agora haveria de ter essa morte vingada. Seu filho Orestes retorna como estrangeiro e a mata. Em suma, a trama é só essa. Alvim posta seus atores todos no interior do retângulo das peças do Peep Classic. Pela primeira vez, eles não entram e declamam. Estão todos presentes, cada um determinando uma acepção àquilo que é dito e fazendo a trama girar, enquanto Orestes chega e finca seus pés no pescoço da própria mãe. A morte se dá sem movimento nem gritos de sofrimento. Ela passa enquanto a trama continua. De repente, deparamo-nos com o rosto de Clitemnestra ensanguentado e com a presença soturna do filho. Enquanto este lamenta seu destino, a mãe, já morta, como que o saúda. Ao final, numa luz que provoca os olhares, Orestes discorre sobre seu infortúnio. E tudo termina como que num êxtase de vingança. A primeira vingança matricida da literatura teatral da história. É lindo.

A Oficina e muitas emoções

Não é segredo que meu conhecimento do teatro deve-se mais a minha dedicação que ao meu treinamento ou mesmo talento - se é que tenho. Mas aprendo como uma esponja e agora vislumbro caminhos para o futuro e para o Contrera, meu personagem. Fiz a Oficina da Lulu Pavarin preocupado. Eu sinceramente não sabia se ia ficar. Estava muito mal de grana e não havia muitas perspectivas. Na verdade, não havia nenhuma. A cena da primeira aula foi como eu gostava - nada romântica, bem agressiva e dolorosa, ou seja, adorei. Entrei como quem vai ser correspondente de guerra, pronto para tudo. Seria uma injustiça e uma impossibilidade eu tentar colocar aqui tudo que vivenciei, todas as pessoas maravilhosas com que convivi, todos os momentos para o bem e para o mal, todos os ensaios em lugares inusitados, todas as carcadas quanto a desempenho dentro e fora do palco (mas ainda dentro da oficina) - sempre certeiras -, todas as noites nos Parlapatões, todas as caronas que dei e as noites de dança na Kit

incoerência

não tenho tido condições de me dedicar ao teatro tanto quanto gostaria. especialmente esta semana. mas tenho refletido pelo menos, e descubro que o buraco não precisa estar tão embaixo assim. há toda uma liberdade de experimento que o teatro propõe que não pode ficar soterrada por debaixo de seriedade excessiva. sim, claro, os critérios devem ser sérios, mas nem por isso o resultado deve sê-lo. teatro é arte, não filosofia. não é necessário ter coerência, em suma. a questão é usar os mecanismos cênicos. a mensagem é outra coisa. coisa a construir.

Antes

antes da chuva vem a bonança. mas ninguém sabe. e todos sabem. hoje comecei as anotações rumo à estética pessoal que tanto almejo. são verdades que criam ambientes e argumentos e narrativas e diálogos. ela me viu enquanto fingia e me irritou. o mundo não aceita aqueles que insistem em serem livres. mas os pontos convencem. realmente algo está surgindo. e com o personagem. o meu personagem. Contrera, o personagem. inscrevo-me na oficina do noir. mando a planilha de arrecadações. anoto (aqui) alguns novos passos. o teatro me espera. não para sempre.

Estar no palco

nestas satyrianas, participei como ator. em bestas mortes. faço um assassino religioso. ele contrata uma puta. recusa contato. dança. machuca. leva um tapa. pergunta do que ela tem medo. ouve. dopa. estrangula. se masturba. pega um terço e uma tiara. reza. coloca um terço na puta morta. pega o dinheiro e vai embora. sei de minhas limitações. o personagem cai em mim como uma luva. a apresentação foi bárbara. houve problemas. houve demoras. alguns bondes passaram. mas tudo continuou. e terminou bem. foi uma ovação generalizada. à saída, vários cumprimentaram. referiram-se ao meu personagem. dizem ter rido muito no começo, na cena da dança. e na masturbação. alguns me procuraram, depois. não devemos extrapolar. foi e pronto. foi legal e pronto. há ainda muito a fazer com respeito a ele, o personagem. e o mundo avança para a frente. muito restou a ser dito sobre o que apreendi nas satyrianas. mas as sensações foram outras em relação às anteriores, em que dirigi e/ou atuei. o prazer

repenso

ontem encontrei uma colega de oficina de dança e conheci duas de suas amigas. fomos assistir uma apresentação. antes, ela havia me dito que discordava de mim quanto à qualidade um espetáculo que assistimos (outro, não esse desta ocasião). pensei. refleti. percebi que houve mais compadrio em mim do que espírito crítico. não sei se porque agora fiz tanta coisa. mas realmente percebi limitações. é sempre bom ficarmos abertos ao outro.

7 dias do rei (texto: Claudia Vasconcellos)

o marat descartes aparece empunhando o texto. aquilo que poderia me desagradar, uma mera leitura, aparece de outra forma. o marat atribui sentido e força a isso que outro poderia deixar como está. e percebo a graça e o drama. o personagem é rei. só isso. os outros são bobos. só isso. não há nada mais. só isso. e os dias passam. os 7 dias passam e o rei continua rei. e os bobos, bobos. e o tudo ao redor, nada. ao final, o rei afirma. é rei. é rei. é rei. o texto é lindo e forte. as repetições não levam a um tédio previsível. ao final, gargalho. um excelente contraponto irônico a estes tempos centrados no eu que nada é apenas um eu. seria muito legal vê-la encenada - o marat se desculpa pelo mico de ler. não me atrapalhou em nada. mas pode ser ainda mais legal.

Nuvens Insetos (dança)

recentemente fiz uma oficina de dança com o diogo granato e uma de preparação corporal com a fernanda d'umbra. digo isso porque saí da imaturidade com elas e algo percebo em termos de dança e presença no palco. a nuvens insetos trata dos medos. fobias. é bonita. três homens e duas mulheres realizando movimentos autômatos mantendo uma tênue ligação entre si. eles mandam ver, tanto os homens quanto as mulheres. alguns movimentos são bem bonitos, alguns sutis. o problema é que não sinto que leve a algum lugar. não consigo perceber isso. os movimentos continuam, alguma relação entre si, mas nada acontece. não vejo o que se quer dizer. o problema pode ser meu, claro. saí irritado, porém. ainda bem que o gui apareceu e, com a adriana, uma moça que encontrei por lá, tudo ficou mais simpático. serviu.

Hotel Lancaster (texto: Mário Bortolotto, direção: Marcos Loureiro)

Hotel Lancaster é uma peça mais antiga do Marião. Forte, violenta, com nus diversos, personagens histriônicos quase sempre, Hotel Lancaster pega pela goela. Torcemos para o garoto conseguir sua dose, ao mesmo tempo em que nos deliciamos com as humilhações a que é sujeito. Torcemos para o traficante conseguir o que quer - transar com a "irmã" do primeiro bem na nossa frente. Torcemos para que o chapadão que entra desavisado continue em seu périplo enlouquecido. Torcemos pela traficante de peitões à mostra - se bem que não sei por quê (rs). Vários deles morrem na trama. De morte violenta e overdose. O clima lúgubre cria um ambiente tenso mas sem thriller. É tenso pela vida mesma. Tudo ocorre numa passagem de ano. Feliz ano velho. Super ágil, dá vontade de rever como quase nenhuma outra. É foda. ps: que coisa. faço cena com minha parceira quase pelada mas me deixo afetar por nus quase contidos. não entendo por quê.

A Casa da Fonte dos Anjos (texto: Kiko Rieser e Heitor Nunes)

a peça está na categoria autopeças entram três pessoas para o banco de trás de um ecosport. o dama e o chico (ribas) entram, fazendo o papel de um pai travestido e do filho. a questão é que o filho vai levar o pai a um asilo. as questões necessárias passam pelo texto ágil e em alguns pontos bem emocionante. algumas frases feitas me irritam um pouco, especialmente no começo, mas com o tempo a impressão desanuvia. são 30 minutos de diálogos quase sempre bem sentidos. ao final, bom ao final, vão ver. passa às 20h, 20h30, 21h e 21h30, no autopeças, do lado da rua joão guimarães rosa, colada à praça roosevelt. são 3 pessoas PORCADA apresentação. somente. assisto com o ivan capúa ao meu lado e outro colega. o ivan tece muitos elogios, especialmente ao dama. o dama, cumpre dizer, conheço há priscas eras. ele estava no elenco do asfaltaram o beijo, do gerald, quando eu fui iniciado ao teatro, assistindo (vendo) os ensaios. o dama não pareceu me reconhecer. envelheci e fiquei meio carec

primeira apresentação de Bestas Mortes!!!

ontem, fizemos toda a caixa da luluz a primeira apresentação de bestas mortes. foi uma ovação inimaginável. não fiquei emocionado porque não fico mesmo, mas teve mais do que motivos. depois, todos fomos ao apê do hélio e bebemos e curtimos a manhã de sábado. estou trabalhando, agora. é sobremaneira curioso ver como um trabalho com dedicação pode render tanto. o ivan capúa notou uma certa demora em algumas cenas "pegarem" (no tranco), mas no geral tudo funcionou uma maravilha. um rapaz disse à letícia que queria conhecer "aquele cara que fez aquela cena maravilhosa" (eu). conhecemo-nos. diversos caras na saída me pararam para cumprimentar. ri bastante. foi lindo.

preparativos

ontem foi o primeiro ensaio sem qualquer interrupção. tudo correu bem, mas muito há ainda a ser feito. os aplausos foram sinceros, todo mundo embarcou com leveza na engrenagem. na saída, encontrei a dani, com quem peguei o véu, e fiz um favor, na verdade vários, dos quais muitas vezes me arrependo. as pessoas são assim mesmo. não se tocam. dou a mão e querem o pé. não importa. as garotas perguntam se estou ansioso. não mesmo. não sei se é defesa, pode ser, mas o fato é que não ligo. e daí que quem vai ver manda mais ou menos, e daí que é amigo ou não, e daí que nosso personagem tem tal ou qual característica (tem gente que confunde ficção com realidade, o que é uma pena). é só uma apresentação. é teatro na mais alta acepção do termo, sim, e não é nada pouco, claro. para mim é MUITO, e por isso estou aqui. mas é teatro. e o ser humano é falho, acha que as coisas são mais sérias do que são, confunde vida com ficação e por aí vai. a gente tem que compreender, claro. bom, espero que vo