Chego no Satyros 1 esperando encontrar uma peça do festival do Fomento, 10 anos. Não encontro. Tenho compromisso para quase meia-noite e entro na peça que se me apresenta. Não tenho qualquer referência.
Não consigo ler o programa e entro pronto para tudo.
A música remete a um tempo futurista. O manequim com máscara na cama de consultório conduz a um ambiente onírico. Ao fundo, manequins femininos enforcados e pendurados.
Os personagens remetem a cientista (legista) louco e a bicha barbada carregando filha que parece não existir realmente. Relacionam-se o primeiro mandando na segunda. Ele permite, ela quer alguma coisa. Parece haver um certo abuso do protagonismo, algo óbvio demais, que conduz a um certo desinteresse. Vez ou outra meto-me pensando em outra coisa, saindo do texto que é dito e gritado.
Num momento chave, o legista se aproxima e narra a explosão de 700 almas num culto da universal. 4 ou 5 sendo travestis que foram jogados ao alto. Uma que caiu na estátua do Borba Gato. O ridículo da situação anima. Assim como diversos momentos em que a narrativa beira o absurdo. Aqui e acolá referências cômicas, impossível não sorrir ou mesmo rir.
A trama gira no destino do travesti. Será ele real, estará ela morta, onde tudo se passa, numa sala de legista ou num após-morte? Há momentos em que as dúvidas perdem importância. Importa a empatia que os personagens criam num ambiente estupidificado de contemporaneidade sem referências quaisquer. Diversos momentos em que os personagens entram em solilóquios remetidos à platéia convidam, não a uma real reflexão, mas a momentos de contido lirismo. Atrapalha um certo abuso de obviedades, dessas que vemos nos intelectuais recentes.
Num determinado momento, aparece uma personagem-Deus com um capacete repleto de espinhos, para tentar me aproximar do que vejo. Ele mostra-se mais real que o legista. Mas é simplesmente mais um disfarce dele mesmo, como se descobre depois. Mas é criado um novo ambiente, uma nova relação. Que pára na metade, claro.
Ao final, depois de um monólogo do travesti, em memórias sensíveis, o legista embarca num outro, como que "resumindo" a condição contemporânea do ser humano. Parece-me moral que eu gostaria de dispensar.
O espetáculo não é bom, não saio satisfeito. Mas como em tudo que é sincero há sempre algo a aproveitar. Um momento em que a criança vira coelhinho, trejeitos simbólicos que não descambam em preconceitos, momentos de lirismo no texto, há várias coisas que permanecem em mim.
Não consigo ler o programa e entro pronto para tudo.
A música remete a um tempo futurista. O manequim com máscara na cama de consultório conduz a um ambiente onírico. Ao fundo, manequins femininos enforcados e pendurados.
Os personagens remetem a cientista (legista) louco e a bicha barbada carregando filha que parece não existir realmente. Relacionam-se o primeiro mandando na segunda. Ele permite, ela quer alguma coisa. Parece haver um certo abuso do protagonismo, algo óbvio demais, que conduz a um certo desinteresse. Vez ou outra meto-me pensando em outra coisa, saindo do texto que é dito e gritado.
Num momento chave, o legista se aproxima e narra a explosão de 700 almas num culto da universal. 4 ou 5 sendo travestis que foram jogados ao alto. Uma que caiu na estátua do Borba Gato. O ridículo da situação anima. Assim como diversos momentos em que a narrativa beira o absurdo. Aqui e acolá referências cômicas, impossível não sorrir ou mesmo rir.
A trama gira no destino do travesti. Será ele real, estará ela morta, onde tudo se passa, numa sala de legista ou num após-morte? Há momentos em que as dúvidas perdem importância. Importa a empatia que os personagens criam num ambiente estupidificado de contemporaneidade sem referências quaisquer. Diversos momentos em que os personagens entram em solilóquios remetidos à platéia convidam, não a uma real reflexão, mas a momentos de contido lirismo. Atrapalha um certo abuso de obviedades, dessas que vemos nos intelectuais recentes.
Num determinado momento, aparece uma personagem-Deus com um capacete repleto de espinhos, para tentar me aproximar do que vejo. Ele mostra-se mais real que o legista. Mas é simplesmente mais um disfarce dele mesmo, como se descobre depois. Mas é criado um novo ambiente, uma nova relação. Que pára na metade, claro.
Ao final, depois de um monólogo do travesti, em memórias sensíveis, o legista embarca num outro, como que "resumindo" a condição contemporânea do ser humano. Parece-me moral que eu gostaria de dispensar.
O espetáculo não é bom, não saio satisfeito. Mas como em tudo que é sincero há sempre algo a aproveitar. Um momento em que a criança vira coelhinho, trejeitos simbólicos que não descambam em preconceitos, momentos de lirismo no texto, há várias coisas que permanecem em mim.
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