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escrevendo

ontem preferi ficar à noite em casa e aproveitei para retomar o hábito de escrever para teatro.
a oficina, concluída, me ensinou que há muito mais no palco que parecem nos dizer os textos que lemos por aí.
tenho grande dificuldade em criar ambientações realistas.
quase tudo o que crio ocorre num tempo fictício, com personagens levemente reais, em tempos simultâneos mas diferenciados. não tenho a menor empatia em criar situações calcadas no real.
o problema é a abstração. no fundo quero personagens concretos, mas como fazê-lo se a realidade me cansa tanto?
aprendi que a música não deve servir de muleta ou efeito especial. mas como evitar isso se meus personagens no fundo se guiam por ela?
escrever para teatro é abrir as comportas para um inconsciente (ou subconsciente) a maior parte do tempo adormecido. isso dá uma sensação de liberdade incomparável. mas cria espaço também a inseguranças onde a gente menos espera.
ontem, por exemplo, ao colocar can't help fall in love, do elvis, entrei em crise. precisei cantá-la dezenas de vezes e me emocionar com isso.
ao terminar, a emoção havia sido decupada. não tenho a menor ideia do que sobrou.
a cena ficou pela metade. não consegui concluir.

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